• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III A SEGURANÇA DA AVIAÇÃO CIVIL NO DIREITO

4. A segurança da aviação civil

4.4 O Regulamento (CE) n.º 300/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de

Com o objetivo de estabelecer regras comuns para a proteção da aviação civil contra atos de interferência ilícita que ponham em causa a segurança da aviação civil, o Regulamento (CE) n.º 300/2008 manteve a exigência de os Estados-membros designarem uma autoridade responsável pela coordenação e supervisão da implementação das normas de segurança427, bem como de terem um programa nacional de segurança da aviação civil que defina as responsabilidades das entidades envolvidas na implementação das normas de segurança e descreva os procedimentos a tomar pelas entidades para o efeito428.

Embora tivesse mantido a obrigação de os Estados-Membros elaborarem a aplicarem um programa nacional de controlo da qualidade da segurança da aviação civil, com vista a verificar o nível e qualidade da segurança da aviação civil429, as especificações deste Programa seriam alvo de uma densificação, constando do anexo II do Regulamento (CE) n.º 300/2008, aprovado pelo Regulamento (UE) n.º 18/2010, da Comissão, de 8 de janeiro de 2010.

Ainda no âmbito dos programas de segurança, há a salientar a consagração da obrigação dos operadores aeroportuários430, das transportadoras aéreas431 e de outras entidades432 elaborarem, aplicarem e manterem um programa de segurança e de o submeterem à apreciação da autoridade competente. Esta alteração em relação ao regime anterior operou a dois níveis: por um lado, a exigência passou a ser diretamente dirigida aos aeroportos e transportadoras e outras entidades, enquanto que o Regulamento (CE) n.º 2320/2002 fazia-a recair sobre os Estados-Membros que a deveriam refletir sobre as mesmas433. Por outro lado, a obrigação de manter um programa de segurança foi alargada a outras entidades para

427Cf. artigo 9º do Regulamento (CE) n.º 300/2008 (e artigo 5º n.º 2 do Regulamento (CE) n.º 2320/2002). 428Cf. artigo 10º do Regulamento (CE) n.º 300/2008 (e artigo 5º n.º 1 do Regulamento (CE) n.º 2320/2002). 429Já previsto no artigo 11º do Regulamento (CE) n.º 2320/2002.

430Cf. artigo 12º do Regulamento (CE) nº 300/2008. 431Cf. artigo 13º do Regulamento (CE) n.º 300/2008. 432Cf. artigo 14º do Regulamento (CE) n.º 300/2008. 433Cf. artigo 5º n.º 4 do Regulamento CE) n.º 2320/2002.

além dos aeroportos e transportadoras aéreas (como por exemplo os agentes reconhecidos ou os fornecedores reconhecidos de provisões de bordo). Este alargamento – sustentado na extensão do âmbito de aplicação do diploma434 - também se refletiu no enunciado do âmbito das inspeções da Comissão que passaram a incidir sobre aeroportos, aos operadores e entidades que aplicam normas de segurança da aviação435.

Tal como acima mencionado, manteve-se a possibilidade de os Estados-Membros aplicarem derrogações às normas de base comum436, tomando em considerações fatores como as dimensões da aeronave, a natureza ou frequência das operações aeroportuárias – critérios que seriam concretizados e desenvolvidos no Regulamento (UE) n.º 1254/2009, da Comissão, de 18 de dezembro de 2009.

O Regulamento (CE) n.º 300/2008, manteve a possibilidade de os Estados-Membros poderem aplicar medidas de segurança mais restritivas, bem com a obrigação da respetiva comunicação à Comissão Europeia437. Contudo, passou a exigir que a implementação das medidas mais rigorosas seja sustentada numa avaliação de risco, e, que essas medidas sejam pertinentes, objetivas, não discriminatórias e proporcionais ao risco que as justifica. Composto por 24 artigos (e um anexo), o Regulamento (CE) n.º 300/2008, dedicou diversas disposições a temas que não tinham sido abordados no Regulamento (CE) n.º 2320/2002438, nomeadamente a questão dos custos e do financiamento da segurança da aviação civil439, a

434Previsto no artigo 2º do Regulamento (CE) n.º 300/2008.

435Cf. artigo 15.º n.º 1 do Regulamento (CE) n.º 300/2008, enquanto que no artigo 7º n.º 2 do Regulamento

(CE) n.º 2320/2002 apenas se fazia referência às inspeções da Comissão a aeroportos.

436 Possibilidade prevista no n.º 3 do artigo 4º do Regulamento (CE) n.º 2320/2002 (introduzido pelo

Regulamento (CE) n. 849/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de abril de 2004 e no n.º 4 do artigo 4º do Regulamento (CE) n.º 300/2008.

437Cf. artigo 6º do Regulamento (CE) n.º 300/2008 e artigo 6º do Regulamento (CE) n.º 2320/2002.

