• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III A SEGURANÇA DA AVIAÇÃO CIVIL NO DIREITO

4. A segurança da aviação civil

4.1 A resposta ao Plano de Ação de 2001

Em 14 de Setembro de 2001, o Conselho dos Transportes da UE, reunido em sessão extraordinária, acordou a implementação das normas constantes do Documento 30 da CEAC347 sem prejuízo da necessidade de proceder à respetiva revisão “à luz dos recentes acontecimentos”348. O Conselho também convidou a Comissão a constituir um grupo ad

hoc pluridisciplinar que analisasse as necessidades de coordenação e cooperação no interior da União, com vista a garantir a introdução consistente de medidas de segurança, e que apresentasse iniciativas legislativas que garantissem a implementação efetiva e uniforme dessas medidas na União.

Em 21 de setembro de 2001, foi aprovado o Plano de Ação do Conselho Europeu Extraordinário, atrás mencionado que (também) preconizava a adoção de medidas de reforço da segurança do transporte aéreo.

Em outubro de 2001 a Comissão Europeia emitiu um comunicado349em que caracterizava, em termos gerais, o sistema de segurança da aviação civil a implementar na União Europeia resultante do Plano de Ação: tratava-se de um sistema composto por normas comuns de segurança, à escala comunitária, no âmbito da aviação civil, vertidas em regulamento comunitário e baseadas no Documento 30 da CEAC, aplicáveis tanto a voos internacionais,

347Concretamente a Parte II (Security) do Doc. 30.

348Sessão extraordinária do Conselho – Transportes - Bruxelas, 14 de setembro de 2001, 11880/01 (Presse

323). Note-se que nesta sessão também se decidiu apresentar à Assembleia da ICAO uma proposta de revisão do Anexo 17 da Convenção de Chicago, “a fim de nele incluir normas e recomendações que deem resposta às novas ameaças”.

349Cf. IP/01/1397, Bruxelas, 10.10.2001 – Press realese da Comissão Europeia -http://europa.eu/rapid/press- release_IP-01-1397_pt.htm

como domésticos e cuja implementação seria alvo de controlo. As normas estruturantes do sistema incidiriam sobre: controlo do acesso às zonas sensíveis dos aeroportos e aos aviões; controlo dos passageiros e das bagagens de mão respetivas; controlo e seguimento das bagagens de porão; controlo da carga e do correio; formação do pessoal de terra; especificações dos equipamentos utilizados para efetuar os controlos, nomeadamente para reforçar os sistemas de deteção, e classificação das armas e objetos proibidos a bordo dos aviões e nas zonas sensíveis dos aeroportos. As medidas de segurança previstas deviam estar de acordo com a natureza da ameaça, sendo também permitido que os Estados- Membros aplicassem medidas específicas, adaptadas a eventuais variações do nível de ameaça. Finalmente, o sistema preconizado incluiria um mecanismo de controlo da aplicação das suas normas: ao nível dos Estados-Membros, que para o efeito deveriam designar uma Autoridade Nacional, e, ao nível da Comissão Europeia que controlaria os sistemas instaurados pelas autoridades nacionais dos Estados-Membros.

Nesse mesmo mês, o supra mencionado grupo ad hoc da Comissão havia apresentado ao Conselho e ao Parlamento Europeu uma proposta para um regulamento comunitário estabelecendo regras comuns no âmbito da segurança da aviação civil e que ia muito além do âmbito descrito no Plano de Ação.350 A proposta apresentada reconhecia que a implementação de normas de segurança da aviação civil não podia continuar a ser garantida apenas pelas entidades responsáveis de cada Estado-Membro, carecendo antes de uma abordagem comum e integrada, sustentada no estabelecimento de regras comunitárias comuns, que garantissem um nível uniforme de proteção do transporte aéreo na União Europeia. Este sistema, associado a um mecanismo de auditoria comunitário, facilitaria a circulação de passageiros, bagagem e carga, quando em trânsito nos aeroportos da União, permitindo evitar a repetição dos controlos de segurança previamente realizados no Estado- Membros de partida – “one stop security”351.

