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A pesquisa aqui apresentada é de natureza qualitativa. A escolha por essa abordagem fundamenta-se no interesse do pesquisador em explorar os fatores subjetivos inerentes ao pensamento, comportamento e atitudes dos indivíduos de interesse da pesquisa. Entendo que esta pesquisa, que trata de tema relacionado ao fenômeno humano, requer um aprofundamento nos levantamentos e análises de dados, que não se compatibilizam com o caráter objetivo típico das pesquisas quantitativas. Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999), a principal característica das pesquisas qualitativas é que elas têm um caráter compreensivo ou interpretativo. Isso significa que tais pesquisas partem do pressuposto de que as pessoas agem em função de seus valores, sentimentos, crenças e percepções, de forma que seu comportamento tem sempre um significado que não pode ser descoberto facilmente, necessitando ser desvendado. Essa abordagem permite que haja uma proximidade entre pesquisador e pesquisado favorecendo o conhecimento e compreensão do cotidiano dos sujeitos cujas histórias serão ouvidas em consonância com a abordagem subjetivista.

Reportando-se à publicação dos editores da revista Academy Management Journal (FROM THE EDITORS, 2011), Carrieri (2012, p. 94) compartilha conosco o posicionamento desses editores a respeito da pesquisa de natureza qualitativa.

A pesquisa qualitativa tem a possibilidade de fazer o leitor se aproximar do objeto estudado, evocando imagens, memórias, histórias, metáforas, propiciando ao leitor se aproximar melhor da realidade. Para os editores deste importante periódico, a pesquisa qualitativa pode contribuir para o aumento de questões de pesquisas, para o aprofundamento e compreensão crítica de temas importantes de pesquisa relacionadas à administração, as organizações e à sociedade. Para eles um trabalho qualitativo explicitaria melhor a voz do pesquisador, pois nesses trabalhos – diferentemente dos trabalhos quantitativos que em nome da objetividade removem o pesquisador do texto – há uma grande interação entre texto e pesquisador. Além disso, para esses editores, a pesquisa qualitativa, não tendo a preocupação em fazer generalizações para todo um grupo social ou até para uma sociedade, possibilitaria o aprofundamento do conhecimento de determinados temas, assim como da sociedade e os grupos que a compõem, e geraria novos “insights” (palpites) para novas pesquisas.

A pesquisa foi realizada com estudantes universitários da Faculdade Anhanguera de Belo Horizonte, que pertencia ao grande grupo educacional mantido pela Anhanguera Educacional S/A. A Anhanguera iniciou suas atividades em 1994 – sob outra denominação – no interior do estado de São Paulo, atuando como curso preparatório para vestibulares. Posteriormente, iniciou sua atuação na oferta de cursos de graduação. Em 2003, organizou-se como companhia de capital aberto, passando a negociar suas ações e capitar recursos na bolsa de valores. Inicialmente, a Anhanguera formou-se a partir da fusão de três sociedades educacionais então existentes: a Associação Lemense de Educação e Cultura, mantenedora do Centro Universitário Anhanguera, Faculdade Comunitária de Campinhas e Faculdades Integradas de Valinhos; Instituto Jundiaiense de Educação e Cultura, mantenedora da Faculdade Politécnica de Jundiaí, e Instituto de Ensino Superior Anhanguera, mantenedora da Faculdade Politécnica de Matão (CARBONARI NETTO, CARBONARI e DEMO, 2009).

A Anhanguera desenvolveu um modelo de negócio lucrativo que atraiu novos investidores interessados nesse tipo de empreendimento. Os novos investimentos fomentaram o ritmo das expansões por meio da incorporação de outras instituições de ensino superior e levou a Anhanguera a estar presente em vários estados do País. Em 2011, a Anhanguera era a maior rede privada de ensino do Brasil e a terceira maior do mundo. Em 20 de abril de 2013, a Anhanguera Educacional foi incorporada pela Kroton Educacional, até então o segundo maior grupo educacional do Brasil, tornando-se o grupo Kroton-Anhanguera a maior rede de ensino do mundo, com mais de 1.000.000 de estudantes.

