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PARTE I – Contextualização da Educação de Adultos em Moçambique e o

Capítulo 3 A Situação da Formação de Professores, em Moçambique

De acordo com o artigo 66º da Concordata assinada pelo governo português com a santa Sé, o “ensino especialmente destinado aos indígenas deverá ser

inteiramente confiado ao pessoal missionário e aos auxiliares”.

A primeira Escola de Preparação de Professores Primários Indígenas criada em 1930 para as escolas primárias rudimentares tinha 73 alunos.

São exemplos destas escolas de formação profissional do tempo colonial, a “Escola de Artes e Ofícios” em Mussuril, aberta em 1889, a escola Normal do Alvor – Manhiça em 1926, e outras escolas como as de Magude, Marere, Dondo, Boroma, Quelimane, Alto-Molócuè, Homoíne, S. Pedro de Chiúre e Vila Cabral, que tinham como objectivo preparar professores para ministrarem o ensino primário rudimentar aos nativos da colónia de Moçambique, tanto nas escolas oficiais com nas escolas privadas, nas escolas missionárias nacionais ou estrangeiras.

Passamos a apresentar o mapa que ilustra as zonas com escolas de formação profissional no tempo colonial em Moçambique.

Mapa 2 - Distribuição das Escolas de Formação Profissional por zonas no tempo colonial em Moçambique.

Nas províncias do norte de Moçambique, as escolas estavam distribuídas nas seguintes zonas: Cabo Delgado – São Pedro de Chiúre;

Niassa – Vila Cabral;

Nampula – Mussuril e Marere; No centro de Moçambique, nas zonas de:

Zambézia – Alto Molócuè e Quelimane Tete – Boroma

Sofala – Dondo

No sul de Moçambique, nas zonas de: Inhambane – Homoíne;

Maputo – Manhiça e Magude

Os requisitos para entrada nestas escolas de formação para professores, para os nativos da colónia eram as seguintes:

Ter idade mínima de 16 anos;

Ter bom comportamento moral e cívico;

Ter feito exame de instrução primária elementar e exame de admissão;

Estar isento de doenças ou de deficiências físicas incompatíveis com o professorado.18

Os estudantes vinham normalmente de comunidades cristãs, sobretudo de escolas missionarias, famílias de professores e membros da igreja.

Os formadores de professores eram recrutados entre os missionários, que tinham qualificação em certas áreas. Cada formador ensinava duas disciplinas.

Actualmente, a formação dos professores é feita nos Institutos de Magistério Primário (IMP’s), nos Centros de Formação para os Professores Primários (CFPP’s), nas escolas e noutros centros de formação. Estas escolas de formação estão a passar por uma situação de falta de financiamento que as impede de contribuir significativamente e com sucesso para a formação dos professores.

O Ministério de Educação, apesar de criar condições para uma educação qualificada, formando professores nos Institutos de Formação Profissional e nas Universidades Pedagógicas, ainda precisa de mais escolas de nível superior para a formação de professores secundários e até universitários, com vista a capacitar professores para estes níveis de ensino. Uma escola de formação para a educação de adultos, que formasse professores para atender à especificidade deste subsistema, seria o desejável neste momento em que o país está precisando de mais quadros qualificados, para fazer face à redução da pobreza e de outros males que afectam a sociedade em geral. No entanto, a baixa motivação dos professores,

18

devido a difíceis condições de trabalho, como salas de aula que são muito pequenas para um elevado número de alunos, sobrecarga de trabalho, salários baixos e irregulares, leva a que muitos professores já formados e com muitos anos de educação abandonem a educação e se agarrem a outras oportunidades de trabalho, mais rentáveis para superar as dificuldades da vida que são insustentáveis.

Constata-se que em relação à formação de professores primários, que são a base de toda a Educação, os três anos do ensino secundário (10ª classe) que são exigidos aos estudantes para a admissão nos IMP’s, não são suficientes para que eles possam vir a ser professores eficientes nas escolas, em especial as das zonas rurais, onde o problema da educação é mais agudo, por motivos de ordem linguística (a maioria não fala a Língua Portuguesa com proficiência) e que exigem dos professores grande poder de investigação, inovação, dedicação e com altos níveis de proficiência linguística do Português e das línguas bantu e até capacidade de investigação e de inovação.