438Uma análise comparativa de ambos os Regulamentos permite aferir que o Regulamento (CE) n.º 300/2008

acrescentou onze artigos ao elenco normativo do Regulamento (CE) n.º 2320/2002 (composto por 13 artigos). Além dos supra indicados artigos, que incidiram sobre temáticas previamente não abordadas, foram introduzidos novos artigos que desenvolveram temáticas já previstas na anterior regulamentação, nomeadamente o artigo 9º (Autoridade competente), o artigo 12º (Programa de segurança aeroportuária), o artigo 13º (Programa de segurança da transportadora aérea), o artigo 14º (Programa de segurança das entidades) e o artigo 15º (Inspeções da Comissão), este último previsto nos números 2 a 4 do artigo 7º do Regulamento (CE) n.º 2320/2002.

cooperação com a ICAO (com vista a evitar dupla verificação do cumprimentos dos requisitos de segurança)440, a exigência de medidas de segurança (distintas) por países terceiros441, a obrigação de a Comissão apresentar anualmente um relatório ao Parlamento Europeu, ao Conselho e aos Estados-Membros sobre a aplicação do Regulamento442 e, a oficialização do Grupo Consultivo de Interessados (SAGAS)443.

Um aspeto que consideramos igualmente importante, prende-se com o tratamento da informação. A regra geral agora consagrada, é a da divulgação da informação444, elencando-se os documentos que, na condição de conterem informações de segurança sensíveis, são considerados “informações classificadas da União Europeia” nos termos da Decisão 2001/844/CE, CECA (por oposição à referência à classificação de “secreto” e “confidencial” do n.º 1 e 2 do artigo 8º do Regulamento (CE) n.º 2320/2002)445.

Ainda no que concerne ao “corpo” do Regulamento (CE) n.º 300/2008 é de notar a extensão ou clarificação do âmbito de aplicação do Regulamento constante do artigo 2º n.º

440Cf. artigo 8º (Cooperação com a Organização da Aviação Civil Internacional).

441Cf. artigo 7º (Medidas de segurança exigidas por países terceiros). Este preceito aborda a situação em que

um país terceiro exige medidas de segurança diferentes das previstas na legislação comunitária em voos com partida de aeroportos comunitários, permitindo que a Comissão examine as medidas exigidas pelo país terceiro.

442Cf. artigo 16º (Relatório anual).

443Cf. artigo 17º (Grupo Consultivo de Interessados).

444 Cf. artigo 18 n.º 1: "Regra geral, a Comissão publica as medidas que tenham impacto directo sobre os

passageiros”.

445De acordo com a Decisão 2001/844/CE, CECA (ponto 4.2 (Definições) do Capítulo 4 – Princípios da

Segurança da Informação, da Parte I – Princípios de base e normas mínimas de Segurança) consideram-se “Informações classificadas da UE», qualquer informação ou material cuja divulgação não-autorizada possa causar vários graus de prejuízo aos interesses da União Europeia, ou a um ou mais dos seus Estados- Membros, quer essa informação provenha da União Europeia ou de Estados-Membros, Estados terceiros ou organizações internacionais”. O ponto 16.1 da Decisão estabelece os níveis de classificação (explicados no apêndice 2 da Decisão): MUITO SECRETO UE: esta classificação apenas se aplica a informações e material cuja divulgação não-autorizada possa prejudicar de forma excecionalmente grave os interesses essenciais da União Europeia ou de um ou vários dos seus Estados-Membros; SECRETO UE: esta classificação apenas se aplica a informações e material cuja divulgação não-autorizada possa prejudicar seriamente os interesses essenciais da União Europeia ou de um ou vários dos seus Estados-Membros; CONFIDENCIAL UE: esta classificação apenas se aplica a informações e material cuja divulgação não-autorizada possa prejudicar os interesses essenciais da União Europeia ou de um ou vários dos seus Estados-Membros; RESERVADO UE: esta classificação apenas se aplica a informações e material cuja divulgação não-autorizada possa ser desvantajosa para os interesses da União Europeia ou de um ou vários dos seus Estados-Membros.

1 em relação à redação constante do artigo 3º n.º 1 do Regulamento (CE) n.º 2320/2002446. Com efeito, o Regulamento consagra uma delimitação negativa do respetivo âmbito de aplicação aos aeroportos exclusivamente utilizados para fins militares, e determina aplicar- se aos aeroportos ou partes de aeroportos situados nos territórios dos Estados-Membros, e também aos operadores e entidades que neles operem ou aos mesmos, ou através deles, forneçam serviços (mesmo que as suas instalações se situam no exterior das instalações aeroportuárias) – contrariamente ao Regulamento (CE) n.º 2320/2002, cujo artigo 2º nº. 1 apenas fazia referência a “aeroportos”. A este respeito, a Comissão viria explicar a alteração da letra do preceito na proposta de Regulamento inicialmente apresentada: “O texto é mais claro do que no regulamento em vigor para dar certeza jurídica quanto à aplicação do regulamento aos aeroportos comunitários que servem a aviação civil, aos operadores que fornecem serviços nesses aeroportos e às entidades que aplicam normas de segurança da aviação para voos com partida desses aeroportos (por exemplo, instalações de catering ou de carga não situadas no perímetro do aeroporto)”447.