350 Cf. ponto 18 e anexo (ponto 2) das minutas da reunião do Conselho (Transportes/Telecomunicações)

ocorrido no Luxemburgo a 15 e 16 de outubro de 2001 – 12896/01 (sem prejuízo das medidas de segurança do cockpit referidas no Plano de Ação de 21 de setembro de 2001 serem matéria que também se enquadra no âmbito da safety pelo que não constam do quadro normativo da segurança da aviação civil abaixo descrito).

351 Cf. Memorando explicativo constante da Proposta para um Regulamento do Parlamento Europeu e do

Conselho que estabelece normas de segurança da aviação civil (“Explanatory memorandum, in Proposal for a Regulation of the European Parliament and of the Council on establishing rules in the field of civil aviation

A Comissão considerou igualmente que, face à urgência na aprovação destas normas e à necessidade de restaurar a confiança do público no transporte aéreo, o regulamento seria a melhor forma de adotar regras comuns e implementar mecanismos de monitorização da sua aplicação uniforme, que permitissem inclusive a divulgação de “boas práticas”352. Assim, e sem prejuízo das especificidades de cada Estado-Membro, que determinariam a necessidade de uma abordagem gradual na implementação das normas, o regulamento prescreveria a necessidade de cada Estado-Membro dispor de um programa nacional que refletisse a estrutura das suas próprias instituições e de nomear uma autoridade competente que assegurasse a implementação das normas.

Adicionalmente, nesta proposta, a Comissão, notando que as medidas do Documento 30 da CEAC não eram suficientemente detalhadas de modo a poderem ser monitorizadas, sublinhou a necessidade de lhe ser concedido poder para implementar aquelas medidas, sem prejuízo de ter de ser adotado um processo gradual na respetiva implementação efetiva e uniforme.

security”), 2001/0234 (COD), Bruxelas, 10.10.2001 COM(2001) 575 final. O objetivo “one stop security” seria expressamente reafirmado pelo Regulamento (CE) n.º 300/2008, de 11 de março que revogou o Regulamento (CE) n.º 2320/2002.

352 “Uma Diretiva demoraria demasiado tempo a implementar”, cf. ponto 16 do Memorando explicativo

constante da Proposta para um Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que estabelece normas de segurança da aviação civil. No mesmo sentido, o ponto 3.2 do Parecer do Comité Económico e Social sobre a «Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho relativo ao estabelecimento de regras comuns no domínio da segurança da aviação” (2002/C 48/17), salienta as vantagens da aplicação direta em todos os Estados-Membros dos regulamentos. A escolha do regulamento como instrumento legal em que seriam vertidas as normas do sistema de segurança da aviação civil seria também explicada na Exposição de motivos da “Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho, relativo ao estabelecimento de regras comuns no domínio da segurança da aviação civil”, COM(2005) 429 final, 2005/0191 (COD), apresentada pela Comissão, p. 6: “O regulamento foi inicialmente considerado como o instrumento mais apropriado para a) garantir a aplicação uniforme de regras na Comunidade e b) garantir a adopção, mais rápida possível, de regras comuns após os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001”.

Face às suas características (constantes do segundo parágrafo do artigo 288º do TFUE), o regulamento parece de facto, ser o instrumento mais adequado para garantir uma aplicação uniforme da legislação da UE em todos os Estados-Membros: não só pelo carácter geral (dirige-se a uma generalidade de pessoas ou situações), como também por ser obrigatório em todos os seus elementos (vincula as instituições da UE; os países da UE e os particulares) e ainda por ser diretamente aplicável em todos os países da UE (isto é, “é imediatamente aplicável como regra em todos os países da UE, não precisando de ser transposto para a legislação nacional; estabelece direitos e obrigações para os particulares que podem, por conseguinte, invocá-lo diretamente junto dos tribunais nacionais e pode ser utilizado como referência por particulares na sua relação com outros particulares, com os países da UE ou com as autoridades da UE”, cf. https://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/?uri=LEGISSUM%3Al14522).

Após a apreciação pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu da proposta apresentada pela Comissão353, em 16 de dezembro de 2002 foi aprovado o Regulamento (CE) n.º 2320/2002, do Parlamento Europeu e do Conselho relativo ao estabelecimento de regras comuns no domínio da segurança da aviação civil (doravante abreviadamente designado Regulamento (CE) n.º 2320/2002), que entrou em vigor a 19 de Janeiro de 2003354.

4.2. O sistema emergente do Plano de Ação de 2001: o Regulamento (CE) n.º