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SUMÁRIO 1 Introdução

2. R EVISÃO DA LITERATURA

2.3. A S INALIZAÇÃO VERTICAL RODOVIÁRIA

Por definição, a sinalização rodoviária é um estímulo ou informação presente dentro do entorno rodoviário, que auxilia ao usuário na navegação dentro do sistema rodoviário, que adverte sobre os riscos presentes na rodovia e que regula o comportamento dos usuários dentro do sistema (LAY, 2004).

O Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito define à sinalização vertical como um subsistema da sinalização rodoviária, onde a informação – o sinal – é transmitida através de um dispositivo vertical, denominado placa de sinalização. Novamente, o objetivo da sinalização vertical é realizar uma comunicação entre o usuário e o projetista ou o gestor da via, para orientar ao usuário sobre as condições, proibições, obrigações ou restrições da via (CONTRAN, 2007).

No contexto da sinalização vertical existe uma distinção entre o conceito de sinal e placa: o sinal é a informação transmitida ao condutor, enquanto que a placa é o elemento físico que apresenta o sinal. Quando em um local há uma única placa não existe nenhuma diferença entre falar da percepção do sinal ou da placa, porém, nos locais onde o sinal está duplicado – uma placa de cada lado da pista – existe uma diferença entre a percepção do sinal e a percepção das placas.

Assim, se o interesse da pesquisa for estudar a percepção das placas – entendidas como elemento físico, seria necessário analisar cada placa individualmente, mas se o interesse for estudar a percepção do sinal, seria necessário agregar a percepção das duas placas, porque representam o mesmo sinal. Isto quer dizer que basta que a pessoa tenha percebido pelo menos uma das duas placas – e não necessariamente as duas – para considerar que percebeu o sinal. O presente estudo adotou esse último enfoque: estudar se as pessoas perceberam os sinais e não cada placa por separado.

Segundo a mensagem do sinal, a sinalização vertical pode ser dividida em três categorias: de advertência, de regulamentação e de informação. Os sinais de advertência têm por finalidade alertar ao condutor de perigos existentes na rodovia

para que o usuário possa reagir adequadamente. Os sinais de regulamentação notificam ao condutor de obrigações ou proibições que deve cumprir. E por último, os sinais de informação facilitam a navegação do condutor e fornecem outras informações não relacionados com a direção do veículo (CONTRAN, 2007).

Conforme mencionado anteriormente, a percepção da sinalização vertical é um caso particular de processamento da informação e, como tal, pode ser analisada em três etapas (CHRYSLER & NELSON, Design and Evaluation of Signs and Pavement Markings Using Driving Simulators, 2011; CASTRO, 2004; LAY, 2004):

1. A primeira etapa compreende a detecção visual do sinal por parte do condutor, que dependerá da conspicuidade da placa e do nível de atenção do condutor. Para garantir que o sinal seja detectado pelos usuários, a placa deve estar localizada conforme as expetativas dos condutores – por exemplo, à direita da pista (BOROWSKY, 2008) – e atrair facilmente sua atenção dentro do entorno rodoviário através do tamanho, cor, contraste e retrorrefletância.

2. Uma vez detectado, o sinal deverá ser lido e compreendido. Nesta etapa é fundamental garantir a legibilidade e compreensão da sinalização. A legibilidade dependerá da distância de percepção, do tamanho e do contraste dos símbolos utilizados. O sinal será compreensível se é simples e preciso, e se a sua forma, tamanho e cor podem ser facilmente associados com outros sinais semelhantes.

3. Por último, se o sinal exige alguma manobra por parte do condutor, o mesmo deverá decidir se obedece ou não a sinalização. O respeito da sinalização dependerá principalmente do condutor, porém, o sinal também deverá ser relevante, coerente com o entorno e apresentada no momento adequado. Considera-se que a sinalização vertical rodoviária é totalmente efetiva quando é detectada, compreendida e obedecida pelos condutores (CHRYSLER & NELSON, Design and Evaluation of Signs and Pavement Markings Using Driving Simulators, 2011; LAY, 2004). Para Summala e Näätänen (1976) e Castro et. al (2004), o principal problema na efetividade da sinalização não é de percepção senão motivacional, isto quer dizer que o sinal pode ser percebido pelo condutor, mas é

ignorado. Para mitigar esse problema motivacional, os autores sugerem evitar colocar sinais que sejam redundantes ou incongruentes com o entorno, e ressaltar a importância da sinalização nos locais realmente críticos para a segurança do condutor.

Na literatura existem vários métodos para avaliar a efetividade da sinalização vertical, entre os quais vale a pena ressaltar a técnica de rastreio do olhar do condutor, a recordação do sinal, nomear os sinais percebidos, analisar a resposta do condutor diante do sinal e analisar as taxas de acidentalidade no local. Segue uma breve descrição desses métodos (CASTRO et al., 2004) e ressalta-se que nesta pesquisa utilizaram-se a técnica de rastreio do olhar e a análise da resposta do condutor após percepção da sinalização.

 Rastreio do olhar: parte da premissa de que a atenção do condutor está associada ao olhar da pessoa. Como desvantagens deste método ressalta-se que alguns condutores utilizam a visão periférica para perceber os sinais – a qual não pode ser detectada pelo sistema de rastreio do olhar – e que alguns objetos podem ser fixados sem ser atendidos conscientemente – inattentional

blindness.

 Recordação do sinal: consiste em parar os condutores depois de ter passado um sinal e recordar qual foi esse sinal, ou recordar todos os sinais percebidos ao longo de um trecho. Sua principal desvantagem é que o fato de ter esquecido o sinal não quer dizer que não foi percebido.

 Análise da resposta do condutor: em princípio, é o método mais apropriado para avaliar a efetividade real da sinalização, porém, exige recursos tecnológicos e econômicos para monitorar constantemente as manobras do condutor. Adicionalmente, deve acompanhar-se de outra técnica que determine se o condutor realmente percebeu a sinalização.

 Nomear o sinal percebido: o condutor deve realizar uma ação cada vez que percebe um sinal – por exemplo, apertar um botão. Os resultados obtidos são enviesados porque o condutor está num estado de atenção excessiva.

 Taxas de acidentalidade: consiste em comparar a acidentalidade no local antes e depois de realizar alguma alteração na sinalização, ou entre dois

locais com diferentes tipos de sinalização. A principal observação sobre este método é que as variações na acidentalidade podem obedecer a diversos fatores, além da sinalização.

A seguir, é apresentado um conjunto de especificações técnicas, disponíveis na literatura, que visam aprimorar a efetividade da sinalização vertical, principalmente em termos de percepção (CASTRO, 2004):

 As placas de sinalização devem estar localizadas entre 8 e 10 graus da linha de visão do condutor para garantir que estejam dentro do campo visual efetivo do condutor. Isto melhora a conspicuidade do sinal e diminui o esforço do condutor para detectá-lo.

 Sempre que for possível, utilizar símbolos e imagens em vez de letras, pois requerem menores tempos de legibilidade e compreensão, além de ser universais.

 A codificação da forma, cor e tamanho do sinal complementam a mensagem da sinalização vertical, além de facilitar a compreensão e associação entre sinais.

 A distância de legibilidade é a máxima distância na qual o sinal é legível. Para 90% da população, a distância de legibilidade está determinada pela seguinte regra: a cada milímetro de altura do símbolo, a distância de legibilidade do mesmo aumenta 600 milímetros.

 A sinalização de advertência não deve estar afastada a mais de 15 segundos da condição advertida para não perder relevância, credibilidade e recordação por parte do usuário.