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A tessitura desta experiência de pesquisa

Portanto, neste contexto escolar construí como professor atuante, responsável neste momento pela disciplina de Geografia, o caminho para a elaboração desta pesquisa, abordando uma visão histórico-educacional, analisando as leituras dos alunos, tentando evidenciar os saberes históricos produzidos no processo pedagógico na sala de aula e a relação desses conhecimentos com o contexto social contemporâneo, e sobretudo com experiências vividas.

Diante dessa tarefa complexa contei com a colaboração da professora JL que era a titular de História, uma vez, que a proposta tinha como objetivo que os alunos estabelecesse relações com o tempo histórico, o conhecimento escolar, a partir do livro didático de História das 5ª séries (A e B) neste momento.

A professora JL deveria ter aproximadamente 26 anos, e foi moradora da Ilha Bororé, durante a maior parte de sua vida, tendo concluído o ensino fundamental e médio na própria escola onde hoje (2002) trabalha.

Além disso, fez também nesta escola seu estágio docente, e há apenas um ano atrás ela mudou-se para o Grajaú bairro “melhor” localizado do outro lado da balsa, mas seus pais continuam residir na Ilha do Bororé. . Em 1999 já atuava ministrando aulas como professora substituta (eventual) na escola Prof. A. B.

No final do ano de 2001 torno-se professora graduada em História pela Universidade de Santo Amaro – UNISA.

Em 2002, obviamente sua pontuação (classificação) era muito baixa, para escolher essa escola na atribuição de aulas da Delegacia Regional Sul 3. e em decorrência disso, seria difícil, lhe ser atribuídas aulas no inicio desse ano (2002).

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O que parecia impossível, aconteceu, a Secretaria da Educação através das Delegacias Regionais, autorizou as Unidades Escolares á atribuírem aulas.

Dessa forma, a professora JL foi Beneficiada (em detrimento da pontuação) pela direção da escola no tocante as aulas que lhes foram atribuídas, a legalidade do fato ou não, esta fora do nosso objeto de estudo.

Tendo como premissa que a intervenção pedagógica esta intrínseca na relação professor-aluno, materiais didáticos e entre os conhecimentos cotidianos, surge a seguinte pergunta: Como elaborar essa pesquisa em um universo repleto de contradições, um passado constituído na relação com a história de vida dos educandos e um futuro que os mesmos dizem ser de incertezas ?

Diante dessa inquietante indagação defini a seleção de conteúdos que poderiam ser significativos para aqueles alunos das 5ª séries, que vivenciavam a violência social e ao mesmo tempo os ritmos acelerados das transformações tecnológicas no processo de globalização.

Para tanto, considerei as produções históricas escolares como elementos que interligam passado, presente e futuro na definição de uma temática relevante capaz de contribuir para a produção dos saberes escolares dos alunos das 5ª séries A e B.

Nesta perspectiva, elencamos as seguintes temáticas : A escravidão no Brasil e Os indígenas no Brasil, tendo na disciplina História o instrumento possibilitador da construção de liames educacionais entre o passado e a identificação das contradições, permanências e mudanças nas relações sociais contemporâneas.

Neste sentido, como documento histórico os livros didáticos de história foram utilizados como suporte, onde os textos que escolhi para serem trabalhados nessa pesquisa definem-se por sua linguagem iconográfica.

Os textos iconográficos escolhidos fazem parte da coleção didática selecionada pelo PNLD – 2002, correspondendo, ainda, segundo o levantamento1 que fiz, os livros didáticos de história das 5ª séries, mais utilizados nas escolas da Delegacia Regional Sul - 3, a qual pertence a escola Professor A. B.. Ver quadro número 2.

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QUADRO 2

COLEÇÃO NOME DO AUTOR EDITORA NO DE

ESCOLAS

História e Vida Integrada

Cladino Pilleti, Nelson Piletti

Ática, 2002 05

Brasil: Uma História em Construção

José Rivair Macedo, Mariley Wanderley de Oliveira Editora do Brasil, 1996 07 História do Brasil/ Historia Geral

Joaci Pereira Furtado, Marco Antonio Villa Moderna, 1997 03 História Passado

Presente

Eliane Frossard Bittencourt Couto, Sonia Irene Silva do Carmo

Saraiva/ Atual, 1997

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As “ilustrações” dos livros didáticos foram priorizadas na leitura dos alunos das 5ª séries, pelo fato de as considerarmos no momento sócio-cultural contemporâneo, entre outros férteis estimuladores para o ato de produção de conhecimentos históricos pelos alunos. Afinal, vivemos na era das imagens iconográficas! (Guiy Debord 2000).

