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ABORDAGENS DESENVOLVIMENTISTAS

No documento Mário Roberto Miranda Lacerda (páginas 55-58)

3 CONSCIÊNCIA E A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO O conhecimento, necessariamente, é produto da interação

3.3 ABORDAGENS DESENVOLVIMENTISTAS

As abordagens desenvolvimentistas estão embasadas na teoria do desenvolvimento, e esta se concentra nas mudanças ao longo do tempo. Embora as diversas abordagens desenvolvimentistas tenham conceitos teóricos diferentes, tais como ego, representação mental, rede neural, e outras, e em certos pontos divergem, todas enfatizam as mudanças ao longo do tempo (MILLER, 2002).

Destacar a mudança é uma preocupação recorrente da teoria do desenvolvimento, confluindo em três tarefas:

1. A teoria de desenvolvimento descreve a mudança, ao longo do tempo, em um ou vários domínios de comportamento ou atividade psicológica, tais como: pensamento, linguagem, comportamento social ou percepção;

2. Uma segunda tarefa para a teoria do desenvolvimento é descrever as mudanças ao longo do tempo na relação entre os comportamentos ou aspectos da atividade psicológica dentro de uma área de desenvolvimento e, idealmente, entre as várias áreas de desenvolvimento;

3. Mesmo que a teoria forneça uma descrição completa de desenvolvimento, não representa a transição dos pontos durante o desenvolvimento. Assim, uma terceira tarefa para a teoria do desenvolvimento é a de explicar o curso do desenvolvimento que as outras duas tarefas descrevem (MILLER, 2002).

Entre as diversas abordagens desenvolvimentistas, apresentamos as de Jean Piaget, Erick Erikson, Abrahan Maslow, Robert Kegan, Ken Wilber e Jane Loevinger.

3.3.1 Jean Piaget

Os trabalhos de Jean Piaget (1896–1980) representam um dos marcos teóricos do desenvolvimento em estágios. Neste, o nível de consciência pode ser associado ao desenvolvimento físico-cognitivo da criança, que evolui qualitativamente nas fases:

a) sensório-motor, centrado em processos fisiológicos, sensação e percepção;

b) pré-operacional, emergindo e caracterizando os processos dos impulsos, emoções, imagens e primeiros símbolos;

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c) operacional concreto, refletindo a construção dos primeiros conceitos e introjeção de regras; e, por fim, a fase das

d) operações formais, que é caracterizada pelas possibilidades do pensamento abstrato e as formas mais reflexivas das operações mentais (FLAVELL, 1992; PIAGET, 1970, PIAGET; INHELDER, 1978; PRIM; CUNHA, 2006).

3.3.2 Erick Erikson

Numa outra perspectiva de análise, os estudos de Erik Erikson (1902–1994) influenciaram fortemente a estruturação da psicologia do desenvolvimento. Sua construção teórica apresenta os ciclos de vida. Nestes, a consciência é associada ao desenvolvimento do ego num contexto psicossocial, em que o crescimento e desenvolvimento se dá a partir de crises.

Seus estágios são associados às fases cronológicas de vida: a) confiança vs. desconfiança: corresponde à primeira infância,

quando a criança, após suportar a ausência da mãe e compreender a garantia de sua volta – acaba aprendendo a confiar em si mesma, fazendo frente a seus impulsos e anseios;

b) autonomia vs. vergonha e dúvida: a criança, a partir do controle de suas funções de excreção e primeiro contato com regras, lida com a vergonha e a dúvida em relação às suas capacidades e potencialidades, saindo desta fase com certa autonomia, expansão motora e controle;

c) iniciativa vs. culpa, a confiança e autonomia alavancam a iniciativa: nesta fase, há introjeção da linguagem em termos da alfabetização; consequentemente, há uma expansão intelectual, que favorece o surgimento dos primeiros propósitos;

d) diligência vs. inferioridade: a partir do amadurecimento intelectual, há uma valorização do mundo adulto e uma tentativa de adaptar-se a ele. A ideia de propósito é substituída por perseverança; há um reconhecimento de recompensas futuras a partir de um esforço presente;

e) identidade vs. confusão de identidade: um destaque é dado pelo autor a esta fase, ele ressalta a condição do adolescente na aquisição de segurança diante das suas transformações

físicas e psicológicas. Essa condição é adquirida na forma da autoidentidade.

f) intimidade vs. isolamento: a partir da aquisição da identidade, surge a possibilidade de associação com a intimidade e colaboração mais próxima, de forma que a proximidade com outras pessoas não denote ameaça;

g) generatividade vs. estagnação: quando surge um interesse ou preocupação com o gerar, seja algo físico ou abstrato (como filhos, ideias, ensinamentos); esse estágio tem estreitas correlações com valores culturais, tradição e ensinamentos; h) integridade vs. desespero: é uma fase de reflexão sobre o

significado de suas realizações, o que se realizou e o que se deixou de realizar. O ponto ápice desta faze é lidar com a certeza da finitude, o fim da vida, e é quando algumas pessoas entram em desespero (ERIKSON, 1998, 1976a, 1976b; RABELLO; PASSOS, 2010).

3.3.3 Abrahan Maslow

Partindo de uma análise diferenciada, norteada pelas motivações humanas, Maslow (1954) relaciona a consciência ao desenvolvimento da personalidade, na busca incessante por suprir necessidades. Nesse tocante, a consciência está diretamente associada ao alcance da supressão daquelas. As “necessidades fisiológicas” são primárias; assim que supridas, possibilitam a “busca por segurança”, como por exemplo, a segurança física, de subsistência, de propriedade. Em termos de maior complexidade, surge o “senso de pertencimento” (em relações de amizade, familiares, intimidade). Sucessivamente, na medida em que o indivíduo “avança estágios”, sua busca se dirige à “autoestima” (confiança, conquistas, respeito) e a “autorrealização” (espontaneidade, criatividade, aceitação, tolerância). Uma possível interpretação dos níveis mais altos de autorrealização aponta para a busca de “autotranscendência” (WILBER, 2007; MASLOW, 2001).

A pirâmide das necessidades, de Maslow, representa esquematicamente sua teoria:

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Figura 3: Pirâmide das Necessidades, de Maslow. Fonte: Portal da Administração4.

3.3.4 Robert Kegan

Atendo-se ao mesmo pressuposto conceitual, segundo o qual a forma como o indivíduo dá significado às suas experiências reflete um determinado nível de desenvolvimento e de consciência, Kegan (1982, 1994) aprofunda a análise do fenômeno buscando o mecanismo implícito de ascensão dos estágios. Para tanto, apoiado no método de entrevistas SOI5, o autor busca identificar a relação entre o sujeito e seu

objeto diferenciado. O autor propõe subdividir essa ascensão em seis estágios, denominados “ordens de consciência”:

0 Incorporativo, em que o sujeito age movido por reflexos,

No documento Mário Roberto Miranda Lacerda (páginas 55-58)