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Fonte: Arquivo JORNAL CORREIO DE UBERLÂNDIA, Uberlândia. Fotógrafo: Manoel Serafim (22 de maio de 2001)

É certo que a abanação requer habilidade com a peneira e também um relativo preparo físico. Em geral, o trabalhador se inclina até o chão para apanhar, sobre a peneira, o café amontoado com pequenos galhos, folhas e terra, e logo em seguida inicia o movimento de lançar ao alto a quantia do que apanhou, a fim de retirar toda a sujeita e deixar apenas os grãos de café. A seqüência e repetição destes movimentos deixam a maioria dos trabalhadores rurais vindos do norte da Bahia com fortes dores nos braços, dores lombares, além de ficar em contato com a poeira durante este trabalho18. A pessoa que está desempenhando esta tarefa

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A dificuldade apresentada por esta tarefa e a habilidade que ela requer remete a pensar as referências ao concurso de Abanar Café realizado na região de Venda Nova dos Imigrantes no estado do Espírito Santo, em razão da Festa do Café Arábica promovida há dez anos no período da safra do café naquela área.

18 É possível encontrar apontamentos de trabalhadores rurais vindos de outros estados, notadamente os

paranaenses, que se apóiam sobre a dificuldade dos trabalhadores baianos, nesse processo, para tentarem desqualificá-los.

fica, não raro, totalmente coberta pela poeira, respirando-a durante todo o dia, o que requer algumas medidas por parte dos trabalhadores na tentativa de amenizar estes fatores.

Nessa direção, quando menciona as dificuldades e dores geradas no desenvolvimento de algumas tarefas, o entrevistado Jailson esclarece que:

Quando está abanando também a gente bebe muita cachaça também. A gente acredita que aquilo lá ajuda que, é muito pó, né, é muito pó, e acho que aqueles adubo, que fica ali na terra ali, aí a gente acredita que tomando uma cachaça ali ajuda a melhorar.19

O trabalho ao longo dos anos, nas colheitas de café, propicia a construção de um conjunto de experiências e de percepções próprias dos trabalhadores que buscam a região. E por certo as impressões, as leituras dos acontecimentos ao longo do tempo, contribuiu para a elaboração de estratégias para tratar as dificuldades com as tarefas desempenhadas. De acordo como o entrevistado, tem-se que tomar cachaça, por exemplo, é tido como uma ação benéfica para tentar eliminar o que se respirou com a poeira durante o dia de atividade de abanação dos grãos. Há ainda, em função da nova lógica de produção agrícola que se estabelece na região, a utilização de um sem número de produtos químicos durante o trato da lavoura, não apenas de café, fato que é de conhecimento dos trabalhadores rurais, sabe-se também dos problemas de intoxicação que estes produtos podem causar. Assim sendo, para os trabalhadores envolvidos no processo da colheita, há que se observar e elaborar formas de lidar com o possível perigo20. Acerca da experiência na atividade de colheita o senhor Jailson afirma em seu depoimento que:

E a gente acaba aprendendo uma coisa que, café pra gente trabalhar, a gente tem que ter muita experiência. É um trabalho muito cansativo porque ultrapassa né? A gente trabalha de, vamos supor, cinco e meia, a gente volta escuro, umas seis hora, seis e meia. Ás vezes a gente até num almoça direito, chega já é almoçando, já voltando já. É correria mesmo. E logo no início eu queria acompanhar os outros também, os que tinha mais prática, aí foi o que acabou atrapalhando também. Isso aí também... é porque a gente queria andar muito depressa e acabava ficando café pra trás, a gente num agüenta também, cansa logo. Sente muitas dor assim no corpo, fica com o corpo bastante dolorido. Aí é um monte de coisa também.21

19 Depoimento do senhor Jailson Araújo, 22 anos, em entrevista realizada no dia 22 de julho de 2007, numa tarde

quente de domingo na residência de seus pais.

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Há que se mencionar outras estratégias presentes em outros momentos do cultivo e trato do cafeeiro. Nas experiências com o trato desta lavoura na região do Paraná nos anos 1980, recordo os trabalhadores que utilizavam bombas costais para pulverizar o cafezal consumindo bastante suco de limão, pois acreditava-se que ajudaria a prevenir uma possível intoxicação.

