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A visão de Professores do Ensino Médio de Escolas Públicas de Araçatuba-

Preliminarmente, na tentativa de responder às duas primeiras perguntas, resolvemos investigar a visão dos professores de matemática do Ensino Médio da rede pública de nossa cidade, Araçatuba/SP e, para tanto, elaboramos questionário para preenchimento e saímos a campo. A trajetória percorrida e os resultados obtidos, expomos na seqüência.

Solicitamos à Diretoria de Ensino uma relação de professores de Matemática das escolas públicas da cidade, juntamente com suas sedes de freqüência. Dirigimo-nos às escolas-sede dos professores, contatamos os Diretores, Coordenadores e pedimos que entregassem os envelopes com os questionários aos professores de Matemática. Houvemos por bem não contatar diretamente os professores, a fim de, na medida do possível, tornar anônima a pesquisa e fazer com que os mesmos ficassem bem à vontade para responder às questões com a máxima franqueza.

Foram entregues 20 questionários, mas obtivemos o retorno de apenas 121. O questionário dos professores foi composto de duas partes: na primeira havia questões gerais sobre o ensino e a aprendizagem; na segunda, com 12 questões específicas (exercícios) de Matemática Financeira. Essas 12 questões foram idênticas às aplicadas aos alunos egressos do Ensino Médio e serviam de base para que os professores tomassem conhecimento do conteúdo envolvido na investigação feita junto aos alunos egressos.

Deixamos os professores à vontade para resolverem ou não as 12 questões específicas. A maioria deles não resolveu, alegando falta de tempo, e preencheu apenas a primeira parte do questionário, conforme expomos adiante.

Sintetizando as respostas dos questionários, verificamos que:

80% dos entrevistados responderam "sim" à questão: “Você ensina Matemática

Financeira no Ensino Médio?”

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O questionário apresentado aos professores do Ensino Médio em Escolas da Rede Pública de Araçatuba constitui Anexo 2, juntado no final deste trabalho.

100% dos entrevistados responderam "sim" à questão: “Na sua opinião,

conhecimentos sobre Matemática Financeira são indispensáveis no exercício da cidadania dos estudantes?”

100% dos entrevistados responderam "não" à questão: “Na sua opinião, o aluno

que conclui o Ensino Médio possui conhecimentos suficientes de Matemática Financeira para trabalhar no comércio, numa empresa financeira, ou para montar e gerenciar uma micro ou pequena empresa?”

80% dos entrevistados responderam "sim" à questão: “Você conhece a proposta

de ensino dos PCN de Matemática para o Ensino Médio?”

60% dos entrevistados responderam "sim" à questão: “Você conhece os Temas

Transversais propostos para serem utilizados no Ensino Médio?”

100% dos entrevistados responderam "sim" à questão: “Na sua opinião, é

importante ensinar Matemática Financeira no Ensino Médio?”

Nessas respostas, dois resultados chamaram-nos à atenção. O primeiro refere-se ao fato de que somente 80% dos professores afirmaram que ensinam Matemática Financeira, embora 100% consideram que esses conhecimentos são indispensáveis para garantir o exercício da cidadania. Deduz-se com isso que 20% enfrentam algum tipo de dificuldade que não foi explicitada nas suas respostas. O segundo resultado curioso foi que 100% dos professores consideram que o aluno concluinte do Ensino Médio não possui conhecimentos suficientes de Matemática Financeira, para trabalhar no comércio, numa empresa financeira ou gerenciar uma micro ou pequena empresa. Aqui, é possível supor que, de forma indireta, os 80% dos professores que trabalham com esse conteúdo, declaram que os seus alunos não aprenderam.

Cremos também ser possível levantar duas hipóteses:

• O ensino de Matemática Financeira não é eficaz.

• O tempo dedicado para esse conteúdo não é suficiente para que o aluno aprenda.

Além de responder ao questionário, alguns professores teceram alguns comentários sobre o tema. Na seqüência, apresentamos alguns que consideramos mais relevantes e pertinentes. Criamos a convenção "P" para representar "professor", na seqüência de 1 a 7, conforme segue:

P1: “Noções básicas de matemática financeira são necessárias, pois o aluno irá

vivenciar no seu cotidiano, além da importância no mercado de trabalho. Os alunos têm muito interesse por este conteúdo pois eles sabem da importância de adquirir este conhecimento, ao contrário de outros que alguns alunos sabem que não vão vivenciar e aplicar”.

P2: “Acredito que seja importante todos saberem este conteúdo. Eu mesma não sei

com profundidade, como você apresentou os exercícios. Deixei em branco, porque não sei resolver. Precisaria de tempo para pesquisar e estudar para poder resolvê- los. No Ensino Médio, quando ensinado, apresentamos apenas as noções básicas, como juros, porcentagem e descontos. A respeito de amortizações e rendas, como apresentados nos problemas, considero muito difícil para o Ensino Médio (se tivesse que ensinar, teria que aprender)”.

