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A influência das representações sociais na psicologia social é constatada não apenas por sua história e difusão nos meios acadêmicos, mas também por variações e apropriações distintas da obra original de Moscovici. Os enfoques incluem a abordagem estrutural de Jean- Claude Abric, a abordagem sociocultural de Denise Jodelet, a abordagem genética de Willem Doise e a abordagem dialógica de Ivana Marková. Essas perspectivas teóricas e metodológicas sobre as representações sociais não são radicalmente distintas, eles se interpenetram e se enriquecem mutuamente (JOVCHELOVITCH, 2007). Contudo, a proposta paradigmática de Moscovici enfrentou resistências, principalmente nos EUA. Já na Europa, encontrou território propício para seu desenvolvimento, o que ocorreu ao longo da década de setenta, onde passou a ocupar papel de protagonista na pesquisa social.

Sá (2004) contribui com o debate argumentando que a fórmula proposta por Moscovici e endossada por Denise Jodelet (1995) – toda representação é uma representação de alguém (sujeito) e de alguma coisa (o objeto) – enfatiza a ligação necessária do objeto de representação a um determinado sujeito. Porém, este autor aponta que é forçoso reconhecer o caráter esquemático que pode conduzir a noção de um sujeito ou objeto em termos genéricos, de modo que as condições socioculturais da vinculação sejam desprezadas, incorrendo na banalização cognitivista e dualista do conceito. Em termos da produção de conhecimentos na área, percebe-se a propagação de pesquisas com enfoque individualista e “uma forte tendência

positivista que, em muitos casos, acabou transformando este conceito em uma entidade estática de correlação” (GONZÁLES REY, 2004, p. 95).

Assim, apesar dos esforços por teóricos renomados da abordagem, como Jodelet (2009), o termo representação permanece influenciado pelo cognitivismo individual, evidenciando tendências mecanicistas e computacionais, seguindo o princípio determinista na relação mente, cérebro e comportamento. Nesta direção cabe o alerta: as representações, não podem ser tomadas exclusivamente como produto de formalizações e imagens processadas na mente dos indivíduos. Porém, observa-se, atualmente, que a preocupação com aspecto metodológico não implica, também, na preocupação com fundamentos epistemológicos e ontológicos subjacentes a prática científica. Muitas vezes nos deparamos com a descrição de estratégias e técnicas no tratamento de dados, mas pouco com avanços significativos nos aspectos filosóficos e epistemológicos que envolvem a abordagem das representações sociais. Soma a isso que, para Jovchelovitch (1988), o papel decisivo das representações na formação do sujeito psicológico, nem sempre foi algo consensual entre autores de grande influência na psicologia, como Piaget, Freud, Vigotski, dentre outros.

Segundo Guareschi e Jovchelovitch (1995) as representações sociais são formadas quando as pessoas se encontram para falar, argumentar, discutir o cotidiano, ou quando elas estão expostas às instituições, aos meios de comunicação, aos mitos e à herança histórico cultural de suas sociedades. Este estudo assumiu um caráter descritivo, que segundo Vergara (2003), expõe as características de determinada população ou fenômeno. Quanto ao tipo de abordagem, trata-se de uma pesquisa qualitativa. Minayo (2004) afirma que a pesquisa qualitativa considera o universo de significados, crenças, valores, atitudes, motivações e aspirações, correspondentes a um espaço profundo das relações, processos e fenômenos, os quais não podem ser quantificados.

Trata-se de um estudo que se pauta na teoria das Representações Sociais, entendidas como processos de construção, de reapropriação da realidade pelos sujeitos sociais (MOSCOVICI, 1976). É uma forma de conhecimento do senso comum, coletivamente elaboradas e partilhadas, com a finalidade de construir e interpretar a realidade (JODELET,1989). Constituem uma síntese entre cognição, afeto e ação. Nessa perspectiva, as representações sociais e as práticas são entendidas como componentes de uma dada situação social, e as práticas sociais são concebidas como sistemas complexos de ação, ou seja, como conjuntos de condutas definidas pelos e para os grupos (GUIMARÃES, 2007). A referência básica é a ação, o agir dos grupos, que comporta dois componentes, a vivência e a cognição.

Embora tenha adotado em seus primeiros escritos métodos qualitativos para a investigação do fenômeno das representações sociais, em um trabalho mais recente Moscovici (1995) se coloca como um metodólogo politeísta, deixando de indicar uma forma mais “adequada” para o estudo das representações. De acordo com ele, a escolha de um método para lidar com este tema não é um problema epistemológico, mas de escolha pessoal do pesquisador. Compartilha-se neste trabalho a orientação inicial desse autor. Isso quer dizer que se optou metodologicamente por uma estratégia qualitativa, uma vez que se busca analisar as representações sob o ponto de vista dos sujeitos.

Considerando a proposta deste trabalho, optou-se pela realização de uma pesquisa de natureza qualitativa de caráter descritivo. Esta utiliza de procedimentos específicos para a análise dos dados coletados, considerando a disponibilidade de diferentes estratégias para a investigação do fenômeno (CRESWELL, 2010).

Na abordagem das Representações Sociais, em uma primeira etapa torna-se essencial a reunião de material simbólico a respeito do objeto situado socialmente, buscando facilitar a expressão, interação e acesso do analista à realidade vivida pelo sujeito em sua relação com o objeto de representação e com outros sujeitos (MINAYO, 1995). Segundo Souza Filho (1993) isto pode ser alcançado por meio de observação e através de dados já disponíveis como pesquisas de anotações, artigos, etc.

No que se refere à pesquisa qualitativa, compreende-se que a TRS possibilita o acesso às informações que revelem particularidades da realidade social. Ao atentar para o específico, adota-se um caminho para a compreensão e não apenas para a explicação dos fenômenos. É aí que a Teoria das Representações Sociais se mostra de suma importância, já que possibilita a interpretação e compreensão de situações e ocorrências cotidianas nas mais variadas situações do universo socialmente compartilhado (ABRIC, 2000).

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