21

Depoimento do senhor Jailson Araújo, 22 anos, em entrevista realizada em 22 de julho de 2007, numa tarde quente de domingo na residência de seus pais.

O trabalho da colheita como já mencionado, exige do trabalhador adaptação e, acima de tudo, muita resistência física que, para Jailson se resume em adquirir muito conhecimento, a partir da experiência dos trabalhadores mais velhos. Seu depoimento direciona o olhar para questões como as dificuldades com a jornada e a carga diária de trabalho, para o ritmo do trabalho, o cansaço físico, a falta de experiência na tentativa de acompanhar o ritmo de outros trabalhadores mais adaptados à dinâmica da colheita, e também a necessidade de se obter um rendimento mínimo diário compatível com as suas aspirações e ou necessidades.

O trecho do depoimento do entrevistado manifesta que, em sua experiência inicial na atividade, teve problemas com o fato de não saber realizar as tarefas corretamente e, ao mesmo tempo, querer acompanhar os trabalhadores já habituados ou com maior experiência. Acabava deixando a desejar na execução da tarefa, principalmente ao deixar grãos no cafeeiro, o que deve ter lhe causado reclamações do gerente ou proprietário da fazenda, pois o ato de “deixar café para trás” é tido como uma das piores falhas de um colhedor, do mesmo modo como esta falha é uma das mais apontadas e reclamadas por gerentes e produtores. A partir desta experiência, o senhor Jailson parece ter compreendido que a prática é que faz o bom colhedor.

Se de um lado ocorre o estranhamento com o tipo de atividade, conforme mencionou o entrevistado, por outro, tem-se a dificuldade em relação à jornada de trabalho que se inicia muito cedo, com horário reduzido para a refeição, terminando à noite e, ainda, ao findar o dia de trabalho um conjunto de dores musculares, advindo do esforço empreendido. Ao relatar que “é correria mesmo” o entrevistado parece procurar levar a crer que para se obter um ganho maior é preciso que haja a correria, ou seja, que se utilize todo o tempo possível, com o aumento de sua jornada, com diminuição do tempo dedicado ao descanso e um forte ritmo de trabalho, pois o seu ganho é obtido por produtividade, de acordo com a quantidade de café colhido. Pensando nesta questão, pode-se cogitar que o rendimento que se busca com o trabalho na colheita de café, talvez pudesse ser obtido em qualquer outro local de trabalho ou atividade cujo ganho também se desse por produtividade, uma vez que os resultados econômicos conquistados por estes trabalhadores advém do seu esforço físico, do seu empenho em uma extensa jornada de trabalho.

As adversidades encontradas na realização de algumas tarefas resultam não em uma série de queixas e reclamações dos trabalhadores, mas ao que parece, pelas narrativas, em uma tentativa de aprender a tratar o que é novo para a sua experiência, lidando com estas adversidades e buscando formas para driblá-las. Para combater as dores musculares advindas da repetição de determinados movimentos durante o dia de trabalho e conseguir manter um

certo nível de produtividade, pois não há como parar as tarefas ou mesmo buscar conhecimentos médicos que auxiliem no combate às dores, os trabalhadores elaboram algumas estratégias para vencê-las. Nesse momento, transparecem também elementos que apontam para uma maneira, uma forma de ser própria desse grupo de sujeitos que deixam a região norte da Bahia, adentram a região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, são considerados “inadequados”, inábeis, dentre outros apontamentos feitos pelos trabalhadores locais, mas que não se entregam ao cansaço das jornadas, procuram traçar estratégias e encaminhar a colheita do café de modo que lhes seja mais favorável. Assim o senhor Jailson comenta que em meio às agruras das etapas de trabalho, constroem e descobrem estratégias.