P3: “As questões abordadas nesta pesquisa são de grande valor, pois geralmente

aqueles alunos que não vão cursar uma faculdade é porque necessitam trabalhar e, na maioria dos empregos, principalmente no comércio, são usados juros, porcentagem e, tendo o domínio destas áreas, terão maiores chances de conseguir um emprego”.

P4: “Atualmente parece que está sendo dada muita importância a esse assunto para

o Ensino Médio. Eu ensino para os alunos as noções básicas da matemática financeira que julgo importantes, tais como juros, porcentagem e descontos. A parte de rendas e amortizações eu considero muito complicado para os alunos de Ensino Médio. Para os que estão cursando nível superior, eu considero muito importante”.

P5: “Considero que a matemática financeira deva ser tratada de forma

contextualizada, bem próxima ao aluno. É comum percebermos situações no comércio que ludibriam os consumidores. A análise de panfletos de propaganda também é uma forma boa para análise e interpretação”.

P6: “Quanto à importância deste assunto no Ensino Médio, acho de grande valia

para os alunos porque é um assunto que fará parte de seu cotidiano . Sempre que posso desenvolver em minhas aulas procuro levar alguma coisa aos alunos; muitas vezes não é possível chegar a fundo; por isso gostaria que a Matemática Financeira tivesse dentro dos conteúdos matemáticos, de forma melhor e dando mais amplo destaque e oportunidade de ser ensinado em sua plenitude”.

P7: “Uma opção de formação deveria ser oferecida pela escola sem a preocupação

de formar classes para disponibilizar aulas para professores, mas após ações de conscientização para a realidade social dos alunos e suas reais possibilidades de ascensão. Uma opção recheada com outros conteúdos que realmente abrisse portas e caminhos”.

Nesses depoimentos, os professores deixam claro que o ensino de Matemática Financeira (doravante identificado como MF) é, além de relevante e motivador, indispensável para o aluno do Ensino Médio.

Como diz “P1”: “...os alunos têm muito interesse por este conteúdo..., ao contrário de outros que alguns alunos sabem que não vão vivenciar e aplicar".

Os professores reconhecem que não dominam com profundidade os conhecimentos sobre a Matemática Financeira, a ponto de poderem ensinar esse conteúdo. É o caso do professor “P2”, que considera amortizações e rendas assuntos “muito difíceis para o Ensino Médio”, dizendo ainda que, se tivesse de ensinar, necessitaria aprender. Isso mostra o despreparo do professor para ministar este conteúdo.

O professor “P3” considera que as questões abordadas pela pesquisa são valiosas para os alunos que “não vão cursar uma faculdade”, mas que vão necessitar destes conhecimentos para enfrentar o mundo do trabalho.

O professor “P4” nota que já está sendo dada mais importância para a Matemática Financeira no Ensino Médio, mas considera que, por ser um assunto “muito complicado”, a parte de rendas e amortizações deve ser dada apenas no curso superior. Talvez este professor ainda não tenha percebido que as parcelas de uma compra a prazo ou os depósitos mensais sucessivos (Poupança Programada ou Plano de Previdência ) formam uma Progressão Geométrica, quando analisados no Valor Presente ou no Valor Futuro. Assim sendo, as amortizações e

capitalizações constituem um conteúdo oportuno para contextualizar as Progressões

Geométricas.

E, para agilizar o processo de ensino e aprendizagem e tornar os cálculos mais atraentes, é necessário o uso de calculadoras científicas. Cumpre ressaltar que, do ponto de vista econômico, isto parece não ser um problema, em razão de o valor desse instrumento (calculadora científica) estar girando em torno de R$ 8,00.

Por oportuno, lembramos aqui o que instituem os PCNEM sobre as Competências e Habilidades a serem desenvolvidas em Matemática, no que se refere à Contextualização Sócio-cutural:

• Desenvolver a capacidade de utilizar a Matemática na interpretação e intervenção no real.

• Aplicar conhecimentos e métodos matemáticos em situações reais.

• Utilizar adequadamente calculadoras e computador, reconhecendo suas limitações e potencialidades.

Dando prosseguimento, o professor “P5” diz: “É comum percebermos situações no comércio que ludibriam os consumidores. A análise de panfletos de propaganda também é um forma boa para análise e interpretação”. Aqui, convém lembrar que, segundo os PCNEM, constituem competências e habilidades:

• Ler e interpretar textos de Matemática.

• Identificar problemas.

• Formular hipóteses e prever resultados.

• Interpretar e criticar resultados numa situação concreta.

• Discutir idéias e produzir argumentos convincentes.

Esses depoimentos nos remetem ao seguinte pensamento de D’Ambrósio (1998, p. 31):

É muito difícil motivar com fatos e situações do mundo atual uma ciência que foi criada e desenvolvida em outros tempos em virtude dos problemas de então, de uma realidade, de percepções, necessidades e urgências que nos são estranhas. Do ponto de vista de motivação contextualizada, a matemática que se ensina hoje nas escolas é morta. Poderia ser tratada como um fato histórico.