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4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: EVOLUÇÃO HISTÓRICA E ALGUNS

7.2 Abordagem qualitativa

A abordagem qualitativa do estudo foi do tipo exploratória e transversal.

A pesquisa com abordagem qualitativa trabalha com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões com objetivo de aprofundar a complexidade de fenômenos, falas e processos particulares e específicos de pequenos grupos (MINAYO; SANCHES, 1993).

Pesquisa exploratória refere-se à pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou problemas com a finalidade de desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno para a realização de uma pesquisa futura ou mudar e tornar mais claros os conceitos (MARCONI; LAKATOS, 2003).

A etapa qualitativa do estudo foi realizada com os trabalhadores Técnico- Administrativos em Educação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia pesquisado, efetivos e em exercício em três campi, sendo que 30 trabalhadores técnicos administrativos constituíram a amostra do estudo.

A amostragem foi intencional. Segundo Gil (2016), a amostragem intencional é um tipo de amostragem não-probabilística e consiste em selecionar um subgrupo da população que, com base em informações disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a população. A principal vantagem desse tipo de amostragem está nos baixos custos de sua seleção.

Optou-se por realizar a etapa qualitativa apenas nos três campi devido a maior facilidade de deslocamento até as unidades e devido ao melhor conhecimento da pesquisadora sobre a população de estudo. Além disso, esses três campi possuem características semelhantes do ponto de vista de implantação, funcionamento, organograma e cargos, o que pôde contribuir para a seleção da amostra da etapa qualitativa.

Buscou-se selecionar para a etapa qualitativa trabalhadores TAEs de setores e cargos variados dos campi.

Para Luborsky e Rubinstein (1995), em estudos qualitativos, a amostra ideal depende dos objetivos, métodos, e metas e é condicionada pela disponibilidade de pessoal e recursos econômicos. Os autores comentam que a maioria dos autores utilizaram um número de 12 a 26 indivíduos nas amostras qualitativas.

Os estudos qualitativos não precisam ser representativos da população. Esses estudos visam a riqueza de informação dos casos selecionados e a qualidade da análise do pesquisador e não o tamanho da amostra (WHO; UNIVERSITY OF AMSTERDAM, 2004).

Não existem regras para o tamanho da amostra em pesquisas qualitativas. Depende do que se quer saber e o objetivo do estudo. Muitas vezes, os pesquisadores qualitativos referem- se ao critério de redundância (método de saturação): que é quando se interrompe a coleta de dados quando não há nenhuma informação nova. Pode-se também usar critérios pragmáticos no tamanho da amostra, considerando a quantidade de tempo para transcrever as entrevistas e o número de sub-grupos a partir do qual irá selecionar os entrevistados. Um estudo qualitativo com 40 informantes é um estudo relativamente grande. Geralmente estudos comparativos qualitativos têm pelo menos 10 informantes por grupo (WHO; UNIVERSITY OF AMSTERDAM, 2004).

De acordo com Lefèvre (2017, p. 21), criador do método Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), utilizado na presente pesquisa, o tamanho da amostra em pesquisas que utilizam o DSC pode variar e o método é viável com qualquer tamanho. Para ele, a amostra em pesquisas empíricas de opinião não está relacionada apenas com o seu tamanho, mas também com a qualidade, ou seja, “com a escolha criteriosa dos atores sociais mais relevantes, [...] as pessoas envolvidas, como fontes de informação para o conhecimento de uma dada realidade”. Ainda segundo Lefèvre (2017, p. 22), a amostra deve assegurar também a diversidade, ou seja, “a riqueza da narratividade dos pesquisados, já que cada indivíduo em particular acrescenta as especificidades de sua história, ampliando assim a abrangência da “história coletiva”, essência do DSC”.

Para a coleta de dados da etapa qualitativa foi aplicada uma entrevista semiestruturada, composta por cinco questões:

1) Para você, o que significa ter qualidade de vida no trabalho? 2) Na sua opinião, quais são as fontes de bem-estar no trabalho? 3) Para você, quais são as fontes de mal-estar no trabalho?

4) Você se sente valorizado enquanto Técnico Administrativos em Educação em sua Instituição e em seu local de trabalho? Por quê?

5) Você considera que os Técnico-Administrativos em Educação sejam desvalorizados ou que desempenhem papeis considerados de menor importância em relação aos docentes em sua instituição? Por quê?

A elaboração das questões 1, 2 e 3 foi baseada nas questões da parte qualitativa do Instrumento de avaliação de qualidade de vida no trabalho (IA_QVT) (FERREIRA, 2009) e nos estudos de Andrade et al. (2014) e Albuquerque et al. (2015).

Os procedimentos para a coleta de dados na abordagem qualitativa foram realizados por meio das seguintes etapas:

1. Após a anuência do Reitor para a realização da pesquisa, foram selecionados 30 trabalhadores técnicos administrativos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia pesquisado, efetivos e em exercício em três campi, para responderem à entrevista semiestruturada.

2. Foi enviada uma mensagem para o e-mail de cada TAE selecionado com uma breve apresentação da pesquisa, com os objetivos do estudo, informações sobre a entrevista semiestruturada, informações sobre a participação voluntária dos TAEs, o respeito ao princípio de autonomia de cada participante, assim como, a confidencialidade, o anonimato das informações que pudessem identificar o pesquisado, a privacidade e a proteção da imagem dos participantes.

3. Foi agendada uma visita da pesquisadora ao local de trabalho dos trabalhadores técnico-administrativos que aceitaram participar da etapa qualitativa do estudo, para a realização da entrevista. O período para a realização das trinta entrevistas da pesquisa foi de 10/01/2018 a 26/02/2018.

