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A sociedade brasileira: política, economia e cultura

CAPÍTULO II – A CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

2.4. A sociedade brasileira: política, economia e cultura

Intensas transformações econômicas, sociais, políticas e culturais caracterizam a segunda metade do século XIX. O desenvolvimento da grande indústria na Europa provocou uma revolução nas forças produtivas do capital, bem como no mercado mundial, acarretando um período de crise na sociedade capitalista, e colocando em evidência as contradições imanentes dessa sociedade. Nesse contexto de transformações, os países do Novo Mundo, inseridos no processo de produção mundial, foram levados a transformarem- se de forma a se adequar às novas exigências do capitalismo – que dava passos largos em direção ao imperialismo e aos monopólios.

No Brasil, essas transformações políticas e econômicas repercutiram no tecido social. Com os efeitos da Lei Eusébio de Queirós23, capitais antes investidos no lucrativo comércio de escravos passaram a diversificar suas aplicações favorecendo o financiamento                                                                                                                          

de obras que viabilizavam as comunicações, como a construção de estradas de ferro, navegação a vapor, cabos telegráficos, iluminação pública – mudanças que redefiniam as percepções de tempo e espaço, formavam novos hábitos na população, estimulavam uma variedade de serviços e, consequentemente, ampliavam a demanda por instrução. A educação passa a ser cada vez mais valorizada pela elite ilustrada, para quem a defesa da instrução do povo passa a ser uma questão eleitoral, moral e de preparação de mão de obra capaz de substituir com vantagens o trabalho escravo (cf. BARROS, 1959).

Modificar o trabalho exigia também a modernização da sociedade civil: o fim da monarquia, a separação entre a Igreja e o Estado, a adoção do casamento civil, a secularização dos cemitérios, a reforma eleitoral, o incentivo à imigração e à industrialização, e muitas outras atitudes.

Tais mudanças ocorrem de forma lenta e gradual, provocando discussões e lutas entre os homens de opiniões distintas. Nesse contexto de disputas, destaca-se, nas duas primeiras décadas do Império, o surgimento de debates sobre a necessidade de criação de escolas para as classes populares, sob a tutela do Estado.

A transição do trabalho escravo para o assalariado desencadeou a preocupação com a educação do liberto – para ensinar-lhe a amar o trabalho (cf. SCHELBAUER, 1998). A abolição foi realizada paulatinamente, culminando na total liberdade em 188824. Assim, com a promulgação da Lei de Ventre Livre (1871), já havia a preocupação com a educação dos filhos do trabalhador livre e pobre e, principalmente, com a educação dos filhos de escravos (os ingênuos). A lei previa que os senhores de escravos deveriam se encarregar da educação dessas crianças.

Acreditava-se que a solução para a falta de braços, no Brasil, estava na educação: educando e treinando o trabalhador nacional e o liberto, eles poderiam ser incorporados ao trabalho regular exigido na cafeicultura.

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As principais leis que contribuíram para o fim da escravidão no Brasil foram: 1850, Lei Eusébio de Queiroz (extinguia o tráfico negreiro); 1871, Lei do Ventre Livre (os filhos de escravos eram considerados livres, devendo os proprietários criá-los até os oito anos); 1885, Lei dos Sexagenários (quando o escravo completasse 65 anos ele estaria liberto); e 13 de Maio de 1888, Lei Áurea (abolição total da escravidão, assinada pela princesa Isabel, que substituía provisoriamente o Imperador).

Outra questão em debate era a reforma eleitoral – que previa o voto do alfabetizado. Vários segmentos sociais se manifestaram sobre a necessidade do exercício de uma cidadania consciente, esclarecida (ou bem conduzida):

Um povo sem instrução chamado para nomear seus mandatários ou escolhe a quem lisonjeie as suas paixões grosseiras, ou curva-se às argúcias despóticas de seus pretensos mentores. (Jornal A Instrução Pública, nº 1, 13/04/1872. Apresentação Alambary Luz. Apud: STEPHANOU & BASTOS, 2005: 107)

Esse debate estava vinculado à importância da formação do cidadão-eleitor. Preparar o homem para o sufrágio universal, por meio da escola, tornou-se prioridade, buscando garantir o desempenho de seus deveres de cidadão quando o voto fosse estendido a todo brasileiro. A discussão denunciava o grande número de analfabetos que não estariam em condições de escolher seus representantes.