A gente descobriu agora um remédio, que eles ensinaram pra gente que é bom pra dor que é a sucupira, né, que lá tem bastante. Aí a gente põem, só que a gente já faz com a cachaça que a gente bota que é aquela 51. A gente põe, quebra ela, aí põe no litro e deixa, aí vai ficando amarelinha, aí aquilo lá é bom pra dor.22

Em meio ao universo de estratégias, percepções e tentativas de lidar com as dores, a semente de sucupira em infusão na garrafa de cachaça se torna uma aliada no combate às dores no corpo durante o período da colheita. Efetivamente, não consegui registro da eficácia desta medida, mas vale o que se acredita e os valores construídos em torno desta prática, como em muitas outras, tornam-se uma forma de base de apoio às dificuldades dos que querem permanecer na lida das colheitas de café. Importa mencionar que a descoberta narrada pelo entrevistado aconteceu porque “eles ensinaram”, ou seja, do contato que estabelecem com os moradores e outros trabalhadores das fazendas cafeerias.

Acerca das estratégias tecidas por diferentes grupos de trabalhadores vale ressaltar a pesquisa que destaca os trabalhadores negros na cidade de Uberlândia nas décadas de 1945/1960 na qual se aponta para as práticas difundidas entre os trabalhadores da charqueada dessa cidade, que tomavam um café misturado com muito fedegoso (uma planta bastante conhecida na região) como tática elaborada frente às condições adversas de trabalho23. Cabe ressaltar que a “utilização do café de fedegoso como artifício para impedir o maior desgaste do corpo, podia ser algo conhecido e até difundido entre as pessoas, no entanto, o ato de acreditar na sua utilização e efetivá-la quotidianamente é muito diferente”24.

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Depoimento do senhor Jailson Araújo, 22 anos, em entrevista realizada no dia 22 de julho de 2007, numa tarde quente de domingo na residência de seus pais.

23 CARMO, Luiz Carlos do. “Função de Preto”: trabalho e cultura de trabalhadores negros em Uberlândia/MG,

1945/1960. 2000. Dissertação (Mestrado em História)- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000.

Para os trabalhadores vindos da região norte da Bahia, recorrer às artimanhas difundidas entre os diferentes grupos da população nas colheitas de café, ainda que o resultado não seja o esperado, faz diferença para a continuidade dos trabalhos e para a recuperação física, e não deixa de permitir que se selecione um tipo de pessoa, marcado por um forte caráter de fibra e determinação como poucos.

A pesquisa permitiu observar que os casos em que os trabalhadores adoecem não são raros, mas, muitos deles, mesmo doentes, não deixam de trabalhar. Para alguns, permanecer um ou mais dias parado lhe causa grande prejuízo porque, sem obter uma renda durante os dias que permanece sem trabalhar o seu consumo continua, como revelou Gilson em seu depoimento: “Aqui se o cara, acontecer qualquer coisa que nem aconteceu comigo, é perdido o dia. Não tá ganhano nada”. Há casos em que alguns trabalhadores acabam, em função de fatalidades diversas, retornando para casa mais cedo, quando não conseguem restabelecer o seu quadro clínico, como foi o caso do trabalhador Gilson, que doente por cerca de oito dias sem poder trabalhar, foi levado ao médico para uma consulta, na qual, segundo o depoente: “Aí passaram um remédio lá, tomei, aí fizeram uns exame lá, foi fazer, aí um exame ainda tem que pegar e o outro tem que tirar um eletro do coração pra ver o que é”. Mesmo realizando alguns exames não estava claro para Gilson qual teria sido o seu problema de saúde. Quando questionado sobre o que os médicos diagnosticaram acerca de seu estado físico, respondeu:

Não falou nada não. Falou nada, só assim às vezes é verme, né, que eles tava falando né, que eu escutei. Fiquei internado tomando soro. Estou ficando mais melhor agora, estou recuperando. Pro cara recuperar o cara ficar trabalhando de novo, não recupera. Aí tem que ir embora. É ruim demais, num lugar desse daqui ficar aqui.25

Quando do acontecimento relatado acima, o entrevistado, no momento da narrativa, um jovem de dezenove anos, na ocasião do acometimento de sua condição física, trabalhando com um irmão, em sua segunda tentativa de com o trabalho na lavoura de café adquirir uma moto, registra o ocorrido de forma calma, mas com uma dose de pesar e tristeza. Ao que parece, o mal estar que teve o impediu de continuar trabalhando e teve que retornar para casa antes do previsto e sem nenhum rendimento, deixando clara sua dificuldade em permanecer nas lavouras no estado em que se encontrava. Questionei sobre o que ocorreu que o deixou adoentado e o jovem Gilson narrou:

25

Depoimento de Gilson Ferreira, 19 anos, no alojamento da fazenda onde trabalhava, no dia 14 de agosto de 2005.

