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A viagem do Padre José Maria/Beato Romano

2 OS PERSONAGENS VIAJANTES/DESLOCADOS

2.2 A viagem do Padre José Maria/Beato Romano

Ironicamente, o romance se inicia in media res, com a chegada do padre José Maria nas terras de Maria Moura, com a intenção de pedir ajuda e proteção. O padre, que deveria levar consolo e uma palavra de altruísmo aos fiéis, encontra-se em uma situação bem difícil, deflagrada pelo desenvolvimento de uma paixão trágica, que o força a fugir, constantemente, sem poder estabilizar-se em nenhum lugar. O medo e a culpa são seus aliados nesta nova vida que foi obrigado a levar. E a sua penitência, pelas estradas do sertão, é conviver com o sofrimento que o atormenta e não o deixa esquecer da sua imensa culpa. O encontro com o padre José Maria faz com que Moura ligue as duas pontas da narrativa, estabelecendo um enlace entre o seu presente, já na Casa Forte, e o seu passado, com a jovem de 17 anos que recorre à religião, para confessar seus pecados da carne e mentora de um homicídio. Essa confissão marca um elo eterno entre o padre José Maria e Maria Moura.

Bem, ela deve se lembrar da confissão. Não é todo dia que se faz uma confissão daquelas. Ela tem que se lembrar.

A manhãzinha na igreja, quase escura ainda. A moça ajoelhada, falando com voz rouca:

⎯ Padre, eu me confesso porque pequei... Cometi um grande pecado... O pecado da carne... Com um homem... O meu padrasto! E o pior é que, agora, eu tenho que mandar matar ele... (QUEIROZ, 1992, p. 7).

A palavra “confissão” ganha um sentido maior, pois funcionará como moeda de troca, para que o padre possa ingressar na fortaleza de Dona Moura.

[...] Eu não vim aqui ameaçar ninguém; pelo contrário, vim pedir proteção. – Mas logo o senhor? Um padre! Que espécie de proteção?

– Sua casa, sua confiança, sua ajuda. Antigamente se chamava isso ‘direito de asilo’. Pois eu vim lhe pedir asilo. Não sou mais padre, há anos. Larguei a batina. Também fiz uma morte, ando fugido já faz muito tempo.

– O seu segredo pelo meu? Ele aí abriu os braços:

– Se a senhora quiser assim. Mas eu vim de graça, sem cobrança nenhuma (QUEIROZ, 1992, p.12).

A viagem do padre José Maria significava fuga e seu martírio começou no dia em que ele se deixou levar pelos seus instintos e apelos sexuais. As lembranças do passado atormentam tanto o padre como Maria Moura.

No século XIX, a religião católica imperava absoluta, entre os brasileiros, e ser padre no sertão ia muito além de um título: era imposição de autoridade, respeito e adoração, como um santo católico. Não podemos deixar de ressaltar que o padre é, antes de tudo, um homem pecador. Alguns padres conseguiam conciliar as duas funções ⎯ a de religioso e a de homem comum ⎯ sem que nunca tivessem maiores problemas. Porém, o padre José Maria não conseguiu.

O segundo narrador-personagem que iremos tratar aqui representa a instituição religiosa, então, contextualizar suas memórias se faz necessário. O padre tinha uma vida pacata e previsível, na paróquia de Vargem da Cruz, até se envolver com Dona Bela, uma paroquiana solitária, porém casada que, depois de muitas investidas e flertes da parte dela, fez com que o padre caísse em pecado e concretizasse o adultério. No Nordeste, o envolvimento de padres com mulheres era visto como um pecado natural e comum: [...]“Creio que, apesar de padre, eles não me consideravam imune a essas fragilidades masculinas e até esperavam que eu comungasse das mesmas culpas: [...]” (QUEIROZ, 1992, p. 101). Àquela altura, o padre estava familiarizado perfeitamente com aquela situação de prazeres e Dona Bela já carregava o seu filho no ventre. O marido descobre a traição e a tragédia entra na vida do padre, concretizando o pecado do homicídio. Depois deste infortúnio, o remorso passa a ser seu companheiro fiel. A viagem de fuga passa a figurar uma questão de sobrevivência e liberdade.

Deixava Veneno tomar o caminho. Para bem longe, sempre mais longe, onde ninguém se lembrasse do Padre José Maria e das três mortes daquela noite, na Fazenda Atalaia. Podia mesmo dizer as quatro mortes: ela, o meu filho nonato, o Anacleto ⎯ e o Padre José Maria. Porque o Padre também morreu, naquela noite maldita. O que dele sobrou era hoje um fugitivo apavorado, sem lugar nenhum que pudesse chamar de seu (QUEIROZ, 1992, p. 188).