Além desses fatos, a maior participação da mulher na esfera pública foi mais um fator relevante na intensificação da demanda por instrução. Costa (1996) observou que não só os melhoramentos urbanos modificaram os hábitos, como também a política de importação repercutiu no espaço doméstico. Um simples artefato, como a caixa de fósforos, permitiu que as mulheres se desocupassem da tarefa de manter acesso o lume de suas casas. Essas e outras novidades como água encanada, iluminação a gás, novos utensílios domésticos, libertaram as mulheres de significativa fração do trabalho doméstico, permitindo-lhe dedicar-se a outras atividades, inclusive remuneradas.

Na lista das profissões femininas socialmente aceitas, a de professora agregava a vantagem da remuneração e uma representação positiva do status, tornando-se uma opção

digna para as poucas afortunadas que possuíam algum capital cultural.

Na História do Brasil, o governo de D. Pedro II (1840-1889) é conhecido como Segundo Reinado. Foi uma época de grande progresso cultural e industrial. O Segundo Reinado iniciou-se a 23 de julho de 1840, com a declaração de maioridade de D. Pedro II,

e teve o seu término em 15 de novembro de 1889, quando o Império do Brasil foi derrubado pela proclamação da República.

O regime monárquico consolidou-se com a ascensão de D. Pedro II. Sua figura foi o eixo principal desse período. O prestígio internacional que o Brasil alcançou nessa época e seu progressivo desenvolvimento social e econômico foram em grande parte devidos à firmeza com que ele conduziu os destinos de nosso país.

Em 1847 foi criado o cargo de Presidente do Conselho de Ministros, que seria o chefe do Ministério, encarregado de organizar o Gabinete do Governo. Assim, o Imperador, em vez de nomear todos os ministros, passou a nomear somente o Presidente do Conselho, e este escolhia os demais membros do Ministério, retirando um elemento de desgaste político do Imperador, sem que este tivesse diminuída sua autoridade.

Consolidaram-se, também, os dois partidos políticos, Liberal (defensor de um poder local forte, com autonomia das províncias) e o Conservador (defensor do fortalecimento do poder central), ambos representantes dos proprietários rurais. Nossa política externa passou a ter prioridade, orientando-se no sentido de evitar o fortalecimento da Argentina, Uruguai e Paraguai, mantendo-se o equilíbrio sul-americano. Com isso, D. Pedro II procurou aproximar-se dos dois partidos, nomeando ministros ora liberais ora conservadores. Porém, por temer retaliações por parte da Inglaterra – a maior potência econômica da época, o imperador afastou-se dos conservadores e apoiou a presença dos liberais no governo.

O café foi introduzido no Brasil no ano de 1717, porém sua produção só veio adquirir importância no início do século XIX, tendo como causa principal disso a decadência da produção do ouro, para o qual estavam voltadas as atenções da economia da colônia. O café foi o fator de recuperação econômico-financeira do país: reintegrou a economia brasileira, essencialmente agrícola, aos setores em expansão do mercado mundial.

Além dos mercados europeus, o café brasileiro começou a invadir o mercado norte- americano, tornado-o, ainda no século XIX, o principal consumidor do Brasil – por volta de 1870, o café representava 56% da pauta de exportações, atingindo 61% na década de 1880. As divisas provenientes do café possibilitaram o pagamento dos financiamentos das obras do governo, e posteriormente foram aplicadas no setor industrial. A partir de 1850, o Império alcançava o equilíbrio orçamentário e a estabilidade cambial. Acumulavam-se capitais, efetuando-se obras administrativas de grande porte.

A organização das fazendas de café no Vale do Paraíba e em Minas Gerais defrontou-se com a falta de mão de obra. A ampliação dos cafezais aumentou a necessidade de trabalhadores de tal forma que foi preciso comprar escravos do exterior, embora os ingleses, de quem dependíamos economicamente, fizessem pressões para extinguir o tráfico negreiro. Diante de tantas promessas não cumpridas em relação ao fim do tráfico, os ingleses decretaram o Bill Aberdeen, decreto pelo qual a Inglaterra tinha o direito de aprisionar qualquer navio negreiro e julgar os traficantes. Esse decreto, além de não diminuir o comércio escravo, aumentou sensivelmente seu preço. O Brasil, finalmente, cedeu às pressões inglesas e promulgou a Lei Eusébio de Queiroz, extinguindo definitivamente o tráfico.

