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Enquanto reflexo de esforços concentrados na produção do café, a economia do país fica à mercê das oscilações dos preços internacionais de mercado. Isso faz com que o governo promova, em meados da década de 1880, uma estratégia nacional de desenvolvimento da região caribenha. Tal estratégia, baseada em um contrato com o estadunidense Minor C. Keith, culminou na criação da empresa United Fruit Company. A empresa, com forte presença em toda América Central, se estendeu velozmente por todo o Caribe e monopolizou a produção de bananas na Costa Rica, servindo de condutor do imperialismo dos EUA no país (MOLINA & PALMER, 2012).

Com o estabelecimento da United Fruit no país, também se consolida um “outro significante da identidade nacional costarriquenha” (SOTO-QUIROS, 2006), o negro afro- caribenho. Essa imigração de caribenhos descendentes de africanos em direção à América Central se inicia com a construção do canal do Panamá pela França em 1881 e se estende por pelo menos meio século. Recrutada como força de trabalho principalmente na Jamaica e em Barbados, a população afro-caribenha se dirigiu para as plantações de banana, estabelecendo- se principalmente na região do Caribe costarriquenho (Ibid, 2006).

Para Evans (1999), é nesse período que se inicia o legado científico da Costa Rica no estudo das condições biológicas do país. É também nesse período que o interesse da comunidade científica internacional se torna mais expressivo devido, principalmente, por dois fatores: a demanda internacional pelo café, e a construção do canal Trans-ístmico na baixa América Central. Esses fatores são descritos como o início de um crescente interesse científico que transformou o país no centro das principais pesquisas científicas da América tropical nas primeiras décadas do século XX.

O início do século XX foi testemunha de intensas atividades dos EUA em toda América Central. Sua atuação se dava tanto em termos políticos como militares: controle espacial e econômico de vastas terras em posse de empresas como United Fruit; construção e poder de influência sobre o canal do Panamá (1904-1914) que ocorreu após a independência do país frente à Colômbia (1903); e ocupação militar na Nicarágua (1912-1934). Fatores esses responsáveis por aprofundarem ainda mais a dependência da região perante Washington (MOLINA & PALMER, 2012).

74 É importante notar que a presença da United Fruit no Caribe nunca foi bem digerida por certos setores sociais, de modo que no país a influência estadunidense coexiste desde essa época com certo clima anti-imperialista. Isso ocorre, em parte, devido à presença de uma perspectiva racista na sociedade costarriquenha que, já em períodos distantes historicamente, condenava a importação de trabalhadores negros, anglófonos e protestantes (Ibid, 2012). Esse fato, aliado à presença de comunidades indígenas no Caribe, compele a essa zona área uma especificidade e complexidade de “culturas/naturezas” (LATOUR, 2009) diferentes das restantes do país.

Depois do café, a inserção da banana na socionatureza da Costa Rica pode ser considerada como a segunda ruptura em relação à alteração significativa da paisagem. Rapidamente transformando a paisagem agrícola nas terras baixas costarriquenhas, o processo produtivo de banana, diferentemente do café, agenciou uma enorme rede de infraestrutura de transportes sob um regime de trabalho de capital intensivo (EVANS, 1999). Em tempo, a expansão, cultivo, colheita, processo e exportação de café, banana e carne constituíram a base socioeconômica que definiram as relações de poder no país (HERRERA, 2008).

Em vistas dos acontecimentos elencados até aqui, é possível perceber que as paisagens da Costa Rica vão se alterando paulatinamente à medida que um novo produto agrícola alcança certo status de mercadoria lucrativa. Baseada em uma “estratégia produtiva depredatória” (MOLINA & PALMER, 2012:80), a United Fuit Company inaugurou a tomada dos meios de produção das mãos dos empresários locais, se expandiu velozmente, e transformou a banana em uma mercadoria do mesmo status que o café, com a diferença de que a primeira está ligada a um monopólio privado internacional.

Enquanto isso, o Estado assumia um papel de maior intervenção econômica e social:

La gradual integración política de campesinos, artesanos y trabajadores proporcionó una base sólida para la invención de la nación em Costa Rica. Los dos procesos se reforzaron mutuamente. Los sectores populares no eran ciudadanos unicamente en los discursos oficiales, sino en la práctica electoral, la cual fue el eje de una estratégica conexión entre demandas sociales y gestión gubernamental que impactó el presupuesto del Estado (MOLINA Y PALMER, 2012: 86-87).

75 O projeto de modernização, como assinalam os autores, conseguiu incorporar as classes marginais no ideal de Nação. Um sinal desse avanço liberal foi o crescimento do índice de alfabetização em 1930, que alcançou a cifra de 500 mil pessoas. O café continuava dando o tom simbólico de uma república que experimentava seu vanguardismo artístico e intelectual na temática social, buscando com isso o propósito de uma educação de massas. “O Estado costarriquenho, longe de praticar o laissez-faire, desde finais do século XIX começou a intervir sistematicamente na sociedade e na cultura por meio da educação” (MOLINA Y PALMER, 2012: 90). Com o início de uma cultura de massas na Costa Rica, os setores populares procuraram incorporar algumas práticas de interesse das elites, sem, no entanto, abandonar totalmente sua própria cultura local.

Los sectores populares, que descubrieron en la cultura de masas una fuente para revalorizar algunas de sus proprias costumbres y creencias, aprovecharon su creciente alfabetización y sus derechos políticos para asociar la identidad nacional con contenidos promovidos por la generación de intelectuales radicales de 1900: la justicia social, la pequeña propriedad territorial y la paz (MOLINA & PALMER, 2012: p. 92).

As primeiras décadas do século XX também marcaram a expansão da produção bananeira para outras áreas do país. Segundo Evans (1999:36), “de 1900 a 1965 aproximadamente 185 mil acres (74.867 hectares) de floresta foram transformados em bananais”. Na passagem da década de 1940 para 1950, a palma africana começa a ser introduzida no país, demandando mais estrutura de apoio à produção (Ibid, 1999).