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Antes que a impressa realmente tomasse corpo e se estabelecesse como meio revolucionário de reprodução de material escrito, os conhecimentos acumulados pelos homens ao longo do tempo haviam preparado os meios materiais, as idéias e a sociedade para esse advento extraordinário.

Dentro do processo de acumulação histórica de conhecimentos, a escrita, o alfabeto, o papel produzido em escala industrial, a tinta, o amadurecimento da necessidade de uma produção em massa, criavam condições favoráveis ao surgimento de uma tipografia organizada.

Além disso, a essa altura a sociedade ansiava por meios que pudessem atender suas necessidades latentes de consumo em relação ao material escrito, o qual o manuscrito não era capaz de dar conta de uma produção vultuosa, mesmo utilizando o sistema da pecia.14

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Cópias de partes dos textos manuscritos autorizadas pelas universidades que podiam ser executadas pelos escribas. Ver Eisenstein em “A revolução da cultura impressa”

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Entrelaçado as condições que contribuíram para criação da tipografia, no século XV os homens buscam-se valores clássicos que elevassem-nos a produção de “novos” conhecimentos para estruturarem as sociedades européias.

Dentro desse contexto, a Igreja que por muito tempo havia atuado culturalmente sobre a consciência da sociedade, estava agora vivendo momentos conflitantes tanto internos como externos.

Sua autoridade estava sendo desafiada e isso abalava drasticamente seu poder, sua hegemonia em relação a produção da escrita, que era não só o principal canal para difundir as idéias que lhe eram peculiares, sem interferências de outros pensamentos que divergissem dos seus, mas também fonte de renda.

A decadência da Igreja por sua vez, oferecia-se como alvo para a multiplicação das denúncias dos escândalos constantes e a escrita apresentava-se como um instrumento eficaz para delatar tais aberrações cometidas por parte do poder da Igreja, além disso, a reforma impulsionava uma larga produção de textos escritos.

Considerando não só as forças que lutam pela hegemonia da produção da escrita, entre a sociedade despertava a necessidade de alfabetização que por sua vez exigia que se produzissem livros para as escolas e Universidades.

Por esses e outros motivos a Europa deveria criar mecanismos que levassem á descoberta de meios para intensificar o processo de produção de livros.

Neste sentido, a imprensa desenvolveu-se na Europa no século XV por ser um ali ambiente favorável e que oferecia os pré-requisitos básicos para a implantação dessa arte maravilhosa; o papel existia em abundância, o processo de mistura de tintas estava bem desenvolvido, havia também as prensas e conheciam-se os princípios do processo de fundição do metal.

Enfim, restava chegar a uma liga que fosse adequada para fabricar os punções. Assim, podemos entender que o tipo móvel separado foi essencial para o surgimento da imprensa que a partir de então adaptou outros mecanismos para que se imprimisse uma escrita que fosse clara e legível.

O processo da fundição do metal e a arte de gravar em metal eram técnicas já dominadas e isso favoreceu profundamente o fabrico do tipo móvel.

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Enfim, nada surgiu em um passe de mágica, tal invenção foi fruto dos conhecimentos históricos acumulados através de situações pertinentes, que possibilitaram aos homens uma forma conveniente de registro da produção cientifica, intelectual, e social.

Essa capacidade de reunir todos os elementos daquele universo e convertê-los em algo que se aplicava à formação da imprensa deve-se a um alemão de espírito inovador chamado Gutenberg.

A invenção da imprensa repercutiu em toda as atividades humanas, libertando o espírito dos homens (consciência) da ignorância, do misticismo, mas muitas vezes, também contribuiu para a dominação sobre os povos.

Portanto, podemos afirmar que a imprensa foi uma arte revolucionária, fruto das experiências humanas que deu grande impulso à civilização, sintetizadas no século XV por Johann Gutenberg segundo afirma a história corrente.

Naturalmente a imprensa de Gutenberg evoluiu o próprio tipo desenvolvido inicialmente, foi aperfeiçoado de acordo com as necessidades impostas pelo uso e pelas próprias “deficiências” que a impressão inicial apresentava.

Convém-nos aqui, lembrar que é atribuída a Gutenberg a obra “Julgamento

do mundo” como sendo anterior à sua impressão da famosa Bíblia de 42 linhas –

chamada Bíblia de Gutenberg.

Porém, foi partir da impressão da bíblia de Gutenberg de 42 linhas que a imprensa ganhou notoriedade e tornou-se o meio pelo qual as obras passaram a ser impressas, tanto obras religiosas como as pagãs.

Portanto, com a morte lenta dos manuscritos, a impressa passa a predominar e ocupar todos dos espaços como o meio mais eficaz de registros escritos para transmitir informação e armazenar os conhecimento históricos.

A essa altura, a arte de Gutenberg já era de domínio dos seus antigos sócios e investidores, Fust e Schoffer, que passaram a imprir bíblias melhores que as inicialmente imprimidas. Além da bíblia outras obras literárias, também foram impressas com melhor qualidade.

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Enfim, a imprensa difundiu-se por vários países Itália, Suíça, França e muitos outros países europeu. Dessa forma, os impressos alcançaram altos índices de circulação, sendo Veneza o centro principal do comércio de livros em toda Europa.

O que também podemos chamar de revolução dentro desse processo técnico da imprensa são as letras fundidas nos tipos metálicos.

Inicialmente buscava-se uma aproximação com as letras dos manuscritos; depois veio o estilo gótico, e finalmente a escrita da caligrafia dos humanistas, que procuraram resgatar uma escrita de estilo romano.

Algum tempo depois do surgimento da imprensa são retomadas as ornamentações, as ilustrações e as cercaduras, usando a arte já conhecida da xilogravura que colaborava para o embelezamento dos livros.

Dessa forma, ou seja, após dominarem a arte de imprir com tipo móvel, surge, por parte dos impressores, o desejo de criar livros mais atraentes que prendessem a atenção dos leitores.

Com esse objetivo os impressores passaram a ilustrar livros com gravuras e letras iniciais grandes, assim a decoração de livros impressos desenvolveu-se até tornar-se uma arte sofisticada. E essa arte decorativa reproduzível entrelaçada ao texto escrito, aprofundou-se por muitos países da Europa; entre eles destaca-se Veneza, produzindo gravuras já em 1481; e também a França. Portanto:

“A utilização da tipografia para os textos levou ao uso da xilografia para as ilustrações, com o que foram selados os destinos do escriba e do desenhista de iluminuras. Ao considerar-se a maneira como a literatura técnica foi afetada pelo deslocamento do manuscrito para o impresso, parece razoável adotar a estratégia de George Sarton, que contemplava ‘uma invenção dupla: tipografia para o texto, gravuras para as imagens’. Convém dar mais importância ao fato de que as letras, os números e as figuras, tudo já podia ser repetido nos últimos anos do século XV (Eisenstein,p.39)”

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