A solução para falta de mão de obra na lavoura cafeeira apoiou-se no incentivo à imigração. Chegavam ao país trabalhadores vindos de várias partes do mundo, financiados por seus empregadores, num sistema de parceria. Mas, em pouco tempo, as dívidas contraídas com seus patrões forçavam os imigrantes a sujeitarem-se a um regime de semi- escravidão. Em 1857, os colonos da Fazenda Ibicaba se revoltaram levando as autoridades germânicas a proibir a imigração para o Brasil. Fracassado o sistema de parceria, os fazendeiros passaram a pagar ou um preço fixo por alqueire trabalhado, ou uma remuneração fixa mensal: introduzia-se no país o trabalho assalariado.

Os senhores de escravos não se conformaram com a abolição da escravidão e com o fato de não terem sidos indenizados. Sentindo-se abandonados pela Monarquia passaram a apoiar a causa republicana, surgindo os chamados Republicanos de 13 de Maio (chamados assim por causa da data em que a Lei Áurea foi assinada). Com a implantação da economia cafeeira em bases capitalistas, surge uma nova classe dominante: a burguesia cafeeira. Os proprietários ligados ao café comandavam todos os setores da economia, coisa que não acontecia nos engenhos de açúcar, visto que os proprietários destes apenas cuidavam da produção, ficando a comercialização e as finanças a cargo de outros setores.

O Governo Imperial, percebendo – embora tardiamente – a difícil situação em que se encontrava com o isolamento da Monarquia, apresentou à Câmara dos Deputados um programa de reformas políticas, do qual constavam: liberdade de fé religiosa; liberdade de ensino e seu aperfeiçoamento; autonomia das Províncias; mandato temporário dos senadores.

Entretanto, as reformas chegaram tarde demais. No dia 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu o comando das tropas revoltadas, ocupando o Quartel General do Rio de Janeiro. Na noite de 15 de novembro, constituiu-se o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil. D. Pedro II, que estava em Petrópolis durante esses acontecimentos, recebeu, no dia seguinte, um respeitoso documento do novo Governo, solicitando que ele se retirasse do País, juntamente com sua família.

Proclamada a República, no mesmo dia 15 de novembro de 1889, forma-se um governo provisório, sendo o chefe do governo Marechal Deodoro da Fonseca.

Dois acontecimentos importantes concorreram para o fim da Monarquia: a Questão Religiosa e a Questão Militar.

A “Questão Religiosa” (cf. FAUSTO, 2010) foi um conflito que opôs a Igreja Católica e o governo brasileiro entre 1871 e 1875. Tal conflito é causado pelo choque entre a hierarquia católica e a maçonaria, muito influente no Império.

No final do século XVIII, chega ao Brasil a maçonaria – sociedade cujos membros cultivam os princípios de democracia, liberdade, igualdade e fraternidade, buscando o aperfeiçoamento intelectual –, e no decorrer do Império aumenta seu prestígio social e sua presença na estrutura de poder. As maiores figuras do regime, com raras exceções, pertencem aos seus quadros. No dia a dia do governo e nas decisões administrativas – como nomeação de funcionários ou destinação de recursos orçamentários –, a maçonaria é um canal paralelo de influência e de mediação, e por vezes superior aos partidos políticos.

A maçonaria tivera papel decisivo na luta pela independência, e suas lojas continuavam a ser importantes centros de atividades políticas e sociais. Muitos políticos de destaque eram maçons, inclusive o visconde do Rio Branco, chefe do gabinete [ministerial do Império] em 1873. (BARMAN, 2005: 183)

Essa atuação da maçonaria colide com a atuação da Igreja Católica, também muito influente no período Imperial. Em 1871, o Vaticano impõe regras rígidas de doutrina e de culto, e condena as sociedades secretas. Os bispos brasileiros, acatando as novas diretrizes,

determinam a expulsão dos maçons das irmandades católicas e passam a exigir mais disciplina moral e canônica do clero. Para Fausto (2010),

No Brasil, a política do Vaticano incentivou um atitude mais rígida dos padres em matéria de disciplina religiosa e uma reivindicação de autonomia perante o Estado. (FAUSTO, 2010: 229)

