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De acordo com o estudo da Seca, realizado pela Bancada Federal do Nordeste (2013), o estado do Ceará possui 184 municípios e população de 6,3 milhões de habitantes. Seu território está inserido na Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental e pequena porção localizada na região do Parnaíba. Caracterizado por clima semiárido em praticamente toda sua extensão, com cursos d’água de regime intermitente, os recursos hídricos superficiais são disponibilizados em um elevado número de reservatórios de regularização.

Segundo ANA (2015) os mananciais superficiais /mistos são utilizados para o abastecimento de 85 sedes urbanas, enquanto as águas subterrâneas abastecem 59 dos municípios e os sistemas integrados abastecem 40 municípios.

Em decorrência da distribuição de reservatórios no Estado e dos municípios atendidos por poços, os sistemas isolados constituem a solução mais adotada para o abastecimento de água da população urbana, totalizando 144 sedes municipais, ou seja, 78% do total. Contudo, os sistemas integrados são responsáveis pelo abastecimento da maior parte da população (aproximadamente 55%), devido, principalmente, à concentração populacional em Fortaleza e municípios adjacentes (ANA, 2015).

No Ceará, desde 1996, o gerenciamento da oferta de água bruta e da demanda dos recursos hídricos em todo o estado é realizado pela Cogerh, empresa vinculada à SRH, enquanto a Cagece é a responsável pela prestação dos serviços de abastecimento de água em 83% dos municípios (Estudo da Seca, 2013).

O diagnóstico de avaliação da oferta/demanda indica que 50 municípios apresentam condições satisfatórias de atendimento da população, até 2015. Para os demais municípios, ANA enfatiza a necessidade de investimentos para a ampliação dos sistemas produtores de 108 sedes municipais e aponta a necessidade de mais 25 novos mananciais com projeções de planejamento para 2025. Esse planejamento resulta em um investimento total de R$ 1,03 bilhão em obras de abastecimento de água, 46% destinado às necessidades de adequação dos sistemas de abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza (ANA, 2015).

2.2.1 Características do Sistema de Abastecimento de Água da RMF

Conforme Plano de Segurança Hídrica (2015), para a água bruta chegar às estações de tratamento do Sistema Hídrico Metropolitano são percorridos mais de 200 km. Isso porque a RMF não possui mananciais de grande porte em sua abrangência geográfica, ficando dependente das estruturas de transposição dos grandes mananciais no interior do estado. Entre eles, destacam-se os açudes Castanhão e Orós, distantes 216,54 km e 283,81 km, respectivamente, conforme se observa a Figura 1 a seguir:

Figura 1 - Sistema de Abastecimento de Água da RMF Fonte: Adaptado da SRH, 2016

O suprimento de água para a RMF, inicialmente, era realizado pelo sistema integrado Pacoti-Riachão-Gavião. Em 1993, com a criação do Canal do Trabalhador, as águas do açude Orós e rio Jaguaribe passaram a ser transportadas para o açude Pacajus e aduzidas para o sistema integrado acima citado.

Em 2004, com a conclusão das obras do Castanhão, o rio Jaguaribe passou a ser perenizado, e em 2012, com a conclusão do Eixão das Águas, o sistema Pacoti- Riachão-Gavião passou a receber, também, volume direto do açude Castanhão. Esses reservatórios são interligados por meio de rios perenizados, canais, sifões, túneis e adutoras.

De acordo com monitoramento da SRH e Cogerh, as chuvas ocorridas em 2016 conseguiram aumentar o volume de alguns reservatórios pequenos. No entanto, na maioria dos açudes e barragens que abastecem a população, o volume de água esteve abaixo de 30%. Ao final da quadra chuvosa de 2012 (01/julho), por exemplo, o

volume desses reservatórios era de 61,8%. Em 2015, caiu para 19,6%. Em julho de 2016, chegou a 10,5%.

Na Figura 2 abaixo, pode-se verificar como era a situação do volume de água nos principais mananciais de abastecimento da RMF no período compreendido entre 2014 e 2017.

