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2.2 As multidimensões da cultura

2.2.2 Cultura Nacional

2.2.2.3 Abordagem de Hall e Hall

A abordagem cultural trazida por Edward T. Hall é a mais antiga e difundida quando se estudam as negociações internacionais. O modelo de Hall traduzido em sua obra Beyond Culture (1976), distingue as culturas com relação ao seu contexto.

Finuras (2007) argumenta que esta abordagem identificou dois critérios comportamentais determinantes em termos do impacto nos modos de trabalho e nas relações profissionais, que designou como referência ao contexto (grifo nosso). Assim, nas sociedades humanas, a organização do tempo é gerada a partir de duas tendências opostas:

a) O monocronismo, que consiste em efetuar uma atividade de cada vez, sendo a organização do tempo sequencial, onde cada atividade deve ser planejada de forma independente, com agendas e prazos sendo respeitados ao máximo e os indivíduos tomando as medidas necessárias para proteger seu tempo e espaço e ter privacidade em seu trabalho.

b) O policronismo consiste, portanto, no fato de cumprir várias ações e tarefas ao mesmo tempo, privilegiando a oportunidade das ocasiões e a flexibilidade. A organização do tempo é algo menos valorizado, onde problemas e decisões podem ser revistos e a exatidão e cumprimento dos prazos é relativa. Segundo Gillert (2001), essa abordagem surgiu a partir da necessidade de aconselhar de forma útil, homens e mulheres norte- americanos que iam viajar ou trabalhar no estrangeiro a lidar com diferentes culturas. Estes deveriam se concentrar em três diferenças comportamentais, que poderiam ser geradoras de conflitos no quadro da comunicação intercultural.

As mensagens rápidas/lentas (grifo nosso) referem-se "à rapidez com a qual uma mensagem transmitida pode ser decodificada e executada". Como mensagens rápidas se podem exemplificar os títulos de jornais, frases publicitárias e a televisão. São mensagens que parecem mais familiares a quem recebe. Gillert (2001, p. 23) coloca ainda que se, na maioria das vezes, precisa-se de tempo para conhecer as pessoas (são mensagens lentas) “é mais fácil fazer amigos em certas culturas do que em outras. A familiaridade fácil é então um exemplo de mensagem rápida. Por entre as mensagens lentas figuram a arte, os documentários televisivos, as relações profundas, etc.”

Já os contextos alto/fraco (grifo nosso) dizem respeito às informa- ções que estão a volta das pessoas. Gillert (2001, p.23) cita ainda que “se, na mensagem transmitida num dado momento, apenas uma pequena quantidade de informações é transmitida, enquanto que o essencial da

informação está já na posse das pessoas que tentam comunicar, trata-se então de uma situação de alto contexto.” A autora ainda exemplifica com parceiros que vivem em conjunto há vários anos: basta-lhes trocarem poucas informações, gestos ou olhares, para se compreenderem. A mensagem transmitida pode ser muito curta, mas vai ser decodificada com a ajuda das informações que cada um adquiriu ao longo dos anos de vida em comum.

Gillert (2001) continua afirmando que as culturas de contexto alto são, segundo Hall & Hall, as culturas japonesa, árabe e mediterrânea, onde as redes de informação são largas e as pessoas estão dispostas em relações muito próximas. Cada um informa-se, na vida quotidiana, acerca de tudo o que pode dizer respeito às pessoas que aos seus olhos são importantes. Como exemplo das culturas de contexto fraco, tem-se a cultura americana, alemã, suíça e escandinava, cujas relações pessoais tendem a depender, quase que somente, dos níveis de compromisso de cada um.

Outro ponto colocado pela autora, ainda na abordagem de Hall e Hall é a territorialidade (grifo nosso), que se refere à organização de um espaço físico, de um escritório, por exemplo. Segundo Gillert (2001, p.23) “A territorialidade diz respeito ao sentido desenvolvido pelos indivíduos relativamente ao seu espaço e às coisas materiais que os envolvem.” Neste caso, a territorialidade é também considerada um fator determinante de poder.

Outro contexto desta abordagem é o espaço pessoal (grifo nosso), que é a distância que um indivíduo precisa para se sentir à vontade em relação aos outros. Hall & Hall descrevem este espaço pessoal como uma "bolha" que cada um transporta permanentemente consigo. O seu tamanho modifica-se segundo as situações e as pessoas com os quais o indivíduo interage. A "bolha" assinala a distância que cada um julga apropriada em relação aos outros. Alguém que se mantenha distante desta "bolha" vai ser visto como reservado. Alguém que não respeita a distância julgada apropriada vai ser visto como ofensivo ou mal-educado (GILLERT, 2001). Assim como Finuras (Op. Cit.), Gillert também se refere ao contexto Monocronia/Policronia como um dos contextos integrantes da Abordagem de Hall e Hall.

Para sintetizar o que foi explicado anteriormente, a pesquisadora fez uso do quadro a seguir, que mostra que nos países de contexto fraco, considera-se que a mensagem é explicita, sendo eles os países de culturas anglo-saxônicas como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Austrália; os países de origem germânica como Alemanha, Áustria e Suíça e por fim os de origem escandinava, Dinamarca, Noruega e Finlândia. Já os países de

contexto forte, onde o sentido da mensagem geralmente está implícito, correspondem aos países da Ásia, Oriente Médio, África, América Latina, além de Portugal e Espanha.

QUADRO 2: Comunicação dominante nas sociedades de acordo com Edward Hall. Forte Japão Oriente Médio Países Latinos África Contexto Países Mediterrâneos Fraco EUA Países Escandinavos Alemanha Fraca Explicitação da Mensagem Forte

FONTE: Hall (Op. Cit).

É observado por Finuras (2007), que no Oriente Médio, classificado como contexto forte, “só se pode abordar a negociação comercial depois de longas horas consagradas ao estabelecimento de uma relação humana desinteressada.”