A escolha por realizar a pesquisa com estudantes da Faculdade Anhanguera de Belo Horizonte se deu, em primeiro lugar, por motivo de acesso e conveniência, já que trabalhei nessa instituição entre agosto de 2010 e dezembro de 2011 como professor e coordenador do Curso de Administração. Contribuiu para essa escolha, também, o fato de a Anhanguera ter se tornado o maior grupo educacional do Brasil e ter como público-alvo trabalhadores/estudantes de baixa renda – que são atraídos pelo valor mais baixo das mensalidades, pelas bolsas do PROUNI e pelas facilidades de acesso ao FIES - fato que contribuiu para que Jusciléia me chamasse a atenção para o tema da pesquisa. O modelo pedagógico e de negócio da Anhanguera tornou-se referência para outros grupos educacionais, entre os quais, o próprio Króton que, por meio do

benchmarking, adotou algumas de suas práticas, de forma que a representatividade da

termos de negócios - é significativa no que se refere à oferta de educação superior privada voltada para as classes populares.

Cabe observar que a incorporação da Anhanguera pela Króton Educacional não gerou qualquer tipo de interferência nesta pesquisa. A ausência de interferência se deu porque a pesquisa foi iniciada antes dessa transação; a incorporação foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) apenas em maio de 2014; e a nova mantenedora optou por manter, sem grandes alterações, o modelo pedagógico e de negócio criado pela Anhanguera.

A pesquisa foi realizada com cinco estudantes da Anhanguera moradores de Belo Horizonte e região metropolitana. Como o interesse desta pesquisa estava voltado para estudantes oriundos da ralé brasileira e eu não dispunha de dados objetivos que me possibilitassem identificar de imediato tais alunos, optei por selecionar bolsistas com mais de 50% de custeio pelo PROUNI ou de financiamento pelo FIES, uma vez que, para obter esses benefícios, os alunos precisam se submeter a um processo em que devem apresentar documentos e comprovar que se enquadram nos parâmetros socioeconômicos definidos por esses programas sociais. A princípio desejava realizar a pesquisa apenas com estudantes de administração, pelo simples fato de ser administrador e estar cursando o doutorado em administração. Verifiquei, porém, que esse tipo de delimitação não traria nenhum benefício para a pesquisa e me impediria de observar em uma amplitude maior o fenômeno social em estudo. Portanto, deixei em aberto a realização da pesquisa com alunos de qualquer curso de graduação, desde que não fosse uma graduação tecnológica ou um curso realizado a distância. Isso porque tais cursos ainda estão em processo de legitimação social, tanto na academia, quanto no mercado de trabalho, estando envoltos em preconceitos e polêmicas quanto as suas qualidades e eficiência pedagógica que não me interessam abordar neste trabalho. Em relação aos cursos de graduação tecnológica, esses cursos têm um tempo de integralização curricular inferior aos da graduação convencional por terem um currículo mais enxuto. Tais cursos restringem seus formandos ao exercício de apenas algumas atividades de uma área profissional. Assim, enquanto um administrador ou contador, por exemplo, estão legalmente habilitados a exercerem todas as atividades inerentes às suas respectivas áreas de formação, um tecnólogo é legalmente habilitado a exercer apenas atividades muito específicas, o que impacta, de alguma forma, sua capacidade de concorrer a vagas de trabalho pertinentes à área de formação e a participar de concursos públicos que requerem uma

graduação tradicional e o registro profissional nos respectivos conselhos de classe. No caso dos cursos a distância oferecidos pela Anhanguera em Belo Horizonte, havia diferenças significativas em termos de projeto pedagógico e de qualidade que os prejudicavam na comparação com os ofertados na modalidade presencial.

Assim, no intuito de manter parâmetros metodológicos que favorecessem a pesquisa em termos de confiabilidade e qualidade, decidi que os indivíduos pesquisados deveriam ser alunos de graduação presencial, de qualquer curso de formação profissional plena, beneficiados com pelo menos 50% de bolsa do PROUNI ou 50% de financiamento pelo FIES, e que tivessem ingressado na Faculdade Anhanguera de Belo Horizonte no período entre o 1º semestre de 2007 ao 2º semestre de 2011. A delimitação do intervalo de ingresso me permitiu pesquisar alunos em vários momentos de sua formação, inclusive recém-formados, favorecendo o registro de possíveis mudanças em suas trajetórias profissionais, atendendo aos objetivos da pesquisa. Não estabeleci nenhum outro critério a exemplo de sexo/gênero, idade ou etnia.

