• Nenhum resultado encontrado

2 REVISÃO DA LITERATURA E ANÁLISE CRÍTICA

2.3 Liderança nas organizações

2.3.3 Estágios de evolução das pesquisas e teorias sobre liderança

2.3.3.3 Abordagem contingencial

Esta abordagem traz a análise da liderança para um contexto mais amplo, partindo do princípio de que não há um único estilo ou característica de liderança válida para toda e qualquer situação e marca a gradual adoção do pensamento de que “tudo é relativo” (BRYMAN, 2004). Representa uma troca de abordagem no foco das pesquisas sobre

liderança, passando a olhar o líder em conjugação com a situação na qual ele trabalha e sua relação com os liderados (NORTHOUSE, 2004).

Os principais estudos desta abordagem são: a. Teoria Situacional de Hersey e Blanchard

Considerando que diferentes situações demandam diferentes tipos de liderança, esses autores estabelecem que o estilo de liderança adequado deva ser contingente ao nível de maturidade dos liderados. Dependendo desse nível, o líder deve ser capaz de adotar um dos seguintes estilos de comportamento (HERSEY; BLANCHARD, 1986):

− Estilo 1 – Determinar: o líder fornece instruções específicas e supervisiona rigorosamente o cumprimento da tarefa.

− Estilo 2 – Persuadir: o líder continua a dirigir e supervisionar atentamente a realização de tarefas, mas explica também decisões, solicita sugestões e incentiva o desenvolvimento. − Estilo 3 – Compartilhar: o líder facilita e apóia os esforços dos

subordinados para cumprir tarefas e compartilha com eles a tomada de decisões.

− Estilo 4 – Delegar: o líder transfere a responsabilidade do processo decisório e da solução de problemas aos subordinados. Este modelo, por sua praticidade e orientação prescritiva, que sugere o que o líder deve fazer em diversas situações para se tornar efetivo, tem sido largamente utilizado em programas de desenvolvimento de liderança. Por outro lado, há poucos resultados de pesquisas que sustentem as proposições deste modelo. Também há ambigüidades, na medida em que não deixa claro como os subordinados se desenvolvem e como comprometimento dos subordinados combina com competência (NORTHOUSE, 2004).

b. O Modelo de Fiedler

Este modelo propõe que a eficácia do desempenho do líder varia em função de três variáveis específicas: (i) o grau de estruturação presente na tarefa a ser desenvolvida pelo grupo de trabalho; (ii) a quantidade de poder que o líder dispõe, de acordo com a hierarquia da empresa; e (iii) a qualidade das relações interpessoais entre o líder e os membros do grupo. O cerne do estudo repousa no instrumento de mensuração conhecido como escala LPC (Least Prefered Coworker - Colega de Trabalho Menos Preferido).

Esta abordagem está baseada em grande número de pesquisas experimentais, tendo sido testada por muitos pesquisadores, sendo a

primeira teoria a enfatizar o impacto da situação no líder (NORTHOUSE, 2004). No entanto, tem sido criticada por não explicar completamente porque certos estilos de liderança são mais efetivos em algumas situações do que em outras (NORTHOUSE, 2004) e, também, há o pressuposto de que o estilo de liderança de um indivíduo é fixo. Na ausência de variáveis de comportamento, o modelo não fornece nenhuma orientação para treinamento dos lideres em como se adaptar à situação. Sendo os traços de personalidade relativamente estáveis, em uma situação de desencontro entre as características pessoais do líder e as exigências do trabalho, não resta outra alternativa senão alterar a situação ou remover o líder (YUKL, 2006).

c. Teoria da Meta e do Caminho

É considerada como uma das mais respeitadas teorias sobre liderança e foi desenvolvida por House (1971). De acordo com essa teoria, o principal papel do líder é ajudar os subordinados a cumprir suas metas, fornecendo orientação, reduzindo barreiras e dando o apoio necessário, para aumentar as oportunidades de satisfação pessoal (HOUSE, 1971). Suas suposições derivam da teoria da expectância, que sugere que os subordinados serão motivados se pensarem que são capazes de desempenhar seu trabalho e se eles acreditarem que seus esforços terão resultados e se as recompensas por fazerem seu trabalho serão adequadas (NORTHOUSE, 2004).

