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2 A CONFIGURAÇÃO HISTÓRICA E ATUAL DA INSTITUIÇÃO

2.4 ASPECTOS PROCEDIMENTAIS DO TRIBUNAL DO JÚRI

2.4.4 A terceira fase: o julgamento em plenário

Sobre a disposição no plenário do júri, Lima (2004) faz a seguinte descrição:

O julgamento realiza-se em uma sala especialmente preparada para acomodar uma platéia, diante da qual está o juiz, tendo suspenso na parede, geralmente atrás de si, um tradicional crucifixo católico, simbolizando a ‘humanização’ da justiça, sacralizada na fé cristã católica, embora a Constituição brasileira proclame a liberdade de crença religiosa para todos os cidadãos e a religião católica tenha deixado de ser a religião oficial do Estado brasileiro em 1889. O promotor fica ao lado do juiz, de frente para a platéia, e um escrivão senta-se do outro lado do juiz. Em duas filas, junto a uma das paredes laterais, estão sentados os jurados, vestidos com uma meia beca, à moda dos serventuários da justiça. Na parede oposta, de frente para os jurados, senta-se o advogado, acima do réu, ficando este acomodado, também diante dos jurados, no chamado ‘banco dos réus’.

Quando aberta a sessão de julgamento, verifica-se a presença de, pelo menos, quinze jurados dos vinte e cinco sorteados, bem como a presença das partes, que podem apresentar justificativa razoável de ausência, de modo que a sessão é adiada, e o juiz toma as providencias, no caso de ausência de acusação, de comunicar o Ministério Público e oficiar à Procuradoria-Geral, para que não ocorra no próximo evento designado. Se faltar o defensor, oficia-se à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Deve-se, igualmente, verificar o comparecimento das testemunhas, garantindo-se a incomunicabilidade, nos termos dos arts. 460 e 461 do instrumento processual.

Se todos estiverem presentes, dar-se-á início à sessão, de modo que o juiz anunciará o processo a ser julgado, e o oficial realizará o pregão. Então, haverá a preparação para a formação do conselho de sentença, alertando aos jurados presentes a respeito de todas as causas de impedimento e suspeição e advertindo da não manifestação de sua opinião sobre o processo nem comunicação interna sobre a causa do julgamento, sob pena de exclusão do referido conselho e de imposição de multa.

O conselho de sentença é formado por sete jurados, sorteados por urna, podendo a defesa e a acusação indagar se aceitam ou não o jurado, e, em seguida, indaga-se ao Ministério Público sobre essa aceitação, podendo haver três recusas imotivadas para cada parte, nos termos dos arts. 448 e 449 do CPP. Formado o conselho de sentença, o juiz colhe o compromisso solene dos jurados, conforme estabelece o art. 472 desse mesmo diploma legal, entregando-lhes a cópia da pronúncia e das decisões posteriores, se houver, assim como do relatório do processo.

Segundo a lei processual, ademais, com o início das declarações em plenário, haverá a tomada das declarações do ofendido, se for o caso, sendo, após, ouvidas as testemunhas da

acusação e, na sequência, as testemunhas da defesa, de modo que o juiz fará as devidas indagações, podendo reperguntar o Ministério Público e, após, a defesa à vítima e às testemunhas da acusação. Com relação às testemunhas da defesa, essa ordem inverte-se. Em seguida, poderá o réu ser interrogado, não obstante possa ele invocar o direito ao silêncio.

Os debates iniciar-se-ão com a argumentação do Ministério Público e, posteriormente, da defesa, cada qual com o tempo de uma hora e meia, de modo que, quando finda a explanação da defesa, o juiz consultará a acusação se pretende ir à réplica, podendo manifestar-se, também, a defesa por tréplica, bem assim como ouvir novamente qualquer testemunha diante desses momentos, conforme enunciam os arts. 476 e 477. Quando terminados os debates, e se os jurados não precisarem de mais algum esclarecimento ou não for requerida a produção de provas, o juiz presidente lerá os quesitos em plenário, indagando as partes se há requerimentos ou qualquer reclamação a fazer, sob pena de preclusão, ou seja, perda do direito de praticar o ato. Após, o juiz explicará aos jurados o significado de cada quesito do questionário1.

Na sequência, o juiz, os jurados, o órgão acusatório (Ministério Público ou querelante), o assistente, o defensor e os demais servidores da justiça seguem à sala especial para votação, conforme estabelece o art. 485 do CPP. Nela, distribuem-se cédulas aos jurados contendo as palavras “sim” e “não”, para serem usadas em resposta a cada um dos quesitos e, quando se encerra a votação, assinarão o termo os presentes nesse ato.

Na elaboração da sentença, caso absolutória, apenas indicar-se-á a decisão do conselho de sentença, mas, se for condenatória, o juiz deverá prosseguir com a aplicação de pena, individualizando-a e fazendo sua dosimetria. Em seguida, a sentença deverá ser lida em plenário, com as partes presentes, em momento formal, encerrando-se a sessão e dando-se fim ao processo.

Sinteticamente, sobre o procedimento do tribunal do júri, é importante ressaltar que esse é um órgão colegiado heterogêneo, pois esse órgão do Poder Judiciário é formado por um juiz presidente e pelos vinte e cinco jurados, dentre os quais são escolhidos sete para compor o conselho de sentença. Igualmente, torna-se, também, um órgão temporário, pois o tribunal do júri funciona apenas durante alguns períodos do ano, podendo, em algumas capitais, figurar quase todo mês, dependendo da demanda de crimes dolosos de cada região.

1 “Questionário é a peça elaborada pelo juiz presidente, contendo os quesitos, correspondentes às questões de

fato e de direito expostas pela parte em plenário, além do conteúdo da pronúncia, destinados aos jurados para a realização do julgamento em sala especial.” (NUCCI, 2015, p. 286).

Nesse sentido, o júri seria um órgão leigo formado por juízes de fato, que se distinguem dos membros da magistratura, ou seja, os juízes de direito (MARREY; FRANCO; STOCO, 1997, p. 107). Da mesma maneira, é um órgão horizontal, pois não se fala em hierarquia entre o juiz presidente e os jurados, uma vez que estes apresentam funções diversas daquele, de modo que cooperam para a harmonia do tribunal. Ao júri, pois, não cabe estabelecer o quantum da pena a ser aplicada nos casos de condenação, pois essa matéria é da competência do juiz presidente, que analisará e dosará a pena, observando essencialmente o disposto no art. 68 do Código Penal, bem como as suas demais etapas, como a fixação do regime inicial, institutos desprisionalizadores e efeitos secundários da condenação.

3 A FUNÇÃO DE GARANTIA DO TRIBUNAL DO JÚRI NO ORDENAMENTO