• Nenhum resultado encontrado

No início do século XX houve um aumento na produtividade do café motivada pela elevação dos lucros. Contudo, a demanda não aumentou na mesma proporção, o que levou a uma queda no preço da saca e acarretou uma crise no setor cafeeiro. A crise de 1929 só piorou a situação da economia brasileira, uma vez que houve queda na exportação de todos os produtos, inclusive do café, o principal bem de exportação do Brasil. Com a queda nas exportações, o Brasil teve problemas de capital para importar os bens industrializados de que necessitava e passou a produzir esses bens no mercado interno, mediante o reinvestimento do lucro obtido na lavoura no setor industrial. (LEITE 2005, p. 84).

No dia 03 de novembro de 1930, Getúlio Vargas assumiu a Presidência da República após um golpe político-militar e, a partir de então, inicia-se o período da Segunda República, que segundo Leite,

[...] representou uma ruptura da ordem precedente tanto na política, quanto na economia e nas relações sociais. Na política porque, a partir de então, houve um processo de reestruturação com o intuito de reafirmar o poder do Estado e de nacionalizar os problemas, mediante o esvaziamento do regionalismo e a desarticulação do poder das oligarquias, representadas principalmente pelos fazendeiros do café dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Na economia, a ruptura se deu através da mudança da classe dominante, à qual ascenderam representantes do capitalismo industrial. Isso tudo deu margem à estratificação social, principalmente devido à criação das novas profissões que esse tipo de modelo econômico demandava. (LEITE, 2005, p. 85)

Além das inúmeras transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas no período, a educação também passou por um momento de mudanças. Muitas pessoas migram para as cidades na busca de melhores condições de vida e a escola é chamada a atender certas exigências sociais que surgem. No entanto, para Rocha (1996, p. 120), “as reformas de ensino introduzidas pela Revolução de 1930 restringiram-se ao nível do ensino para as elites: o secundário e o superior”.

A década de 30 é marcada por uma série de mudanças no ramo educacional, como por exemplo: criação de universidades, reforma do ensino superior (Reforma Francisco Campos), instituição do Estatuto das Universidades Brasileiras, Organização da Universidade do Rio de Janeiro, organização do ensino secundário

(Decreto nº 19.890), organização do ensino comercial e regulamentação da profissão de contador.

Após um período de acumulação de capital, o Brasil na década de 1930 entra definitivamente no modo capitalista de produção. Isto permitiu que o Estado brasileiro investisse mais no mercado interno, assim como na produção industrial. No âmbito destas mudanças econômicas, houve um crescimento da demanda de mão-de-obra especializada, o que implicou na necessidade de investimentos na educação. A criação do Ministério da Educação e Saúde Pública em 1930 e os seqüentes decretos sancionados no ano de 1931 pelo governo provisório, que ficaram conhecidos como “Reforma Francisco Campos", tiveram a intenção não apenas de aperfeiçoar o ensino secundário, mas também de organizar as universidades ainda não existentes em território brasileiro.

Foi o Decreto nº 20158 de 30.06.1931 que regulamentou a profissão de contador, mediante o registro obrigatório dos guarda-livros e dos contadores na Superintendência do Ensino Comercial, e reorganizou este ensino, o qual foi dividido em três níveis: propedêutico, técnico e superior. Conforme Peleias et. al. (2007, p. 26) “o propedêutico exigia o mínimo de doze anos para ingresso” e no nível técnico o ensino comercial foi dividido em ramificações:

a) Secretário (duração de dois anos);

b) Guarda-livros (duração de dois anos);

c) Administrador-vendedor (duração de dois anos);

d) Atuário (duração de três anos);

e) Perito contador (duração de três anos).

Dentre os diversos cursos profissionais, o ensino comercial foi o único a ser estruturado pela Reforma Francisco Campos.

Alguns educadores como Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, dentre outros, lideraram movimentos educacionais significativos. Esses educadores pregavam uma educação como dever do estado e que deveria atender a todas as camadas sociais e não somente à elite, como era até então. No ano de 1932, Fernando de Azevedo, juntamente com mais 26 educadores, assinam o

Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que visava adequar o país às novas necessidades impostas pelo capitalismo industrial. Dentre as diversas questões abordadas no manifesto, uma delas se referia à necessidade de diversificação dos cursos superiores, para que estes pudessem formar profissionais em diversas áreas a fim de atender as demandas ocasionadas pelo desenvolvimento do país.

Segundo Anísio Teixeira,

[...] a universidade é, pois, na sociedade moderna, uma das instituições características e indispensáveis, sem a qual não chega a existir um povo. Aqueles que não as têm, também não têm existência autônoma, vivendo, tão-somente, como um reflexo dos demais. Com efeito, a história de todos os países que floresceram e se desenvolveram é a historia da sua cultura e a historia das suas universidades. Sempre a humanidade viveu utilizando a experiência do passado, mas essa experiência atingiu, nos tempos modernos, tamanha complexidade intelectual, que, sem a existência das universidades, grande parte dela se teria perdido e outra grande parte nem chegaria a ser formulada. (TEIXEIRA, 1998, p. 86)

O Decreto-Lei nº 1535 de 23.08.1939 mudou a denominação do Curso de Perito Contador para Curso de Contador. Em 28 de dezembro de 1943, o ensino comercial brasileiro sofreu uma nova reformulação através do Decreto-Lei nº 6141. Este documento trazia em seu bojo uma proposta mais ampla de reformas educacionais, “buscando atender basicamente dois objetivos: 1ª) promover a articulação entre o sistema educacional e o ensino comercial; e, 2º) elevar o curso de Contador ao nível superior, através da reformulação dos currículos” (FAVERO, 1987, p. 19). Com esse Decreto, o ensino comercial se incorporou ao sistema de ensino médio brasileiro, equiparando-se ao ensino secundário.

Entretanto, mesmo com essas mudanças, várias críticas foram feitas a esses cursos. Conforme Lanaro Junior (apud FÁVERO, 1998, p. 19),

[...] o curso de Contabilidade, ministrado nas escolas de comércio, além de não satisfazer completamente as nossas necessidades, é quase de um modo geral ministrado com pouca eficiência, visto a dificuldade de se encontrar bons professores, além de outras circunstâncias, essas como: grande número de alunos em cada classe; falta de uma boa disciplina; e, deficiência das aulas quanto ao seu sistema prático.

Dentre as críticas feitas pelo autor, ganha destaque a dificuldade de encontrar bons professores para lecionar nos cursos de Contabilidade, e os que lecionam, o fazem de forma ineficiente quase de um modo geral.

2.4 DECRETO-LEI Nº 7.988 DE 1945 E A CRIAÇÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS