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5. RESULTADOS

5.2. A PRÁTICA DO FOLLOW-UP NA CGPEG

5.2.7. Abordagens e técnicas

As abordagens e técnicas empregadas na prática do follow-up conduzido pela CGPEG incluem ações de monitoramento dos impactos, permitindo que a avaliação e gerenciamento sejam conduzidas pela instituição através das análises dos relatórios e vistorias técnicas. A elaboração dos pareceres técnicos que documentam a análise dos relatórios de implementação dos programas ambientais sob responsabilidade do empreendedor é realizada por uma equipe de analistas ambientais, composta por especialistas em suas áreas de atuação; sendo assim, pelo menos um especialista de cada GT está envolvido na elaboração de um mesmo parecer. Isso garante que os temas discutidos via GTs estejam presentes a todo momento, o que favorece uma padronização das análises (informação verbal)52. Essa condição expressa uma evidência de aprendizagem organizacional, uma vez que não apenas a aprendizagem individual se rebate nos processos de licenciamento, mas também o conhecimento gerado por meio dos GTs.

Nas atividades de produção, a escolha dos membros das equipes responsáveis por cada parecer é determinada pelo coordenador da bacia e, geralmente, quando algum ponto do parecer indica reprova, a tendência é que o mesmo analista que detectou a irregularidade retome no próximo parecer. Mas isso não impede que outro analista seja designado para realização da análise. Ao final das análises, os coordenadores de bacia verificam os pareceres para debater os pontos críticos e uniformizar o documento. Nova checagem é realizada pelo coordenador de produção, garantindo que os pareceres somente sejam liberados após o devido nivelamento técnico (informação verbal)53. Nas atividades de sísmica, a responsabilidade é dos TRPs, que encaminham as análises ao coordenador de exploração.

Através da análise dos processos de licenciamento, ficou evidente a realização das avaliações descritas nos pareceres técnicos por meio de “várias mãos”, proporcionando contribuições de várias partes, maior interação entre os analistas e favorecendo a troca de experiências e conhecimento. Como exemplo pode-se citar a elaboração dos pareceres PT 422/07 e PT 168/08 no processo C, que analisam o EIA e sua primeira revisão, respectivamente: o primeiro é assinado por 6 analistas ambientais e os coordenadores da CGPEG, COEXP e CPROD; o segundo é assinado por 8 analistas ambientais e os coordenadores já citados.

Para facilitar a gestão dos programas ambientais, o Projeto de Controle Ambiental (PCA) consolida em um único volume todos os programas ambientais aprovados para um empreendimento. Esse volume circula entre os analistas ambientais responsáveis pelos

52 Informação verbal: dados obtidos em entrevista realizada com entrevistado 3 em 21 jul. 2015. 53 Informação verbal: dados obtidos em entrevista realizada com entrevistado 3 em 21 jul. 2015.

pareceres e simplifica a avaliação dos relatórios, pois ali constam todas as exigências que devem ser observadas pelos avaliadores. Da mesma forma, os resultados da implementação dos programas ambientais são submetidos à CGPEG de forma consolidada em um Relatório de Controle Ambiental (RCA), conforme consta nas condições especificas das licenças ambientais: o “[...] Relatório ambiental consolidado referente aos programas ambientais desenvolvidos [...] [devem ser] [...] acompanhados de uma discussão técnica dos resultados obtidos e de uma avaliação crítica da efetividade de cada projeto”54.

O acompanhamento in loco é outro mecanismo de avaliação utilizado, mas este não é realizado sistematicamente por não haver contingente suficiente de analistas ambientais; como critério para estabelecer sua realização, no caso das vistorias técnicas são priorizados os empreendimentos críticos, que demonstram irregularidades por meio dos relatórios de implementação. Nas atividades de pesquisa sísmica, vistorias são realizadas apenas em navios que estão atuando pela primeira vez no Brasil ou quando ocorreram há mais de 4 anos; para a perfuração, são vistoriadas apenas as plataformas que não passaram por esse procedimento nos últimos 3 anos ou que tiveram modificações em sua planta de processo (informação verbal)55. As saídas à campo podem ser motivadas por situações críticas previamente programadas pelo empreendedor mediante apresentação de cronograma, sendo que essa criticidade pode ser definida pela experiência da equipe técnica ou até mesmo pela sinalização da comunidade por meio de contato formal ou informal. Conforme apontado por um dos entrevistados: “O acompanhamento tem os elementos estruturantes, mas tem muito do dia a dia” (informação verbal)56.

