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ESCOLHA PARADIGMÁTICA 1 Positivismo

No documento Mário Roberto Miranda Lacerda (páginas 77-82)

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 5.1 DECLARAÇÃO DE VISÃO DE MUNDO

5.2 ESCOLHA PARADIGMÁTICA 1 Positivismo

O positivismo é a escola de pensamento moderna que melhor caracteriza o que Kuhn (1975, p. 29) denominou “ciência normal”, fundamentada em pesquisas firmemente baseadas em uma ou mais realizações científicas passadas, que hoje em dia são relatadas pelos manuais científicos elementares e avançados. A partir da rejeição à metafísica, o positivismo assegura a tese de que a realidade consiste essencialmente naquilo que os sentidos podem perceber. As ciências naturais e sociais compartilham do mesmo fundamento lógico e metodológico, o que não significa que compartilhem dos mesmos procedimentos, pois seus objetos de estudo requerem métodos de

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investigação distintos; há uma distinção entre fato e valor, devendo a ciência se ocupar do primeiro (HUGHES, 1980, p. 29).

Nessa linha de pensamento, apoiada em elementos objetivos, a taxonomia como sistema para classificar e facilitar o acesso à informação, como por exemplo, entre milhares de dados disponíveis na intranet, em portais da internet e em bancos de dados, é mais um dos frutos pós-modernos dessa herança positivista. Ela é baseada em “regras” definidas por especialistas de domínio, aplicadas ao conteúdo de documentos textuais, metadados (informações sobre informações), cálculos probabilísticos, análises semântico-linguísticas e definições “vetoriais”, que, pela frequência de palavras e localização num texto sistematiza conhecimentos sobre determinado tema organizando e facilitando seu acesso (TERRA et.al., 2010). É um dos fundamentos básicos da gestão do conhecimento, como diferencial competitivo para organizações intensivas em conhecimento no mundo globalizado, além de servir de instrumental para pesquisa bibliográfica sistemática, entre outras aplicações.

O positivismo, sem dúvida, representa, especialmente através de suas formas neopositivistas, como o positivismo lógico e a denominada filosofia analítica, uma corrente de pensamento que alcançou, de maneira singular na lógica formal e na metodologia da ciência, avanços muito meritórios para o desenvolvimento do conhecimento (TRIVIÑOS, 1992, p. 41).

No caso desta dissertação, esse paradigma é representado pelo teste de completar sentenças WUSCT, em que as complementações por meio de uma métrica são avaliadas com base num manual de classificação (HY; LOEVINGER, 1996) que aponta categorias de análise (como E2 a E9 de Estágio de Desenvolvimento do Ego; literais de “a” até “z”, por itens de classificação).

5.2.2 Interpretativismo

Por sua abrangência, a abordagem interpretativa é denominada, hoje, em termos gerais, como pesquisa qualitativa. Segundo Strauss e Corbin (2008, p. 24), a análise qualitativa não se refere à quantificação de dados qualitativos, mas, sim, ao processo não matemático de interpretação, feito com o objetivo de descobrir conceitos e relações nos dados brutos e de organizar esses conceitos e relações em um esquema explanatório.

A partir desses pressupostos, aponta-se os métodos qualitativos como uma opção pragmática e instrumental, com amplas possibilidades de utilização para explorar áreas substanciais “sobre as quais pouco se sabe ou sobre as quais sabe-se muito, para ganhar novos entendimentos”, nas palavras de Stern (1980 apud STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 24).

Da mesma forma, converge-se para o ganho de novos entendimentos, diretamente associados ao diálogo, que, em nossa sociedade atual, é mediado em larga escala por tecnologias de informação e comunicação (TICs), estruturando-se pelo acesso às nuvens de conhecimento da web, na troca de expertises em comunidades de prática, nos acordos de cooperação científica, nas pesquisas interdisciplinares, nos ambientes virtuais de ensino-aprendizagem, em equipes de projetos colaborativos, forças-tarefas e outras formas de estruturação.

Nesses termos, o desafio de nosso tempo, provavelmente, seja o de alcançar profundidade de entendimento, uma vez que:

[...] as dimensões interiores só podem ser acessadas pela comunicação e pela interpretação, pelo “diálogo” e pelas abordagens “dialógicas”, que não estão focando os espaços exteriores, mas compartilhando os interiores. Não se trata do objetivo, mas do intersubjetivo, não das superfícies, mas das profundidades. (WILBER, 2006, p.110)

Nesta dissertação, esse paradigma norteia a interpretação de narrativas organizacionais (CZARNIAWSKA, 1997) colhidas em depoimentos dos Orientadores de Tutoria, os sujeitos desta pesquisa. 5.2.3 Humanismo Radical

Além de adotar as abordagens positivista, por meio da métrica projetiva do WUSCT e interpretativista, através da análise narrativa, ainda se busca atingir dimensões mais profundas. Para tanto, é utilizada a estratégia de aplicação da diversidade paradigmática (LEWIS; GRIMES, 1999) por meio do viés do Paradigma Humanista Radical, que:

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[...],vincula sua análise ao interesse em alguma coisa que pode ser descrita como uma patologia da consciência, pela qual os seres humanos se aprisionam dentro de fronteiras de realidade que eles mesmos criam e sustentam. (MORGAN, 2007, p.16)

Esta análise foi efetuada nas considerações finais desta dissertação, na busca por sentidos mais abrangentes da temática envolvendo a consciência.