Eu tomei um biotônico, né, duas colheres na segunda, aí quando foi meio-dia, vim almoçar, senti aquela coisa ruim no estômago, né, aí achei que ia vomitar, né, aí, senti uma frieza, coisa ruim, o coração disparado, aí fiquei meio roxeado. Foi aí que o Adriano foi me levar lá no Indianópolis.26

As causas de seu mal estar podem estar relacionadas a um problema maior, mas há indícios para se pensar nas conseqüências de uma alimentação pobre em nutrientes, incapaz de fornecer a energia suficiente para o grande esforço físico empreendido no trabalho. Tem-se que grande parte dos produtos consumidos por estes trabalhadores constitui-se de: arroz, feijão, macarrão, carne, ovos, bolachas, biscoitos e de vez em quando algum tipo de doce, sendo quase inexistente o consumo de legumes, verduras, leite e derivados. Parece haver um padrão alimentar rico em cereais e seus derivados, mas pobre em proteínas, podendo interferir no rendimento do trabalhador cujo esforço físico requer mais do que lhe é fornecido, assim como de sua condição física. Ao que é possível observar, pode-se dizer que a quantidade de energia diária não se encontra satisfeita pela dieta e, os alimentos que fornecem vitaminas e sais minerais, não se encontram representados de maneira significativa27.

De modo geral, desse quadro é possível ponderar que o fato de o trabalhador, muitas vezes, ter que retornar para casa por ficar doente remete à discussão sobre a relação laboral na qual está inserido. Trata-se de uma relação em que o trabalhador não vende sua força de trabalho, mas exerce atividade que se materializa em produtos, pois seu salário é por tarefa e não pelo tempo. Desse modo, a capacidade de rendimento do trabalhador é o fator predominante em seu salário, o que não minimiza o caráter do trabalho assalariado28.

O rendimento alcançado por cada indivíduo na colheita de café reflete a quantidade de sacas de café colhido diariamente, que possui um valor determinado de acordo com a carga do cafeeiro no momento da colheita ou ainda de acordo com os grãos que podem estar maduros ou se encontrarem mais secos. São muitos os fatores que acabam refletindo sobre o quanto cada trabalhador recebe durante um determinado período. Com isso, esses sujeitos elaboram e

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O entrevistado refere-se a um dos moradores da fazenda, responsável pelo trabalho da colheita do café e de acompanhar os trabalhadores nas suas tarefas, que o levou ao hospital. Depoimento de Gilson Ferreira, 19 anos, coletado no alojamento da fazenda onde trabalhava, no dia 14 de agosto de 2005.

27 CANDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito. 10. ed. São Paulo: Editora 34, 2001. p. 194. Ainda sobre o

consumo alimentar entre alguns grupos de trabalhadores volantes e trabalhadores sazonais ver: SILVA, Maria Aparecida de Moraes. Errantes do fim do século. São Paulo: UNESP, 1999. p 245-247; COLETTI, Claudinei. A

estrutura sindical no campo: a propósito da organização dos assalariados rurais na região de Ribeirão Preto.

Campinas: UNICAMP, 1998. p. 147.

28

GONZALES, Elbio N.; BASTOS, Maria Inês. O trabalho volante na agricultura brasileira. In: PINSKY, Jaime (Org.). Capital e trabalho no campo. São Paulo: Hucitec, 1979. p. 31-33.

formulam modos de dialogar e enfrentar estes fatores que ora são negociados com os empregadores, ora são deixados para trás buscando-se outras fazendas para trabalhar.

Tendo em vista estas características determinantes do salário que o trabalhador obterá, o ritmo de trabalho empreendido por estes indivíduos em muito se assemelha ao ritmo dos grupos de trabalhadores locais presentes na região.