Figura 2 - Volume de água nos principais mananciais de abastecimento da RMF de 2014 a 2017 Fonte: Adaptado de Funceme/Cogerh

Para atendimento das demandas da RMF, o Castanhão contribui, em média, com 74% da oferta, enquanto 26% é ofertado a partir dos açudes das Bacias Metropolitanas. O manancial compreende os limites geográficos de, pelo menos, quatro municípios cearenses: Nova Jaguaribara, Alto Santo, Jaguaretama e Jaguaribe.

A capacidade máxima de armazenamento em 2016 do Castanhão era de 566 milhões de m³. Sozinho, ele representa 37% de toda a capacidade de armazenamento dos oito mil reservatórios cearenses (Funceme, 2018).

Pode-se constatar a magnitude do Castanhão observando que em 2016, mesmo com um volume armazenado de apenas 8,46% o seu volume absoluto

Valor Absoluto do Volume em hm³ (data coletada: 01/julho para cada ano

representa 47% do volume armazenado em todos os açudes da Região Metropolitana de Fortaleza no mesmo ano. O açude Gavião que apresentou percentuais de armazenamento ao longo dos 4 anos, superiores a 75% não tem capacidade de armazenamento superior a 0,5% quando comparado ao Castanhão.

O Plano de Segurança Hídrica (2015) enfatiza que para preservar os mananciais e atender a prioridade legal do abastecimento humano do Vale do Jaguaribe e RMF, estabeleceu-se para o açude Castanhão, em 2015, restrições aos usos múltiplos. Estas restrições implicam em proibição de irrigação por inundação, redução de disponibilidade para culturas temporárias e permanentes e na redução do trecho perenizado pelo reservatório que antes atendia até a cidade de Itaiçaba e ao Canal do Trabalhador (160 km de rio), passando a atender somente até a captação da cidade de Russas. A Cogerh tem atuado também, na redução gradual de vazões para a RMF.

Ainda segundo o Plano de Segurança Hídrica (2015) desde o início da operação do açude Castanhão, em 2002, o Orós tem sido poupado como reserva estratégica, e em 2016 encontrava-se com um nível de acumulação favorável (24,40%) – praticamente o mesmo volume acumulado no Castanhão.

Desse modo, segundo o G1, em 21/julho de 2016 as águas do Orós passaram a ser direcionadas para Fortaleza, complementando o Sistema Hídrico Metropolitano. Em março de 2017, entretanto, segundo definição da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) o Orós deixou de abastecer a RMF. O açude passou a ser utilizado para abastecer o Vale do Jaguaribe, região que enfrenta grave crise hídrica. Para complementar a oferta para RMF as águas do açude Banabuiú, terceiro maior reservatório do estado, também localizado na região do Jaguaribe, vão continuar realocadas para o Castanhão para garantir o abastecimento de Fortaleza e municípios vizinhos.

A maior parte da água distribuída na RMF se dá por meio de um macrossistema que abastece, aproximadamente, 3,2 milhões de pessoas em Fortaleza e sedes de Caucaia, Eusébio, Maracanaú e a localidade de Pedras, no município de Itaitinga. O abastecimento de água potável em áreas tão adensadas e heterogêneas é um desafio em tempos de escassez hídrica.

Para entender como se constitui o Sistema de Abastecimento para a Região Metropolitana de Fortaleza, o Plano de Segurança Hídrica detalha que:

O macrossistema possui duas Estações de Tratamento de Água: a ETA Gavião, em Pacatuba e a ETA Oeste, em Caucaia. A maior estação, a ETA Gavião, foi fundada em 1981, e está situada às margens do açude Gavião. Abastece, aproximadamente, 90% da população da RMF e tem capacidade para tratar até 10 m³ de água por segundo.

Já a ETA Oeste, com primeira etapa ativada em 2012, é responsável pelo abastecimento das zonas oeste e norte da RMF, com capacidade para tratar 1,25 m³ por segundo. Após tratada, a água potável é encaminhada por meio das adutoras e redes de distribuição.

A transferência de água tratada da ETA Gavião é feita pelas adutoras do Ancuri, que alimentam dois reservatórios apoiados com capacidade de armazenagem de 40.000 m³ cada, e uma terceira adutora que conduz água para Maracanaú e parte da zona oeste de Fortaleza.

Já a transferência da água tratada da ETA Oeste é realizada por meio de uma adutora de 1.500 mm até o reservatório do Pici, com capacidade para 20.000 m³. Outra adutora leva água para Caucaia e adjacências.

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