História – Edição Reformulada

José Roberto Martins Ferreira FTD, 1997 04

Para compreender a História Renato Mocellin Editora do Brasil, 1997 04 Saber e Fazer História

Gilberto Vieira Cotrim Saraiva, 1999 05

Trabalho e Civilização – Uma História Global

Maria Fernanda Marques Antunes, Ricardo Frota de Albuquerque Maranhão Moderna, 1999 02 8 TÍTULOS 13 AUTORES 05 EDITORAS 32 ESCOLAS

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Portanto, em minha percepção, via imagens iconográficas, os alunos poderiam ser estimulados a estabelecerem relações históricas entre as permanências e mudanças, por exemplo relativas ao processo de colonização.

Isso posto, vejamos como a professora de História JL, procurava propiciar aos seus alunos as condições que julgava necessárias para construírem conhecimentos históricos escolar, segundo as informações que a mesma nos concedeu sobre seus métodos de trabalho com os alunos na sala de aula.

Procuramos, agora, revisitar o modo através do qual essa professora realizava seu papel mediador, e a forma como apresentava os conteúdos escolares, como condição básica para a constituição dos conhecimentos escolares. Vejamos, então, a metodologia de trabalho que foi desenvolvida pela professora:

Em entrevista inicial que nos foi concedida, ela afirma: focalizar os aspectos do presente, problemas sociais da sociedade contemporânea brasileira como conseqüências e permanências do Período Colonial.

Nesse sentido, diz apresentar aos seus alunos, através de aulas expositivas, a problemática do racismo; fala dos preconceitos na atualidade (étnicos, sociais), dos latifúndios, das desigualdades sociais, da exploração do trabalho, da exclusão e de questões relacionadas às mulheres da atualidade.

E prossegue dizendo que parte do presente para construir uma passarela para o passado. Essa prática docente, ela própria qualifica de “crítica-reflexiva”.

Destaca, ainda, que busca compreender as transformações ao longo do tempo flagrando suas relações com a atualidade brasileira e mundial, e é esse olhar que evidência os conflitos e revelam as permanências.

No que diz respeito à sua relação com os alunos das salas de aulas das 5ª séries, (A e B), desde o ínicio do ano letivo de 2002, a professora JL desenvolveu o trabalho docente com tais turmas, como professora titular da sala.

Em outubro de 2002, ao conversar com a professora JL de História, expus que estava realizando uma pesquisa relacionada à produção dos sabres históricos escolares adquidos pelos alunos das 5ª séries A e B, e precisava da sua colaboração.

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Dessa forma, obtive a permissão para observar suas aulas no período de outubro a dezembro, e obtive, ainda sua autorização, para que no final deste tempo, pudesse orientar a colocação em prática de uma atividade docente onde os alunos realizassem leituras, (em 4 aulas) interpretações de textos iconográficos, conectando suas vivências aos saberes adquiridos no processo educacional e na relação com a prática docente, da professora responsável pela disciplina.

Nossa primeira observação centrou-se na relação da professora com seus alunos, uma relação amistosa entre professora e alunos, os quais pareciam gostar muito dela, de suas brincadeiras e de suas piadas e, ao mesmo tempo, apresentavam dificuldades de concentração e de manutenção da disciplina na sala de aula.

Em decorrência das nossas observações, percebemos que para as atividades desenvolvidas durante as aulas de História a professora JL, adotou o livro didático “Brasil uma história em construção”, (José Rivair de Macedo e Mariley W. de Oliveira - São Paulo: editora do Brasil, 1996) como suporte principal de suas aulas no processo ensino-aprendizagem, e ponto de partida para as suas explicações.

Os procedimentos da apresentação dos conteúdos pedagógicos pela professora na sala de aula, realizava-se a partir de suas sínteses, colocadas no quadro negro e explicadas em seguida aos seus alunos, os quais registravam tais sínteses e as anotações da explicações da professora em seus cadernos .

Os alunos faziam leituras individuais de parte dos capítulos apresentados; na sala, e em seguida a professora solicitava que eles expusessem com suas palavras o que compreenderam do capítulo que leram.

Em um segundo momento, a professora solicitava aos alunos que definissem conceitos, tais como, colonização, diversidade social, desigualdades, racismo, dentre outros conceitos já trabalhados no livro didático em questão.

Ela os auxiliavam nesta atividade de conceituação e os orientava também para que usassem o dicionário, no sentido de compreender os conceitos apresentados nos textos do livro didático de História utilizado durante as aulas.