O GT de socioeconomia foi o primeiro a utilizar o mecanismo de acompanhamento in loco por possuir interface direta com os grupos sociais afetados pelos empreendimentos através dos PEAs; como condição para o sucesso desses programas, há necessidade de se estabelecer uma relação de confiança entre as partes e muitas vezes os analistas ambientais são as primeiras figuras de Estado a ter contato com as comunidades afetadas. A atividades em campo são realizadas por todos os analistas, tanto das equipes responsáveis por atividades de pré quanto de pós-decisão (informação verbal)57.

Uma das técnicas que beneficia ações de gerenciamento de programas ambientais como o PEI e o Plano de Emergência para Vazamento de Óleo (PEVO) é o acompanhamento de

54 Processo 02022001967-06, LP 271/08.

55 Informação verbal: dados obtidos em entrevista realizada com entrevistado 8 em 22 jul. 2015. 56 Informação verbal: dados obtidos em entrevista realizada com entrevistado 6 em 23 jul. 2015. 57 Informação verbal: dados obtidos em entrevista realizada com entrevistado 4 em 21 jul. 2015.

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simulados de emergência previstos para cenários de vazamento de óleo, que permitem aos analistas ambientais identificar irregularidades operacionais e proporcionam oportunidades de aprendizagem single loop. A própria NT 03/13 advém do conhecimento adquirido por meio do acompanhamento de simulados e permite a retroalimentação do processo de licenciamento.

Uma abordagem importante que otimiza o processo de follow-up da AIA conduzido pela CGPEG identificado durante a pesquisa é a regionalização dos empreendimentos. Esta permite uma gestão integrada dos impactos e é conduzida através do agrupamento de áreas geográficas para o licenciamento dos empreendimentos. Sua elaboração se deu por meio da experiência dos analistas ambientais e identificação da necessidade de tratar os impactos cumulativos. A regionalização facilita também a fiscalização, pois as exigências dessa coordenação se concentram em um único processo regional. Dessa forma, uma atividade que tenha apresentado irregularidades age como limitante de uma atividade posterior se não forem tomadas as devidas medidas corretivas. No caso dos empreendimentos do pré-sal, a regionalização das diversas atividades envolvidas nesses projetos foi facilitada pelo planejamento prévio, facilitando seu agrupamento pela CGPEG para realização de um licenciamento integrado. Como o volume de óleo é grande para essa região da BS, muitas plataformas foram colocadas em um mesmo campo, despertando a atenção para avaliação dos impactos sinérgicos (informação verbal)58. A regionalização aplicada ainda na fase de exploração dos empreendimentos, como verificado para os projetos do pré-sal, permitiu a realização de um diagnóstico pré-produção que tem grande potencial de contribuir para avaliações futuras. Essa mesma abordagem tem sido considerada para as atividades de pesquisa sísmica na Margem Equatorial. De acordo com os entrevistados, a regionalização aumenta o conhecimento em relação à área e permite melhor aproveitamento das informações, evitando que os EIAs contenham sempre as mesmas informações e direcionando o foco para os impactos significativos59.

Além das abordagens e técnicas identificadas na CGPEG que influenciam a prática do follow-up, vale destacar a ênfase não apenas na avaliação da acurácia da previsão e conformidade das medidas de mitigação, mas também em exigências voltadas à geração de conhecimento para melhorar a compreensão das relações de causa e efeito dos impactos. Algumas das condicionantes das atividades licenciadas envolvem o mapeamento da região oceânica brasileira, com o levantamento de informações sobre o mar que não existiam até então.

58 Informação verbal: dados obtidos em entrevista realizada com entrevistado 3 em 21 jul. 2015.

59 Mais detalhes sobre a consideração da regionalização na elaboração os programas ambientais são apresentados na subseção 5.3.2.

Como exemplo tem-se o Projeto de Caracterização Regional da Bacia de Campos60, o primeiro projeto de caracterização realizado por empreendimentos de petróleo e gás que envolveu pesquisadores, professores, técnicos e estudantes e gerou a publicação de livros para disponibilização dos dados (informação verbal)61. Exemplos de programas que visam contribuir para lacunas de conhecimento também foram encontrados na análise documental dos processos: no processo C, a CGPEG sugeriu a elaboração de um projeto para pesquisa sobre os bancos de algas calcáreas sob plataformas; nos processos A e B, foram sugeridos projetos voltados para a caracterização dos corais de águas profundas, visando “[...] produzir/aumentar o conhecimento cientifico sobre corais de aguas profundas [...]; fomentar a geração de recursos humanos de graduação, pós graduação e extensão sobre o ecossistema de corais de águas profundas [...]; contribuir para a difusão do conhecimento [...]”62