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Cultura nacional e as organizações

2.2 As multidimensões da cultura

2.2.4 Cultura nacional e as organizações

Em seus estudos, a escritora Tanure (2005, p.23) afirma que “As organizações podem ser vistas como uma pequena comunidade com características que são peculiares a uma única sociedade ou grupo.” A autora comenta sobre os estudiosos Payne e Pugh (1976), que consideram que a cultura organizacional é formada pelo contexto cultura nacional, as limitações legais e o mercado, usando como base a Teoria dos Sistemas.

A autora (Tanure, 2005) ainda menciona duas teorias que consideram a globalização como ponto determinante. Trata-se das teorias convergente e divergente. A diferenciação entre ambas está no tempo em que foram idealizadas. A teoria convergente foi idealizada na década de 60, antes da globalização, onde se acreditava que os modelos americanos e europeus eram os ideais para as organizações e poderiam ser considerados universais. Já a teoria divergente, foi idealizada a partir das experiências dos anos 70. Esta acentua as diferenças nas formas de gestão entre países e regiões e ainda analisa o impacto dessas diferenças sobre as formas de liderança, os estilos e processos de negociações, a forma de gerir as pessoas e ainda sobre a motivação e administração de conflitos.

Nos anos 80, esse tema foi colocado em debate por diversos autores, incentivado pelo sucesso crescente do “modelo japonês de administrar”. Como os estilos ocidental, de lógica inclusiva, e o oriental, de lógica exclusiva, não apresentavam similaridade, muitos estudos e discussões foram feitos em torno dessa questão, partindo para uma terceira teoria, intermediária, que segundo Tanure (2005, p. 24) admite que “as diferenças entre países e regiões são mais evidentes em relação a valores, enquanto outras dimensões organizacionais, como a estrutura, não sofreriam impactos significativos do ambiente cultural em que a empresa está localizada”. Essa abordagem integradora é defendida por CHILD (1999).

A Teoria Z, de William Ouchi, trata de uma terceira vertente das teorias X e Y de MCGregor. É defendida nos tempos atuais e traz uma grande contribuição para as teorias da administração. Esta teoria fundamenta-se em preceitos e comportamentos vividos principalmente nos países orientais (Japão, Coréia, Taiwan, etc.) e que hoje são seguidos e imitados por muitas nações ocidentais, incluindo o Brasil. Esta teoria vem contribuir sobremaneira com relevância aos comportamentos modernos de administração, trabalhando aspectos das culturas societárias para incrementar elos sociais no ambiente produtivo e aumentar os resultados finais.

Para Ferreira et al (1997), as peculiaridades da cultura oriental, espelhadas no comportamento organizacional, provocam discussões sobre a importância do aspecto cultural, refletido no caráter obediente e disciplinado do trabalhador japonês, como o fator condicionante do sucesso da administração e da aplicação das técnicas industriais japonesas. O autor refere-se também aos analistas do modelo japonês de administração que têm levantado que, mais do que traços culturais fixos, os pilares da administração japonesa que são expressos nas dimensões de lealdade, poder grupal, disciplina, preocupação com qualidade, entre outros, são resultados de um processo histórico, que hoje, já mudou de aspecto.

Ouchi (1986), afirma em sua teoria que “o resultado é a conquista de estabilidade no emprego, remuneração mais condizente, satisfação de participação nos problemas e sucesso das organizações”. Alguns aspectos que caracterizam essa teoria são:

a) O homem quer participar, o maior patrimônio é o próprio homem;

b) O homem é criativo; c) O homem quer ser original; d) O homem quer liberdade; e) O homem quer ter iniciativa; f) O homem é responsável; g) O homem quer estabilidade;

h) O homem busca uma qualidade de vida melhor sempre; i) O homem está sempre insatisfeito;

j) O homem não é individualista;

k) A coerência e a estabilidade do grupo é a segurança do indivíduo.

Na Teoria Z, o conceito de hierarquia de linha não foi esquecido, porém já não representa tanto peso na balança da administração. Qualquer colaborador ou grupo de colaboradores pode se reunir e questionar métodos,

processos, rotinas, obstáculos, e custos, sugerindo mudanças que racionalizam a vida comum cotidiana. “A melhoria individual das partes melhora o todo.” Na visão de Ouchi (1986, p. 43), “os valores organizacionais devem ser disseminados pelos dirigentes organizacionais, e tomados como de interesse dos demais atores.” Para concluir, William Ouchi em sua obra “Teoria Z” de 1986 traz a seguinte máxima:

A base de qualquer empresa Z é a filosofia. Na medida em que as decisões forem tomadas, com base em um conjunto de Princípios coerentes e integrados, elas tem maior probabilidade de êxito em longo prazo. Uma filosofia pode ajudar uma organização a manter seu sentido de singularidade ao declarar o que é e o que não é importante. Também oferece eficiência em planejamento e coordenação entre pessoas que compartilham uma mesma cultura.É preciso que a filosofia esteja ao alcance de todos os empregados, sob a forma de um pequeno manual, como foi feito pela HP, Rockwell, Boeing, Eli Lilly e Intel.

Mas existem controvérsias sobre essa teoria, que acabam por colocar em dúvida a aplicação da mesma em sociedades ocidentais. Para Drucker (1986) os administradores japoneses agem de modo significativamente diferente dos americanos e europeus. Os japoneses seguem princípios diferentes para tornada de decisões eficazes, segurança no emprego e a formação de profissionais. Tais políticas, embora não sejam a chave do "milagre econômico" japonês, são fatores importantes que explicam a ascensão do país nos últimos cem anos. Para o autor, o fato de as políticas estarem arraigadas nas tradições da cultura nipônica, impede que os ocidentais as imitem. Porém, servem, no mínimo, como exemplos e diretrizes.

Em sua obra, Ouchi (1986) lembra que “na América quase não há fundos para desenvolver conhecimento sobre como dirigir e organizar as pessoas no trabalho; e é isso que se tem a aprender estudando os japoneses.” No item seguinte, são abordados alguns aspectos da cultura nas organizações, que moldam o modo de ser e a influência das pessoas e comportamentos diversos na personalidade de cada organização.