Nas andanças do ex-padre pelo sertão, principalmente na sua narração, existe uma postura autorreflexiva que o levava a penitências diárias, por possuir uma alma atormentada pelo pecado. A viagem era uma peregrinação, na qual estava sempre buscando se reconciliar

com a sua consciência, mas a marca do pecado penetrou, profundamente, em sua alma e não se considerava merecedor de uma nova vida.

A Fazenda dos Nogueira foi a primeira morada decente, a primeira ocupação respeitável que alcancei depois da tragédia. Corrido como eu vivia, sem cama nem paradeiro, fugindo à menor ameaça, me fazendo de pior do que era, vivendo como criminoso escapado, em qualquer lugar onde parasse, o medo andava atrás de mim (QUEIROZ, 1992, p. 183).

O estigma do padre, seja pelas palavras ou pelo comportamento adotado, não saía dele, então acabava sendo reconhecido por alguém, como um religioso.

Se fizermos uma leitura comparativa entre o padre José Maria e Jesus Cristo, podemos perceber que ambos precisaram atravessar seus desertos, entendendo que o ex-padre foi tentado por uma mulher, não resistiu e pecou contra a castidade, cometeu um assassinato e, por isso, foi jogado no deserto, com a intenção de se penitenciar pela sequência de erros cometidos. A sua voz narrativa, durante todas as paradas, na difícil via crucis, por assim dizer, traduzia uma linguagem intimista e reflexiva, na qual a revelação das carências dos personagens, encontrados pelas estradas, ia revelando histórias e também desenvolveu a empatia e a alteridade no homem José Maria. A sua identidade nesta jornada pessoal estava sendo posta à prova e ele estava em um contínuo aprendizado.

Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma 'celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. E definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um ''eu" coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas (HALL, 1999, p. 12-13).

Segundo a citação de Hall, essa mutabilidade provocada pelas experiências difíceis, com o seu passado como padre e pecador, somadas ao questionamento do olhar para o sofrimento do outro encontrado durante a sua viagem geográfica ⎯ e também interna ⎯ levam a um curso de transformação profunda. Ele traz a voz ponderada e crítica sobre situações sociopolíticas que fazem, do sertão, uma terra de muitas mazelas e ranhuras, na pele e na alma. O que significou, então, a viagem, para o Beato Romano? Em cada casa em que ele chegava e era acolhido, era

possível, através da empatia, vivenciar a dor do outro e, de alguma forma, estabelecer o autoconhecimento e a redenção, mesmo que parcialmente, dos seus desvios na vida religiosa. Como pecador, ele só podia estar em paz junto a outros pecadores e a Casa Forte, de Maria Moura, lhe proporcionava isso.

Lá uma manhã, já eu me sentia a salvo na Casa Forte. De certa maneira singular me achava mais em casa do que em qualquer outro lugar, em minha vida — seria pela perda total de todos os compromissos, pela perda de tudo, até da minha própria identidade? (QUEIROZ, 1992, p. 361).

O questionamento do Beato Romano nos faz perceber que ele está aceitando sua nova condição e que ali, encontrou não o esquecimento de seus erros, mas a paz há tanto perdida. O padre, que absolvia as pessoas dos seus pecados, foi percebendo que, como padre, para ele, não existia perdão. O discurso, proferido agora pelo homem José Maria, não se escondia mais no título ou na autoridade de um religioso. Agora, ele era considerado apenas como pecador e fugitivo. A sombra do padre nunca o abandonará, mas o novo caminho escolhido, forçadamente pelas circunstâncias adversas da vida, implicaria um exercício de fuga e penitência, e esse novo olhar o transformaria no mais severo crítico sobre ele próprio e, também, sobre o povo sertanejo. Sua voz narrativa questiona e analisa o contexto histórico, social, político e econômico que o circunda, e isso se revela pela linguagem dura, crítica e reflexiva da situação de pobreza extrema. Ele resolve, então, assumir a alternativa de fugir e não se explicar. O estar só com a sua consciência estabelece, simbolicamente, a sua sinceridade com as pessoas que o acolheram pelo caminho.

Não sou assim tão ladino; não sei disfarçar bem, sou medroso, ou tímido, sei lá! No seminário os outros diziam que eu era esmorecido.

Poderia também esse vigário ser um Padre decaído, não ter moral para me punir; e, antes, querer me arrastar mais para baixo, com ele. E isso também eu não queria ⎯ ah, não queria, chegava a ter horror em pensar; cair mais fundo eu não queria. Quinze dias depois da carta do vigário, os alicerces estavam prontos; já se amontoavam ao lado deles os milheiros de tijolos para se levantarem as paredes. E então, na hora do jantar, eu disse a Seu Dão e à Dona Mocinha que tinha chegado a minha hora de ir embora:

– Não vê ⎯ já se cumpriu a minha promessa. Já estão sarados os meus ferimentos... graças a estas santas mãos — e eu beijei as mãos da velhinha. E menti, tranquilo [...] (QUEIROZ, 1992, p. 253-4).

