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Com grande frequência autores vários tais como DiMaggio (1989), Turner (1993), Freidson (1994), Johnson (1994), e MacDonald (1995) consideram ―The System of Professions, an essay on the division of expert labour‖ de Andrew Abbott um facto decisivo pois introduz, ―um novo paradigma teórico-metodológico, incorporando os anteriores e ilustra a formulação proposta, com análises empíricas‖ (Rodrigues (2002:93).

Abbott (1988) formula cinco pressupostos de acordo com a crítica que faz aos conceitos de profissionalização e profissão, que são:

― o estudo das profissões deve centrar-se na área de actividade sobre as quais detêm o direito de controlar a prestação de serviços – jurisdições - no tipo de trabalho que desenvolvem e nas condições de exercício da actividade e não apenas nas suas características culturais e organizativas;

as disputas, os conflitos e a competição em áreas jurisdicionais constituem a dinâmica de desenvolvimento profissional, pelo que a história das profissões é a história das condições e consequências da apresentação, de reclamação de jurisdição pelos grupos ocupacionais, nas áreas ocupacionais que já existem, são criadas ou estão sob o domínio de qualquer grupo;

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as profissões existem no conjunto do sistema ocupacional e não como entidades isoladas, pelo que a sua abordagem deve considerar o sistema de interdependência que caracteriza as relações entre os grupos profissionais; o principal recurso na disputa jurisdicional, e a característica que melhor define profissão, é o conhecimento abstracto controlado pelos grupos ocupacionais: a abstracção confere capacidade de sobrevivência no competitivo sistema de profissões, defendendo de intrusos, uma vez que só um sistema de conhecimento governado por abstracção permite redefinir e dimensionar novos problemas e tarefas;

os processos de desenvolvimento profissional são multidireccionais não se podem sustentar as teses de tendência (profissionalização ou desprofissionalização)‖ (Rodrigues, 2002:94-95.

Rodrigues, diz-nos ainda que, Abbott (1988) desenvolve três níveis de apreciação na sua proposta teórico-metodológica:

1. as pretensões de jurisdição apresentam-se dentro dum ―processo e as condições do estabelecimento efectivo e da manutenção de jurisdição, de que são elementos fundamentais, a natureza do trabalho profissional e as estruturas que suportam as pretensões de jurisdição através das quais estas são apresentadas, avaliadas e estabelecidas‖ (2002:95).

Neste sentido, Abbott acha que o tipo de trabalho profissional determina a vulnerabilidade das jurisdições, perante interferência de grupos competidores.

A actividade profissional vai de encontro aos problemas humanos, que podem ser resolvidos pelos serviços dos expertos / peritos. Os problemas podem ser individuais ou colectivos, relativos a distúrbios ou perturbações que imperam resolução. Considera ainda Rodrigues que diagnóstico (classificação das situações para que possa transmitir a informação), inferência (actua quando há dificuldades ente o diagnóstico e o tratamento, excluindo ou construindo) e, tratamento para Abbott são, os três actos da prática profissional ―cuja sequência corporiza a lógica cultural essêncial da prática profissional‖ (Rodrigues,2002:95-96).

―As tarefas recebem qualidades subjectivas‖ que corporizam o conhecimento de uma ―pretensão jurisdicional‖ (Rodrigues,2002:96).

Aqui o conhecimento académico é a base padrão, a formalização do conhecimento profissional, o saber-fazer é da consideração dos académicos, ―cujo critério não é o da clareza prática e da eficácia, mas o da consistência lógica e da racionalidade‖ (Rodrigues,2002:96).

Abbott diz que ―(…) no poder e no prestígio está a capacidade duma profissão para manter uma jurisdição, assenta este no seu conhecimento académico. Este prestígio reflecte o erro do Público que está convicto que o conhecimento abstracto profissional, implica trabalho profissional efectivo. O facto é que o verdadeiro uso do conhecimento profissional académico é menos prático que simbólico. O conhecimento académico legitima o trabalho profissional através de clarificar os seus fundamentos e levá-los a valores culturais máximos. Nas profissões mais modernas estes têm sido os valores de

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racionalidade, lógica e ciência. Os profissionais académicos demonstram rigor, clareza e o carácter lógico científico do trabalho profissional, assim legitimando o trabalho no contexto de valores mais elevados‖ (Abbott,1988:53-54).

Há uma ênfase no ―conhecimento e no grau de abstracção do mesmo‖, necessário à competição inter-profissional; embora relativo, pois é baseado no tempo e espaço do sistema das profissões. Para manter uma jurisdição haverá um controlo social e cognitivo da parte da profissão, seguindo valores de base e influenciando ―nos campos da opinião pública, legal ou nos locais de trabalho‖ (Rodrigues,2002:97-99).

2. As profissões diferenciam-se a nível interno, podendo afectar e traduzir-se em ―transformações no poder e na legitimidade dessas mesmas profissões‖;

3. A análise é feita nas fontes de mudança fora do sistema, dentro dum contexto sociocultural, sobre ―as mudanças macro-sociais no conhecimento, na tecnologia, e nas organizações‖ (Rodrigues,2002:95).

