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O Centro Histórico de Salvador (CHS) foi tombado em nível nacional em 1959, pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, SPHAN, atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN. Em 1985, confirmando sua relevância como bem cultural de valor internacional, é inscrito na lista da UNESCO como Patrimônio da Humanidade. A área considerada pelo Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, em sentido norte-sul, acompanha a encosta chamada “falha de Salvador”, desde o Sodré até o Largo de Santo Antônio além do Carmo. À leste, em sua maior parte, limita-se pela Baixa dos Sapateiros e, no seu extremo oeste, termina na escarpa, na já citada “falha de Salvador”.

Figura 11: Mapa de delimitação da poligonal do Centro Histórico de Salvador

Fonte: BAHIA, s.d.

Segundo Tirapeli (2000), o Centro Histórico de Salvador (Figura 12) preserva a trama urbana original do século XVI, com acréscimos que foram sendo organizados durante os séculos seguintes. O conjunto arquitetônico é constituído por edifícios do século XVII, XVIII, XIX e XX, onde se destacam monumentos da arquitetura religiosa, civil e militar, representando o maior conjunto arquitetônico colonial da América Latina.

Figura 12: Vista aérea do Centro Histórico de Salvador

Fonte: IPAC, 1995, p. 3.

No século XX, devido ao seu abandono, passou por um gravíssimo processo de degradação física e econômico-social. A partir de 1967, sofreu algumas intervenções em imóveis isolados e, em 1992, foi iniciado o Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador. Este programa, gerenciado na época pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (IPAC), teve como objetivos:

Dotar o Centro Histórico de Salvador, através da ativação do ciclo econômico, de condições efetivas para a manutenção dos bens e valores culturais de forma contínua e eficaz; promover a recuperação física da área do Centro Histórico de Salvador, redefinindo sua função em relação à cidade e à região metropolitana; criar condições de desenvolvimento do potencial produtivo e da organização social da área. (IPAC, 1995, p. 18).

Nas duas últimas décadas, as obras foram realizadas em etapas, sendo que a sétima etapa encontra-se ainda em execução pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do estado da Bahia (CONDER), que substituiu o IPAC na execução das obras de recuperação do patrimônio. A partir de 2008, a região do Centro Histórico e entorno foi objeto de estudos, elaboração e execução do Plano de Reabilitação do Centro Antigo de Salvador, promovido pela CONDER em parceria com o IPAC e o IPHAN,

através de programas como o Monumenta, do Ministério da Cultura, e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas.

No ano de 2011, o Governo do Estado da Bahia e a Prefeitura Municipal de Salvador celebraram um Termo de Responsabilidade com o objetivo de realizar obras emergenciais para revitalização do Centro Histórico de Salvador. Dentre as ações previstas estava a recuperação de pavimentação e calçada. A Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do estado da Bahia (SJCDH) elaborou um projeto onde se previa a inclusão da obrigatoriedade da construção de calçadas acessíveis. A criação da rota acessível (Figura 13) foi, então, estabelecida entre as responsabilidades assumidas no documento e iniciou-se o processo de elaboração do Projeto Piloto de Acessibilidade.

Figura 13: Rota acessível do CHS

Fonte: BAHIA, 2013.

O Projeto Piloto de Acessibilidade para o Centro Histórico de Salvador teve como objetivo a construção da primeira rota acessível implantada na Bahia, além de servir como modelo a ser replicado por toda a cidade. Constitui-se de um caminho que parte do Cruzeiro de São Francisco, desenvolvendo-se da Rua Gregório de Matos até o Largo do Pelourinho, retornando pela Rua Alfredo de Brito até o Terreiro de Jesus,

fechando o círculo acessível. Acima de tudo, rompe com a ideia de que acessibilidade e patrimônio são incompatíveis (BAHIA, 2013).

[...] ainda que não seja possível garantir o acesso a todas as edificações existentes na rota, este projeto assegura o acesso àquelas de maior relevância para o interesse coletivo, tais como as instituições públicas, o Museu da Cidade, a Fundação Casa de Jorge Amado e o Solar Ferrão. (BAHIA, 2013, p. 32).

Em outubro de 2011, o IPHAN aprova o projeto e autoriza a execução da obra por meio do parecer nº 0388/11. Considera a proposta viável “[...] dado que a interferência no traçado do logradouro é pequena, quando comparado ao benefício trazido pelo projeto.” (IPHAN, 2011). Observa ainda que as soluções adotadas buscam harmonização com o conjunto protegido pelo IPHAN.

No ano de 2012 foi realizada a execução da rota acessível com o alargamento das calçadas em uma das laterais das ruas, mantendo-se o meio-fio existente e aumentando as calçadas para 1,50 m de largura. Nos pontos de cruzamento da rota com as ruas transversais (Figuras 14 e 15) foram instaladas travessias, com faixas executadas em concreto ciclópico (concreto com incorporação de pedras de mão, também conhecidas como matacão ou pedra marroada) revestido com pedras conhecidas como cabeças-de-nêgo, mesmo material utilizado no calçamento das ruas. (BAHIA, 2013).

Figura 14: Rota Acessível do CHS – Cruzamento da Rua das Laranjeiras com a Rua Gregório de Matos.

Figura 15: Rota Acessível do CHS – cruzamento da Rua das Laranjeiras com a Rua Gregório de Matos.

Fonte: acervo da autora, 2014.

Figura 16: Placa indicativa da Rota Acessível do CHS

A passarela existente no Largo do Cruzeiro de São Francisco (Figura 17), apesar de tratar-se de um piso mais regular, encontrava-se com as juntas bastante desgastadas, necessitando de requalificação. Para dar maior regularidade a esse piso, foi realizado o rejunte das pedras, possibilitando o acesso à Igreja de São Francisco e ao conjunto arquitetônico existente nesse trecho do Centro Histórico.

Figura 17: Rota Acessível do CHS – Largo do Cruzeiro de São Francisco

Fonte: acervo da autora, 2014.

Conforme salienta o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (2014, p. 48) “[...] esse projeto certamente contribuirá para a continuidade das propostas que visam proporcionar acessibilidade no Centro Histórico de Salvador, que hoje apresenta sérios problemas de mobilidade e acessibilidade urbana.”

A Rota Turística Acessível do Centro Histórico de Salvador ainda não contempla muitas ruas de interesse e não resolveu o problema de acessibilidade a edificações importantes da localidade. Além desse aspecto, possui trechos com inclinação superior à prevista na NBR 9050/2015, devido ao próprio índice de declividade das ruas do Centro Histórico. Apesar dos problemas não equacionados, a Rota já representa um passo inicial para que o modelo seja replicado em toda a região do Centro Antigo de Salvador que envolve uma área mais ampla que o sítio tombado,

mas que possui relevante representação do ponto de vista histórico, cultural e turístico.

Outro quesito que se observa refere-se à falta de colaboração dos proprietários de estabelecimentos comerciais da região, que insistem em colocar objetos nas calçadas (Figura 18), ou seja, na própria rota, criando barreiras à livre circulação de pedestres, além de causar grande poluição visual.

Figura 18: Barreiras na Rota Acessível do Centro Histórico de Salvador

Fonte: acervo da autora, 2015.