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A Responsabilidade Social das Empresas e a Sustentabilidade da Produção

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.5. A Responsabilidade Social das Empresas e a Sustentabilidade da Produção

Durante a parte inicial do desenvolvimento deste trabalho, quando então houve a necessidade de ir a campo em busca da matéria-prima para desenvolver a pesquisa, deparou-se com uma realidade triste e, aparentemente, negligente quer por parte dos órgãos fiscalizadores, quer por parte da agroindústria, o elo mais forte economicamente cadeia produtiva de frangos de corte. Pôde-se constatar que, em todas as granjas visitadas, os funcionários não trabalhavam com equipamentos de proteção adequados, havia crianças andando descalças no entorno e dentro das granjas e animais domésticos em contato tanto com as crianças quanto com os resíduos gerados por essas granjas. Além disso, os resíduos gerados por essas granjas, tais como cama de frango e as aves mortas, não eram manuseados com o devido cuidado e critério. As aves mortas, durante cada dia do ciclo produtivo eram colocadas em composteiras, conforme orientação da agroindústria, entretanto, depois de cumprido um período pré-estabelecido pela agroindústria (60 dias de tratamento na composteira), era disposto no solo sem qualquer critério ou orientação técnica.

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Este cenário é preocupante, principalmente, quando se considera a crescente demanda de alimentos no Brasil e em outros países, em especial carne de frango, paralelamente a uma melhor consciência da população mundial a respeito das questões sociais e ambientais. Essa mudança de postura do consumidor, especialmente, aqueles de paises desenvolvidos, tem levado muitas empresas a repensar a forma como elas se relacionam com a sociedade e o meio ambiente. Nesse sentido, MACHADO FILHO (2004) relata que tem havido aumento da pressão dos mercados externos, tanto no que se refere aos aspectos intrínsecos da qualidade dos produtos, quanto no que diz respeito a rastreabilidade de todo o processo produtivo, incluindo as relações sociais com fornecedores, processos de abate e práticas ambientais adequadas. Segundo VERDOLIN e ALVES (2005), com o advento da globalização da economia, a revolução tecnológica e o aumento do fluxo de informações deram inicio à construção de uma nova filosofia corporativa, a responsabilidade social, na qual as questões sociais e ambientais são pontos essenciais e, por que não dizer, vitais para as organizações.

Pela ótica da responsabilidade social, qualquer atividade de negócios possui uma dimensão ética, complementar as suas dimensões econômica e legal (MACHADO FILHO, 2004.). De acordo com o Business Social Responsible Institute4 (BSR, 2001), citado por MACHADO FILHO (2004), de uma forma ampla, o termo responsabilidade social corporativa se refere às decisões de negócios, tomadas com base em valores éticos que incorporam as dimensões legais, o respeito pelas pessoas, comunidades e meio ambiente. Sustenta, ainda, que o conceito de empresa socialmente responsável se aplicará àquela que atue no ambiente de negócios de forma que atinja ou exceda as expectativas éticas, legais e comerciais do ambiente social no qual a empresa se insere. Nessa mesma linha de pensamento, o INSTITUTO ETHOS (2002; 2004), considera que as empresas que possuem responsabilidade social são co-responsáveis pelo desenvolvimento social. E que, a empresa socialmente responsável tem como principal característica à coerência ética nas praticas e relações com acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade,

4 Principal entidade mundial na área de responsabilidade social, reunindo 1600 empresas que

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governo e meio-ambiente contribuindo para o desenvolvimento contínuo de todos e dos relacionamentos entre si e com o meio ambiente. Além disso, ao adicionar às suas competências básicas a conduta ética e socialmente responsável, as empresas conquistam o respeito das pessoas e das comunidades atingidas por suas atividades, o engajamento de seus colaboradores e a preferência de seus consumidores.

O objetivo do presente tópico é fazer uma breve reflexão sobre a necessidade de se pensar e agir no sentido de melhorar as relações, em todos os níveis da cadeia produtiva, no que diz respeito às pessoas envolvidas no processo e às questões ambientais relacionadas. Nesse sentido, sugere-se que seja pensada a produção alimentar como um conjunto de elos de uma cadeia na qual não importam somente as questões financeiras, mas tudo e todos que são afetados, diretos e indiretamente, pelo processo produtivo, em si. Além disso, percebe-se a necessidade de definir e fiscalizar as responsabilidades de todos os envolvidos. Percebe-se que no curso da cadeia produtiva alimentar, tal como tem sido praticada, tem-se buscado o aperfeiçoamento da produção, em cada elo da cadeia, aumentando a produtividade e a lucratividade sem, contudo, dar a devida atenção às questões ambientais e sociais. Entretanto, essa é uma visão míope que busca o maior lucro financeiro possível em detrimento dos aspectos sociais e ambientais, o que pode trazer sérias conseqüências, em médio e longo prazo, tanto ao meio ambiente e a saúde dos trabalhadores envolvidos no processo, quanto a restrições de mercado para os produtos obtidos a partir desse modelo produtivo.

Acredita-se que uma parceria que envolvesse a agroindústria, a associação de avicultores, as instituições de ensino e pesquisa da nossa região poderia ajudar a desenvolver um sistema de gestão da cadeia produtiva na qual todos poderiam se beneficiar e, assim, minorar os problemas sociais e ambientais. Além disso, com uma atitude pró-ativa, poder-se-ia planejar melhor a expansão da cadeia produtiva no sentido de evitar ou minimizar os impactos ambientais inerentes ao processo de produção. A agroindústria poderia, por exemplo, subsidiar a construção de unidades de tratamento para os resíduos orgânicos, como unidades de compostagem. O Estado poderia criar incentivos fiscais que promovessem

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tanto o uso quanto o beneficiamento de compostos orgânicos. Os produtores rurais associados, juntamente com as instituições de ensino e pesquisa, trabalhariam no sentido de desenvolver tecnologias e formar mão-de-obra para a operação dos processos de reciclagem dessa grande quantidade de resíduos orgânicos. Além da produção de um composto orgânico, que é um excelente condicionador de solo, a compostagem, conforme apresentado neste trabalho, é a alternativa mais adequada para tratamento de resíduos orgânicos, tanto do ponto de vista sanitário e ambiental quanto econômico.

Essa “força tarefa” poderia proporcionar melhor condição de vida aos trabalhadores envolvidos na produção de frangos, melhorando a saúde e auto- estima de todos, poderia gerar mais empregos e renda para a região (aspectos positivos economicamente), melhorar a sustentabilidade dos negócios tanto no sentido econômico quanto ambiental, além de se desenvolver uma cultura de respeito ao ser humano e ao meio ambiente, que irá trazer benefícios para essa e as próximas gerações.

A direção e o sentido do desenvolvimento das atividades agrícolas e agroindustriais deverão voltar-se para a qualidade e sustentabilidade, não somente econômica, mas também social, ambiental e tecnológica (VALENZA PAIVA, 2007).

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