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Técnicas para assegurar a continuidade no fluxo de produtos

2.4 Abordagem aos sete tipos de desperdício

De acordo com Hines et al (2002), desperdício pode ser definido como qualquer coisa que não acrescenta valor para o cliente. Este desperdício pode ser de variadas naturezas: sobre- produção; espera; transporte; processamento inapropriado; inventário; movimento; defeitos (Hines e Rich 1997; Hines et al, 2002; Womack e Jones, 2003). A figura 2.3 salienta estes desperdícios.

2.4.1 Sobre-produção

A sobre-produção é, segundo Hines e Rich (1997), o mais importante tipo de desperdício que impede a movimentação normal dos produtos ou serviços, afectando a produtividade e a qualidade. Este tipo de desperdício leva a um aumento do tempo de armazenamento e do prazo de entrega dos produtos ou serviços. Num ambiente de sobre-produção produz-se mais do que o necessário ou mais cedo do que o necessário (Hines et al, 2002). Este comportamento traduz-se num consumo anormal de matérias-primas, numa utilização excessiva de meios de transporte e de armazenamento, bem como em elevados níveis de stock e mão-de-obra para os controlar.

25 Figura 2.3- Natureza dos desperdícios

Fonte: Elaboração própria a partir de Hines e Rich, 1997; Hines et al, 2002; Womack e Jones, 2003

2.4.2 Espera

O tempo é um recurso limitado e não recuperável. De acordo com Hines e Rich (1997), quando este é usado de forma ineficaz surge o desperdício da espera. Os autores adiantam que, num cenário de produção, este desperdício ocorre quando os materiais não estão em movimento, ou em situações em que não estão a ser trabalhados. Os funcionários também são afectados, dado que gastam o tempo à espera. Hines et al (2002) associam este desperdício a casos de fraca performance na entrega de produtos ou na prestação de serviços. No entanto, a espera pode também ser resultado de avarias nos equipamentos, atrasos ou falta de materiais ou de mão-de-obra.

2.4.3 Transporte

O desperdício transporte surge em situações de excessivos movimentos de pessoas, de informação ou de materiais, traduzindo-se em perda de tempo e em custos que poderiam ser reduzidos (Hines et al, 2002). Os materiais deverão fluir de uma etapa do processo para a seguinte o mais rápido possível e sem interrupções ou armazenamento intermédio, dado que as equipas de trabalho e as áreas de suporte deverão estar próximas umas das outras. Estas

Natureza dos desperdícios Movimento desnecessário Inventário Processamento inapropriado Transporte Espera Sobre- produção Defeitos 25

26 ideias foram igualmente defendidas por Hines e Rich (1997), que afirmaram que qualquer movimento numa fábrica ou área de produção pode ser visto como um desperdício e a distância entre as equipas e as áreas de suporte gera excessivos movimentos de materiais, ficando estes sujeitos a possíveis deteriorações e, consequente, perda de qualidade.

2.4.4 Processamento inapropriado

O processamento inapropriado ocorre em situações nas quais são adoptadas soluções complexas para situações ou procedimentos simples (Hines e Rich, 1997) ou, segundo Hines

et al (2002), quando, em processos de trabalho, são usadas determinadas ferramentas ou

adoptados determinados procedimentos quando outros mais simples poderiam ser mais eficientes.

Estamos perante este desperdício quando são realizados esforços redundantes que não acrescentam valor a um produto ou serviço e resultam em deficiente organização do espaço de trabalho, em excessivo transporte e em fraca comunicação. Na origem deste desperdício poderão estar instruções de trabalho pouco claras ou especificações de qualidade mais rigorosas que o necessário.

2.4.5 Inventário

O desperdício inventário surge quando qualquer material ou produto existe em quantidade superior ao necessário para o processo ou para o cliente. Um inventário desnecessário, segundo Hines e Rich (1997), gera um elevado stock e, consequentemente, aumenta os custos com o armazenamento, tende a aumentar o lead time internoimpedindo a rápida identificação dos problemas fazendo aumentar o espaço, dificultando assim a comunicação. Resulta numa utilização excessiva de recursos, tanto de mão-de-obra como de equipamento. Esta situação, segundo Hines et al (2002), leva a um deficiente serviço prestado ao cliente.

2.4.6 Movimento

Qualquer movimento das pessoas que não contribua para gerar valor acrescentado ao produto ou serviço é considerado desperdício. O movimento desnecessário é, na opinião de Hines e Rich (1997), cansativo para os empregados provocando, assim, diminuição da produtividade e, muitas vezes, problemas de qualidade. A deficiente organização do local de trabalho, a incorrecta disposição dos equipamentos, bem como práticas de trabalho incorrectas, são algumas das causas deste tipo de desperdício (Hines et al, 2002).

27 2.4.7 Defeitos

O último tipo de desperdício, os defeitos, que resultam de problemas internos de qualidade, têm como consequência problemas na qualidade dos produtos ou serviços e deficiente performance de entregas ao cliente (Hines et al, 2002). Exemplo dos referidos problemas internos é a produção de danos aos produtos no transporte ou no armazenamento.

Para Hines e Rich (1997), este tipo de desperdício pode ser visto como uma forma de aprendizagem. A filosofia adoptada pela Toyota, a qual defende que os defeitos devem ser tidos como oportunidades de melhoria, é um exemplo desta posição.

Devido à diferença de tangibilidade dos serviços, Hines e Martins (2005) redenominaram os sete tipos desperdícios, mantendo o mesmo sentido lato que os anteriormente definidos, derivados do sistema de produção da Toyota. Assim, são identificados: a espera, associada ao atraso das entregas, a longos tempos de resposta dos serviços e espera do cliente pelo serviço prestado; a perda de oportunidades, nomeadamente a perda de clientes; os erros, quer sejam decorrentes de falhas de audição ou erros de transacção; os movimentos desnecessários, quer sejam de pessoas ou de documentos de trabalho e que derivam de um fraco layout; o inventário incorrecto, ou seja, competências no lugar errado ou no tempo errado; e, por fim, o desperdício da duplicação, presente na reintrodução de dados e nos erros decorrentes da correcção.