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Compreendido como titular do poder de polícia, o policial é legitimado pelo ente estatal a desempenhar sua atividade no intuito de manter a paz no meio social. Seus comandos são de cunho imperativo e obrigatório aos seus destinatários e, na hipótese de que estes mostrem resistência, a lei possibilita o recurso à força pública para que as ordens sejam obedecidas, além das ações punitivas legalmente prescritas.

Considerados o escalonamento no uso da força contínua e a modalidade de resposta, o policial deve adotar, como primeira conduta, a posição de abordagem e o comando verbal, que

se utilizam na realização deste procedimento, o qual é regido por lei, mais especificamente no art. 244 do Código de Processo Penal:

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domicilia

A expressão fundada suspeita constitui a parte do dispositivo referido em que se alude ao poder discricionário do policial no que concerne a quem deve parar e quando fazê-lo, em consonância com o disposto no art. 239 da lei supramencionada:

Art. 239 Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autoriza, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.

No Código de Processo Penal Pátrio, o artigo 284 dispõe acerca da utilização da força no intuito de controlar a violência, a qual deve ocorrer de modo restrito às situações em que seja necessário:

Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso.

Também nos artigos 292 e 293 do Código mencionado há regramento aplicável às situações em que seja necessário o uso da força:

Art. 292. Se houver, ainda que por terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.

Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obedecido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão.

Além disso, o Código de Processo Penal Militar menciona sobre a utilização da força pela corporação, em seus artigos 231, §§ único, 232 e 214.

Código de Processo Penal Militar Captura em domicílio

Art. 231. Se o executor verificar que o capturado se encontra em alguma casa, ordenará ao dono dela que o entregue, exibindo-lhe o mandado de prisão. Parágrafo único. Se o executor não tiver certeza da presença do capturado na casa poderá proceder a busca, para a qual, entretanto, será necessária a expedição do respectivo mandado, a menos que seja a própria autoridade competente para expedi-la.

Caso de busca

Art. 232. Se não for atendido, o executor convocará duas testemunhas e procederá da seguinte forma: sendo dia, entrará à força na casa, arrombando- lhe a porta, se necessário; sendo noite, fará guardar todas as saídas tornando a casa incomunicável, e, logo que amanheça, arrombar-lhe-á a porta e efetuará a prisão.

Emprego de força (...]

Art. 234. O emprego da força só é permitido quando indispensável, no caso de desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para vencê-la ou para defesa do executor e seus auxiliares, inclusive a prisão do defensor. De tudo se lavrará auto subscrito pelo executor e por duas testemunhas.

De acordo com Santos e Urrutigaray (2012, p.183), a utilização da força pelo servidor público é uma atividade obrigatória que ele realiza, incidente sobre pessoa ou um grupo, a fim de determinar a cessação de uma conduta considerada como ilícita, ao cumprir a ordem proveniente de autoridades ou no intuito da preservação ou guarida de direitos evitando, assim, a ocorrência de um mal mais abrangente.

Ressalta-se que esta possibilidade de intervenção requer a observância de um escalonamento, pelo qual se verifica o uso gradativo das modalidades de força, para que se evitem abusos. Tanto as normas ou documentos de cunho institucional regem o uso da força gradativamente e sempre com o fim do estrito cumprimento do dever legal ou da legitima defesa.

Neste sentido, Souza e Oliveira (2009, p.73) realçam que, ora as normas, ora os documentos institucionais prescrevem a utilização da força de modo gradativo e para o exercício do estrito cumprimento do dever legal ou em caso de legítima defesa, atentando para a observância dos princípios da legalidade, necessidade, conveniência e proporcionalidade, visto que inexiste autorização legal para o cometimento de excessos. O policial pode, com isso,

fazer a defesa do seu direito ou de terceiros, a fim de repelir a injusta agressão, porém recorrendo a meios moderados, não havendo guarida para atitudes deste que se caracterizem pela violência ou pelo descomedimento.

Trata-se de uma questão que suscita opiniões bastante contraditórias, haja vista que este recurso não deve ser um procedimento usual. Importa que o agente representante do Estado se utilize somente se indispensável, nas situações de resistência ou de tentativa de fuga por parte do preso. Em conformidade com Távora e Rodrigues (2013, p.555), quando realizado de forma desnecessária ou abusiva, pode configurar o abuso de autoridade, lesões corporais e homicídio, entre outras formas delitivas.

Haverá legitimidade no uso da força contanto que sejam observados os princípios da razoabilidade, ética e necessidade, em patamares que se mostrem adequados à situação fática e desde que utilizada em um momento propício, com os instrumentos cabíveis e sob motivação correta. Assim, o policial deverá ter o discernimento a respeito de como utilizá-la corretamente, obedecendo a uma sucessão lógica entre o motivo e o resultado, partindo das modalidades mais fracas até as mais rigorosas, a exemplo da força letal, com o uso de instrumentos, estratégias e uma análise do tempo disponível.

Considerando-se o binômio necessário entre ação e reação, esta última compreendida como resposta, o policial poderá atuar de modo preventivo, a partir do conhecimento proporcionado pela sua experiência profissional, ou repressivamente, levando em conta a segurança, aqui considerada em relação a si próprio, ao público e ao agente delitivo.

Considerando-se que, no cotidiano, existem problemas vinculados à segurança pública se atrelam à função desempenhada pelos policiais no combate à violência, mostra-se oportuno considerar as impressões destes sobre esta temática, as quais são apresentadas na seção seguinte.

4 A PERCEPÇÃO DE MEMBROS DA POLÍCIA MILITAR SOBRE A

RELAÇÃO ENTRE A SEGURANÇA PÚBLICA, OS DIREITOS

FUNDAMENTAIS E O USO DA FORÇA LETAL

Neste trabalho, há o objetivo de obter dados junto a membros da Polícia Militar, de várias patentes, de modo a subsidiar uma análise mais criteriosa a respeito da utilização da força letal como instrumento para o controle da violência urbana. Para tanto, opta-se pela aplicação do levantamento por intermédio dos grupos focais.

As discussões trazem o enfoque sobre aspectos ligados à atividade desenvolvida por membros desta corporação, a exemplo das condições em que exercem o seu papel, com destaque para os sentimentos experimentados em situações de enfrentamento com o recurso à letalidade.

No intuito de identificar os discursos dos participantes, adotam-se a identificação por meio de código numérico e as iniciais dos produtores dos relatos, assim como a indicação dos seus respectivos grupos.