Se a maçonaria tem poder político, a Igreja tem autoridade e presença religiosa, fortalecidas pela condição privilegiada do catolicismo como religião oficial do Império. O acirramento do conflito ocorre em 1873, quando o padre Almeida Martins é suspenso de suas funções no Rio de Janeiro por causa de um discurso em uma loja maçônica. A reação da maçonaria, condenando a decisão, espalha-se pelo país. Mas, logo em seguida, os bispos de Olinda e de Belém do Pará, Dom Vital e Dom Macedo Costa, tomam atitudes semelhantes. Os bispos são então processados pela justiça, convocados ao Rio de Janeiro e condenados a quatro anos de prisão. Depois da suspensão das punições eclesiásticas aplicadas aos maçons, a pena dos bispos é reduzida e eles são anistiados. Esse conflito abala as relações entre o Império e a Igreja, e contribui para enfraquecer ainda mais a monarquia.

A “Questão Militar” (cf. FAUSTO, 2010) foi uma sucessão de eventos que culminaram na deposição do Império e instauração da República. O que deu início a essa sequência de querelas foram as declarações do prestigiado Tenente-coronel Antônio de Sena Madureira, que em 1883 se opôs ao Projeto de Lei de autoria do Visconde de Paranaguá, que obrigava todos das forças amadas a contribuírem com o montepio dos militares25. Por sua atitude, Sena Madureira foi punido.

No ano seguinte, Sena Madureira convidou uma das personalidades da luta pelo abolicionismo no Ceará, o jangadeiro Francisco José do Nascimento, que se recusara a transportar escravos em Fortaleza, a visitar a Escola de Tiro do Rio de Janeiro, da qual era comandante. A homenagem ao abolicionista converteu-se em nova punição para Sena                                                                                                                          

25 A composição social dos quadros do Exército, que até cerca de 1850 era formada pela elite brasileira,

adquiriu contornos mais populares no período, diante dos baixos soldos, das precárias condições de vida e da lentidão nas promoções na carreira. Desse modo, os filhos da elite deram lugar aos filhos dos próprios militares ou de funcionários públicos, que se interessavam pela vida militar.

Madureira, desta vez transferido para a Escola Preparatória de Rio Pardo, na Província do Rio Grande do Sul. Essa transferência gerou polêmica no meio militar, levando o Ministro da Guerra, Alfredo Chaves, a proibir os militares de travar discussões através da imprensa. O Presidente da Província e Comandante das Armas do Rio Grande do Sul, General Deodoro da Fonseca, recusou-se a cumprir a ordem, e foi chamado de volta à Corte. A proibição, porém, acabou revogada e o Gabinete que a emitiu, censurado pelo Congresso Brasileiro.

Em agosto de 1885, durante investigações em um quartel da Província do Piauí, o Coronel Cunha Matos descobriu que o comandante era corrupto. Denunciado o fato, Cunha Matos que pertencia ao Partido Liberal, pediu o afastamento daquele oficial, do Partido Conservador. Por essas razões, Cunha Matos foi violentamente criticado no plenário da Câmara dos Deputados e na imprensa, pelo então Deputado Simplício Rezende, do Partido Conservador, que acusou Cunha Matos de conduta covarde durante a Guerra da Tríplice Aliança.

A defesa do Coronel foi feita por meio da imprensa. Como esse tipo manifestação era proibida aos militares, Cunha Matos foi punido com dois dias de detenção. Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, Sena Madureira também se manifestou, pelo periódico republicano A Federação, à época redigido por Júlio de Castilhos, conhecido por suas ideias republicanas.

Júlio de Castilhos, ainda na direção do jornal A Federação, em setembro de 1886, escreveu um artigo intitulado Arbítrio e Inépcia, em que denunciava o modo como a Coroa vinha tratando os militares, sustentando que o Exército Brasileiro era a única instituição que ainda se mantinha impoluta, num ambiente nacional de ruínas.

A sucessão dos acontecimentos envolvendo o Coronel Sena Madureira, o Coronel Cunha Matos e a polêmica veiculada pela imprensa, culminaram com a manifestação dos alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Indignados, os cientistas, apelido que lhes era atribuído devido à sua formação, em outubro de 1886, declararam o seu apoio ao então General Deodoro da Fonseca.

