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A Simbologia e o Conjunto das Cerimônias Integralistas

A estrutura ideológica criada pela AIB contava ainda com os símbolos e um conjunto de cerimônias, os ritos integralistas, que submetiam os adeptos do Movimento a um processo de ritualização massivo e constante.

Para Cavalari (1999), os símbolos e ritos, além de estratégias de padronização do Integralismo, eram responsáveis por criar a mística do movimento e constituíam-se também em eficiente estratégia de arregimentação de novos adeptos. Cumpriam, portanto, uma dupla função: unificavam e arregimentavam.

Para instituir a mística integralista, regulamentar e padronizar os símbolos e as cerimônias, a AIB criou uma extensa legislação unicamente para esse fim: os Protocolos e

autoridades integralistas são obrigadas a conhecer, cumprir e fazer cumprir os presentes Protocolos e Rituais em todos os seus pormenores” (PROTOCOLOS).

Os Protocolos e Rituais editados para regulamentar as práticas dos militantes integralistas tinham por objetivo: “Codificar os dispositivos gerais e mais importantes de seus Regulamentos e estabelecer normas, fórmulas e usos que regulem os atos públicos e os cerimoniais integralistas e fixar honras, regalias, direitos e deveres relativos a todas as autoridades do Sigma” (PROTOCOLOS).

Todo e qualquer militante integralista era controlado por esta legislação que previa as regras, o comportamento e as ações a serem adotadas como Regras de Conduta, durante o Juramento Solene e nas Festas Integralistas, prevendo inclusive normas específicas para batizados, casamentos e falecimentos. Ou seja, a conduta do Integralista era prevista e normatizada desde o seu nascimento até a sua morte.

As militantes da AIB não escapavam a essas normatizações, também tinham sua participação formatada pelos Protocolos Integralistas. O uniforme, os adereços passíveis de serem utilizados, a forma de se portar, todos os detalhes da sua militância eram prescritos pela AIB. Segundo Cavalari (1999), a presença da Doutrina, por meio dos ritos a serem seguidos e dos símbolos adotados, era constante e acompanhava os militantes por toda a vida. Todos os espaços eram ocupados; todas as ações vigiadas e regulamentadas.

Neste sentido, a doutrina estava presente nos acontecimentos mais relevantes, seja da vida pública ou pessoal dos militantes, de forma que para o movimento não havia distinção entre as esferas pública e privada. Ao contrário, o privado era transformado em público via internalização da Doutrina nos lares dos militantes.

Além dos ritos, também os símbolos eram utilizados pelo integralismo como meio de doutrinar e disciplinar seus quadros. Eram considerados como símbolos integralistas o Sigma, a Bandeira e o distintivo, embora o Símbolo por excelência do movimento fosse o Sigma, que se reafirmava na bandeira e no distintivo.

Figura 11: Estruturação da Camisa e do Distintivo Integralista. (FONTE: MONITOR, p.10, maio de 1937).

Figura 12: Bandeira Integralista. A bandeira integralista (Bandeira Azul e Branca) possuía as seguintes características: em campo azul real, uma esfera branca, ao centro da qual se destaca um Sigma maiúsculo, em cor preta. (FONTE: http://www.integralismo.org.br em 18/11/2006).

Figura 13: Braçadeira Integralista. (FONTE: http://www.integralismo.org.br em 18/11/2006).

Um outro elemento que formava a indumentária integralista era o uniforme, também um dos símbolos do Movimento. Tinha por função abolir as diferenças, homogeneizar e classificar diferentes segmentos no interior do Integralismo, pelas insígnias.

Figura 14: Uniforme “Camisa-Verde”. (FONTE: MONITOR, p.11, dez 1934).

Para corroborar com os ritos e símbolos integralistas encontramos ainda o gesto e a saudação integralista – Anauê63.

63 “O gesto integralista, que servia para saudações, continências, reverências, sinal de alegria e todas as provas

de respeito dos ‘camisas-verdes’, era feito com o soerguimento brusco do braço direito, até a posição vertical;

palma da mão voltada para a frente, com os dedos unidos; braço esquerdo arriado naturalmente.

O gesto integralista, que a pessoa deveria praticar em pé, poderia ser individual ou coletivo e ser efetuado com a pessoa parada ou em movimento. Caso a pessoa estivesse doente ou impossibilitada de levantar-se, se estivesse a cavalo ou em qualquer outro veículo, poderia fazê-lo sentada, desde que o gesto não fosse dirigido às Bandeiras Nacional e Integralista ou ao Chefe Nacional.