De acordo com Mudiue,19 “O professor deve aprender a dominar assuntos

como: o domínio de transmissão de temas, o uso do quadro e do giz, flexibilidade na mudança de método quando o momento não é aplicável.”

Sabemos que transmitir um determinado tema com coerência e objectividade depende grandemente do nível de formação profissional e académico dos professores, sejam eles primários ou secundários, das condições de trabalho, e de um sistema permanente de formação, que leva os professores a reverem, através de uma investigação adequada e actualizada os conteúdos a ensinar.

Mudiue, citando Manuel Golias20 em relação à educação durante a primeira década de Moçambique pós-independência, afirma: “o sistema de educação no

período pós-independência foi uma continuação da educação das “zonas libertadas”.

19

(Veja Mudiue, Armando Meque, (1999:23), A Formação de Professores Primários em Moçambique: Um Estudo de Caso do Centro de Formação de Professores Primários de Inhamissa, 1976-1986, Cadernos de Pesquisa nº 33, INDE, Moçambique).

20 (Manuel Golias, O Sistema de Ensino em Moçambique – Presente e Passado, Editora Escolar, Maputo, in Contacto nº 2 pp. 33-35).

Assim sendo, os seus objectivos e conteúdos sobre-enfatizaram a educação ideológica e negligenciaram os processos pedagógicos”. Dzvimbo e Lima (1996:10)

reforçam esta ideia, afirmando que “a maturidade académica dos estudantes deve

ser elevada, por forma a que o maior tempo possa ser dedicado às disciplinas profissionalizantes, tais como Psicologia, Sociologia, Filosofia e Pedagogia, ao invés de se concentrar ao ensino das disciplinas gerais como Biologia, Química, História, Geografia, as quais deveriam ser leccionadas nas escolas normais”.21

Perante esta situação, não se deve culpar os professores pelos maus resultados escolares, porque eles têm de lidar com turmas superlotadas e programas que não estão de acordo com a realidade dos alunos. Estas condições são agravadas por uma formação inadequada dos professores. Relativamente aos programas elaborados nesse período, verifica-se que tinham como base a filosofia de escolarização que começou nas zonas libertadas. A ênfase era posta mais na política do que para o processo de ensino-aprendizagem.

Segundo Mudiue, “com a falta de rigor e clareza nas orientações teórico-

práticas e de manuais de formadores e formandos, a visão do formador fica limitada e a sua acção reduz-se às explicações teóricas em detrimento da prática docente”. A

esta visão dos programas, apesar de nos últimos anos ter mudado em termos de conteúdo, falta, porém, o espírito de investigação, de motivação e vontade, para uma mudança mais saudável na educação e consequentemente nos professores actuais.

No que respeita à Educação de Adultos, a Universidade Eduardo Mondlane, nos últimos anos, abriu, entretanto, cursos de mestrado direccionados para o ensino de Educação de Adultos e outros cursos, com o objectivo de capacitar professores/quadros para o ensino de adultos, numa perspectiva de inovação pedagógica. Também, é de notar, o esforço que a Universidade Pedagógica tem feito na formação de licenciados e bacharéis, para leccionarem alunos do ensino secundário.

21 (cf. Dzvimbo & Lima, (1996) em Estudos dos Institutos Médios Pedagógicos e o seu papel potencial na formação dos professores em exercícios. INDE, caderno de pesquisa nº 15, Maputo, Moçambique.

Os professores de português22 apresentam distintos graus de formação académica e profissional. Alguns professores, durante o dia, trabalham em outras instituições do Estado ou em Empresas Públicas, outros completam os seus estudos nas universidades do país.

Passamos a apresentar de seguida o organigrama de formação dos professores no SNE.

22

Na Escola Secundária da Maxaquene, segundo dados recolhidos no inquérito feito aos professores, 3

professores são licenciados e 2 são bacharéis. Dos 5 professores desta escola, 1 é eventual, dois do quadro e dois são estudantes.

Capítulo 4 – O Caso da Turma 4 da Escola Secundária da Maxaquene (Curso