4. Nesta visita foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B) a cada participante que aceitou participar da pesquisa e após leitura e assinatura do TCLE foi realizada a entrevista semiestruturada (APÊNDICE E).

Os dados qualitativos foram analisados e interpretados a partir do método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

Segundo Lefèvre e Lefèvre (2012, p. 16-17), o Discurso do Sujeito Coletivo é

[...] um método que vem sendo desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP), desde o final da década de 1990, para as pesquisas de opinião, de representação social ou, mais genericamente, de atribuição social de sentido, que tenham como material de base depoimentos ou outros suportes de material verbal, como matérias de revistas, jornais, etc [...]. O DSC como técnica consiste em uma série de operações sobre a matéria prima dos depoimentos [...], operações que redundam, ao final do processo, em depoimentos coletivos, ou seja, constructos confeccionados com extratos literais do conteúdo mais significativo dos diferentes depoimentos que apresentam sentidos semelhantes.

O método do Discurso do Sujeito Coletivo possibilita a reconstituição das Representações Sociais (RS) presentes em um determinado tempo e espaço, sob a forma de depoimentos coletivos (LEFÈVRE, 2017).

“A Representação Social na qualidade de conhecimento do senso comum está sempre presente numa opinião, num julgamento, numa avaliação, num posicionamento, manifestação ou postura de um indivíduo comum” (JODELET, 1989 apud LEFÈVRE, 2017, p. 15).

“Tendo o caráter de depoimentos coletivos e de narrativas socialmente compartilhadas, os DSC são uma forma de traduzir o modo como as RS são metabolizadas, digeridas, experienciadas por uma sociedade, um grupo, uma cultura determinada” (LEFÈVRE, 2017, p. 18).

Segundo Lefèvre (2017), após a obtenção dos depoimentos o pesquisador deve analisar essas declarações seguindo as seguintes etapas:

1) Redução do discurso: nessa fase o pesquisador deve analisar individualmente cada depoimento e retirar dele o seu conteúdo essencial, selecionando as partes mais significativas do texto, levando em consideração a pergunta formulada. É a figura metodológica denominada “Expressões-chave (EC)”. São as EC que irão compor, mais adiante, os Discursos do Sujeito Coletivo.

2) Busca do (s) sentido (s): após a seleção das expressões-chave de cada depoimento, é necessário verificar se o entrevistado apresenta um posicionamento frente ao problema ou mais de um posicionamento. A figura metodológica correspondente a essa etapa é a “Ideia Central (IC) ou Ideias Centrais (ICs)”. A IC é como se fosse uma “etiqueta semântica” que permite identificar o (s) sentido (s) dos depoimentos. Há um tipo de IC que aparece alguma vezes nos depoimentos e que é chamada de Ancoragem (AC), que é a manifestação linguística que remete diretamente a uma representação forte ou crença que o autor do discurso usa para apoiar posicionamentos ou ideias.

3) Categorização ou agrupamento: essa etapa consiste em identificar os depoimentos que apresentam Ideias Centrais ou Ancoragens de sentido semelhante e reuni-los em uma “Categoria” de sentido comum à qual se dá um nome (por exemplo, A, C, etc).

4) Discursos do Sujeito Coletivo: os Discursos do Sujeito Coletivo consistem na reunião das EC cujas IC ou AC apresentam sentido semelhante, ou seja, reúne o conjunto dos conteúdos e dos argumentos presentes nas respostas de sentido semelhante que foram agrupadas em uma Categoria. Para elaborar o DSC é preciso encontrar um depoimento que se adapte melhor com o começo de narrativa, outro com o fim de narrativa, e fazer o link entre as ideias utilizando conectivos como “também”, “além disso”, etc.

O DSC é redigido na primeira pessoa do singular, pois de acordo com Lefèvre (2017, p. 36), “[...] o uso da primeira pessoa do singular se faz marcar explicitamente que aquilo que se busca é a expressão direta do pensamento coletivo: o que o eu (coletivo) pensa e não o que ele (o pesquisador na terceira pessoa) pensa que eu penso”.

ordem, os seguintes passos:

a) Os depoimentos gravados foram ouvidos e foi feita a transcrição literal dos mesmos. O conjunto de respostas de cada questão foi lido algumas vezes para que se tivesse a ideia panorâmica e melhor compreensão dos textos.

b) Copiou-se integralmente o conteúdo de todas as respostas inerentes à questão 1 de cada respondente no Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD-1) (APÊNDICE F).

c) Foi lida cada resposta em particular identificando as expressões-chave e representando-as em sublinhado.

d) De posse das EC e após leitura de cada uma, identificou-se a sua ideia central, tomando-se o cuidado de que a mesma representasse a descrição das EC e não a sua interpretação.

e) As ideias centrais semelhantes foram agrupadas em categorias e as categorias nomeadas (APÊNDICES G, H, I, J, K).

f) Foi elaborado o Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD-2) (APÊNDICES G, H, I, J, K) que contem separadamente cada categoria com as suas respectivas EC semelhantes ou complementares.

g) Os DSC foram construídos a partir de cada categoria obtida na etapa anterior. Este mesmo procedimento foi realizado igualmente para todas as questões.

Os discursos dos sujeitos foram apresentados por meio de quadros e figuras.

Junto às perguntas da EACT e à entrevista semiestruturada foram incluídas perguntas sobre o perfil sócio demográfico e ocupacional dos participantes, como sexo, idade, cargo, escolaridade, estado civil, tempo de serviço na instituição, etc. (APÊNDICE C e D).