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Existem estudos linguísticos embasados em distintos modelos teóricos que fazem com que se tenha um olhar diferenciado sobre determinado fenômeno da língua. Um desses modelos é o funcionalista que tem como principal característica o estudo da língua em uso. Este tipo de estudo é necessário e desejável para a descrição de línguas, tendo em vista que ao analisar a língua em seus mais diversos contextos de ocorrência é possível abrangê-la de forma mais completa.

Pode-se afirmar que o ponto comum no modelo funcionalista, em suas diferentes perspectivas, é o fato de a maioria deles concordarem que este leva em consideração, não somente as estruturas gramaticais das línguas, mas também as diversas situações comunicativas em que são utilizadas, isto é, faz-se necessário investigar os fenômenos da língua em seu contexto real de uso. Para o trabalho de descrição linguística em que o pesquisador não tem intuição sobre os enunciados, esta corrente teórica é muito interessante, pois, ao invés de ignorar os elementos extralinguísticos, permite que se considere a língua no contexto social e se analise dados usados por falantes reais.

3.1.1 Correntes funcionalistas vs. Correntes formalistas

O funcionalismo surge em contraposição ao que vinha sendo feito nos estudos linguísticos formalistas, tais como estruturalismo e gerativismo. No funcionalismo a língua é analisada no uso, nas situações comunicativas considerando a função desempenhada na frase, e não como estrutura estável e pressuposta.

Dik (1989) destaca algumas diferenças entre as duas correntes, dentre as quais mencionamos as principais. No formalismo a língua é analisada como um conjunto de sentenças e o estudo da competência tem uma prioridade lógica e metodológica sobre o estudo do desempenho. Segundo essa corrente, as sentenças de uma língua devem ser descritas independentemente do contexto em que ocorreram e a aquisição da língua é considerada inata. Além disso, os universais linguísticos são considerados propriedades inatas do organismo biológico e psicológico dos homens.

No funcionalismo, por outro lado, a língua é um instrumento de interação social e o estudo do sistema linguístico deve ter lugar no interior do sistema de usos linguísticos, desse modo, a descrição dos elementos linguísticos de uso de uma língua deve proporcionar pontos de contato com o contexto em que ocorreram. Outro fator é que a criança descobre o sistema que subjaz à língua e ao uso linguístico ajudada por inputs

de dados linguísticos extensos e altamente estruturados, presentes em contextos naturais. Os funcionalistas defendem também que os universais linguísticos são especificações inerentes às finalidades da comunicação, à constituição dos usuários da língua e aos contextos em que as línguas são usadas.

A gramática funcional, assim, correlaciona as classes, as relações e as funções com as situações sociais concretas em que elas foram geradas. Para tanto, ultrapassa o limite da sentença e avança na análise de textos extensos. Esse ramo de estudos libertou a língua de seus rígidos limites estruturalistas e gerativistas, estabelecendo correlações entre os fatos gramaticais e os dados da comunidade que os gerou. Pode-se dizer que a gramática funcional reage contra a inflexibilidade da língua sustentada pela atitude formalista, que postula a língua como uma atividade mental ou como um código (cf. CASTILHO, 2010). A análise funcionalista, por outro lado, está sempre em mudança, isso se dá justamente por causa do dinamismo da língua.

Pode-se dizer então que a distinção básica entre o Funcionalismo e o Formalismo é que aquele incorpora elementos extralinguísticos nas análises, enquanto este limita-se a analisar somente o que está transparente na forma. Portanto, para o funcionalismo, não seria cabível estabelecer propostas gerais sobre o funcionamento da linguagem, e sim concepções que prestigiem as características das línguas por meio de análise linguística baseada em dados usados por falantes reais em situações reais de interlocução/enunciação.

O Funcionalismo apresenta duas correntes teóricas principais: a Europeia e a Norte-americana. O funcionalismo europeu surgiu com a escola de Praga em 1926, tendo como precursor Vilém Mathesius. Essa corrente funcionalista surgiu para afirmar a função das unidades linguísticas na fonologia e na sintaxe. Os linguistas do funcionalismo europeu faziam distinção entre diacronia e sincronia, além de realizarem análises de caráter pragmático e discursivo. Jakobson, um dos representantes dessa corrente, postulava que a linguagem deveria ser trabalhada a partir de suas diversas funções. Estas, por sua vez, deveriam considerar certos elementos que compõem os atos de fala, a saber, remetente, destinatário, contexto, mensagem, canal e código. Além da escola de Praga, o funcionalismo europeu manifestou-se, também, na escola de Genebra com as teorias de Halliday, e na Holanda com estudos de Dik.

O funcionalismo Norte-americano, por outro lado, foi influenciado por antropólogos, filósofos, etc. (cf. Givón, 2001, p. 1). Essa corrente estudava as línguas com base no seu contexto e fatores externos, havendo uma ligação entre discurso e

gramática. Na atualidade, destacam-se nomes como Givón, Thompson e Hopper no funcionalismo norte-americano. Givón estudava as motivações comunicativas e cognitivas para explicar os fatos gramaticais. Para o autor existe uma estreita associação entre os aspectos funcionais, tipológicos e diacrônicos da gramática. Hopper e Thompson desenvolveram estudos sobre a transitividade, classes de palavras no discurso, dentre outros.

3.1.2 Funcionalismo-tipológico

Embora o funcionalismo tenha iniciado com o Círculo Linguístico de Praga, o surgimento da concepção funcional-tipológica só ocorre por volta da década de 1970 com Talmy Givón, Paul Hopper e Sandra Thompson. O estudo tipológico consiste em encontrar, em cada língua, diferenças e similitudes com o intuito de descobrir qual a visão de mundo que cada comunidade linguística possui e como ela representa essa realidade linguisticamente, considerando-se sempre os contextos de uso.

Diante do exposto, a corrente que orienta a presente pesquisa é a norte-americana, que se ancora na abordagem funcional-tipológica. Na próxima seção trataremos da categorização de adjetivos, nomes e verbos pautados neste segmento.