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1.2 Objetivos

2.1.3 Abordagens teóricas sobre internacionalização de empresas

2.1.3.2 Abordagens comportamentais

Com um enfoque diferente da abordagem econômica, encontram-se as linhas de estudos que visualizam o processo de internacionalização por meio de uma abordagem comportamental. Dentro desta abordagem encontra-se a linha de estudos do empreendedorismo internacional, a teoria da internacionalização por estágio (Modelo de Uppsala) e a teoria de networks.

a) Empreendedorismo internacional

A partir da década de 90, uma nova linha de pensamento tem tentado explicar o processo de internacionalização, principalmente a partir de empresas que desde seus primeiros anos de vida já desenvolvem atividades internacionais. Esta linha de pesquisa denomina-se empreendedorismo internacional, ou “international entrepreneurship” em sua versão original, que teve sua primeira aparição em um artigo escrito por J. F. Morrow em 1988, seguido por P.P. McDougall em 1989, que pavimentou o caminho para os primeiros estudos acadêmicos

em empreendedorismo internacional (MCDOUGALL e OVIATT, 2003). Estes estudos iniciais proveram uma base teórica para o desenvolvimento do empreendedorismo internacional, que em sua definição inicial limitava o termo a novos empreendimentos de nível internacional. Oviatt e McDougall (1994, p. 49) definiram empreendedorismo internacional como “uma organização comercial que, desde sua criação, obtém significantiva vantagem competitiva no uso de recursos e a venda de produtos finais em vários países”.

A razão para o foco dos estudos sobre empreendedorismo internacional terem sido direcionados inicialmente para empresas que desenvolvem atividades internacionais desde a sua fundação, explica-se pelo fato de os primeiros estudos da área coincidirem com o fenômeno das Born Globals. Para Andersson e Wictor (2003), são consideradas Born Globals as empresas que possuem no mínimo 25% do seu faturamento fruto de vendas fora de seu país sede dentro de três anos depois da sua criação e que possuem vantagem competitiva no uso de recursos e vendas de produtos em vários países.

Nos anos 90, o entendimento sobre empreendedorismo internacional começou a ficar mais refinado (MCDOUGALL e OVIATT, 2000). Wright e Ricks (1994) colocam que mesmo empreendedores com uma visão mais local devem estar atentos com as empresas que atuam internacionalmente, haja vista que estas empresas podem se tornar concorrentes no mercado local.

A percepção desta nova realidade nos remete a uma nova conceitualização do termo. Assim, Mcdougall e Oviatt (2000, p. 6) definem empreendedorismo internacional como “a combinação de inovação, pró-atividade e aversão ao risco que cruza ou é comparado através das fronteiras nacionais e planeja criar valor em negócios da organização”. Nesta visão defendida por Mcdougall e Oviatt (2000), idade, tamanho e característica de empresa não são os elementos principais para que uma empresa se internacionalize, sendo que os elementos principais para a internacionalização seriam as características empreendedoras da organização. No entanto, para estes autores, ficam excluídas da definição as organizações sem fins lucrativos e organizações governamentais. A inclusão de empresas já estabelecidas corrige uma falha no campo do empreendedorismo, visto que desmistificou que empresas bem estabelecidas não são inovadoras e possuem aversão ao risco (ZAHRA e GEORGE, 2002).

O desenvolvimento dos conceitos de empreendedorismo internacional ocorreu a partir da assimilação da importância do papel desempenhado pelos indivíduos-chave no processo de internacionalização da firma. Para Andersson (2000) o conceito de empreendedorismo internacional uniu os conceitos macroestruturais da empresa com os conceitos processuais de estratégia de internacionalização, por meio da ação empreendedora de um indivíduo. Tornando o empreendedor a peça fundamental no processo de internacionalização, visto que não seria suficiente dispor de recursos e oportunidades, se a internacionalização não fosse desejada e realizada por pessoas da organização que possuem um comportamento empreendedor. Na perspectiva de Yeung (2002), empreendedorismo internacional supõe que o empreendedor deve ser dotado de controle dos recursos, capacidade de controle das estratégias e habilidades para criar e explorar oportunidades em diferentes países. Estas características, especialmente a necessidade de inovação e a aversão ao risco necessárias nas empresas para expandirem suas operações internacionais, fazem do empreendedorismo internacional um único e interessante campo de pesquisa (ZAHRA e GEORGE, 2002).

A base da teoria do empreendedorismo internacional está no principio da inovação. Na visão de Schumpeter (1982), inovação está associada a novas combinações de recursos existentes que refletem na introdução de novos produtos, introdução de um novo método de produção, abertura de um novo mercado, conquista de uma nova fonte de suprimentos e criação de uma nova organização (HURMERINTA-PELTOMÄKI, 1996).