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Os capítulos estudados eram resumidos pelos alunos em seus cadernos, a pedido da professora, que indicava, ainda, que em grupos discutissem sobre o texto resumido e, depois disso, fizessem uma apresentação para toda para a sala do que haviam compreendido, a partir de suas leituras.

Além disso, algumas vezes, a professora pediu para que os alunos trouxessem jornais e revistas, com notícias atuais sobre conflitos e fatos marcantes que fundamentassem, na contemporaneidade a existência das desigualdades sociais, dos racismos, dos latifúndios e da pobreza no mundo, como conseqüência da exploração do sistema capitalista e da política globalizada.

De acordo com essa proposta, eles (os alunos) levaram notícias sobre os movimentos dos sem terra, os conflitos indígenas pela posse da terra, notícias sobre movimentos sociais no mundo e particularmente sobre os movimentos sociais dos negros no Brasil que lutam por direitos sociais etc...

A partir desse tipo de notícias – informações, dados, estatísticas do presente que eram lidas na sala de aula pelo aluno que as havia apresentado, ela focalizava tais fatos e acontecimentos como decorrências e permanências do processo de colonização do Brasil, gerados, ao mesmo tempo, pelo capitalismo, que tudo tenta converter em lucros abusivos e na exploração do homem pelo homem.

Enfim, observei, o que a professora oferecia educacionalmente para a produção dos conhecimentos históricos pelos alunos das 5ª séries A e B, a organização dos conteúdos apresentados por ela, a questão da disciplina presente ou não na sala de aula e as possibilidades de entrelaçamento dos saberes escolares com as experiências dos educandos.

Contemplando essa análise de evidências e potencialidades de produção de saberes históricos – escolares, através das representações educacionais dos sujeitos envolvidos neste processo, restava-me a elaboração dos procedimentos das leituras iconográficas, que seriam realizadas pelos alunos das 5ª séries, no espaço da sala de aula. Neste sentido, as leituras mobilizadas pela escrita dos alunos no contexto da sociedade contemporânea, como se verá, posicionaram-se não apenas diante do

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objeto livro didático utilizado na sala de aula, mas perante o mundo que estes traduzem e dão significados.

Portanto, entre as experiências vividas pelos alunos e os saberes organizados pela instituição escolar, a proposta para a leitura histórica dos alunos partiria de suas observações e reflexões, considerando o tempo histórico.

Nesse sentido, propus aos alunos das 5ª séries A e B que elaborassem um texto a partir das representações iconográficas dos livros didáticos selecionados, (citados no quadro 1) relacionando as mudanças e as permanências, por exemplo relativamente à dominação portuguesa, dialogando com os componentes históricos enraizados destas produções textuais.

No domínio em questão, as leituras (interpretações) dos alunos partiriam das interações sociais e dos saberes escolares contextualizados pela professora de História, JL ao longo do processo educativo e, em especial, naquele ano (2002), o qual era para a maioria dos alunos o primeiro ano na 5ª série.

Nesta produção e concepção de leitura histórica, portanto, o sentido do texto deveria ser ditado pelas culturas dos autores (alunos), pela sua condição sócio- cultural e pelos os saberes escolares construídos até então.

Isso significa que durante a produção dos textos dos alunos a professora JL não poderia intervir nas suas reflexões e no registro da escrita, restringiu-se apenas em observar e coletar o produto final dessas produções cognitivas.

Diante desse procedimento de aprendizagem, cremos, pois, que foi assegurada a autonomia do aluno no processo de produção de conhecimentos e, ao mesmo tempo esse aluno foi concebido como sujeito, com suas representações simbólicas, e suas experiências, na relação com o contexto da modernidade capitalista e na relação com o objeto, historicamente situado.

Isso posto, organizamos os alunos em sete grupos, cada um dos quais composto por cinco alunos, e dentro de cada grupo os mesmos deveriam desenvolver suas produções cognitivas (textos).

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Após todos os grupos formados, distribuímos para cada aluno uma “ilustração” que deveria ser trabalhada por ele, dialogando com seu grupo, mas de modo que produzisse, individualmente, nestas interações discursivas um texto seu.

Ao ser concluídas tais leituras, respeitando o ritmo próprio de cada aluno, os trabalhos foram recolhidos pela professora JL para serem analisadas posteriormente pelo pesquisador.

Contudo, não houve o retorno dos trabalhos para tais alunos, uma vez que nosso propósito, naquele momento era simplesmente evidenciar os saberes históricos- escolares construídos não só no processo escolar, (da fase de 5ªsérie) também no interior das relações sócio-cultural mais ampla, vinculando escolarização e conhecimentos adquiridos anteriormente e indícios potencializadores para uma leitura histórica que pode vir-a-ser realizada.