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CAPÍTULO 3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O CONHECIMENTO

3.1 MATERIAIS PRODUZIDOS NA DÉCADA DE 1970

3.1.1 A Revista Currículo

Este material se apresenta como um “material de apoio para operacionalização das diretrizes curriculares do ensino de 1.º grau” e foi utilizado como material para a orientação de professores no período da Ditadura Militar. Deve-se destacar que a Lei n.º 5.692/71 atribuía ao Conselho Federal de Educação e aos Conselhos Estaduais de Educação a responsabilidade pela definição dos currículos. Dessa forma, para conhecer as determinações legais desse período deve-se incluir o Parecer n.º 853/71 do CFE, que orienta o processo de estruturação curricular e está explicitamente indicado nos documentos analisados.

A Revista circulou no Estado do Paraná entre os anos de 1973 e 1981, na forma de uma coleção composta por 41 revistas. Levantamento realizado na Biblioteca do CETEPAR indicou que a função de “apoio à operacionalização das diretrizes” começou a ser utilizada a partir do número 18, ano 2, de novembro de

1975, para a área de Comunicação e Expressão - 5.ª a 8.a série.24

A Revista n.º 22, ano 2, é que agrega as orientações específicas da

disciplina de Estudos Sociais – 5.ª à 8.a série, exemplar que será analisado a

seguir.25

24 Resultado desse levantamento, com a lista completa das revistas localizadas, encontra-se

no no Anexo 2 desta dissertação.

25 Em dissertação recentemente defendida, Silvana Matucheski analisa os currículos de

matemática do Estado do Paraná e também faz referências à Revista e às equipes elaboradoras.

(Disponível em:

FIGURA 1 - CAPA DA REVISTA FONTE: Revista Currículo, p.20 NOTA: Original em cor azul.

Na primeira página da revista encontram-se informações sobre órgãos institucionais e seus representantes que estavam apoiando e financiando a publicação: o Ministro da Educação e Cultura, Ney Aminthas de Barros Braga; o Governador do Paraná, Jaime Canet Junior; o Secretário de Estado da Educação e da Cultura, Francisco Borsari Netto; a Diretora do Departamento de Ensino

Fundamental – MEC, Anna Bernardes da Silveira Rocha; a Chefe do Departamento

de Ensino de 1.º grau – SEEC, Zélia Ferreira Cortese.

Segue-se na segunda página a identificação da equipe de Currículo, formada por Grenilza Maria Lis Zabot, Maria Lúcia Faria Moro, Maria Luiza da Silva Osório e Nircélio Zabot (coordenador). Os colaboradores, responsáveis pela elaboração na disciplina específica, foram Arneide Bassani, Elsi G. Costa, Lineu Bley, Massako Osaki, Maria Luiza da Silva Osório. Como apoio, registra Ezenir Gabardo.26

26 Na dissertação citada de Silvana Matucheski encontra-se entrevista do Coordenador da

Equipe de Currículo, que esclarece elementos da produção das revistas e explica a presença de colaboradores das disciplinas específicas como consultores (2011, p.177).

Na apresentação, o texto expõe o que está contemplado nessa edição da Revista Currículo de Estudos Sociais: “O presente documento dá nova ordenação

aos conteúdos propostos para a área de Estudos Sociais, de 5.ª a 8.a série.

Pretendeu-se centrá-los no homem, em sua estrutura sociopolítico-econômico- cultural, na dimensão espacio-temporal.” (REVISTA CURRÍCULO, s/d., p.1).

Essa ordenação assegura “uma distribuição dos conteúdos propostos dentro da seriação normal, formando uma sequência lógica e crescente em que a aprendizagem se dá por um processo cumulativo de objetivos, cuja complexidade maior seja adequada ao estágio de desenvolvimento humano.” (p.1). Evidencia-se aqui a influência da teoria piagetiana de desenvolvimento por estágios e a opção pela estruturação dos conhecimentos a serem ensinados a partir de objetivos, na perspectiva de Bloom. Esta opção se expressa nas páginas seguintes do documento, orientando a derivar objetivos operacionais a partir dos específicos, estes sempre relativos a uma “Ação”, decorrente da teoria.