5.2.4 Metatriangulação

Segundo Kuhn (1975, p. 60):

[...] uma comunidade científica, ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito, poderemos considerar como dotados de uma solução possível.

Essa afirmação nos leva a refletir sobre as acirradas discussões paradigmáticas de nossos tempos, em que a própria escolha do problema de pesquisa, ou mesmo, suas formas de solução, são inerentes a uma escolha paradigmática. Todavia, a ciência na sociedade pós-moderna está cada vez mais fragmentada em paradigmas conflitantes, com disputas por espaço, poder e influência. Com base na “sociologia do quotidiano” de Michel Maffesoli (2009), podemos estabelecer uma analogia entre as “tribos urbanas” e os “pares científicos”, em que a “comunidade científica” pode ser representada por “tribos”, compondo- se, na prática, por diversas comunidades científicas.

Nesses termos, a complexidade busca se firmar enquanto paradigma holístico emergente, o “novo paradigma”, inclusive, para investigações sociais em amplos domínios (KUHN, 2007, p.163), enquanto a triangulação, principalmente sua vertente mais abrangente, a metatriangulação, se utiliza de diversos paradigmas para criar teorias, respeitando os vieses – porém encontrando suas confluências em zonas de transição (LEWIS; GRIMES, 1999).

A partir da percepção de paradigmas conflitantes como paradoxos sobre uma mesma realidade, diversos estudos, nas últimas décadas, tentam estabelecer modelos multiparadigmáticos, defendendo sua metatriangulação: uma estratégia de aplicação da diversidade

paradigmática para promover maior entendimento e criatividade (LEWIS; GRIMES, 1999). Contudo, há posicionamentos contrários, que criticam diretamente a prática, intitulando-a como anárquica, e defendendo a necessidade da hierarquização de um paradigma “dominante” (funcionalistas). Por outro lado, seus defensores presumem que cada paradigma apresenta sua verdade, porém parcial, e colocá-los em perspectiva é a melhor forma de expandir a criatividade, relevância e abrangência de uma teoria.

Segundo Gioia e Pitre (1990, apud LEWIS; GRIMES, 1999, p. ):

[...] um metaparadigma denota um nível de abstração elevado, no qual a “acomodação” não implica unificação ou síntese, mas, em vez disso, a habilidade de compreender diferenças, similaridades e inter-relações paradigmáticas. Tais pressupostos vão ao encontro da metatriangulação, em que novos olhares surgem sobre o fazer científico. E, neste sentido, destacam-se como corolário pesquisas realizadas de forma colaborativa, interdisciplinar, em que vários pesquisadores, com familiaridade sobre perspectivas distintas, possam atuar conjuntamente, ampliando o saber e o conhecer de forma dialógica.

A abordagem da metatriangulação é mais abrangente em relação às abordagens paradigmáticas singulares. Enquanto a complexidade se coloca como paradigma holístico, capaz de dar conta das dinâmicas sistêmicas, e a triangulação parte de um paradigma distinto, na busca por suas interpretações conflitantes, em vez de evitá-las ou ignorá-las, a metatriangulação nasce do próprio conflito inerente, sob olhares de múltiplos paradigmas, que, pela coerção de suas lógicas e pressupostos – acabam por evidenciar zonas de transição, onde os paradigmas se tocam e, a partir destas, a abordagem emerge em saltos criativos.

Apesar de a construção de teorias a partir de múltiplos paradigmas ser uma inovação, com possibilidades de maior criatividade e abrangência, ainda é muito confusa, carecendo de expressivas experiências. Nas palavras de Kuhn (2007), “está longe de ser algo esquemático”.

Talvez a falta de roteiros esquemáticos não seja algo nocivo, mas represente um caminho a ser percorrido, um convite às novas construções teóricas, reinterpretações paradigmáticas, agrupamentos metaparadigmáticos, metatriangulações... E dessas interpretações criativas talvez possa surgir um novo trilhar para a ciência e para a

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própria existência, fazendo ressoar as palavras de Heidegger: “a interpretação e o intérprete não existem independentemente, mas sim, a existência é a própria interpretação, a interpretação é a existência” (apud KUHN, 2007, p. 162).

A proposta desta dissertação vai ao encontro dessa tendência inovadora, num primeiro momento pela mensuração dos níveis de consciência a partir do desenvolvimento do Ego, seguindo com a interpretação da disposição de compartilhar conhecimento e por fim buscando relações entre ambos e aspectos emergentes.

No documento Mário Roberto Miranda Lacerda (páginas 77-82)