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5. O período de assistência 75 79: O primeiro resgate

5.4. A situação agrava-se

No fim de agosto de 1976 foi emitido o parecer técnico do FMI sobre a consulta a Portugal do artigo IV e neste parecer foi identificada uma deterioração das previsões face ao que esperado no parecer do Programa de Financiamento Compensatório de Junho.

No entanto este parecer, mais uma vez, afirma que o programa apresentado por Portugal no memorando anexado ao pedido no Programa Oil Facility, em Dezembro de 1975, estava a ser, de forma geral, implementado. Foi feito um reparo à ultrapassagem dos limites do crédito ao setor público, mas o FMI reconheceu que este seria compensado por um valor muito abaixo dos limites no que diz respeito à expansão do crédito interno (FMI, Portugal - Staff Report and Proposed Decision for the 1976 Article XIV Consultation, 1976).

A aplicação deste programa não evitou que, após uma aparente melhoria no primeiro trimestre de 1976, houvesse um agravamento significativo da balança corrente, com o FMI a alterar a sua previsão de melhoria em relação a 1976, para um significativo agravamento (FMI, Portugal - Staff Report and Proposed Decision for the 1976 Article XIV Consultation, 1976).

Este agravamento teve a sua origem numa recuperação mais rápida das importações em relação às exportações e a uma significativa fuga de capitais que se verificou. Portugal tentou contrariar esta tendência com um conjunto de medidas de estímulo à captação de investimento direto estrangeiro e permitindo uma desvalorização acentuada da Escudo de cerca de 9% em 1976. Esta desvalorização acentuada, juntamente com as taxas de juro negativas, em termos reais, contribuiu para a especulação financeira, com a fuga de capitais dai resultante e a criação de stocks especulativos fase à desvalorização do Escudo e à inflação,

46 que viria a atingir os 30% no fim de 1976, o que estimulou as importações (FMI, Portugal - Staff Report and Proposed Decision for the 1976 Article XIV Consultation, 1976).

Adicionalmente, foi considerado inevitável, face à acelerada perda de reservas para financiamento do défice externo, a criação de novas barreiras ao comércio e pagamentos. As autoridades consideravam impossível aumentar significativamente as exportações no curto prazo, face aos diversos constrangimentos existentes ao aumento da produtividade e investimento (FMI, Portugal - Staff Report and Proposed Decision for the 1976 Article XIV Consultation, 1976). Durante o verão de 1976 Portugal apertou as regras sobre as trocas monetárias e os montantes disponíveis para o turismo e em 9 outubro aumentou o valor da sobretaxa sobre as importações, aumentando a duração da mesma para Março de 1977, e introduziu também um sistema de depósitos obrigatórios de 50% do valor, para um conjunto de bens considerados supérfluos (FMI, Portugal--Exchange and Trade System, 1976).

No fim de 1976 a situação económica portuguesa estava a tornar-se crítica. Para o FMI as autoridades portuguesas não estavam a conseguir corrigir os desequilíbrios na economia criados pela instabilidade politica e social no Pós 25 de Abril. As perspetivas económicas para o país eram desanimadoras, com o investimento, publico e privado, a ficar aquém do previsto, as exportações a não acompanharem a recuperação da economia mundial, o desemprego a aumentar, a inflação a subir e o PIB a crescer a um ritmo mais lento que o esperado (FMI, Portugal - Staff Report and Proposed Decision for the 1976 Article XIV Consultation, 1976)

As amplas reservas que Portugal possuía quando da Revolução permitiram controlar as quebras na produção e emprego, apesar dos desequilíbrios externos, mas em 1976 a contínua drenagem das mesmas, a reticência nacional em alienar as reservas de ouro e uma banca internacional pouco aberta face à jovem democracia portuguesa (Horta, 2018) colocou o financiamento necessário para a balança de pagamentos nestes anos em grande medida dependente de empréstimos junto de fontes oficiais como a CEE, EFTA, BRI e o como verificamos o FMI.

Foram também fundamentais os empréstimos de países como os EUA a Alemanha e a Suíça que no pós-25 de Novembro concederam a Portugal financiamento com vista a minimizar os efeitos da crise económica e apoiar a consolidação da democracia. Estes empréstimos bilaterais de curto prazo atingiram de valores muito significativos, entre os 700

47 e os 800 milhões de DES, tendo alguns como garantia as reservas de ouro (Bruneau, 1982) (Lopes J. S., 2004) .

Visando a reversão da situação económica Portuguesa, o relatório da Consulta entre o FMI e Portugal em 1976 apresentou um conjunto de recomendações técnicas (FMI, Portugal - Staff Report and Proposed Decision for the 1976 Article XIV Consultation, 1976), designadamente:

A redução do ritmo de crescimento dos salários reais e a aceleração do crescimento económico foram considerados essenciais para criação de emprego e para criar novas oportunidades de emprego e diminuir as diferenças de rendimento entre trabalhadores e desempregados.

O Estado deveria gerar condições para o aumento da poupança que permitisse canalizar investimento para setores de mão-de-obra intensiva, promotores das exportações e que reduzissem a necessidade de importações.

Era fundamental definir qual o papel do setor privado na economia, flexibilizar a política laboral e facilitar o financiamento das empresas. O Estado deveria fortalecer a sua administração e solucionar os problemas derivados do programa de nacionalizações.

O equilíbrio do sistema de preços era imprescindível para o desenvolvimento económico. O sistema de subsídios e preços controlados, criado para proteger os ganhos salariais controlando a inflação, criava distorções na economia e estimulava indevidamente o consumo.

A alteração da taxa de câmbio, através da desvalorização da moeda poderia ter um papel importante na correção do desequilíbrio externo.

O FMI criticava ainda a opção portuguesa de recorrer a novas restrições ao comércio e pagamentos, considerando que estas restrições, sem a introdução de medidas estruturais que alterassem o contexto económico nacional seriam contraproducentes.