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A transição para democracia: é editada a lei de anistia no Brasil

3. A DITADURA MILITAR NO BRASIL

3.4. A transição para democracia: é editada a lei de anistia no Brasil

República ao General Ernesto Geisel, o qual concorreu com o então candidato da oposição Ulysses Guimarães. Ernesto Geisel propunha no início de sua gestão um gradual, mas seguro aperfeiçoamento democrático (VIEIRA, 1985).

As dificuldades enfrentadas no campo econômico, após um rápido período de desenvolvimento no Governo Médici, ensejaram a busca de apoio

político e social para manter estável o Governo. Tinha-se como meio diminuir a pressão e a repressão exercida sob a sociedade brasileira, o que seria realizado em várias etapas, como a suspensão, ainda que parcial, à censura aos meios de comunicação e reformas eleitorais (VIEIRA, 1985).

Ainda que proeminente o papel do partido de oposição consentida (MDB), no ano 1974 atingiu pela primeira vez, a maioria dos votos para o senado desde a instauração do regime. O partido acirrou-se em uma campanha pela volta ao Estado democrático de direito e às garantias constitucionais. Vislumbrando uma real possibilidade da sigla de oposição vencer nas eleições municipais, nas várias Assembleias Estaduais e no Congresso Nacional, tendo como meio de divulgação de campanha a imprensa - que ainda atuava sob censura direta e indireta - o governo novamente endureceu, editando a “Lei Falcão”, assim denominada em razão do nome de seu criador, Armando Falcão, Ministro da Justiça. A Lei estabelecia que os partidos políticos só expusessem no rádio e na televisão sua denominação, o número, o currículo dos candidatos e uma foto, em se tratando da televisão, dessa forma não haveria debates (GASPARETTO, 2016).

No ano de 1975 o Governo Militar apontava a infiltração de comunistas na imprensa, sindicatos e órgãos da administração. Em outubro do mesmo ano, após uma onda de prisões em São Paulo, é assassinado o jornalista Wladimir Herzog, o que gerou uma grande comoção social de segmentos da classe média, levando milhares de pessoas a realizarem um culto ecumênico na Catedral da Sé, em São Paulo (VIERA, 1985).

Em janeiro do ano seguinte é assassinado, por militares radicais, o operário Manoel Fiel Filho, em condições idênticas às de Herzog, o que

provocou o afastamento do cargo o Comandante do 2º Exército, pelo Presidente Geisel. Demonstram os fatos, que embora defendesse reformas e aberturas, o Governo não aceitou pressões (VIEIRA, 1985).

No ano de 1977, foi criado o denominado “pacote de abril”, que dentre outras medidas, instituiu o “senador biônico”, assim chamado pejorativamente, tendo em vista que um terço do senado seria composto via eleições indiretas (GASPARETTO, 2016).

Quando em 1975, a Associação Brasileira de Imprensa - ABI passou a atacar com maior vigor o controle do Estado sob a liberdade de expressão no país, o Presidente Geisel acabou por eliminar a censura direta da grande imprensa. Mas somente em 1978, a dita pequena imprensa ou imprensa alternativa, que era mais agressiva, deixou de sofrer censura. Nesse mesmo ano, a OAB apresentou a Declaração dos Advogados, relacionando exigências para a mudança do sistema político e jurídico no Brasil (GASPARETTO, 2016). Em 1978 o Presidente Geisel revogou o Ato Institucional nº 5, restaurou o direito ao habeas corpus e ao fim de seu governo, conclamou seu sucessor: General João Baptista Figueiredo (VIEIRA, 1985).

Com a eleição indireta do Presidente João Baptista Figueiredo, o qual tomou posse no ano de 1979, ficou assegurado à continuidade da abertura política no país, mesmo com os setores mais radicais e agressivos das forças armadas tentando barrar este processo de redemocratização, por meio de atos terroristas, como o uso de bombas em órgãos da imprensa e na sede da Ordem dos advogados do Brasil no Rio de Janeiro (doravante OAB), com o intuito de desestabilizar o governo e infringir medo à sociedade (VIEIRA, 1985).

Com o crescimento dos movimentos de oposição à ditadura, o governo Figueiredo considerou que a manutenção do bipartidarismo ocasionaria um desgaste ainda maior das bases de sustentação

política do regime, e na conjuntura da redemocratização, era esperada uma polarização política cada vez mais acentuada em favor do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), contra o partido governista. A fim de provocar uma divisão no bloco oposicionista, o governo Figueiredo lançou uma reforma partidária. (CANCIAN, 2016, p.1).

A ARENA e MDB foram extintos. Surgiu o Partido Democrático Social (PDS) da base governista, enquanto que o MDB se transformou no PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Também nasceu o Partido Democrático Trabalhista (PDT), liderado por Leonel Brizola e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), composto por uma ala de políticos arenistas menos influentes (CANCIAN, 2016).

Em 1979, os presos políticos foram sendo libertados e os exilados pouco a pouco puderam retornar ao país. A Lei de Anistia, a qual será explanada a seguir, serviu para dar continuidade a este processo de redemocratização.

Após duas décadas de regime militar, era urgente a convocação de uma Assembléia Constituinte. Em primeiro de fevereiro de 1987, o Congresso, eleito no ano de 1986, instala a Constituinte, sob a presidência do deputado Ulysses Guimarães, da sigla do PMDB (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2006)

Vinte meses depois do início da Assembléia, na tarde de 5 de outubro de 1988, foi promulgada no Plenário do Congresso em Brasília a sétima e atual Constituição da República Federativa do Brasil. Na sessão de encerramento, o deputado Ulysses Guimarães, discursou, exaltando a participação social na elaboração da nova Constituição brasileira e enfatizou seu caráter de Constituição Cidadã (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2006):

Hoje 5 de outubro de 1988, no que tange à Constituição, a Nação mudou. A Constituição mudou na sua elaboração, mudou na definição dos Poderes. Mudou restaurando a federação, mudou quando quer mudar o homem cidadão. (...) A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca.

Contudo a Constituição não pôs termo aos infortúnios deixados pelos 20 anos de ditadura militar e tampouco a instituição da Lei de Anistia no Brasil, a qual faz divergir entendimentos quanto a extensão de sua aplicabilidade.