A Anhanguera dispõe de um departamento de assistência social que acompanha os alunos durante sua trajetória acadêmica, com atenção especial para aqueles que enfrentam dificuldades financeiras e sociais ao longo do curso. Após explicar aos responsáveis por esse departamento meus interesses de pesquisa e o perfil de alunos desejado, recebi a indicação, no segundo semestre de 2011, de dois alunos, Carolina e Isaías, que juntos a Jusciléia – selecionada diretamente por mim em decorrência do evento já narrado na introdução – deram início a esta pesquisa. Posteriormente, em 2013, identifiquei a necessidade de ampliar o número de pesquisados e recebi a indicação de mais quatro pessoas: José, Rafael, Camilo e Lucas. Como trabalharia a história de vida como recurso metodológico, era inviável trabalhar com sete pesquisados. Dessa forma, fiz uma entrevista com os quatro indicados e selecionei aqueles cujas histórias e perfil entavam mais coerentes com a proposta da pesquisa. Assim, José e Lucas passaram a figurar, junto a Jusciléia, Isaías e Carolina, como participantes da pesquisa na condição de pesquisados.

Para a coleta de dados adotei a história de vida, em sua modalidade oral, que para Meihy (2005, p. 24), “[...] responde à necessidade de preenchimento de espaços capazes de dar sentido a uma cultura explicativa dos atos sociais vistos pelas pessoas que herdam os dilemas e as benesses da vida no presente”. Nesse sentido, a história oral permite que o pesquisador realize a

reconstrução de fatos importantes a partir das memórias do próprio sujeito que vivenciou esses fatos (ALBERTI, 2005; MEIHY, 2005), possibilitando-lhe reconstruir aspectos importantes das relações sociais vividas no cotidiano da sociedade organizada. Pode, portanto, reconstruir aspectos afetivos, emocionais e racionais que se inter-relacionam em um espaço sócio-histórico de determinadas relações sociais (MARRE, 1991), como as relações familiares, educacionais e de trabalho, com suas respectivas trajetórias.

A história de vida, por sua explanação oral, possibilita, no dizer de Marre (1991, p. 136), “[...] dar de volta a palavra a quem, durante muitos anos, não tinha ou tinha poucos canais de comunicação para expressar a sua própria experiência humana”, tal como os estudantes universitários de famílias pobres, pois, como afirma Meihy (2005) todos nós somos personagens históricos.

Com uma vocação para tudo e para todos, a história oral respeita as diferenças e facilita a compreensão das identidades e dos processos de suas construções narrativas. Todos são personagens históricos, e o cotidiano e os grandes fatos ganham equiparação na medida em que se trançam para garantir a lógica da vida coletiva (MEIHY, 2005, p. 25).

Meihy (2005) pontua que, na história oral de vida, o pesquisado tem maior liberdade para narrar suas experiências pessoais, devendo o pesquisador dar-lhe espaço para desenvolver sua narrativa da forma que lhe convier, inclusive no encadeamento cronológico de sua história. O autor também enfatiza que a história de vida é a versão oficial do entrevistado, sendo, portanto, a sua verdade. Não compete ao pesquisador julgar a veracidade da narrativa, visto que o entrevistado é soberano para revelar ou ocultar casos, situações e pessoas (MEIHY, 2005).

A questão da verdade neste ramo da história oral depende exclusivamente de quem dá o depoimento. Se o narrador diz, por exemplo, que viu um disco voador, que esteve em outro planeta, que é a encarnação de outra pessoa, não cabe duvidar. Afinal, este tipo de verdade constitui um dos eixos de nossa realidade social, em particular os projetos que trabalham com temas ou vidas de religiosos e esotéricos que têm, por princípio, respeitar a exposição do outro (MEIHY, 2005, p. 35).

