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1. MODELOS & TEORIAS

1.2 A Semiótica Social

A Semiótica é ciência da interpretação de signos na sociedade. Segundo Pimenta (2001), ela baseia-se na capacidade inata do cérebro de produzir transformações mentais, a partir das nossas experiências corporais, e de codificá-las em forma de signos ou em sistema de signos.

A chamada Semiótica Social, de base australiana, tem os trabalhos Hodge e Kress como precursores. Nos estudos desses, privilegiam-se a observação da semiose – processo semiótico

– e os efeitos da produção, reprodução e circulação de significados usados, de forma variada,

pelos diferentes agentes da comunicação. Tais agentes correspondem a diversos papeis sociais legitimados. Esses têm, comumente, seus estilo de vida, interpretações, valores e até comportamentos reproduzidos, ou solidarizados, por uma determinada comunidade.

Essa reprodução ou sustentação de regras, de convenções, de comportamentos e de outras institucionalizações subjetivas é discriminada pela proposta australiana como conjunto de regras logonômicas. Hodge e Kress (1988, p.4) afirmam que

as regras logonômicas são especificamente ministradas por agentes sociais concretos, coagindo indivíduos em situações específicas através de processos que estão, em princípio, abertos ao estudo e análise. Eles são desafiados por agentes sociais - por exemplo, crianças, estudantes, funcionários. O sistema logonômico não pode ser invisível ou obscuro, senão, não fucionaria. Eles se tornam visíveis em convenções de polidez, etiqueta, relações industriais, legislação, e assim por diante.34

Assim, através dos agentes sociais, propagam-se valores e crenças nos quais se reconhecem a identidade de diversas comunidades discursivas e de suas respectivas instituições. Tais conhecimentos, traduzidos em ações, propiciam, conforme já introduzido, o processo contínuo de legitimação, ou resistência, de noções subjetivas percebidas, padronizadas ou classificadas, pela coletividade, como certas ou o erradas, leais ou fraudulentas, de boa estirpe ou marginais.

34 Nossa tradução de: the logonomic rules are specifically taught by concrete social agents coercing concrete individuals in specific situations by processes which are in principle open to study and analysis. They are challenged by social agents - e.g.; children, students, employees. Logonomic system cannot be invisible or obscure, or they would not work. They become visible in politeness conventions, etiquette industrial relations, legislation, and so on.

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Portanto, na chamada Semiótica Social australiana, diferentemente da Escola de Praga e de Paris, o interesse que permeia as relações humanas e os discursos hegemônicos sustentados através das manifestações sociais são pontos primordiais de observação. Nesses estudos, a partir da conservação de ideologias dominantes modalizadas, as relações de poder e as estratégias capazes de seduzir ou persuadir uma macro ou microesfera destinatária são privilegiadas.

O Fluxograma 3, baseado nos trabalhos de Hasan (1989), exprime e dialoga, de forma bem- sucedida, com as perspectivas interacionais sugeridas nas propostas de Hodge & Kress. Ele discrimina as relações entre os atores e entre as diferentes maneiras de se dizer e de se significar, traduzindo as hierarquias sociais entre as instâncias envolvidas nas práticas sociais.

Fluxograma 3: Sujeitos e relações de Poder

Hierárquica (+)

RELAÇÕES

Relação de poder

Papeis dos Agentes Não-hierárquica (-)

Máxima (+) Distância social

Mínima (-)

Fonte: Meurer e Dellagnelo (2008, p.24)

Em suma, ao observamos a representação acima, percebemos que a distância social entre os sujeitos-interlocutores define o grau de hierarquias entre eles. Assim, entendemos que quanto mais formal é uma prática, mas evidente a relação hierárquica.

Como outras escolas, a Semiótica Social também utiliza a noção de signo e significado advinda de Saussure (1975). Entretanto, em congruência com a LSF, Hodge e Kress afirmam que o signo está além das impressões de cunho psíquico e arbitrário. Eles ainda especificam que as significações são motivadas pela interação da estrutura sintagmática – que

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correspondem ao nível da sentença – e da estrutura paradigmática – que corresponde às escolhas discursivas.

As relações de poder e a luta hegemônica35 são foco principal do modelo semiótico australiano. Nessa perspectiva, o pesquisador é desafiado a traçar e delinear o perfil do sujeito atuante e a forma como esse influencia e é influenciado, impelido ideologicamente, pelas comunidades discursivas, nas quais atua e participa.

Ou seja, na trajetória investigativa de um semioticista, interessa o entendimento de como o indivíduo faz uso ou está sujeito ao conjunto de normas que prescrevem as condições de produção e recepção de significados, aos sistemas logonômicos vigentes em seu tempo e em seus respectivos espaços de atuação social.

Como para a Semiótica Social, é também objetivo da Análise Crítica do Discurso (ACD) observar como um ator-social tende a aceitar, contemplar ou romper, gradativamente, com as práticas sociais convencionais, elegendo ou refutando os eventos que transgridem as regras logonômicas institucionalizadas.

Esses conceitos e pressupostos oriundos da ótica marxista compreendem que o mundo material e social atendem formas de organização que propiciam, na sociedade do século XXI, por exemplo, a partir da concentração de renda e bens, a manutenção de desigualdades, a centralização de poder, legitimados pelo uso da força, e principalmente pela propagação de ideologias, mensagens de controle que modalizam o comportamento dos atores, fortalecendo as estruturas de dominação.

Nessa pesquisa, a afinidade entre leitor e produtor da notícia, por exemplo, é entendida como uma relação hierárquica, de poder; já que a imprensa se situa como detentora da informação, do produto-verdade, e o leitor é sujeito-consumidor, a instância que entende o conhecimento

35 O espaço de luta hegemonica foi definido nos estudos marxistas sobre hegemonia cultural, materialismos e determinismos do cientista político e filósofo Antonio Gramsci (1891-1937). Tal noção se remete a embates que comportam não apenas questões vinculadas à estrutura econômica e à organização política, mas que envolvam também, no plano ético-cultural, a expressão de saberes, práticas, modos de representação e modelos de autoridade de base capitalista que se legitimam e se universalizam a partir da reprodução de estilos e hierarquias marcadas pela exclusão. Tal noção tratadas por Gramsci em publicações como Concepção dialética da história (1995) também é apropriada pela TSD do Fairclough.

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impresso em questão, por vezes mero boato, como valor significativo a ser, rapidamente, usufruído.