Aplicando uma perspectiva de inovação em um contexto de exportação observa-se que a opção estratégica de internacionalização é caracterizada como um processo que demanda inovação (HURMERINTA-PELTOMÄKI, 1996). Na concepção de Chandra (2004), empreendedorismo consiste no reconhecimento e exploração de oportunidades em novos mercados, domésticos ou internacionais. Nestas condições, a entrada em mercados internacionais pela empresa pode ser considerada uma atividade empreendedora, visto que esta requer decisões inovadoras por parte de um empreendedor na construção de novos meios para novos fins (novos mercados), através da introdução de produtos ou serviços em mercados internacionais.

b) Teoria de internacionalização por estágio

Dentre as teorias comportamentais, a de maior destaque é a teoria de internacionalização por estágio, conhecido como modelo de Uppsala. Formalizado com o desenvolvimento de vários trabalhos na década de 70, este modelo focou-se inicialmente no processo de internacionalização de empresas suecas manufatureiras. A partir de então, foi desenvolvido um modelo de como estas empresas escolhiam mercados e formas de entrada em mercados estrangeiros (HILAL e HEMAIS, 2001). Seguindo este modelo, o processo de internacionalização da empresa consiste numa expansão geográfica caracterizada por passos de natureza incremental, ou seja, este processo não ocorre em uma seqüência de ações planejadas e baseadas em uma análise racional e sim visando se beneficiar da aprendizagem sucessiva através de etapas de comprometimento crescente com os mercados estrangeiros (JOHANSON e VAHLNE, 1977).

Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) responsáveis pela confecção de um dos primeiros trabalhos sobre esta teoria, colocam que uma empresa já internacionalizada estende suas atividades no exterior à medida que a percepção do risco de internacionalização diminui, passando a se expor mais aos efeitos da operação no exterior e avançando no estágio de internacionalização procurando maior controle sobre a operação. Os autores ainda colocam que a empresa tende a iniciar seu processo de internacionalização exportando para países vizinhos e países relativamente similares em termos de cultura ou características de mercado.

Segundo o modelo de Uppsala, é provável que a empresa inicie suas vendas externas via exportação e com um comprometimento limitado frente a estes mercados, normalmente geograficamente próximos ao país sede da empresa. Na medida em que a empresa vai ganhando experiência, aumenta seu comprometimento com o mercado externo, dando um passo à frente no seu processo de internacionalização (JOHANSON e VAHLNE, 1977). Este modelo é chamado de cadeia de estabelecimento e divide-se em quatro estágios, conforme a figura 03.

Tradicional Exemplo de salto na cadeia

Figura 03 – Cadeia de estabelecimento Fonte: Adaptado de Sylverberg, 2004

Sylverberg (2004) explica que uma empresa pode saltar de um estágio para outro, ou ir diretamente para países com uma distância psíquica3 maior, já que o caminho que a empresa escolhe é determinado pela experiência, mas também pela estrutura do mercado. Alguns mercados são mais estruturados, o que não permite a empresa entrar com um alto grau de comprometimento, enquanto que outros são de mais fácil acesso. Outro fator relevante é que no primeiro estágio da cadeia de estabelecimento a empresa basicamente não ganha nenhuma experiência de mercado e, a partir do segundo estágio, o ganho de experiência de mercado é crescente (JOHANSON e VAHLNE, 1990).

Para Johanson e Vahlne (1990) existem algumas exceções ao modelo, ou seja, as empresas podem optar por caminhos diferentes quando estas dispõem de grande volume de recursos para dar grandes passos no processo de internacionalização; quando as condições do mercado alvo são similares a outros mercados em que a empresa já atua; e quando as condições do mercado são estáveis e homogêneas e a empresa pode obter outros ganhos além de experiência. O fator chave na Teoria de Uppsala é referente à percepção da distância psíquica.

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Diferenças percebidas entre valores, práticas gerenciais e educação de dois países (JOHANSON e WIEDERSHEIM-PAUL, 1975). Atividade exportadora não regular Exportação direta ou indireta Estabelecimento de subsidiaria de vendas Produção e/ou manufatura Atividade exportadora não regular Exportação direta ou indireta Estabelecimento de subsidiaria de vendas Produção e/ou manufatura

Atividades no exterior exigem que a empresa saia das fronteiras nacionais, o que cria um grande número de incertezas, como a falta de conhecimento sobre as condições de negócios locais, clientes, procedimentos entre outras questões, juntamente com as dúvidas de como obter estas informações. Contudo, nem sempre este mercado está geograficamente distante, inclusive algumas operações realizadas no mercado doméstico podem estar geograficamente mais distantes que operações realizadas no exterior, mas pelo fato de ser realizada em um país estrangeiro, as diferenças são maiores, denominadas de distâncias psíquicas (HILAL e HEMAIS, 2001).

