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A sustentabilidade como desafio da intervenção comunitária

Desde os primeiros encontros para construir o projeto de intervenção comunitária em Mãe Luiza a “sustentabilidade das ações do projeto” foi tema recorrente. Embora o tema emergisse, continuamente, nos encontros de avaliação do projeto, tendo se tornado objeto de uma ação formativa, a preocupação ainda

permanece. Os integrantes da comunidade percebem a sustentabilidade como desafio permanente, exigindo atitude de coordenação contínua dos recursos do território, onde a comunidade é chamada a se implicar na solução dos seus problemas e para construir processos duradouros e potentes, que necessitam de tempo para se consolidarem.

Nesse sentido, coloca-se em pauta a necessidade de fortalecimento das articulações intersetorial e interinstitucional, ainda frágeis nessa intervenção. A dificuldade de articulação entre os setores de saúde e de educação, e entre as duas unidades de saúde da comunidade, tantas vezes explicitada nas diversas narrativas deste estudo, expõe uma fragilidade que repercute no componente da organização do cuidado das DST/HIV/Aids na comunidade e também afeta a percepção dos atores envolvidos no projeto trazendo a expectativa de que a sustentabilidade talvez não seja possível para essa intervenção específica.

Para Jacobi (1999), a ideia de sustentabilidade implica na prevalência da premissa da participação e formação de atores de maneira a fortalecer um sentimento de corresponsabilização e de constituição de valores éticos, que não ignorem nem as dimensões culturais, nem as relações de poder existentes e, muito menos, o reconhecimento das limitações e potencialidades territoriais.

Na busca pelos elementos de sustentabilidade do Projeto, é necessário conferir certo grau de prioridade nas ações formativas da intervenção de maneira a estimular a participação dos indivíduos numa perspectiva dialógica e de articulação instersetorial e insterinstitucional, ampliando o campo de análise e de atuação da intervenção na busca de caminhos que possibilitem a sustentação, não só econômica e financeira, mas também política e institucional, reconhecendo e reciclando os recursos do próprio território. Segundo Sícoli (2003), a sustentabilidade desejada pode ser alcançada a partir da retroalimentação pela população que, ao reconhecer os impactos alcançados, engaja- se no acompanhamento dos projetos e assegura a sua vitalidade e continuidade.

Identificamos o componente da sustentabilidade como preocupação prática dos sujeitos que se manifesta a partir do desejo de continuidade do Projeto na comunidade, e de permanência dos atores envolvidos, que aparece em todas as narrativas independentemente do lugar que ocupa o narrador – profissional da Unidade de Saúde, adolescente, entre outros. Esse desejo de continuidade e permanência parece estar associada ao efeito da intervenção quanto à produção de aberturas para inovações que consideraram, além das práticas existentes, os potenciais e as dificuldades da comunidade para lidar com a prevenção das DST/HIV/Aids. A partir da intervenção

comunitária, os participantes se veem e se dizem parte da construção do cuidado a esses agravos, reconhecem sua competência, mesmo que ocorram momentos de insatisfação com o tempo técnico-burocrático do Projeto e o tempo comunitário.

Em consonância com a proposta de conhecer e intervir que denominou, originalmente, o Projeto Viva Mãe Luiza, a cartografia aqui apresentada não pretende indicar um modelo ideal de intervenção comunitária. Ao tentar seguir as linhas do objeto-rizoma, tentamos delinear, mesmo que provisoriamente, o aprendizado de saberes e práticas que emergem da e na potência de cada experimentação, em cada situação específica, reposicionando a intervenção comunitária nos seus sentidos de territorialidade e coletividade. Nessa perspectiva, a intervenção comunitária se configura como potencial produtora de saúde, à medida que também produz práticas e sujeitos, potencializando capacidades criativa e inventiva presentes no cotidiano da comunidade, na perspectiva de reinventar saberes e práticas para prevenção das DST/HIV/Aids.

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ANEXO A