Ao questionar o senhor Rufino, numa entrevista realizada em Horizonte Novo, sobre como percebia o seu trabalho, o de seus conterrâneos e o das demais pessoas que trabalhavam na mesma fazenda em Minas Gerais, narrou que:

Quem é de lá [de Minas], num é que nem nós. Aí chega pega sete hora, quando é dez hora, dez hora já [a voz aumenta de volume enfatizando que é muito cedo e demonstrando espanto], que nem tinha um bocado de mulher lá na fazenda trabalhando mais nós, dez hora tava tudo debaixo dos pé de café almoçando. Aí quando era duas hora da tarde era a merenda. E nós não, nós pegava com força mesmo, pegava seis hora, parava meio-dia, vinha cá fazia comida, almoçava e voltava, num tinha esse negócio de merenda, não. Ia até cinco hora29.

De acordo com o entrevistado, é possível confirmar que, na sua percepção, há pelo menos dois grupos de trabalhadores: os “de lá”, referindo-se aos mineiros, e o dos migrantes, seus conterrâneos. A condição desses grupos de trabalhadores rurais era marcada pela questão da produtividade, assim, ambos procuram investir o maior número de horas possível na realização da tarefa. Desse modo, as refeições ganham um tempo mínimo. Ao que parece, enquanto os primeiros iniciam sua jornada diária ainda de madrugada, pois se gasta até duas horas para chegar à lavoura, os outros trabalhadores que estão mais próximos do local de trabalho podem iniciar sua jornada um pouco mais tarde; e num movimento duplo, enquanto os trabalhadores locais encerram as atividades por volta das dezesseis horas, devido ao tempo do percurso de retorno às suas residências, os trabalhadores alojados nas propriedades rurais, ao invés de pararem conjuntamente e descansarem, utilizam-se desse tempo para procurar implementar o seu ganho diário, pois não empreenderão tempo significativo para retornar ao alojamento.

O tempo é, portanto, fator determinante inclusive no salário dos trabalhadores. Observou-se que, entre os grupos de trabalhadores locais faz-se até três refeições na lavoura: muitos tomam o café da manhã ao chegarem à lavoura, almoçam e também tomam um lanche no período da tarde. Já os trabalhadores migrantes fazem uma refeição só na lavoura,

29 Depoimento do senhor Rufino Estêvão de Jesus, 49 anos, em entrevista realizada em sua residência em

Horizonte Novo-BA na manhã de sábado 21 de julho de 2007, onde ele estava acompanhado de sua mulher senhora Valdina de Lima.

geralmente o almoço. Este fato foi apresentado pelo senhor Rufino como um diferencial para a possibilidade de aumento do ganho diário, pois paralisam o trabalho apenas uma vez no dia, assim como um elemento de distinção entre estes grupos e os trabalhadores locais. O senhor Rufino faz uma diferenciação entre o seu grupo e os trabalhadores locais, pois sua concepção é a de que o seu grupo trabalha mais pesado e “perde” menos tempo em comparação com o outro grupo.

A comparação feita pelo entrevistado leva a crer não somente em ritmo de trabalho diferenciado, mas também em diferenças. Os trabalhadores locais, conforme se acompanhou em outros momentos da pesquisa, possuem o hábito de almoçar até as onze horas da manhã e no meio da tarde param para a merenda onde se come alguma quitanda como bolos, pães, biscoitos com café ou outra bebida que o trabalhador aprecie e goste de levar para o trabalho como sucos ou chás30. Os trabalhadores migrantes na lavoura não fazem esta refeição. Normalmente, o almoço acontece por volta do meio-dia e depois não há nenhuma pausa para refeição até o final do dia de trabalho, voltando a se alimentar apenas no jantar.

Desse fato pode-se questionar: haveria entre os trabalhadores rurais vindos da região norte da Bahia para as colheitas de café no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba o hábito de realizar esta refeição em sua região de origem, ou esta seria apenas uma estratégia para se tentar implementar o ganho diário? Mas pode-se, também, atribuir a falta desse hábito na lavoura à dificuldade de se adquirir os produtos para esta refeição, uma vez que entre os

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