Bourdieu (2011a) foi um importante crítico dos historiadores, e a história de vida não escapou de suas observações. Para esse autor, a história de vida entrou contrabandeada no universo do saber. Ele pondera que o uso da história de vida, em especial, a biográfica ou

autobiográfica, pressupõe que a vida é uma história, estando a vida necessariamente ligada a um conjunto de acontecimentos de uma existência individual.

Produzir uma história de vida, tratar a vida como uma história, isto é, como a narrativa coerente de uma sequência significativa e coordenada de eventos, talvez seja ceder a uma ilusão retórica, a uma representação comum da existência que toda uma tradição literária não deixou e não deixa de reforçar (BOURDIEU, 2011a, p. 76).

O autor entende que a história de vida, com base em uma visão simplista de linearidade e encadeamento organizado de eventos relacionados à vida de um único indivíduo, está mais próxima de produzir uma obra literária, romanceada, do que conhecimento científico. Pierre Bourdieu não concorda que um indivíduo possa ser o ideólogo da própria vida, pois tentará dar a ela um sentido artificial construído. Isso porque os indivíduos tendem a adaptar a narrativa de suas histórias de acordo com o contexto em que as contam ou na presença de quem as contam. Assim, a “[...] apresentação pública, logo, a oficialização, de uma representação privada de sua própria vida, implica um acréscimo de limitações e de censuras específicas” (BOURDIEU, 2011a, p. 80). Ele defende que, para se ter uma história de vida válida, deve-se levar em consideração não apenas a trajetória individual do agente, mas a trajetória de seu próprio campo de vivência, bem como as relações objetivas que vincularam esse agente ao conjunto de outros agentes envolvidos no mesmo campo e que se defrontaram no mesmo espaço de possibilidades (os demais competidores do campo).

Observamos que P. Bourdieu entende que a forma correta de se fazer história de vida é conciliando esse método com sua própria metodologia de pesquisa sociológica. Isso porque, na percepção desse autor, tanto o pesquisado, quanto o pesquisador estão sujeitos ao senso comum, às pré-concepções que nos foram transmitidas socialmente pelo habitus. Seria necessário, portanto, um esforço do pesquisador para objetivar a objetivação, que levaria ao rompimento das pré-construções do senso comum por meio do uso combinado de métodos estatísticos com a pesquisa etnográfica (MISOCZKY, 2014). Embora concorde com P. Bourdieu de que a história de vida de qualquer pessoa é muito mais que uma simples sucessão de acontecimentos, visto que está relacionada à complexidade da vida social e se interconecta com as histórias de diversas outras pessoas, penso que suas críticas estão mais relacionadas com a perspectiva historiográfica de se construir ou reconstruir um fato histórico com base no depoimento pessoal de uma pessoa,

que não é o objetivo desta pesquisa e de tantas outras realizadas em diversas áreas do conhecimento que fazem uso da história de vida como um instrumento para compreender o cotidiano social e suas práticas, nos seus aspectos culturais, sociais, políticos, psicológicos, entre outros, por meio da subjetividade daqueles que vivenciam ou vivenciaram aquilo que se quer compreender. A busca de Bourdieu (2011a) por objevar a objetivação na história de vida não me interessa, visto que essa perspectiva retira da pesquisa aquilo que mais a enriquece e mais me interessa compreender: a subjetividade dos indivíduos. Como pontuam Barros e Lopes (2014, p. 42),

[...] ao contrário do que poderia parecer o triunfo do individualismo, as histórias de vida recolocam o ser humano na dimensão concreta de sua experiência, no centro da cena, o que significa colocá-lo diante de seu próprio desdobramento especular, que é o relato de todos. Ou seja, o que se manifesta através do relato e nele se reconstrói é o campo da subjetividade, com seu caráter individual, singular, único, contruído concretamente na experiência do coletivo.

