• Nenhum resultado encontrado

1.5.1 Uso de opioides em idosos com dor lombar

Uma das abordagens comumente utilizadas para o manejo da DL em idosos é o uso de medicamentos analgésicos. Macfarlane et al. identificaram no MUSICIAN Study que as chances de receber prescrição de medicamentos em indivíduos acima de 70 anos, quando comparados aos de 40 anos ou menos, foi de RC 3,90 (95% IC de 1,16 a 13,15) (MACFARLANE et al., 2012). Assim, esta abordagem parece ser mais comumente prescrita para esta população. Enthoven et al., ao publicar dados do estudo BACE-Holanda, apontaram que 72% dos participantes no baseline relataram o uso de medicamentos analgésicos para DL (ENTHOVEN et al., 2014).

Embora as diretrizes para o manejo da DL incluam medicações mais simples como analgésicos (paracetamol) para primeira escolha terapêutica, os opioides são frequentemente usados em pacientes com DL ( CHAPARRO et al., 2014; DEYO et al., 2015). Sobre o uso destes medicamentos em idosos, ressaltam-se os efeitos adversos importantes na população idosa como aumento do risco de hospitalizações, assim como de quedas e fraturas, constipação intestinal e alterações cognitivas

(SOLOMON et al., 2010; MILLER et al., 2011; RUBIN, 2014; MAKRIS et al., 2015). Além

disso, a abordagem medicamentosa deve sempre ser criteriosamente analisada, sabendo que, em geral, os idosos utilizam outros medicamentos para outras condições de saúde. Entretanto, existem poucas informações sobre o uso desses medicamentos em idosos com DL.

1.5.2 Exercícios terapêuticos em idosos com dor lombar

A terapia por meio de exercícios tem sido preconizada como uma das principais abordagens terapêuticas para prevenção, tratamento e de recorrências de episódios de DL (STEFFENS et al., 2016). Entretanto, na maior parte dos estudos sobre DL a amostra de idosos é pouco representada ou excluída, impedindo a real caracterização desta população (SCHILD VON SPANNENBERG et al., 2012; PAECK et al., 2013). Em geral,

alguns poucos estudos já foram publicados com público exclusivamente idoso (LIU- AMBROSE et al., 2005). Liu-Ambrose (2005) identificou que, em 98 mulheres idosas de 75 a 85 anos de idade, com queixas de dor lombar e história de osteoporose, um programa de 25 semanas de exercícios de forca e agilidade foi efetivo para melhora da dor e qualidade de vida. Entretanto, as revisões sistemáticas sobre o tema de exercícios terapêuticos não analisam esta parcela populacional. Além disso, muitas vezes os desfechos investigados são menos relevantes para estes, e pouco se explora sobre o impacto destes exercícios na capacidade funcional do idoso com DL. Por isso, o impacto da DL no idoso, e de sua abordagem mediante aspectos peculiares ao envelhecimento, ainda está fragilmente estabelecido.

1.6 Justificativa

Mediante a explanação realizada, fica clara a importância do conhecimento sobre a DL à luz do processo do envelhecimento. Existe uma carência de informações que possam caracterizar a DL em idosos de maneira a identificar como fatores sociodemográficos, de estilo de vida, psicológicos e físico/funcionais compatíveis com o processo do envelhecimento se dispõem na presença da DL. Apesar do estudo GDB 2010 mostrar o impacto da DL internacionalmente, o mesmo chama atenção para a escassez de informação nos dados coletados em países em desenvolvimento, quando comparados a países desenvolvidos, e solicita a compreensão do crescente impacto da DL nestes locais (HOY et al., 2014). Tal limitação dificulta ainda a visão adequada de sua abordagem pelos profissionais de saúde e, em uma visão mais abrangente, para que sejam propostas estratégias de gestão desse problema pelos sistemas de saúde.

Mesmo escassas, as informações disponíveis sugerem que aspectos socioculturais, econômicos e de acesso à saúde de uma população podem influenciar na percepção da DL e incapacidades a ela associadas. Resta, portanto, o desafio de demonstrar quais são os aspectos funcionais, psicológicos e sociais envolvidos com a DL em idosos considerando o contexto no qual ele está inserido, para aumentar sua funcionalidade, e reduzir dependência e agravos em saúde. Estudos que caracterizam um novo episódio de dor em idosos são relevantes para facilitar a compreensão do curso da mesma no idoso que parece ser diferenciado quando comparado ao visto para o adulto jovem. Em âmbito global, analises entre países incentivam que políticas de saúde mais consistentes possam ser planejadas e desenvolvidas para reduzir os

custos associados a seu tratamento, visando à promoção da funcionalidade nestes indivíduos e minimizando prejuízos na independência do idoso.

Assim, estudos transversais como os conduzidos neste trabalho, embora não teçam relações de causalidade ou de prognóstico para cronicidade da DL, são úteis para descrever o evento de um novo episódio de DL em idosos, caracterizando-os, e para identificar fatores associados com a DL (BASTOS, 2007). Ademais, este

delineamento favorece a identificação de perfis dos idosos aos quais mostram características que podem ser fatores de risco para persistência da dor, e servem como arcabouço para fundamentar investigações que, em longo prazo, possam delimitar o seu curso e os fatores contribuintes. Portanto, é preciso investigar se um novo episódio de dor lombar aguda interfere nos diversos componentes multidimensionais da saúde do idoso.

Finalmente, ao identificar que muitos dos idosos são excluídos em estudos sobre a abordagem da DL (PAECK et al., 2014), torna-se necessário investigar o processo de avaliação e tratamento dessa condição de saúde somando esforços para analisar como idosos que apresentam processos biológicos e psicológicos diferenciados responde a intervenções para tratamento desta. O compromisso dos profissionais de saúde e, em aspecto amplificado, da Ciência em Saúde em uma sociedade que está envelhecendo é não somente propiciar anos de vida, mas dar qualidade aos anos vividos. Em se tratando da parcela da população que mais cresce mundialmente, existe a necessidade de estudos conduzidos com amostras significativas idosos para que as evidências fornecidas possam favorecer o cuidado em saúde destes que sofrem de DL. Tais evidências podem facilitar a tomada de melhores decisões clínicas, possibilitando uma abordagem para o enfrentamento mais eficaz desta condição de saúde.

1.7 Objetivos

1.7.1 Objetivo geral

Analisar aspectos multidimensionais da dor lombar de idosos brasileiros e holandeses participantes do Estudo multicêntrico internacional Back Complaints in the Elders (BACE), assim como de idosos americanos do estudo Back Pain Outcomes using Longitudinal Data (BOLD).

1.7.2 Objetivos específicos

- Descrever o perfil dos idosos brasileiros participantes do BACE Brasil quanto a dados sociodemográficos, clínicos, fatores comportamentais, de estilo de vida, e aspectos físico/funcionais associados à DL (estudo 1);

- Identificar a associação entre atividade física e incapacidade em idosos brasileiros com DL e explorar possíveis padrões de associação entre eles mediados por sintomas depressivos (estudo 2);

- Analisar o impacto da DL em participantes do BACE Brasil e do BACE Holanda, identificando as diferenças associadas à DL (estudo 3);

- Descrever o manejo farmacológico por meio de opioides em participantes do BACE Brasil, BACE Holanda e do estudo americano BOLD (estudo 4);

- Realizar por meio da metodologia proposta pelo grupo Cochrane um protocolo de pesquisa para executar uma posterior revisão sistemática e meta-análise para verificar o efeito de exercícios terapêuticos para a melhora de dor e/ou função em idosos com DL (estudo 5).

Documentos relacionados