A todo mundo, no Bom Jesus, contei que ia fazer uma viagem à Bahia. Mas Siá Mena, levei-a para o meu quarto, tranquei a porta, contei-lhe da minha vida o que podia. Tinha me metido numas confusões, antes de lhe aparecer, e que confusões eram essas! – houve até uma morte, no meio delas. Eu era inocente, mas ninguém acreditava, e então tive que fugir à vingança dos parentes do defunto. Não lhe disse nada a respeito de ser Padre. Ela, desde os primeiros dias, quando me fiz escrivão, já sabia que eu tinha estudo. A causa da minha partida, Siá Mena já adivinhava, tinha sido a visita

daquele amigo, o Julião. Homem bom e leal, mas de língua desembestada. Sem querer, só por imprudência, podia me descobrir. E como prometeu voltar sempre, não precisava nem que ele falasse, para me descobrirem. A família do defunto, ainda seca por vingança, era muito capaz de seguir a trilha do compadre; conheciam demais a nossa amizade.

Siá Mena entendeu tudo. Ao final me disse, muito triste:

⎯ Siga o seu destino, meu filho. Eu já vi muita coisa neste mundo, sei entender. [...] Eu estava de garganta presa. A gente por onde anda cria amor e desamor, e vai deixando atrás de si aqueles pedaços de coração. Bem-querer ou ódio (QUEIROZ, 1992, p. 280).

Por esses lugarejos, o ex-padre assume funções ligadas à palavra e ao conhecimento. Ele foi escrivão na feira, onde ajudava pessoas com cartas, contas, interpretações variadas, e também abraçou o ofício de professor, demonstrando a escassez de educação que dominava historicamente as terras sertanejas.

Abrimos, aqui, um precedente para as indagações críticas do Padre José Maria, sobre o poder do conhecimento que dita as regras sociais e tem total controle dos menos favorecidos. Ele é o confidente dessas pessoas e também, quem denuncia o problema educacional brasileiro. Logo, sua voz na narrativa amplia o campo reflexivo sobre uma realidade que nunca teve uma significativa mudança no cenário nacional.

[...] Eu trabalho, eu tenho estudo. No lugar de onde venho, eu ganhava dinheiro escrevendo carta para quem precisasse, fazia conta, nota de gado – me chamavam até de escrivão! Mas o que eu gostava mesmo era de ser professor.

– E por que, não é?

– Ah, essa gente que eu encontro por aí é muito rude, quer lá saber de leitura. Menino de cinco anos já está no cabo da enxada.

– Aqui também. Aqui também vai ficando tudo cada vez mais bruto. Precisava muito de se arranjar pra cá um professor ou professora, que desasnasse pelo menos os meninos. Que os pais já não têm mais jeito (QUEIROZ, 1992, p. 277).

O referencial histórico no discurso do padre se evidencia em vários momentos no romance, uma marca importante é a presença da escravidão, ainda em curso no Nordeste, como podemos constatar na citação:

— Me diga, meu filho, será que ainda vive aqui um escravo por nome Simão? A mulher dele se chama... eu acho que é Iria ...

— Vive sim sinhô. A Siá Iria é a cozinheira da fazenda. O Simão toma conta dos negros novo, no eito (QUEIROZ, 1992, p. 313).

O sertão ainda está bem atrasado e abandonado na sua estrutura social e política, com a convivência naturalizada de várias formas de escravidão. Outra marca temporal significativa é o surgimento das pequenas cidades vinculadas às construções de igrejas e praças, marco

significativo no Segundo Reinado. Vejamos, por exemplo, o paradoxo proposto na citação abaixo:

A gente trabalhava de sol a sol, com grande boa vontade. Eles sonhavam com aquela igreja e não era só pela devoção. A igreja viria a ser o atestado de vida do povoado; seria a sua marca, aquela torre a se avistar de longe; representando muito mais que o velho pelourinho, perdida a sua importância desde que se acabou o tempo do rei. Agora o Brasil era um Império, onde não se aceitava mais aquela vergonha do pelourinho. E era portanto a igreja, com a sua torre alta, que iria dar a eles a carta de cidadania (QUEIROZ, 1992, p. 249).

O sertão se configurava como um cenário contraditório, possibilitando a coexistência de sistemas violentos e de completo desamparo do povo, das estruturas sociais e educacionais. O seu discurso revelava essas mazelas através da sua experiência junto ao povo.