Estas distâncias psíquicas são definidas por Evans, Treadgold e Mavondo (2000, p. 07), como:

[...] distâncias entre o mercado doméstico e um mercado estrangeiro resultante da percepção e entendimento das diferenças culturais e comerciais. Estas diferenças comerciais devem incluir as variáveis políticas e legais, econômicas, práticas comerciais, língua e estrutura do setor industrial e do mercado em questão.

Conforme Johanson e Wiedersheim-Paul (1975), distâncias psíquicas estabelecem a relação entre as empresas e o mundo em uma distância subjetiva que depende da forma como cada gestor vê o mundo e da sua percepção da realidade. A distância psíquica constitui um importante fator no processo de internacionalização, contudo outros fatores também são de suma importância, como por exemplo, o tamanho do mercado em potencial (SYLVERBERG, 2004). Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) colocam que o peso de importância dada à distância psíquica ou ao tamanho do mercado vai depender do nível de internacionalização em que a empresa se encontra e sua disponibilidade de recursos, ou seja, empresas em um estágio inicial de internacionalização são mais suscetíveis à distância psíquica e à medida que avança o seu nível de internacionalização passa a se interessar mais por fatores externos como o tamanho do mercado.

Para Sylverberg (2004) a distância psíquica não influencia o volume de exportação da empresa e pelo crescimento destas, para os autores, este modelo serve somente para explicar o comportamento exportador da organização. Como visto a Teoria de Uppsala possui algumas limitações e críticas, surgindo teorias que vêem o processo de internacionalização em uma

visão mais ampla, levando em consideração os diversos agentes influentes do processo de internacionalização, denominada de Teoria de Networks.

c) Teoria de Networks

Em uma perspectiva multilateral, em vez da unilateralidade existente no Modelo de Uppsala, está a teoria de networks. Nessa perspectiva o processo de internacionalização seria tanto inter quanto intra-organizacional (LORGA, 2002). A extensão internacional das redes, segundo a autora, dependeria tanto do país quanto do produto e teria fortes implicações na internacionalização da empresa.

A Teoria de Networks coloca que as decisões orgânicas com orientação externa partem de um princípio que considera a influência de agentes externos, mais especificamente dos relacionamentos entre as empresas no processo de internacionalização. Faz parte deste grupo o estudo da internacionalização através de networks, como destaca Pedersen:

nesta perspectiva a internacionalização acontece numa relação diádica entre parceiros que possuam recursos complementares. É o acesso a recursos escassos e a recursos com muito valor que determina o caminho seguido no processo de internacionalização. O esforço pela busca de recursos leva a estratégias que mudam a estrutura de propriedade como integração vertical, ou estratégias que implicam em

joint ventures ou outras relações contratuais (2002, p. 03).

Weisfelder (2001) considera a teoria de networks como uma linha dentro da escola nórdica, ligado ao trabalho seminal de Penrose (1959), influenciado pelo trabalho de Pfeffer e Salancik (1978) e melhor detalhado por Johanson e Mattson (1988). Para estes autores as relações em uma network poderiam ser complementares ou competitivas e a categoria de "internacional entre outros", característica de mercados já fortemente internacionalizados, praticamente exigiria a inserção em networks por parte das empresas.

Johanson e Vahlne (1992) sustentam que a estrutura da rede se dê mais pela interação dos atores do que pelo processo de decisão estratégica, ou seja, a estrutura que forma a rede é expressa através dos laços cognitivos e sociais entre os atores que mantêm negócios. Deste modo, o grau de internacionalização de uma firma reflete não somente os recursos alocados no exterior, mas também o grau de internacionalização da rede em que ela está inserida4.

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Uma tentativa de classificar estas teorias considerando o tipo de decisão envolvida em relação à orientação da empresa e a seu caráter racional ou orgânico está ilustrada no quadro 02.

Característica da decisão

Racional (Econômica) Orgânica (Comportamental) Perspectiva de aprendizado

(Modelo de Uppsala) Interna Perspectiva microeconômica

(Teoria de Custos de Transação) Perspectiva do Empreendedor (Empreendedorismo Internacional) Tipo da decisão/ orientação Externa Perspectiva de Economia Industrial (Teoria de Porter) Perspectiva Interorganizacional (Teoria de networks) Quadro 02 - Classificação das teorias de internacionalização.

Fonte: Adaptado de Strandskov (1995) apud Whitelock e Jobber (2004)