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Capítulo VI: Associativismo

1. A vida associativa: princípios e benefícios

O associativismo sempre assumiu propósitos humanistas e de sociabilização uma vez que o principal objetivo do associativismo é levar as pessoas a reunirem-se a formarem grupos, desenvolvendo capacidades organizativas com o intuito de defenderem objetivos comuns aos indivíduos desse grupo. Desta forma são satisfeitas as suas necessidades e a probabilidade de serem tidos em consideração, é mais elevada.

Para Tocqueville, o associativismo é fundamental para uma melhor organização das sociedades democráticas, uma vez que alia liberdade e igualdade.

Para Dumazedier, o associativismo é uma dinâmica que se desenvolve de forma exterior às classes sociais, mas que tem efeitos niveladores sobre essa hierarquia.

Já para Capucha (1990) o associativismo é tido como uma forma de organizar as populações, rentabilizando os seus recursos e capacidades, melhorar e qualificar as suas condições de vida, de satisfazer necessidades cultivadas, de criar condições para se fazerem representar no diálogo junto dos poderes. Isto é, as associações ajudam a criar e a desenvolver capital social, aumentado assim a produtividade, não só dos indivíduos mas também dessas mesmas associações. As associações são ainda responsáveis pelo combate à segregação e exclusão social e responsáveis pela transferência de conflitos. As associações passam assim a apresentar-se como interlocutores, entre os cidadãos e os poderes, não só quando existe algo que pode ser melhorado, a nível de infraestruturas, mas também para fazerem chegar até estes poderes situações desconhecidas como pessoas que vivam em condições sub-humanas ou em pobreza extrema, uma vez que estão mais em contacto com estes casos. Normalmente as associações relacionadas a estes casos são as associações voluntárias, que tem como objetivo a participação social, a entre ajuda entre os cidadãos da sociedade para que desta forma seja possível combater esses elementos desagregadores, criando simultaneamente uma consciência coletiva.

Ernesto Fernandes (2003) propõe três conceções de associativismo, em primeiro lugar, o associativismo tradicional ou revivalista, onde as associações são apresentadas como espaços de convívio e que têm como base a promoção da solidariedade e a entreajuda. São exemplo as associações culturais, recreativas e desportivas, onde por norma existe sempre um espaço dedicado a este convívio. Em segundo lugar, identifica

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as associações empresariais ou pragmáticas, um tipo de associativismo mais profissionalizado, que tem como objetivo a prestação de serviços. Isto é, o associado paga as suas quotas, e depois durante esse período de tempo pode usufruir de vários serviços, tais como jurisdição, auxílio quando o associado pretende candidatar-se a algum apoio europeu, contabilidade, etc. Por último, identifica o associativismo emergente, caracterizado por ter uma vertente emancipadora, desenvolvendo projetos inovadores e de incorporação de novas práticas, nomeadamente as hortas urbanas, o aproveitamento de comidas que todos os dias os restaurantes deitam fora, promoção do desporto através de atividades como corridas noturnas, etc.

A vida associativa permite que os espaços públicos sejam constantemente recreados, o que se reflete numa maior liberdade e fazem com que cada vez mais surjam novos tipos de associativismo, que possibilitam uma maior participação por parte dos cidadãos. Atualmente já existem vários tipos de associações, com os mais variadíssimos objetivos, cada vez mais específicos. Isto faz com que seja possível ao cidadão “escolher” uma causa e dedicar-se em exclusivo a essa causa, a qual com que mais se identifica e a qual pretende representar.

O associativismo surge então na forma de elemento democratizador, que leva a que seja possível à sociedade civil ter uma maior participação nos processos e decisões, sejam eles de nível económico, social ou cultural.

Neste prisma Mark Warren (2004:88-89) na sua interrogação sobre qual o melhor tipo de sociedade civil para a democracia, apoia-se em três argumentos de partida:

- “[as] associações podem desenvolver as capacidades democráticas dos indivíduos”;

- “as democracias dependem de esferas públicas robustas [sendo que as] associações na sociedade civil funcionam como infraestrutura social das esferas públicas” (apud Albuquerque, 2008);

- “as associações podem cumprir funções institucionais, oferecendo uma representação e uma voz, não apenas no interior do Estado, mas também no seio de outro tipo de regimes como as Nações Unidas ou a UE”.

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Desta forma o associativismo pode apresentar-se como um indicador da sociedade, uma vez que permite ao indivíduo ter uma intervenção social mais direta, permitindo-lhe exercer o seu direito de cidadania.

“As associações canalizam para a esfera pública informações, reivindicações e orientações normativas e valorativas que permitem enriquecer o processo deliberativo. Os efeitos a nível individual, nomeadamente a transformação da consciência social e política, são também o resultado desta discussão pública” (Viegas, 2004: 37).

Assim sendo será possível, através do nível de associativismo, identificar se estamos perante uma sociedade mais dinâmica, interativa e ativa ou uma sociedade quase que estagnada, pouco ativa e sem interesses ou causas comuns, uma vez que as associações pressupõem a existência de um grupo de indivíduos que, através da conjugação dos seus esforços, têm como propósito a defesa de um objetivo comum.

Para Albuquerque (2008) as “associações e outras redes sociais desempenham um papel fundamental na promoção de confiança dos cidadãos face ao Estado e à sociedade, evitando a desintegração social e a deterioração da democracia”.

No entanto, para alguns autores associações têm alguns efeitos negativos na medida que podem ser elementos limitadores da liberdade individual dos seus membros e que poderão reforçar o conformismo e a aceitação de regras. ParaPopielarz (1999) a própria existência de associações e de elevadas taxas de participação associativa, não representam por si só uma forte integração social.

Para que o associativismo possa realmente funcionar é necessário a presença de uma cultura associativa, isto é, perceber que as associações têm como intenção a melhoria da qualidade de vida, fazer com que todos os cidadãos sintam que têm um espaço na cidade, um lugar onde ir e que sintam que é um prolongamento da sua habitação. O cidadão, enquanto indivíduo tem que se aperceber que a sua qualidade de vida está dependente da qualidade de vida coletiva, da dos restantes cidadãos. Um outro alicerce das associações prende-se com as relações sociais, isto é, da mesma forma que o primeiro ponto permite que haja um prolongamento da habitação, com as relações sociais há um prolongamento das redes familiares, são criados laços entre todos os associados.

Putnam (1993:90, apud Albuquerque, 2008) argumenta que as associações provocam efeitos positivos tanto num plano interno como externo:

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- ao nível interno induzem nos seus membros hábitos de cooperação, solidariedade e predisposição para a vida pública;

- ao nível externo, uma rede densa de associações secundárias dá forma e contribui para uma colaboração social efetiva, ao invés de criar separação, situação observada em países em desenvolvimento na sua transição para um regime democrático. Para Putnam (1993) as associações mais bem-sucedidas são aquelas que surgem, nascem de iniciativas participadas e em comunidades locais relativamente coesas (idem: 90-91) e que é o contexto social e histórico que determina significativamente a eficiência das instituições (ibidem: 182).

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