No Rio Grande do Sul, Sena Madureira havia se desligado do Exército e o General Deodoro foi exonerado e transferido para o Rio de Janeiro. Na chegada à Capital, no dia 26 de janeiro de 1887, ambos foram recepcionados pelos cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha como heróis. Ciente de que grande parte do Exército apoiava o General Deodoro

da Fonseca, o Governo recuou de sua investida contra os militares e, em meados do mês de maio, D. Pedro II demitiu o Ministro Alfredo Chaves, outorgando o perdão a Sena Madureira, Cunha Matos e General Deodoro.

Enquanto a insatisfação militar crescia, ganhava força entre a tropa a propaganda Republicana. Finalmente, a 11 de novembro de 1889, em meio a mais uma crise, personalidades militares e civis de ideais positivistas – entre as quais Rui Barbosa, Benjamin Constant, Aristides Lobo e Quintino Bocaiúva – tentaram convencer o General Deodoro – figura conservadora e de prestígio – a liderar o movimento contra a monarquia. Relutante a princípio, entre outros motivos por ser amigo do Imperador, o General Deodoro da Fonseca acabou concordando em, pelo menos, derrubar o Visconde de Ouro Preto, chefe do Gabinete.

Fausto (2010) afirma que, nesse momento,

Ganhava terreno a ideia de República. Para isso, foi muito importante a influência do positivismo, doutrina que teve crescente aceitação depois de 1872. (FAUSTO, 2010: 231-2)

Desse modo, assumindo o comando da tropa, nas primeiras horas do dia 15 de novembro, Deodoro dirigiu-se ao Ministério da Guerra, onde se reuniam os líderes monarquistas. Todos foram depostos e foi proclamada a República.

Após a proclamação da República, foi instituído provisoriamente um governo comandado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. O primeiro ministério da República era formado por:

Ministro do Interior – Aristides Lobo; Ministro da justiça – Campos Sales; Ministro da Fazenda – Rui Barbosa;

Ministro das Relações Exteriores – Quintino Bocaiúva;

Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas – Demétrio Ribeiro; Ministro da Guerra – Benjamin Constant; e

Ministro da Marinha – Eduardo Wandenkolk .

Os governantes, então, estabeleceram algumas medidas, tais como: banimento da família imperial; escolha do regime federativo republicano de governo; transformação das antigas províncias em estados; subordinação das forças armadas ao Governo; nomeação do Rio de Janeiro como sede do Governo Federal; extinção do Conselho de Estado; reconhecimento dos compromissos do Governo Imperial; convocação de uma assembleia constituinte; reforma do Código Penal; e criação da bandeira republicana. Machado de Assis, em crônica de 25 de novembro de 1894, cita essa bandeira republicana:

De resto, a agitação é sinal de vida e melhor é que o Conselho se agite que durma. Esta semana o caso da bandeira, que é um dos mais graciosos, agitou bastante a alma municipal. Se o leste, é inútil contar; se o não leste, é difícil. Refiro-me à bandeira que apareceu hasteada na sala das sessões do Conselho, em dia de gala, sem se saber o que era nem quem a tinha ali posto. Pelo debate viu- se que a bandeira era positivista e que um empregado superior a havia hasteado, depois de consentir nisso o presidente. O presidente explicou-se. Um intendente propôs que a bandeira fosse recolhida ao Museu Nacional, por ser "obra de algum merecimento". Outro chamou-lhe trapo. “Trapo não, que é de seda”, corrigiu outro. O positivismo foi atacado. Crescendo o debate, alargou-se o assunto e as origens da revolução do Rio Grande do Sul foram achadas no positivismo, bem como a estátua de Monroe e um episódio do asilo de mendicidade.

Se assim é, explica-se o apostolado antipositivista, fundado esta semana, e não pode haver maior alegria para o apostolado positivista; não se faz guerra a fantasmas, a não ser no livro de Cervantes. Mas que pensa de tudo isto um habitante do planeta Marte, que está espiando cá para baixo com grandes olhos irônicos?

A bandeira não teve destino, foi a conclusão de tudo, e não ser de admirar que torne a aparecer no primeiro dia de gala, para dar lugar a nova discussão — cousa utilíssima, pois da discussão nasce a verdade. Para mim, a bandeira caiu do céu. Sem ela esta página que começou pedante, acabaria ainda