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3.1 INTRODUÇÃO

O Brasil possui atualmente um dos maiores mercados de carne bovina (ASBIA, 2007). Tem o maior rebanho comercial do mundo, com 207 milhões de cabeças de gado (IBGE, 2007). No 2º trimestre de 2007, o Brasil exportou 349,4 mil toneladas de carne bovina, demonstrando um aumento de 20.5% em relação ao mesmo período de 2006 e produziu 1.7 milhões de toneladas de carne bovina (IBGE, 2007). A tabela a seguir demonstra o número de animais abatidos em 2007 (IBGE, 2007).

Tabela 4 – animais abatidos em 2006 e 2007 e o peso das carcaças (IBGE, 2007).

Abate de Animais e Peso das Carcaças em Toneladas

Número de Animais Abatidos

2006 2007 2007 2º Trimestre 1º Trimestre 2º Trimestre

BOVINOS 7.527,037 7.901,808 7.606,561 Bois 3.407,847 3.621,288 3.582,098 Vacas 2.931,670 3.067,414 2.813,459 Vitelos 5.424 6.403 9.835 Novilhos 559.145 609.676 701.925 Novilhas 468.044 458.638 499.244

Peso das Carcaças em Toneladas

BOVINOS 1.701,655 1.802,270 1.739,558 Bois 890.141 925.025 937.677 Vacas 2.931,670 582.864 535.357 Vitelos 5.424 6.403 9.835 Novilhos 559.145 609.676 701.925 Novilhas 468.044 458.638 499.244

Mas há fatores, como o abate clandestino, que impede um maior crescimento do mercado de carne commodity (BÁNKUTI, 2002). Este tipo de abate é responsável por quase 50% do mercado nacional (BÁNKUTI, 2002). A clandestinidade é definida por duas condições: a não fiscalização pelo serviço de inspeção sanitária e a sonegação fiscal, que muitas vezes ocorrem simultaneamente (BÁNKUTI, 2002).

3.2 O SISTEMA INFORMAL DA CARNE BOVINA

O Sistema Agroindustrial (SAG) da carne bovina sempre teve fatores positivos. Uma extensa área voltada para a criação de animais, o tamanho do rebanho nacional, sendo que é o maior rebanho comercial do mundo e a produção da carne bovina compatível com a maioria dos paises é relevante para a economia e crescimento do país. Apesar desses fatores positivos, o Sistema Agroindustrial possui diversos problemas e dificuldades (BÁNKUTI, 2002).

Os problemas vão desde o baixo índice de produtividade (taxa de desfrute, idade ao primeiro parto, idade de abate), somando-se aos problemas sanitários e econômicos como a febre aftosa e o abate clandestino que como conseqüência direta gera redução das exportações e perda de arrecadação fiscal (BÁNKUTI, 2002).

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) destaca que o fator contribuinte para o abate clandestino é que boa parte dos Estados e a grande maioria dos Municípios estabeleceram serviços próprios de inspeção que não são rigorosos com as exigências em termos de estrutura física dos estabelecimentos

e não dispõem de médicos veterinários suficientes para acompanhar permanentemente os abates sob sua responsabilidade.

Outro fator é a elevada carga tributária que oprime o desenvolvimento de pequenos estabelecimentos fazendo com que se mantenham na informalidade (Abrafrigo, 2007).

Os problemas mais expressivos em relação ao abate clandestino são: o não recolhimento de impostos que representa 20% do faturamento do Sistema Agroindustrial; concorrência predatória em relação às empresas que operam dentro da legalidade, fazendo com que a ociosidade dos frigoríficos legais aumente 40% a 50%; ingestão de carne contaminada com cisticercose, brucelose e toxoplasmose; toxinfecções alimentares acarretando custos diretos para o sistema de saúde e indiretos para a capacidade de trabalho (BÁNKUTI, 2002).