A história de vida permite ir além do conhecimento das condições objetivas de vida dos indivíduos, possibilitando a compreensão do sentido que atribuem ao seu meio, à sua situação e às suas ações (BARROS; LOPES, 2014). Conforme essas autoras, a história de vida tem duas funções primordiais: a de historicidade e a de intermediação entre a história individual e a história coletiva. “A historicidade implica que ela [a história de vida] torna possível aos indivíduos que narram suas histórias trabalhar a própria vida, reconstruir o que foi vivido, ressignificá-lo e mudar a relação com sua história” (BARROS; LOPES, 2014, p. 48). A função de mediação, por sua vez, permite que se religue o nível individual ao nível geral de análise, uma vez que as histórias narradas remetem sempre ao campo social, de forma que os produtos da história coletiva são adquiridos, por meio de estruturas mentais duráveis, ou o hábitos na teoria bourdiesiana, na história individual.

Dito de outra forma, as histórias individuais nos mostram, afetivamente, uma cultura, um meio social, um esquema de valores e de ideologias, pois como membro de uma coletividade – família, organização, classe social – o sujeito encontra-se, constantemente, em interação com estas. Ele faz parte da história coletiva; é, por assim dizer, cercado por histórias que lhes são contadas desde a infância, das mais diferentes formas e por diferentes pessoas, e vai sendo formado por essas narrativas (BARROS e LOPES, 2014, p. 50).

Para as autoras, as histórias de vida teriam uma dimensão dupla, visto que envolvem, tanto a descrição de fatos, relacionada à “[...] experiência de vida singular, inscrita num universo de relações sociais, de classe, de poder, que reenvia às condições sociais de existência” (BARROS e LOPES, 2014, p. 53), quanto ao sentido que os indivíduos dão às suas experiências. Para recolher essas narrativas e compreender o sentido que os indivíduos atribuem à própria história, necessitamos que se construa uma relação de confiança entre o pesquisador e os pesquisados. Para tal, segundo Barros e Lopes (2014), é necessário que o próprio pesquisador se transforme em objeto de pesquisa, refletindo igualmente sobre sí mesmo. Para as autoras, o pesquisador não pode compreender a situação de classe de uma pessoa, ou de seu grupo familiar, se ele não se questionar sobre a própria posição de classe. Outro fator imprescindível é que o pesquisador e o pesquisado devem se posicionar no mesmo nível, visto que, na história de vida, os pesquisados não são apenas informantes, mas participantes engajados na pesquisa. Essas observações permitem que se obtenha um bom nível de confiança entre as partes e que a narrativa seja rica de informações relevantes para a pesquisa. Essas observações permitem também que o pesquisador entenda o outro e a sua história, ao invés de simplesmente julgá-los.

A história de vida pode constituir um importante meio de levantamento de dados para a área de estudos organizacionais por possibilitar que se entenda a sociedade – e nela as organizações – em seus aspectos íntimos e pessoais. A história de vida auxilia na compreensão de diversos fenômenos sociais relacionados a crises econômicas e sociais, às relações de poder, de etnia, sexo, gênero e classe social, às relações de trabalho, às trajetórias educacionais e profissionais, visto que dá voz às pessoas para que elas narrem como vivenciam o cotidiano social. No entanto, a história de vida ainda enfrenta dificuldades em diversas áreas, entre as quais, na administração, para legitimar-se e ser reconhecida como um método importante na construção de conhecimento científico, visto ser considerada, pelo mainstream epistemológico, como extremamente subjetiva (BARROS e LOPES, 2014).

Não há uma forma específica de executar metodologicamente a história de vida (BARROS e CAMPOS, 2002; BARROS e SILVA, 2002), embora autores como Meihy (2005), tentem estabelecer modelos didáticos de aplicação do método que acabam por se tornar inadequados devido às características e necessidades distintas das diferentes pesquisas que optam por essa abordagem. Barros e Lopes (2014) defendem que as questões metodológicas devem

seguir as pesquisas e não lhes preceder. Nesta pesquisa me interessou descobrir o que muda na trajetória profissional do aluno pertencente à ralé brasileira a partir de seu ingresso no ensino superior privado. A história de vida adequou-se ao meu problema de pesquisa e aos objetivos que dele se desdobraram, visto que, pela narrativa da história de vida dos entrevistados, tive acesso à sua realidade social, aos seus pensamentos, desejos, expectativas, realizações e frustrações, que dão sentido à sua trajetória de vida, em especial, no que se refere à relação entre a trajetória

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