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1.2. Revisão Bibliográfica:

1.2.4. Sistemas multifocais (LC)

1.2.5.4. Aberrações ópticas no olho humano

A quantidade e distribuição das aberrações varia, consideravelmente, na população. Vários estudos populacionais mostraram uma ampla distribuição nos olhos humanos (Castejón-Mochón et al.,2002; Porter et al., 2001). Todos os termos de alta ordem estão, tendencialmente, próximos de zero, com excepção da aberração esférica que adopta valores ligeiramente positivos (Thibos et al., 2002). As aberrações são similares em ambos os olhos e simétricas (Bao et al., 2008). Os casos de indivíduos com aberrações

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de onda muito díspares entre os dois olhos são pouco frequentes (Marcos et al., 2000) mas esta situação pode resultar de tratamentos de anisometropia com terapia refractiva corneal com ou sem cirurgia laser que gera uma diferença significativa na asfericidade corneal, tendo importante impacto na qualidade visual binocular (Jiménez et al., 2004).

A córnea e o cristalino são os componentes refractivos principais do olho e, evidentemente, as aberrações individuais destes elementos contribuem para a qualidade da imagem final. Na literatura, encontra-se referido que uma proporção das aberrações corneais é compensada pelas aberrações do cristalino (opostas), pelo menos em indivíduos jovens saudáveis. A compensação parcial do astigmatismo corneal mediante o cristalino já é bem conhecida na optometria clínica (regra de Javal). A aberração esférica da córnea é ligeiramente positiva e a do cristalino tende a ser negativa pelo que fica parcialmente compensada (Millodot et al., 1979). Também parece existir uma compensação parcial de aberrações assimétricas, como o coma, em indivíduos jovens e míopes (Artal et al., 2002). A qualidade da imagem varia, também, com a acomodação. As alterações mais frequentemente encontradas ocorrem na aberração esférica que diminui e passa de positiva a negativa. Estas alterações devem-se às mudanças que há no cristalino com a acomodação (Hofer, 2001; López-Gil et al.2008; Radhakrishnan e Charman, 2007).

A aberração esférica é a aberração de alta ordem que mais varia com a acomodação. Torna-se negativa com a acomodação e esta alteração é maior quanto maior for a idade do paciente. A miose associada à acomodação ajuda a compensar estas alterações (Lopez-Gil et al., 2008).

O aumento da idade está associado com o aumento das aberrações oculares que, junto com o aumento da dispersão intra-ocular, fazem com que exista um declive na transferência de contraste para todas as frequências espaciais. McLellan e colaboradores demonstraram que as aberrações de alta ordem aumentam com a idade (McLellan et al 2001). Parte deste aumento deve-se ao facto de não existir compensação da aberração esférica da córnea pelo cristalino, que com a idade tende a inverter o sinal da sua aberração esférica passando esta a valores positivos com a idade (Glasser e Campbell, 1998).

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Capítulo 1 - Introdução

Actualmente, encontram-se uma grande quantidade de estudos que avaliam as aberrações oculares em diferentes condições patológicas e cirúrgicas tendo particular interesse os que analisam as aberrações na cirurgia refractiva e intra-ocular. A cirurgia refractiva, nas suas diversas modalidades, provoca um aumento do número de aberrações de alta ordem especialmente de quarta ordem. Este aumento de aberrações corneais está correlacionado com a diminuição da sensibilidade ao contraste neste tipo de pacientes (Applegate et al., 2000).

Na cirurgia de catarata, em que o cristalino natural é substituído por uma lente intra- ocular (LIO), o estudo da aberrometria permite avaliar o desempenho e possíveis implicações na visão funcional do paciente após a cirurgia. Barbero e colaboradores determinaram que, embora a dispersão ocular seja eliminada com a extracção da catarata e substituição por uma LIO, as aberrações não diminuem. As medidas in vitro demonstraram que a LIO não está livre de aberrações. As mesmas (especialmente astigmatismo secundário e de terceira ordem) aumentam após a implantação devido à inclinação e possível descentramento da lente (Barbero et al., 2003).

O estudo das aberrações com LC revela que as lentes RPG podem corrigir quantidades significativas de aberrações (Dorronsoro et al., 2003). No entanto, na literatura não existem muitos estudos que avaliem a aberração de onda com lentes de contacto e os efeitos das mesmas. A comparação das aberrações internas com e sem lente de contacto permite avaliar a contribuição óptica da lente formada pela película lacrimal cuja aberração esférica é por norma negativa. Também é possível conhecer a conformidade da lente com a córnea estudando as aberrações anteriores com e sem lente de contacto e intervir sobre a qualidade óptica resultante na imagem final percepcionada, objectivo deste estudo.

Peyre e colaboradores estudaram as aberrações oculares obtidas com diferentes desenhos de lentes multifocais. As principais conclusões do estudo foram que uso de LC multifocais induz um aumento nas aberrações oculares de alta ordem. A localização da zona da adição determina o signo da variação da aberração esférica. Os desenhos multifocais centro-perto parecem induzir um maior aumento de aberração esférica negativa. O contrário acontece com os desenhos centro-longe que induzem um aumento da aberração esférica positiva. O possível descentramento das lentes em relação ao

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centro pupilar pode explicar o aumento nas aberrações de ordens superiores e não rotacionalmente simétricas (Peyre et al., 2005).

Entre as lentes estudadas por Peyre encontram-se as lentes Proclear Multifocal (Coopervison, Pleasanton, CA, EUA), que também são alvo de estudo na presente pesquisa. Ambas as lentes destacaram-se na quantidade de aberrações de alta ordem induzidas durante o seu porte, especialmente a geometria N-Dom que foi a lente que induziu maior aumento nas aberrações medidas “in vitro”.