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4. PARADIGMA DO PODER PROFISSIONAL

4.2 Proletarização

Oppenheimer (1973:214) colocou os profissionais num novo proletariado, ou seja como assalariados, implicando a perca de valores e comportamento ou seja, a perca de privilégios. Descreve-nos o profissional como o oposto ao trabalho proletarizado, isto é, ―o outro pólo do continuum com características opostas à do trabalho proletarizado‖ sendo o «trabalho profissional aquele no qual há discrição e julgamento pelo trabalhador, que não é facilmente padronizado e para o qual são requeridos elevados níveis de formação…». Neste sentido, as profissões dominantes tais como engenheiros, médicos e advogados, incluindo semiprofissões tais como a dos enfermeiros, devido à burocratização estão a ficar proletarizadas (citado por Rodrigues,2002:73).

Scambler, diz-nos que é possível a ―autonomia da profissão médica ser cada vez mais limitada, pelas tentativas de controlo de custas, pelos investidores a tentarem mais proveitos e, pelos pacientes a desenharem os seus próprios cuidados. Tais mudanças segundo Light & Levine (1988), podem-se verificar nos Estados Unidos da América onde as tentativas de controlo de custas parecem ter o maior impacto‖ (1995:230-231).

Rodrigues afirma que algum contexto existe induzindo a tal, como é o caso ―do crescimento do aparelho de Estado‖ ao empregar estes profissionais. Portanto, o seu próprio crescimento induz a este processo de proletarização, como bem assim,

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relacionado com a mão-de-obra ―a excessiva oferta e a massificação do ensino‖ (2002:73).

No contexto da desprofissionalização, os processos internos de especialização, a evolução tecnológica e a acção dos consumidores, argumenta que, a Proletarização aumenta o declínio de competências e qualificações, como incrementa ―a diminuição da autonomia do trabalho dos profissionais‖ (Rodrigues,2002:74).

Braverman (1974) defende as teses de proletarização, acentuando-se na desqualificação, fragmentação e na rotina, relacionada com o chamado ―poder burocrático-administrativo‖ capitalista dando azo à incapacidade de poder escolher tarefas, trabalhando dentro de padrões institucionalizados (Rodrigues 2002:74). Tudo isto resulta na alienação do trabalho tendo as sociedades modernas e capitalistas degradado a dignidade das tarefas, a identidade e autonomia sendo o controlo do trabalho recolocado nas máquinas, estabelecendo uma conexão entre os operários de ofício dos princípios do século XX.

Assim considera lógica, os processos de organização baseados no capitalismo tais como: o aumento da produção, o máximo de controlo sobre os trabalhadores e, tentando baixar os custos do trabalho complexo, tentando colocar rotinas e simplificando tais tarefas.

Pese embora, Boreham (1983), segundo Rodrigues, argumenta que tanto o número como a influência das profissões não é mais do que uma questão estatística de emprego, com categorização e manipulação de números, neste sentido dá o exemplo dos engenheiros em que ―o sucesso profissional depende mais das carreiras burocráticas do que de carreiras ou da realização de trabalho técnico‖ (2002:78).

No entanto Freidson (1994) contesta as teses ―do declínio profissional‖ ou seja, a desprofissionalização e a proletarização, como as teses da ―dominância que desvalorizam e avaliam negativamente esse poder,‖ pois afirma que tanto as ―instituições de formação, as condições de actividade, como a natureza do poder profissional mantêm-se intactas e que a natureza do poder profissional não foi grandemente afectada‖. Também a integração dos profissionais como assalariados em grandes organizações condiciona o exercício independente de maneira diferente nas várias profissões (Rodrigues,2002:79).

Portanto há vários quadros que são complexos e não lineares para poderem ser interpretados duma forma singela. Assim o facto de se ser assalariado ou independente não pode ser considerada uma medida do poder profissional, nem do controlo do trabalho, ou seja o auto-emprego não é singelamente uma medida para avaliar os termos, os objectivos do trabalho, nem as condições.

Freidson (1994) considera que as profissões têm capacidade para influenciar decisões de investimento, e mais do que o poder das profissões, o que pode ser afectado, é a sua relação e o lugar no mercado e, a importância dada aos produtos ou serviços que estes produzem que serão afectados pela economia em geral, mas também pela parte económica, ou seja, ―pelas decisões do Estado ou da economia privada‖ (Rodrigues 2002:80).

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Rodrigues continua dizendo, que se verifica uma tendência para a qual há algumas teses, Derber e Schwartz (1988; 1992) ―realizaram estudos empíricos em profissionais integrados em organizações, destinados a medir certos parâmetros de profissionalização‖, tais como autoridade, satisfação no trabalho, autonomia, o conflito e a identificação com os objectivos da organização; o estudo não detectou perdas importantes de autoridade e autonomia (tais como controlo da selecção de casos, procedimentos, técnicas empregues, horas e ritmo de trabalho) mas, verificaram-se percas na avaliação e rendimento do trabalho, como ―também o número de tarefas e tempo de realização‖ (2002:82).

Mckinlay e Arches (1985) tentarem ―comprovar as teses de proletarização analisando o caso excepcional da profissão médica que através do uso duma grande variedade de tácticas ao dispor de alguns grupos de elite‖, evitou até agora o processo de proletarização. Mas com o desenvolver da burocratização, devido à expansão capitalista, estão reduzidos a funções proletárias e subordinados a situações, onde impera o lucro da produção assente no trabalho do médico (Rodrigues:84-85).

Os privilégios perdidos, segundo Rodrigues, são:

1. capacidade em ―controlo sobre os critérios de recrutamento ou entrada na profissão (…) como o conteúdo de formação‖;

2. autonomia conectada com os objectos, instrumentos, meios de trabalho, e ―níveis de remuneração‖ (2002:85).

Rodrigues por suas palavras diz-nos ainda que Mckinlay e Arches (1985:164) afirmaram que esta proletarização está relacionada com a burocratização, que tem a ver ―com uma manifestação da presença de interesses do capitalismo em certas áreas de actividade‖ (2002:85).

Ainda acham que no caso dos médicos a proletarização tem início na actividade do Estado, pelas intervenções que vão do tipo e natureza da formação, à forma como funciona a actividade e o exercício da profissão. Concordam com alguma ocorrência que Haug anuncia, quanto à desprofissionalização, com o aumento dos conhecimentos da população em geral, a introdução de novas tecnologias, embora considerem que o poder de controlo seja mais pelo capitalismo, do que pelos consumidores informados. Freidson (1986) in Professional Powers evidenciou a distância entre os profissionais das organizações em relação aos proletários tais como os ―salários, controlo do acesso à profissão, valores adquiridos com a formação universitária, posição de privilégio nas negociações e relações industriais‖ (Rodrigues 2002:86).

Também Forsyth e Danisiewicz (1985) consideram o poder profissional central ao conceito de profissão, colocando a autonomia em relação à entidade que os emprega e ao cliente.

Couture (1988a) com um trabalho de investigação empírica ―contesta as teses de desprofissionalização, proletarização ou desqualificação dos profissionais‖, analisou as novas tecnologias relacionando as práticas do médico em relação ao estatuto do grupo profissional e a qualificação. ―Considera que as profissões estão numa situação particular no que respeita às inovações técnicas. Estas são objecto de negociação e a

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seu propósito os diversos grupos e segmentos dentro dum mesmo grupo desenvolvem relações dinâmicas que lhes permite reposicionarem-se‖ (Rodrigues,2002:86).

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