4. A Metodologia de Estrutura Tarifária Atualmente Praticada no Brasil 52
4.1 Cálculo dos custos de capacidade 52
4.1.4 A responsabilidade de potência 66
Como já mencionado, a solução do problema das probabilidades de associação, conforme descrito no item 4.1.3, é o primeiro passo para a determinação das chamadas responsabilidades de potência.
Outro conceito fundamental intimamente ligado à definição de responsabilidade de potência é o fator de contribuição de um consumidor-tipo em relação à curva de uma rede-tipo. Dada uma curva de carga qualquer de um consumidor-tipo, alimentado por uma rede-tipo, define-se o fator de contribuição deste consumidor de acordo com a Equação (32).
(32)
Onde:
: Demanda do consumidor no horário de demanda máxima ( ) da rede que o alimenta.
: Demanda máxima do consumidor .
Complementarmente, a Figura 31 ilustra as demandas D TM e DJMAX dadas as curvas de carga de um consumidor-tipo j e de uma rede-tipo i quaisquer.
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Figura 31 – Variáveis e utilizadas no cálculo do fator de contribuição
Ocorre que, na metodologia atual, o número de pontas observado nas redes- tipo pode ser maior que um, definindo assim um conjunto de pontos . Na metodologia, o critério adotado para a definição de uma ponta é o seguinte: Qualquer demanda horária superior 90% da demanda máxima de uma curva de rede-tipo é considerada uma ponta. Deste modo, uma curva com demanda constante (fator de carga igual a 1) terá 24 pontas.
Assim, é calculado um vetor de fatores de contribuição por consumidor-tipo e por posto tarifário (ponta e fora-ponta), referente a cada rede-tipo a qual ele se associa. Em (33), é apresentada a formulação deste vetor de fatores de contribuição.
(33)
Onde:
: Fator de contribuição do consumidor na rede , para o posto tarifário no instante de ponta .
: Demanda do consumidor no instante de ponta . : Demanda máxima do consumidor no posto tarifário . : Instante em que ocorre ponta na rede .
TM Dj(TM)
DjMAX
Consumidor j Rede i
: Número de pontas observadas na curva de carga da rede .
Para melhor interpretar a Equação (33), considere o seguinte exemplo numérico, para o qual será considerado horário de ponta o intervalo entre 19 e 21 horas (Na Tabela 1, em destaque). Suponha que exista uma rede-tipo com os valores horários de demanda, conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Dados de demanda ativa, em base horária, de uma rede-tipo i qualquer
Utilizando-se do critério de definição dos instantes de ponta, conforme a metodologia atualmente empregada pela ANEEL, para a qual são consideradas pontas as demandas horárias superiores a 90% da demanda máxima da curva, obtém- se a Tabela 2. Note que, através deste critério, o número de pontas é igual a 5, e conjunto de instantes de ponta é dado por 6,7,8,18,19 .
Tabela 2 - Identificação dos instantes de ponta h da rede-tipo i
Considere agora a existência de uma curva de carga de um consumidor-tipo qualquer (Tabela 3), alimentado em alguma proporção pela rede-tipo , considerada na Tabela 1.
Tabela 3 – Dados de demanda ativa, em base horária, de um consumidor-tipo j alimentado pela rede-tipo i
Finalmente, o vetor de Fatores de Contribuição, , conforme definido na Equação (33), será dado pela Tabela 4.
t 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 D(kW) 10 12 15 20 22 25 27 26 20 15 12 10 10 12 13 15 24 26 27 23 15 10 10 10 t 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 h 1 1 1 1 1 t 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 D(kW) 5 5 3 3 2 1 1 3 5 8 5 4 4 3 4 3 5 7 9 10 11 8 7 7
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Tabela 4 – Vetor de Fatores de Contribuição do consumidor-tipo j
Definidos os dois principais conceitos relacionados à responsabilidade de potência, quais sejam, as probabilidades de associação e os vetores de Fatores de Contribuição , sua definição, dado um consumidor em um nível de tensão ε, no posto tarifário , é dada a partir da Equação (34).
, 1 · ·∑
(34)
Na Equação (34), segundo observado em (DNAEE, 1985), representa a “[...]
taxa média de perda de potência [...] acumulada desde o ponto de conexão do cliente até a origem do nível ε em consideração”. Embora seja intuitiva a necessidade de
consideração de uma taxa de perdas acumulada desde a origem do nível ε até o ponto de conexão dos consumidores, é de difícil compreensão a definição de uma “taxa
média de perdas de potência”.
No capítulo 6 será rediscutida e reavaliada a questão de um índice de perdas acumuladas a ser considerado na estrutura tarifária entre níveis de tensão. Por hora, objetiva-se a compreensão fundamental da diferenciação de preços aos consumidores na atual metodologia, obtida pela responsabilidade de potência, e relacionada aos outros termos da Equação (34), ou seja, e .
A partir das “Responsabilidades de Potência”, definem-se os chamados custos de capacidade a partir da Equação (35).
, , · ·
(35) t 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Onde:
, : Custo de capacidade de um consumidor no nível de tensão ε, no posto tarifário .
: Custo marginal de expansão do nível de tensão ε, em $/ . . : Coeficiente técnico de atendimento do consumidor a partir do nível de
tensão ε.
O custo de capacidade de um consumidor-tipo em todo o sistema, no posto tarifário , será a soma dos seus custos de capacidade em todos os níveis de tensão à montante do seu ponto de conexão. A Equação (36) define o custo de capacidade total de um consumidor no posto tarifário .
,
(36)
Como as tarifas não são aplicadas a cada consumidor-tipo, mas sim a todo um conjunto de consumidores, utiliza-se de um mecanismo para calcular um custo médio equivalente por nível de tensão, também denominado custo de capacidade por nível de tensão. A Equação (37) descreve a construção deste custo de capacidade médio.
∑ ·
, (37)
Onde:
: Demanda máxima do consumidor no ponto tarifário .
, : Demanda máxima agregada de todos os consumidores conectados ao nível , no posto tarifário .
71 Em (37) determina-se, para cada nível de tensão, e para cada posto tarifário (ponta e fora-ponta), um custo de capacidade médio. Esta matriz de custos, contendo dois valores por nível de tensão, é a responsável pela chamada “estrutura vertical” da tarifa, que é a relação de preços entre níveis de tensão. Basicamente, a estrutura tarifária da tarifa de uso do sistemas de distribuição brasileiros é resultado direto do cálculo destes custos de capacidade médios.