Há quatro comportamentos essenciais da liderança. A liderança diretiva, que diz aos subordinados o que se espera deles e dá as diretrizes específicas de como realizar as tarefas; a liderança de apoio, que focaliza as necessidades, bem-estar e clima de trabalho dos subordinados; a liderança participativa, que consulta os subordinados e utiliza suas sugestões antes de tomar qualquer decisão; e a liderança orientada para realizações, que estabelece metas desafiadoras e excelência de desempenho, mostrando confiança na capacidade dos subordinados. O líder deve ser capaz de se relacionar com seus subordinados utilizando qualquer um desses comportamentos, ou todos eles, dependendo da situação (NORTHOUSE, 2004).

A vantagem deste modelo é apresentar uma estrutura teórica para entender como os vários estilos de liderança influenciam a satisfação dos subordinados e o seu desempenho. Além disso, integra os princípios da motivação da teoria da expectância na teoria da liderança, o que a torna única, pois nenhuma outra abordagem da liderança aborda a motivação dessa forma. Apesar dessas vantagens, ela tem sido criticada por ser muito complexa e incorporar vários aspectos da liderança que

podem ser confusos, e porque sua base empírica é pequena (NORTHOUSE, 2004).

d. A Teoria da Troca entre Líder e Liderados

A Teoria da Troca entre Líder e Liderados (LMX – Leader-Member

Exchange) descreve como líderes desenvolvem relação de troca ao

longo do tempo com diferentes subordinados. Uma relação de troca favorável é mais provável quando o subordinado é percebido como competente, confiável e com atitudes e valores semelhantes aos do líder (YUKL, 2006, p. 140).

Ela considera a liderança como um processo centrado na interação entre líderes e seguidores e questiona a suposição de que os líderes tratam seus seguidores de forma coletiva. Seu pressuposto é que os líderes têm seus favoritos, com os quais estabelecem uma relação especial. Esse pequeno grupo de subordinados formará o “grupo de dentro”, que tem toda a confiança do líder, recebem mais atenção e tem avaliações de desempenho melhores. Os demais membros da organização formarão o grupo dos “de fora”. Com esses, o relacionamento do líder se caracterizará por: relacionamento baseado em interações formais de autoridade, menor tempo de atenção e de confiança, e maior controle no desempenho de suas tarefas (NORTHOUSE, 2004).

Este modelo tem forte abordagem descritiva, baseado em grande número de pesquisas experimentais, que explicam como os lideres usam alguns subordinados (os membros do grupo de dentro) mais do que outros (os membros do grupo de fora) para atingir os objetivos organizacionais. Além disso, é original, sendo a única abordagem que faz do relacionamento diádico a peça central do processo de liderança. Por outro lado, como divide a unidade de trabalho em dois grupos, onde um recebe mais atenção do que o outro, ela parece injusta e discriminatória. Além disso, suas idéias básicas não estão inteiramente desenvolvidas (NORTHOUSE, 2004).

Com a abordagem contingencial, os pesquisadores despertaram para a complexidade do fenômeno da liderança. A personalidade do líder e seu estilo comportamental, as necessidades e valores dos seguidores e os parâmetros situacionais da tarefa, a hierarquia e ambiente organizacional, todos esses fatores devem ser incluídos na compreensão desse fenômeno (GOETHALS, et al., 2004, p. 280).

No entanto, essas teorias vêm sendo criticadas por alguns cientistas comportamentais. Yukl (2006, p. 239-240) assim sintetiza essas críticas:

− Essas teorias teriam pouca utilidade para mostrar aos gerentes como se tornarem mais eficazes. Devido ao ritmo frenético de trabalho e à relativa falta de controle sobre esse ritmo, é impossível que os gestores consigam aplicar essas complexas teorias, que especificam comportamentos ideais para cada situação;

− Há uma suposição implícita na maioria das teorias contingenciais de que há uma única e ótima maneira para o gestor atuar em cada situação dada. Ao contrário, há vários diferentes padrões de comportamento que podem ser igualmente eficazes em uma mesma situação;

− As teorias contingenciais não proporcionam suficiente orientação, na forma de princípios gerais, para ajudar os gestores a reconhecerem e a escolherem as necessidades de liderança subjacentes à imensa quantidade de atividades fragmentadas e aos problemas que enfrentam.