Em várias regiões do Brasil o abate clandestino é uma realidade. E isso não se resume a regiões de interior. Estende-se a grandes regiões como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte (O GLOBO ONLINE, 2007).

Os abates clandestinos são feitos no pasto, no curral e até na estrada pelo próprio açougueiro sem um local apropriado para tal procedimento. Utilizam folhas de bananeira ou panos pra forrar o chão. A forma como o animal é morto também não é adequada. Geralmente é por meio de pancada na cabeça seguido da sangria (ABCA, 2005).

Na região central de São Paulo, há açougues que recebem carcaças transportadas em caminhões sem identificação e penduradas em ganchos. Os funcionários dos frigoríficos fornecedores situados no Paraná e Mato Grosso alegam não haver riscos com a fiscalização e que a entrega fora das

especificações legais custa 30% menos para o comprador (FOLHA DE SÃO PAULO, 2007).

Em vários municípios da Bahia é comum o consumo de carne clandestina. Em Santa Rita de Cássia, município do oeste baiano, o único matadouro existente foi interditado, pois não atendia às exigências da Portaria 304 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e não possuía licença ambiental para funcionar. Os resíduos líquidos e sólidos eram eliminados de forma irregular. O sangue dos animais mortos ficava armazenado por vários dias no matadouro e depois era despejado no lixão da cidade, causando danos ao meio ambiente e à população. Após o fechamento do matadouro a situação piorou. O gado passou a ser abatido no mato e até gado encontrado doente e gado encontrado morto estava sendo vendido aos açougueiros pela metade do preço (O GLOBO, 2007).

Segue abaixo fotos de abates clandestinos tiradas pelo Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça do Consumidor juntamente com o Ministério Público do Estado da Bahia (CEACON – MP/BA, 2005).

Figura 1 – Carcaça bovina sendo aberta em local inadequado (Fonte: CEACON – MP/BA, 2005)

Figura 2 – Várias carcaças de bovinos no chão sujo (Fonte: CEACON – MP/BA, 2005)

Figura 3 – Carcaça bovina contaminada com fezes (Fonte: CEACON – MP/BA, 2005)

Figura 4 – Outros animais junto à carcaça (Fonte: CEACON – MP/BA, 2005)

Figura 5 e 6 – Infestação por moscas (Fonte: CEACON – MP/BA, 2005)

Figura 7 – Presença de cães em cima da carne (Fonte: CEACON – MP/BA, 2005)

Figura 8 – Condições inadequadas de abate e paramentação (Fonte: CEACON – MP/BA, 2005)

Figura 9 – cães ingerindo restos de sangue dos animais abatidos (Fonte: CEACON – MP/BA, 2005)

Figura 10 – carnes provenientes de abates clandestinos sendo comercializadas na feira de forma indiscriminada e inadequada

(Fonte: CEACON – MP/BA, 2005)

Além das irregularidades em relação ao local de abate, higiene, destino dos resíduos dos animais e paramentação das pessoas que estão realizando o serviço, há o problema de doenças como a brucelose que é transmitida por aerossóis através do contato direto com a fonte de infecção que são as carcaças e vísceras dos animais abatidos (FREITAS et al., 2001). Há também riscos de contrair tuberculose, teníase e salmonelose (O GLOBO, 2007). O transporte

destas carnes é feito pelo próprio açougueiro sem acondicionamento correto da carcaça (ABCA, 2005). Não há fiscalização ante-mortem no animal e muito menos post-mortem expondo o consumidor final a zoonoses (ABCA, 2005).

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), visando a saúde do consumidor, busca melhorar a condição da carne comercializada no Brasil, reduzindo os abates clandestinos através da instituição da Portaria nº 304 de 22/04/1996. Esta Portaria considera importante a manutenção de aspectos higiênico-sanitários e tecnológicos desde o abate até a cadeia de distribuição, comercialização, transporte e destino final (MAPA,1996). O MAPA também instituiu a Portaria nº 145 de 01/09/1998 com a finalidade de regulamentar a distribuição, desossa, fracionamento, embalagem, identificação e acondicionamento adequados de carnes bovinas e bubalinas ao comércio varejista (MAPA,1998). Apesar de tais tentativas, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ainda não conseguiu evitar o abate clandestino (BÁNKUTI, 2002).