O Padre José Maria é submetido a uma jornada íntima, supostamente ligada ao fluxo de consciência que o faz lembrar dos pecados cometidos e somente ela pode conseguir as respostas para o que busca. A partir dessas considerações, ele pode, se insurgir ou não, contra tudo o que considera nefasto durante a sua errância. Segundo Chevalier, “o simbolismo da viagem, particularmente rico, resume-se, no entanto, na busca de verdades, da paz, da imortalidade, da procura e da descoberta de um centro espiritual” (1998, p. 951). E para se alcançar a plenitude dessa viagem, Chevalier diz que “seria preciso concluir que a única viagem válida é a que o homem faz ao interior de si mesmo” (1998, p. 252). Isso corrobora a busca realizada pelo padre, tornando-se a voz dessas comunidades, nas quais, durante um tempo, estabelece uma interação. É preciso destacar, também, que talvez o personagem estivesse procurando, ao longo dessa viagem, esse equilíbrio possível ou não de encontrar.

Na realidade, eu ainda me sentia Padre. A coroa podia estar escondida por baixo do cabelo novo, mas ainda me ardia no alto da cabeça. As mãos que consagravam, ainda as respeitava, como me tinha sido imposto. De noite, trancava a porta do quarto na casa de Seu Dão, ficava horas ajoelhado, rezando. Em latim (QUEIROZ, 1992, p. 253).

Embora, intimamente se considere ainda um padre, essa reconciliação com seu estado inicial não será mais possível, visto que o caminho percorrido até aqui o transformou em uma outra pessoa, sendo considerado, aos olhos da justiça, como assassino e tendo a sua cabeça a prêmio.

⎯ E o Sinhô Padre sabe que botaram a sua cabeça a prêmio? A herege da Dona Eufrásia. Não lhe bastou a desgraça que arranjou com aquela carta para o homem. Diz que só sossega quando conseguir lhe ver pendurado numa forca, ou varado de bala... — E ainda tem gente no meu encalço, Iria?

Ela baixou a cabeça, sem saber o que responder. Afinal me olhou:

⎯ Foi muito dinheiro que ela botou: um conto de réis. O povo daqui é pobre, nunca nem viu falar em tanto dinheiro. E existe muita gente ruim. Nesta fazenda mesmo, tem uns dois cabras que vive jurando lhe pegar um dia (QUEIROZ, 1992, p. 314).

Esta citação traz a compreensão de que o ex-padre nunca deixará de ser perseguido e o seu protagonismo reside em tentar sobreviver. Uma nova possibilidade de se manter vivo e de se assumir como um fora da lei foi buscar o apoio de Maria Moura. Voltaremos, então, para o primeiro capítulo do romance, quando o Padre José Maria consegue encontrar a Casa Forte de Maria Moura. Depois de uma conversa séria e reveladora para ambos, seu asilo torna-se real e o padre assume uma nova identidade.

[...] A verdade é que, para mim, que antes não encontrei paz nem perdão, vivo hoje numa ilha de paz, depois que assumi a identidade do Beato. Que é a contrafação do sacerdócio, a sua imagem deformada pela ignorância dos simples; e isso é que é incrível: sendo eu hoje um rústico arremedo de Padre, os meus — digamos os meus ‘fiéis’ ⎯ me têm muito mais respeito do que tinham os outros, quando eu agia de acordo com o múnus, cumpria conscienciosamente os meus votos sacerdotais, me esforçando por ser um pregador fiel da Boa Nova do Senhor... (QUEIROZ, 1992, p. 423).

O Beato Romano, como fora batizado pela Dona Moura, agora experimenta a segurança e a paz já há tanto tempo perdida. Porém, não deixa de estabelecer comparações entre o passado e o presente, não deixa de relacionar, criticamente, a situação que o levou até ali e não abandona todo o aprendizado sacerdotal. A viagem processou, gradativamente, a transformação do personagem. Como religioso, descobriu que deveria se despir dos arroubos de poder que envolvem títulos e posições privilegiadas. Como homem, analisou criticamente a sua humanidade e considerou a mesquinhez, a violência e a crueldade que circundam cada ser humano. Quando o Beato Romano se junta ao bando de Maria Moura, de forma harmoniosa, e logo depois reflete sobre uma morte tranquila, podemos novamente fazer uma alusão à Bíblia, na qual Jesus comunga e interage com bandidos, assassinos, doentes e valoriza as coisas mais simples da vida, como as mais importantes. Talvez o personagem José Maria seja uma mensagem de busca por humanidade, empatia e alteridade. Dentro das suas limitações, o Beato Romano é uma nova criatura.

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