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II. Nomenclatura

2. Revisão da Literatura

2.4 A Situação financeira das empresas portuguesas e o investimento

empresas nas decisões de investimento. Relativamente a estudos com dados de empresas portuguesas, Barbosa, Lacerda e Ribeiro (2007) com recurso a uma amostra de empresas não financeiras para o período de 1995 a 2006 investigaram a influência que a situação financeira das empresas, medida através do custo de financiamento, dos encargos com juros, do nível de endividamento e da rentabilidade, pode ter sobre as decisões de investimento. Os autores verificaram um efeito positivo e significativo da taxa de investimento do período anterior sobre o período atual, mostraram a relevância das variáveis encargos com juros, nível de endividamento e rentabilidade, em particular, para as decisões de investimento e evidenciaram uma relação negativa entre as variáveis que medem a pressão financeira das empresas e o respetivo investimento. Adicionalmente, verificaram que as empresas de maior dimensão tendem a apresentar taxas de investimentos inferiores bem como as empresas que apresentam situações de crédito em incumprimento. Já no que diz respeito à participação no comércio internacional e do

2 Esta denominação reflete as conclusões obtidas no estudo de Fazzari, Hubbard and Petersen (1988), no qual

verificaram que o fluxo de caixa é um determinante importante para financiar o investimento das empresas devido a uma hierarquia de financiamento criada pelas imperfeições existentes no mercado de capitais, que dificultam o acesso das empresas ao financiamento externo e que, por sua vez, aumentam a sensibilidade destas empresas à disponibilidade de fundos internos.

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número de relacionamentos bancários que a empresa detém, os autores constataram uma diminuição da sensibilidade do investimento à situação financeira.

Farinha e Prego (2013) fizeram um estudo semelhante para o período compreendido entre 2006 a 2011, onde tentaram perceber como é que as decisões de investimento das empresas se relacionam com a sua situação financeira (medida através do peso dos juros, do nível de endividamento, do custo de financiamento e da rentabilidade das empresas). Os autores constaram também um efeito positivo e significativo da taxa de investimento do período anterior sobre o período seguinte. A par disto, os autores investigaram se a dimensão das empresas altera o efeito que a situação financeira tem nas suas decisões de investimento, e se houve alteração deste efeito durante o período de crise económica e financeira. Os resultados obtidos mostram que a estrutura financeira das empresas afeta as suas decisões de investimento, indicando desta forma que o peso dos juros, o custo de capital e o nível de endividamento da empresa estabelecem uma relação negativa com a taxa de investimento, enquanto a rentabilidade da empresa influencia positivamente o nível de investimento. Para o efeito da dimensão das empresas, os resultados indicam que as empresas de maior dimensão parecem ser menos afetadas pela situação financeira. Para o efeito da crise económica e financeira, o impacto da situação financeira das empresas tornou-se mais importante durante o período de intensificação da crise (Farinha e Prego, 2013). Reportada para um contexto setorial, a metodologia seguida por estes autores será aplicada neste estudo, com a situação financeira das empresas medida pelo peso dos juros, do nível de endividamento, do custo de financiamento, da rentabilidade das empresas, acrescentando-se a estas variáveis a medida de fluxo de caixa.

São várias as teorias que tentam elucidar os determinantes do investimento das empresas, das quais se pode destacar a Teoria Neoclássica e a Teoria do Free Cash Flow. A Teoria Neoclássica afirma que o investimento é explicado por variáveis exógenas à empresa, como é o exemplo das vendas, enquanto a Teoria do Free Cash Flow, estabelecida pelos estudos de Fazzari, Hubbard e Petersen (1988), designa que o investimento depende de fatores endógenos às empresas, com especial relevo para o fluxo de caixa, variável objeto de análise ao longo deste estudo. Neste enquadramento, Nunes, Mendes e Serrasqueiro (2012) investigaram os determinantes do investimento de 1845 PME portuguesas e obtiveram evidências de que, para baixos níveis de investimento, as vendas, a idade das empresas e as oportunidades de crescimento provocam restrições ao investimento, contudo, são determinantes positivos do investimento para empresas com elevados níveis

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de investimento. Quanto ao nível da dívida e às taxas de juro, estes são determinantes que condicionam o investimento, mas apenas para empresas com baixos e moderados níveis de investimento. O fluxo de caixa é um determinante positivo para o investimento, sendo mais importante para empresas com baixos níveis de investimento. No que respeita ao investimento do período anterior, este mostrou-se ser um determinante positivo para o investimento do período atual, mas somente para níveis moderados e elevados de investimento. Enquanto que para baixos de níveis de investimento, a relação entre o investimento do período anterior e o investimento do período atual não é estatisticamente significativa.

À semelhança do estudo anterior, Mendes, Serrasqueiro e Nunes (2014) analisaram a aplicabilidade das teorias do investimento em PME jovens e maduras com diferentes níveis de investimento, tendo em consideração duas amostras de PME portuguesas, das quais 582 são jovens e 1654 são maduras, para o período de 2000 a 2009. Os resultados obtidos mostraram que o P.I.B., as vendas e a dívida são determinantes positivos para o investimento das PME jovens com elevados níveis de investimento, e que as vendas, o nível da dívida e as taxas de juros são determinantes restritivos do investimento das PME jovens com baixos níveis de investimento. Os autores reforçam aqui a possível dependência destas PME sobre o financiamento interno, como consequência dos obstáculos enfrentados na obtenção de financiamento externo. Relativamente às PME maduras com elevados níveis de investimento, o P.I.B. e as vendas promovem o investimento, já a dívida e os juros limitam o investimento das PME maduras, mas com baixos níveis de investimento. O fluxo de caixa é um determinante positivo, que impele à realização do investimento de todas as empresas, tendo apresentado um maior impacto sobre o investimento de PME jovens com baixos níveis de investimento.

2.5 Contextualização da crise na situação financeira das empresas

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