A forma como é realizado o abate na clandestinidade não é correta. Os animais sofrem e demoram a morrer. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento institui a Instrução Normativa nº 3 de 17/01/2000. Esta Instrução visa a padronização dos métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue afim de poupá-los da dor ou sofrimento, garantindo o seu bem estar (MAPA, 2000).

CONCLUSÃO

A preocupação com a saúde pública tem sido responsável pela implantação de programas visando melhorar a qualidade dos alimentos no que concerne à higiene, presença de resíduos nos alimentos e ao abate clandestino.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento criou leis e programas afim de reduzir estes problemas. Criou o Programa Nacional de Controle de Resíduos que fiscaliza os produtos de origem animal comercializados no Brasil e os que são destinados à exportação para outros países. Este programa visa a fiscalização da carne e leite quanto aos resíduos de medicamentos veterinários que devem estar dentro do limite permitido. Foram criadas leis com a finalidade de inibir o abate clandestino e melhorar a qualidade da carne consumida pela população brasileira. A Portaria 304 de 1996 e a Portaria 145 de 1998 visam a melhora da distribuição da carne por meio de cortes adequados, embalagens para protegê-la da contaminação, a identificação do corte e principalmente estejam inspecionadas sob o órgão competente. Em 2000 instituiu a Instrução normativa nº 3, regulamentando o abate humanitário para estabelecer os mínimos requisitos de proteção aos animais de açougue e aves domésticas, antes e durante o abate, minimizando assim a dor e o sofrimento destes animais. A Anvisa também criou um programa de análise de resíduos voltado para a fiscalização do leite consumido no Brasil. O PAMVet foi implantado

para inspecionar o leite quanto aos resíduos de antibióticos, antiparasitários e hormônios que possam conter nestes alimentos. Por ser o alimento mais consumido do Brasil, o Programa possui grande importância para a qualidade deste alimento e para a segurança da maior parte da população que o consome.

Estes programas são importantes, mas fiscalizar os estabelecimentos (casas agropecuárias, farmácias veterinária) que vende os produtos também é de suma importância, pois estes estabelecimentos vendem medicamentos sem receita e medicamentos proibidos facilitando assim a aplicação destes medicamentos de forma indiscriminada nos animais.

O abate clandestino é um problema para o Brasil. Além do país perder com a arrecadação fiscal, a prática é perigosa e pode transmitir à população doenças como tuberculose, cisticercose, brucelose e intoxicações alimentares. Os animais são abatidos no meio do pasto ou em galpões clandestinos sob condições precárias de higiene e de forma inadequada. A solução para reduzir estes problemas é uma fiscalização mais efetiva com a contratação de mais agentes da vigilância sanitária. O salário dos fiscais geralmente é proveniente do estabelecimento fiscalizado e devido a isso o agente tem que se submeter ao dono do local perdendo a autonomia quando decidem rejeitar animais inadequados para abate (animais doentes) ou condenar carcaças não adequadas. Os fiscais tinham que ser desvinculados do local destinado à sua inspeção e o salário deveria ser pago pelo governo para o mesmo poder trabalhar devidamente e exigir do estabelecimento que cumpra as normas determinadas. Mas enquanto medidas mais drásticas como a desvinculação dos fiscais em relação ao estabelecimento fiscalizado, contratação de mais agentes para suprir a carência,

vistorias em diversas propriedades rurais para inibir a informalidade, maior fiscalização nas estradas interestaduais, criação de matadouros e frigoríficos legalizados nos locais que ainda não possuem e fiscalizações mais freqüentes nestes estabelecimentos, o abate clandestino dificilmente vai ser coibido.

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