O esquema utilizado para exemplificar pode ser visto na Figura 2, em que um objetivo específico relativo ao conhecimento histórico – cultura bizantina – é traduzido em objetivos operacionais, indicando o que os alunos devem fazer: identificar características..., recortar gravura..., reproduzir oralmente..., redigir pequeno relatório...

FIGURA 2 - ESQUEMA DE ENSINO FONTE: Revista Currículo, n.22

Observa-se que as atividades solicitadas para a consecução do objetivo podem ser consideradas genéricas, no sentido de que, para qualquer conteúdo de qualquer disciplina, elas poderiam ser igualmente solicitadas. Nesse sentido, se inscrevem em um quadro de estratégias didáticas gerais para organizar o ensino e verificar a aprendizagem que guardam independência em relação às didáticas específicas. Nesse sentido, evidencia-se que a relação entre conteúdo e forma está distanciada, nesse exemplo, da especificidade do conhecimento histórico.

Entre as páginas 27 e 55 são apresentados os conteúdos de 5.ª, 6.ª, 7.a e 8.ª

séries para essa área, que deveria incluir a História e a Geografia, bem como a Organização Social e Política do Brasil e a Educação Moral e Cívica. A referência para a definição dos conteúdos é Jerome Bruner (REVISTA CURRÍCULO, p.12).

Psicólogo, exerceu grande influência nas reformas educativas dos Estados Unidos na década de 1960 e suas ideias sobre a aprendizagem foram incorporadas na década de 1970 no Brasil. Destaca-se a sua compreensão sobre a aprendizagem, que orienta a construção dos currículos em espiral, como apresentado a seguir:

FIGURA 3 - ESTRUTURA DOS CONTEÚDOS FONTE: Revista Currículo, n.22, p.14

A partir do exposto, pode-se observar como o conteúdo da disciplina de Estudos Sociais foi apresentado para cada série, com os objetivos específicos e as estratégias. Duas páginas (28 e 29) foram selecionadas para mostrar a forma de

organização dos conteúdos.27

27 Como alguns dos documentos analisados não estão disponibilizados ainda em arquivos

virtuais, optou-se por incluir imagens de algumas páginas que contribuem para evidenciar as análises realizadas.

FIGURA 4 - CONTEÚDO DA DISCIPLINA DE ESTUDOS SOCIAIS FONTE: Revista Currículo, n.22

FIGURA 5 - CONTEÚDO DA DISCIPLINA DE ESTUDOS SOCIAIS FONTE: Revista Currículo, n.22

A posição dos elementos nas tabelas é indicativa da força dos objetivos específicos na definição de qual é o conhecimento que deveria ser ensinado na área de Estudos Sociais. Apesar da presença central dos conteúdos, entende-se que nos objetivos e nas estratégias são efetivamente definidos os conhecimentos, o que

evidencia a ideia de controle instrumental, característico do modelo educacional – e social – no período.28

Destaca-se, ainda, que as referências ao final do material incluem uma “bibliografia”, uma “bibliografia de apoio metodológico” e uma “bibliografia para o professor”. Em particular, é necessário apontar que o segundo grupo inclui alguns manuais de didática, como o de autoria de Amélia de Castro e outros, denominado

Didática para a escola de Ensino de 1.º e 2.º Graus (Editora Edibell, 1972), de Técnicas Pedagógicas e de Dinâmica de Grupo (Velso Antunes, Ed. do Brasil,

1969), e Didáctica de la Historia y de la Geografía (Leif & Rustin, Editora Kapeluz, 1961). Obras específicas de História – como de Capistrano de Abreu, de Buarque de Holanda, de Pedro Calmon – e obras de Geografia – como uma Introdução à

Geografia, de Nelson Werneck Sodré (Vozes, 1976) – estão na bibliografia para o

professor.