A Saudação integralista era um sinal de respeito às autoridades e objetos veneráveis e uma saudação fraterna para os companheiros de igual categoria, era feita através de gesto e da exclamação da palavra Anauê, um e outro se complementando simultaneamente.

Como apontado, a rede integralista formada pela palavra impressa era acrescida pela palavra falada e, representada pelas sessões doutrinárias, pelos ritos e pelos símbolos integralistas. Por estes artifícios a AIB pretendia fechar o círculo em volta dos seus militantes, não deixando espaço para variações ou contestações da sua doutrina.

Com vistas à implantação do Estado Integral, por meio de suas estratégias de arregimentação e unificação dos seus quadros de militância, procurava-se desenvolver a formação para a obediência, a ordem, a hierarquia, o respeito e o cumprimento do dever, além do amor à Pátria e ao Movimento. Tais objetivos eram almejados pelo desvelo ardente da AIB em relação à normatização e à minúcia de atos, gestos, falas, comportamentos e atitudes que se consubstanciavam na repetição, na vigilância, no controle, na imitação, na punição, na premiação e na recompensa (CAVALARI, 1999).

O discurso e as estratégias integralistas foram bastante eficazes, fixando-se no imaginário de determinados segmentos sociais a ponto de permanecerem ‘vivos’ até hoje.

A AIB foi politicamente desmobilizada a partir de 1937, mas sua doutrina permanece na memória de uma militância mais tradicional que ainda tenta na atualidade reerguer o Movimento. Em outubro de 1990 foi realizado um congresso integralista em Belo Horizonte visando fundar o Partido da Ação Integralista Brasileira (PAIB). Além disso, apontamos à criação do Centro de Estudos e Debates Integralistas – CEDI –, criado em 01/09/99, tendo como finalidades básicas o estudo, o debate e o esclarecimento da doutrina integralista para todos os brasileiros, com o intuito de resgatar as injustiças feitas desde a

A palavra Anauê, de origem Tupi, que era usada como saudação e grito de guerra dos índios daquela tribo, tinha uma conotação afetiva e significava você é meu parente.

A escolha de tal palavra pela AIB, como aclamação da saudação integralista em ‘louvor ao Sigma’, justificava-se no integralismo ser grande família dos ‘camisas-verdes’ e um MovimentoNacionalista, de sentido heróico. A Exclamação da palavra Anauê servia ainda, para exaltar, consagrar e manifestar alegria”. (CAVALARI, 1999, p.199-200).

implantação do Estado Novo (1937/45) ao integralismo, aos integralistas e ao seu chefe nacional. O CEDI realiza reuniões doutrinárias e periódicas entre seus membros, mantém sites na internet com informativos, textos, artigos integralistas e um jornal denominado Informativo

CEDI. 64

Esses aspectos nos levam a pensar na probabilidade de uma nova rearticulação do movimento, pois sabemos que persistem, até os dias de hoje, movimentos que reativam os ideais da AIB e dão continuidade a seus projetos por sites na Internet65 e jornais, arregimentando adeptos, organizando núcleos integralistas e promovendo encontros entre simpatizantes do Discurso de Plínio Salgado e da Doutrina da AIB. Abaixo, na Figura 15, veiculamos um folder de um desses encontros, promovido pela Frente Integralista Brasileira – FIB66: 64 Ver: http: //www.integralismo.org 65 · http://www.integralismo.com · http://www.integralismo.org · http://www.anaue.cjb.net · http://www.anauefoz.hpg.com.br · http://www.geocities.com/anauerp · http://www.cehp.hpg.com.br · http://www.geocities.com/anauebarueri · http://aib.freeservers.com · http://www.geocities.com/Heartland/Pines/4983

66 Ao defender o Integralismo no Século XXI a F.I.B propõe rearticular os pressupostos da AIB nos dias atuais.

Figura 15 – Folder 2º Congresso Nacional Integralista, realizado em 23/09/2006.

Essa constatação da permanência do discurso da AIB até os dias de hoje demonstra a relevância do discurso integralista e sua penetração no imaginário das massas, a ponto de manter suas bases ideológicas até a atualidade, as quais ganham mais força diante da grave crise do país frente às perspectivas do neoliberalismo, bem como dos escândalos de corrupção e da crise política na qual nos encontramos ao longo dos últimos anos.