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2. CONSIDERANDO UM VISÃO MULTIFACETADA DO DIREITO: MÉTODOS DE

2.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE LINGUAGEM E DIREITO

2.1.4 A VISÃO RETÓRICA

Para Aristóteles, a Retórica é a faculdade de ver teoricamente que em casa caso se pode gerar persuasão, a arte de extrair de cada caso essa persuasão. Assim a retórica é uma techné, um produto da experiência humana, um instrumento racional em o discurso produz o que pode ou não ser. A retórica é uma tríade com a perspectiva de três segmentos: de quem fala, o que se fala e para quem se fala. Seguindo a classificação aristotélica: (1) ethos, (2) logos, (3) pathos, e esse gera três diferentes tipos de discurso: o deliberativo, o epidítico e o jurídico. Assim, a origem da retórica está na ideia de polis, cidadania e democracia gregas, em que o discurso era, portanto, usado como meio legítimo e autônomo para a reivindicar

116 STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso: Constituição, Hermenêutica e Teorias

Discursivas, da Possibilidade à Necessidade de Respostas Corretas em Direito. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009. Fls. 178, 179, 181, 183, 216, 235, 264, 314, 355, 356

117 MOURA, Lenice S. Moureira. (Org.) O Novo Constitucionalismo na Era Pós-Positivista. São

direitos, havendo então uma exigência de que os homens públicos exponham suas ideias de uma forma que atraente. Entre suas características estão: ter aplicação universa podendo sustentar uma tese e seu contrário possibilitando discussões em tudo que é controverso se utilizando de técnicas que podem estabelecer a diferença entre o verdadeiro e o não verdadeiro, utilizando tipos de argumentação tanto indutivos como dedutivos. Vale lembrar ainda a que a visão de Platão para a retórica era de ser sinônimo da sofistica, não tendo assim qualquer compromisso com a verdade.118

A retórica elaborada pelos antigos degenerou no século XVI, sendo reduzida a uma figura de estilo, sendo que seu objeto seria o estudo de técnicas discursivas que visam provocar adesão as teses apresentadas, procurando persuadir por meio do discurso. Mas a retórica é diferente da lógica formal, sendo a demonstração (lógica formal) mais do que a persuasão e podendo a adesão a uma tese ter intensidade variável, além disso fatos e verdades aqui não entrariam pela retórica dizer mais respeito a adesão que a verdade. Além disso há que se considerar a noção de auditório, que condiciona o discurso a seu tipo, sendo que Aristóteles diferenciará os auditórios por idade e dinheiro. Pode-se dizer que o objetivo da retórica seria então a conquista de um auditório não especializado e que não segue um raciocínio complexo.119

Assim, o sistema retórico pode ser decomposto em 4 partes que compõem o discurso: (1) invenção (heurésis), que busca que o orador faz de argumentos e outras formas de persuasão para o discurso; (2) disposição (taxis), que é a ordenação dos argumentos a serem utilizados; (3) elocução (lexis), que se relacionada com o estilo do discurso; (4) ação (hypocrisis), ou seja, o momento em que o discurso será proferido, que inclui a forma, o tipo de voz ou gestual usado. Vale lembrar que essa categorização é esquematica, sendo que na prática não necessariamente essas coisas ocorrem na ordem descrita, mas, na verdade, essas características se constituem como requisitos que precisam ser cumpridos pelo orador como forma de que seu discurso não seja vazio. E dentro dessa categorização tem-se ainda cabe outra, especificamente dentro da disposição que se dividem em 4 partes: (1) exórdio, que é parte inicial do discurso e que tem como

118 CORREA, Leda. Direito e argumentação. Barueri: Manole, 2008. Fls. 17 a 21.

119 PERELMAN, Chaim. Lógica jurídica: nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Fls. 141

função deixar o auditório mais dócil e atento; (2) narração, que é a exposição dos fatos que se referem a causa, com uma exposição aparentemente objetiva, mas sempre orientada para o objetivo que se almeja com a exposição; (3) confirmação, que é o conjunto de provas com uma refutação que destrói os argumentos adversários e que nem sempre está separada da narração; (4) digressão, que possui a função de distrair o auditório e a peroração que é aquilo que vem ao final do discurso, um fechamento.120

2.1.4.1 TÓPICA DE TEODOR VIEHWEG

Teodor Viehweg escreveu em 1953 um livro chamado “Tópica e jurisprudência”. Ele acreditava que era possível se conhecer mais sobre o processo de tomada de decisão quando se conhece mais sobre o processo argumentativo. Daí ele reconhecer que o raciocínio jurídico ser essencialmente comunicativo e que argumentar é fornecer motivações e razões. Esse mesmo raciocínio jurídico passa então a ter uma série de exigências quanto ao processo decisório, motivo pelo qual ele busca selecionar as hipóteses de solução possível à luz de cada problema. Para tal, ele resgata o método tópico-retórico, substituindo os sistemas por uma trama de pontos de vista ou tópoi, em vez de meramente dedução. Ou seja, o movimento que Viehweg faz é de resgatar a tópica aristotélica, ou seja, utilizar uma techné que é o hábito de se produzir uma decisão razoável, posto que o problema fundamental dentro dessa visão seria o direito conseguir distinguir o que é justo do que não é. Assim, o papel da tópica jurídica seria encontrar premissas que serão utilizadas no raciocínio jurídico e isso, em dois momentos: (1) pré-lógico, busca as premissas; (2) propriamente lógico, que é a conclusão das premissas. Assim, o que se busca é trazer um processo discursivo de construção do convencimento e motivação de uma decisão, enfatizando a dimensão pragmática da linguagem.121

A proposta de Viehweg não oferece, no entanto, um procedimento argumentativo, limitando-se à busca dos tópoi, mas teve o mérito de resgatar a

120 REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.Fls. 43, 44,54 57. 121 BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de (2002). A distinção estrutural entre princípios e regras e

sua importância para a dogmática jurídica – resposta às objeções de Humberto Ávila ao modelo de Robert Alexy, in. Revista Trimestral de direito Civil, Vol. 12, p. 153-168. Fls. 153 a 156, 158 a 160.

teoria da argumentação de dentro do direito.

2.2 COMO LIDAR COM OS CASOS DIFÍCEIS: REVIRAVOLTA

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