Para estes últimos dois tipos analíticos, subjacentes para com a dinâmica e o equilíbrio do sistema profissional, Abbott considera que há forças internas e forças externas. As primeiras têm a ver com novos conhecimentos ou saberes, fazer e promover mudanças na estrutura social profissional; as segundas implicam alterações provocadas pela tecnologia, situações culturais ou alterações nas organizações. Introduzem assim mudanças que provocam distúrbios, com propagação no sistema até serem absorvidas tanto pela profissionalização como pela desprofissionalização ou absorção de grupos, já existentes nas estruturas internas. Ainda nos diz que, as diferenças internas produzem mecanismos de dinâmica no sistema, sem estas diferenciações internas, no mundo das relações interprofissionais, não podia existir uma ‗décalage‘ entre o formal e o informal. Apontam-se quatro grandes tipos de diferenças internas: - nos padrões de carreira, por cliente, organização do trabalho e, estatuto intra- profissional.

Ainda verificamos, segundo Rodrigues que o estatuto intra-profissional conectado com a estratificação dentro da profissão tem a ver com um afastamento das tarefas no espaço público, assim ―os profissionais que recebem dos pares mais elevado estatuto são os que trabalham no meio mais puro profissional…‖ (2002:99).

Também é dito por Rodrigues que ―a diferenciação por clientes reforça as diferenças de estatuto intraprofissional‖ ou seja, quanto mais elevado for o estatuto do cliente assim se reflecte no profissional (2002:100).

Portanto, as situações de trabalho constituem uma forma de diferenciação interna, no sentido do tipo de organização, o estatuto jurídico estabelecido e, por exemplo na dimensão da organização.

No entanto, Abbott realça que o mais importante na situação do trabalho é o grau da divisão do trabalho na actividade profissional, e não, a dimensão da organização ou o controlo. Assim esta forma de divisão do trabalho, pode verificar forças de mais elevado ―estatuto intraprofissional‖ deixando certas actividades consideradas ―impuras‖ para certos segmentos da profissão, configurando certas actividades ―de rotina e elementos

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de não rotina‖ levando a uma bipartição do grupo profissional, com diferentes posicionamentos hierárquicos e de poder (Rodrigues,2002:101).

Os padrões de carreira, uma outra forma de diferenciação interna. Há carreiras tipificadas, há carreiras oficiais e não oficiais, podendo conduzir a uma necessidade de maior ou menor formação cujas direccionam para diferentes estatutos.

Abbott concebeu uma ―abordagem dinâmica‖ na compreensão das profissões. Afirma-se que dentro duma cada vez maior especialização e divisão do trabalho, a relação entre as ocupações é vista como factor importante nesta análise, aparentemente há um equilíbrio e uma calma no sentido em que cada ocupação realiza um conjunto de tarefas específicas, individualizadas, complementando-se. Constata-se ‗in situ‘ que ocorrem muitos conflitos pelas várias áreas de actividade, verificando-se na resolução de conflitos uma redefinição das relações entre as várias ocupações (Rodrigues,2002:103).

Neste sentido, haverá uma identificação de condições e recursos usados nas tentativas de mudança jurisdicional. Assim propõe este, um modelo para estabelecimento e manutenção das condições das áreas jurisdicionais:

1. ―a natureza das tarefas (diagnóstico, tratamento e inferência) e a estrutura intelectual que articula diagnóstico e tratamento, que é o centro da aprendizagem profissional;

2. as estruturas que suportam as reclamações e através das quais são avançadas ou desenvolvidas, avaliadas e fixadas as jurisdições‖;

3. situações culturais e históricas, que podem provocar alterações nas ―características do sistema ocupacional e afectar a extensão da competição‖ (Rodrigues,2002:103-104).

Ainda analisa fontes de mudança no sistema através:

duma diferenciação interna, provocado por mudanças tecnológicas e organizacionais, criando e destruindo novas actividades às quais as profissões tentam controlar;

mudanças na cultura, determinando como a pretensão jurisdicional avança, e é legitimada.

Em síntese, esta abordagem íntegra vários paradigmas Sociológicos das Profissões, pese embora, Abbott incide mais sobre o Interaccionismo simbólico de Hughes. Para além do que é reconhecido, ainda usa conceitos de segmentação intraprofissional, para compreender a base social dos conflitos interprofisssionais. Neste sentido, ainda se verifica que ―as clivagens e segmentações intraprofissionais‖ levam a estratégias de alargamento de influência por parte de áreas que se acham com recursos para tal, invadindo fronteiras e limites que os separam de outros grupos. Nota-se todavia uma clara influência da teoria funcionalista, centralizando-se no conhecimento como atributo característico das profissões. Avaliam o conhecimento como elemento de estabelecimento das jurisdições, naquilo que tem a ver com manutenção, fortalecimento e fixação. Ainda analisa os processos de rotina e codificação como factores que facilitam o acesso de outros grupos ao conhecimento de base de determinado grupo dominante. Verifica-se com mudanças nos currículos, nos sistemas de ensino; permitem-se usar,

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possuindo conhecimentos de base, assim argumentando para justificar a invasão de outras jurisdições (Rodrigues,2002:105).

Finalmente ―a questão do poder, no modelo de Abbott,‖ dentro desta abordagem sistémica e comparativa, verifica o próprio conceito, de auto interesse e de acção política para a resolução de conflitos, ―torna-se mais evidente na análise da fixação de jurisdição nas arenas pública e legal; nestes níveis, os atributos possuídos pelas profissões, tal como o conhecimento para realizar certas tarefas competentemente podem ou não ser um facto‖, portanto, podem não ser verdade; baseando-se, que ―o que é importante é que a elite social, bem como os legisladores, esteja convencida da realidade de tais atributos‖ (Rodrigues,2002:105).

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