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3.2 CATEGORIAS LEXICAIS

3.2.2 Nomes

Experiências que estão relativamente estáveis ao longo do tempo, isto é, aquelas que, ao longo de repetidas situações parecem ser mais ou menos as mesmas, tendem a ser lexicalizadas em línguas humanas como nomes. De acordo com Dixon (1986), a classe de nomes fornece informações sobre projeto físico (tamanho, forma, animacidade), função ou uso (comestível, habitável), categorias cognitivas em uma dada cultura e também sobre o papel social e a interação.

Conforme Givón (1984), os nomes mais prototípicos são aqueles que denotam entidades concretas, físicas, compactas feitas de matéria durável, sólida, tais como

'árvore', 'cão', 'pessoa' etc. O conjunto mais geral das características hierarquicamente dispostas usadas para classificar nomes é:

Entidade > Temporal > Concreto > Animado > Humano12

Se uma entidade tem uma característica dessa hierarquia, automaticamente também tem todas as características para a esquerda na hierarquia. Portanto,

quando um nome é apenas “entidade” sem mais especificações é mais comumente referido como um nome abstrato, tais como „liberdade‟ ou „dignidade‟ O nome „temporal‟ é frequentemente referido como semi-abstrato, os exemplos são „Julho‟ „dia‟ „domingo‟, etc. Nomes concretos (mas inanimado) têm dimensões espaciais (e outras qualidades concretas associadas com objetos físicos) Eles são nomes como „casa‟ „cadeira‟ „árvore‟ etc Animados (mas não-humanos) são nomes como „cavalo‟ „abelha‟ „peixe‟ etc E humanos são nomes como „professor‟ banqueiro governador (sem mais especificação de gênero) ou „homem‟ „mulher‟ „bailarina‟ (com gênero obrigatório) (GIVÓN, 1984, p. 56)13

Na maioria das línguas algumas distinções gramaticais ocorrem entre nomes comuns e nomes próprios. Segundo Schachter (1985) os primeiros são usados para referir qualquer membro da classe de pessoas e os últimos são usados para referir pessoas específicas. Há, no entanto, variações consideráveis de língua para língua. Por exemplo, em Inglês, nomes comuns diferem de próprios pela ocorrência dos primeiros com artigos. Em Tagalog, por outro lado, estes apresentam diferentes marcações de caso e de tópico, pois não há artigos:

(11) Malapit sa babae ang bata perto OBL mulher TOP criança „A criança está perto da mulher‟

12 Entidade está relacionada a tudo aquilo que existe; temporal diz respeito ao que existe em um

determinado momento; concreto, por outro lado existe no tempo e no espaço; animado acrescenta a tudo isso o fato de ser um organismo vivo; e humano também adiciona a característica de ser humano (Givón, 1984).

(12) Malapit kay Maria si Juan perto OBL Maria TOP Juan „Juan está perto de Maria‟

Outra sub-classificação bastante comum de nomes, pertencente principalmente aos nomes concretos, envolve as propriedades de tamanho e forma, e se manifesta mais frequentemente em quantificar expressões, como em “um grão de sal” e “uma xícara de chá” Givón (1984) afirma que em muitas línguas um tal sistema originário da quantificação de frases, eventualmente se desenvolve em uma classificação flexional dos nomes. Parte desse sistema envolve as propriedades de contabilidade, isto é, o contraste entre nomes contáveis e não-contáveis.

De acordo com Schachter (1985), as categorias típicas por meio das quais o nome pode ser especificado, tanto morfológica, quanto sintaticamente, são caso, número, gênero e definitude. A primeira - marcação de caso - indica as funções gramaticais, como sujeito, objeto direto e objeto indireto. Essas funções podem ser marcadas por prefixos ou sufixos, como ocorre na língua Bikol (Philippine) e em japonês, respectivamente:

(13) nag-ta‟ó ’ang-laláke ning-l bro sa-babáye ACT-dar SUBJ-homem ACU-livro DAT-mulher „O homem deu um livro para a mulher‟

(14) otoka-wa onna-ni tegami-o kaita homem-SUBJ mulher-DAT carta-ACU escreveu „O homem escreveu uma carta para a mulher‟

A marcação de número distingue singular de plural, e mais raramente, dual. Frequentemente as línguas apresentam os morfemas de pluralização e ausência destes para indicar singular, como em Bantu, Inglês e Português. Em Esquimó, a diferenciação entre os morfemas utilizados para indicar plural e aqueles que indicam dual ocorre conforme o exemplo a seguir mostra:

iglut „casas‟ igluk „duas casas‟

Ao contrário de línguas como Bantu, em Ute, o plural não está envolvido na classificação morfológica dos nomes, isto ocorre devido ao fato de que algumas línguas não marcam número nos nomes, mas indicam a pluralidade, primariamente, através da concordância, nos verbos, ou em outra parte do sintagma nominal.

A marcação de gênero é outra característica relevante ao estudo dos nomes. Esta decompõe o conjunto de nomes em subconjuntos, cada um dos quais têm sua própria marcação distintiva. Há subconjuntos com necessidades de marcas diferentes em certas palavras que mostram argumentos com nomes, os quais incluem feminino, masculino e neutro. De acordo com Anderson (1985)

a categoria de gênero é inerente nos nomes, mas frequentemente não é a base de qualquer processo gramatical aplicado aos nomes: realiza-se abertamente apenas em outras áreas da flexão, através da operação de concordância. Este tipo de comportamento não está estritamente limitado à classe de nomes [...]. Tal reflexo indireto de uma categoria inerente é, contudo, razoavelmente comum para sistemas de classes nominais, e bastante mais raro em qualquer outra parte da gramática. (ANDERSON, 1985, p. 177)14

Línguas semíticas têm, tipicamente, a classificação de gênero e número, como nos seguintes exemplos de Hebreu (Givón, 1984, p. 59):

Singular Plural

Masculino yéled „menino‟ yelad-im „meninos‟

Feminino yald-á „menina‟ yelad-ót „meninas‟

Quadro 6: Marcação de gênero e número em Hebreu

E, por fim, a definitude está relacionada, em termos gerais, à identificação ou não- identificação do nome ou sintagma nominal, podendo ser definido ou indefinido, respectivamente. Em algumas línguas que apresentam esta característica o contrate é dado pelo artigo. Alguns exemplos de distinções de definitude em Inglês são a man vs.

the man. Em Amárico, a definitude, enquanto categoria do sintagma nominal, é marcada

no primeiro elemento do constituinte somente (exemplo 16). Além disso, as relações entre o possuidor e o possuído também são relevantes em muitas línguas, e podem ser expressas por meio de pronomes, prefixos ou sufixos anexados aos nomes.

(16) tinni -u m∂Sihaf pequeno-DEF livro

„o livro pequeno‟

Sintaticamente, a função mais comum dos nomes é a de funcionar como argumento ou como núcleo de argumentos (cf. GIVÓN, 1984, SCHACHTER, 1985), contudo também é possível sua ocorrência como predicado, com o acompanhamento de uma cópula ou sem ela, como os exemplos de Hausa e Russo respectivamente mostram:

(17) su malamai ne eles professores COP „Eles são professores‟

(18) oni u itelja eles professores „Eles são professores‟

De acordo com Givón (1984) os nomes são mais propensos a ser os temas ou participantes na sentença, ao invés de predicado. Dessa forma, percebe-se que há muitos aspectos semânticos e morfossintáticos ligados aos nomes, alguns podem, por vezes, e a depender da língua, ser encontrados em itens lexicais pertencentes tradicionalmente a outras classes, por exemplo, a do adjetivo, como ver-se-á a seguir.