No que toca à estrutura do anexo do Regulamento (CE) n.º 300/2008, não foram realizadas grandes alterações, sem prejuízo da já referida simplificação através da consagração de conjuntos gerais de princípios e a consequente redução da extensão das matérias abordadas (relegadas para a regulamentação complementar e de execução)448.

No anexo do Regulamento são então explanadas as normas ou princípios base comuns da proteção da aviação contra atos de interferência ilícita, com vista a criar nos aeroportos áreas de acesso restrito, em que o acesso de pessoas (“staff” e passageiros) e veículos é

446Artigo 3º n.º 1: “As medidas estabelecidas no presente regulamento são aplicáveis a todos os aeroportos

situados nos territórios dos Estados-Membros a que o Tratado se aplique”.

447cf. Exposição de motivos da “Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho, relativo ao

estabelecimento de regras comuns no domínio da segurança da aviação civil, COM(2005) 429 final, 2005/0191 (COD)”, apresentada pela Comissão, p. 7

448Ainda assim, notamos, a transferência do elenco de definições (constante do anexo do Regulamento (CE)

n.º 2320/2002) para o artigo 3º do Regulamento (CE) n.º 300/2008; a aglomeração da temática da “Carga e Correio” num único ponto (antes prevista nos pontos 6 e 7 do Regulamento (CE) n.º 2320/2002); a reunião da temática das “Provisões de bordo” no ponto 8 (matérias antes abordada nos pontos 9. Provisões e outros fornecimentos de restauração da transportadora aérea e 10. Produtos e outros fornecimento de limpeza da transportadora aérea do Regulamento (CE) n.º 2320/2002); a introdução do ponto 9. relativo às provisões do

controlado, sendo o fim último do sistema impedir que objetos classificados como proibidos - transportados por staff, por passageiros, na bagagem de porão, na carga, no correio e material da transportadora aérea449, nas provisões de bordo ou nas provisões do aeroportos - sejam introduzidos nessas áreas ou em aeronaves que se encontrem nessas áreas.

A fim de atingir estes objetivos, o Regulamento estabelece regras para garantir a segurança: do aeroporto (enunciando os princípios de planeamento aeroportuário, de controlo de acesso, de rastreio de pessoas que não sejam passageiros e dos objetos que transportem, de controlo de veículos, de vigilâncias, rondas e outros controlos físicos); das zonas demarcadas dos aeroportos; das aeronaves; dos passageiros e respetiva bagagem de cabina (incluindo o rastreio e proteção da bagagem de cabina e a proteção contra passageiros potencialmente causadores de distúrbios); da bagagem de porão (abarcando o respetivo rastreio, proteção e reconciliação); da carga e correio (incluindo o respetivo rastreio, controlos de segurança e proteção); do co-mat e co-mail; das provisões de bordo e das provisões de aeroporto. O Regulamento consagra ainda normas de base comuns relativas à segurança durante o voo, recrutamento e formação do pessoal e equipamentos de segurança.

De modo a harmonizar a aplicação do Regulamento (CE) n.º 300/2008 e dos seus diplomas de aplicação, foi prevista uma aplicação escalonada do quadro normativo resultante desta reestruturação, na qual os diplomas dela resultantes, embora tivessem entrado progressivamente em vigor em datas diferentes, tornaram-se aplicáveis na mesma data. Com efeito, e conforme atrás mencionado, o Regulamento (CE) n.º 300/2008 entrou em vigor em 29 de abril de 2008, mas apenas se tornou aplicável a partir de 29 de abril de 2010 – data de aplicação do Regulamento (UE) de n.º 185/2010, da Comissão, de 4 de março de 2010 e da Decisão 2010/774/UE da Comissão, de 13 de abril de 2010. O mesmo sucedeu aeroporto e do ponto 10. Medidas de segurança durante o voo. Salientamos ainda a eliminação do ponto 11. Aviação Geral, prevista no anexo do Regulamento (CE) n.º 2320/2002.

com o Regulamento (CE) n.º 272/2009 da Comissão de 2 de abril de 2009450, com o Regulamento (CE) n.º 1254/2009 da Comissão, de 18 de dezembro de 2009451, com o Regulamento (UE) n.º 18/2010, da Comissão, de 8 de janeiro de 2010452 e com o Regulamento (UE) n.º 72/2010, da Comissão, de 26 de janeiro de 2010453.