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5. PROJETO DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL

5.1 A Teoria do Autocuidado de Dorothea Elizabeth Orem

De acordo com Queiroz, Vidinha & Filho (2014) a ciência de enfermagem está nos primórdios do seu desenvolvimento e é entendida como um conhecimento próprio que se foca no processo humano-universo-saúde. Estes autores reforçam o aspeto prático da ciência de en- fermagem e a sua relação entre a teoria e a prática (Queiroz, Vidinha e Filho, 2014).

A prestação de cuidados à díade crianças/jovens e famílias foi realizada à luz da Teoria do Autocuidado de Dorothea Orem uma vez que esta teoria fornece as ferramentas necessárias para a promoção do autocuidado, permitindo a capacitação das crianças/jovens ou da família como agentes do autocuidado dependente.

Para Orem (2001), o autocuidado é definido como um conjunto de atividades, iniciadas e executadas pelos indivíduos, em seu próprio benefício, que se aprende conforme se desen- volve. Tem a finalidade de manter a saúde e a vida, prolongar o desenvolvimento pessoal e conservar o bem-estar. Todo o ser humano possui condições ou requisitos universais de au- tocuidado, e de acordo com Orem (2001) os enfermeiros, em parceria com os clientes devem identificar os deficits de autocuidado, para que se possa desenvolver nestes indivíduos os po- tenciais já existentes para a prática do autocuidado.

Os requisitos de autocuidado universal comuns a todos os seres humanos, estão relaci- onado com os processos de vida, a integridade física e o funcionamento humano são e exemplo destes requisitos a “manutenção de uma quantidade suficiente de ar” e a “prevenção de perigos” (Orem, 2001, p.225) e também estão associados às mudanças das diferentes fases da vida e às adaptações sociais.

De acordo com Orem (2001), o autocuidado tem uma dupla conotação que corresponde a “por si só” e “feito por alguém”. O prestador de autocuidado é referido como agente de au- tocuidado, a pessoa de referência da criança ou adulto dependente é referido pelo termo geral agente de cuidado dependente. Os recém-nascidos e as crianças necessitam de cuidados de ou- tros, atendendo que estão em etapas iniciais de desenvolvimento físico, psicológico e psicosso- cial. Existem diferentes requisitos de autocuidados: universais (comuns a todas as pessoas), de desenvolvimento (relacionados com o estádio de desenvolvimento da pessoa) e por desvio da

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saúde (devido à doença ou à incapacidade) que impõe uma mudança no comportamento do autocuidado (Orem, 2001).

Para Petronilho & Machado (2017), a teoria do déficit do autocuidado, é o elemento fundamental na teoria de Orem, porque revela e desenvolve a razão pela qual as pessoas neces- sitam de cuidados de enfermagem. Orem (2001), define métodos de ajuda e/ou formas de as- sistir a pessoa no autocuidado como “agir ou fazer pela pessoa”, “guiar e orientar”, “proporci- onar apoio físico e psicológico” “proporcionar e manter um ambiente de apoio ao desenvolvi- mento pessoal” e “ensinar”. Ao identificar-se as necessidades superiores à capacidade da pes- soa, emerge um défice de AC, que exige uma resposta a um necessidade de cuidado. Assim, perante a avaliação do défice de AC, o enfermeiro vai adaptar a sua intervenção no sentido de diminuir os seus efeitos (Orem, 2001).

Orem reconheceu três classificações de Sistemas de Enfermagem, o sistema totalmente compensatório, que exibe as situações em que a pessoa não consegue envolver-se e realizar as ações de AC e é incapaz de se autocuidar, encontrando-se socialmente dependente de outros; o sistema parcialmente compensatório, que ocorre quando a pessoa tem a capacidade para exe- cutar algumas ações de autocuidados e necessita dos enfermeiros para compensar as suas limi- tações, e o sistema de apoio/educação, presente quando a pessoa detém capacidade para o AC, todavia precisa de apoio, orientação e ensino dos enfermeiros para o desenvolvimento das ati- vidades de AC. Por isso Petronilho & Machado (2017, p.8), afirmam que esta teoria permite determinar como é que os enfermeiros, as pessoas ou ambos, dão resposta e conseguem satisfi- zer as necessidades de AC. Indicando também que a espécie de métodos ou assistências que os profissionais de enfermagem devem utilizar, para instituir e manter a melhor assistência aos doentes (Remor, Brito, Petters, & Santos,1986).

Esta teoria foi eleita considerando que o desenvolvimento e maturidade neurológica, cognitiva e músculo-esquelética destas crianças não lhes permite a satisfação das suas necessi- dades, sendo por isso necessárias ferramentas que possam constituir uma mais-valia para a in- tervenção de enfermagem enfermeiro junto dos pais com o objetivo de os capacitar como agen- tes de autocuidado dependente (Orem, 2001).

No caso das crianças/jovens a quem prestei cuidados, o défice de autocuidado foi iden- tificado nos pais/pessoa de referência e o enfermeiro auxiliou o agente do autocuidado depen- dente a responder às necessidades, utilizando um de três sistemas de enfermagem (sistemas de

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enfermagem totalmente compensatório, parcialmente compensatório ou educativo e de suporte) e por meio de cinco métodos de ajuda (agindo ou fazendo em vez de; ensinando; orientando, apoiando ou proporcionando um ambiente em que a pessoa se possa desenvolver e crescer) (Orem, 2001).

Os requisitos de AC referentes ao desenvolvimento são importantes para a formação inicial das características humanas (estruturais, funcionais e comportamentais). Constituem-se como os requisitos que promovem um mecanismo que auxilia a pessoa a viver, amadurecer e prevenir doenças que afetam o seu desenvolvimento, ou que atenuam os efeitos da doença. Também estão associados às mudanças das diferentes fases da vida e às adaptações sociais (Orem, 2001).

Nesta perspetiva as intervenções de enfermagem de reabilitação mais simples ou com- plexas visaram a capacitação dos pais como agentes de autocuidado das crianças internadas e a supervisão dos seus cuidados para garantir a qualidade dos cuidados prestados e a continuidade dos mesmos.

Atualmente a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) define autocuidado como “(…) a ação realizada pelo próprio com as características específicas: tomar conta do necessário para se manter, manter-se operacional e lidar com as necessidades indivi- duais básicas e íntimas e as atividades de vida diária” (Concelho Internacional de Enfermeiros [CIE], 2016).

De acordo com Hockenberry & Barrera (2014, p.12) o papel dos enfermeiros é contri- buir para a promoção da saúde e bem-estar das crianças e famílias. Os enfermeiros necessitam de construir uma relação significativa com as crianças e suas famílias, no entanto, ao mesmo tempo devem permanecer afastados para distinguir os seus próprios sentimentos e necessidades. Os enfermeiros no cuidado às crianças e famílias devem demonstrar cuidado, compaixão e em- patia pelos outros, atendendo a faixa etária de cada criança.

Os EEER dotados de competências técnicas e práticas, reabilitam as pessoas em qual- quer fase do ciclo de vida, quer na doença aguda, como na crónica, de modo a maximizar o seu potencial, reestruturar a sua funcionalidade e deste modo permitir a sua independência e auto- nomia (OE, 2011).

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