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Abrir as portas à comunidade: importância do contacto com o meio envolvente

3. ABRIR AS PORTAS DA SALA PARA CONHECER E APRENDER: A CONSTRUÇÃO

3.1. Identificação da problemática

3.1.2. Abrir as portas à comunidade: importância do contacto com o meio envolvente

meio

envolvente

no

processo

de

desenvolvimento

e

aprendizagem das crianças

Desde os seus primeiros dias de vida, as crianças são providas de um interesse e curiosidade natural que as leva a conhecer, explorar, questionar e criar ideias acerca do mundo que as rodeia. De acordo com Silva et al. (2016) é através do contacto que têm com o mundo, que as mesmas se desenvolvem e aprendem, uma vez que começam a compreender e a dar sentido àquilo que as rodeia.

Desta forma e, pretendendo-se com o ambiente educativo facilitar e promover a “coconstrução das aprendizagens” (Oliveira-Formosinho & Formosinho, 2011, p. 27), é necessário que se promovam e desenvolvam “interações e transações entre crianças e o mundo” (p.27). Assim e, mesmo sendo a sala de atividades um local promotor de aprendizagens, importa que se olhe para fora dela e, se perceba que existem locais diversificados com os quais as crianças devem contactar e tirar partido para a construção de aprendizagens.

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Neste sentido, surge a necessidade de abrir as portas ao exterior, privilegiando-o como um local que traz inúmeros benefícios para as crianças, uma vez que o facto de fecharmos as crianças e, limitá-las apenas ao espaço de sala de atividades com o intuito de lhes garantirmos “maior segurança”, irá, não só prejudicá-las, ao nível do desenvolvimento da independência e responsabilidade, como também, irá impedi-las de satisfazer as suas necessidades e, de viverem de acordo com as nossas limitações e exigências (Giorgi, 1975). Tal como afirma Proot (citado por Vale, 2013) "uma instituição em que nada acontece pode ser perigosa para as crianças porque lhes dá poucas possibilidades de aprenderem a ser independentes" (p. 12).

O espaço pedagógico deve ser “um lugar de bem-estar, alegria e prazer; um espaço aberto às vivências e interesses plurais das crianças e comunidades” (Oliveira-Formosinho & Formosinho, 2011, p. 28) e, por isso ao abrir as portas ao espaço exterior, o/a educador/a está não só a criar momentos educativos que irão enriquecer as aprendizagens das crianças, como a explorar as potencialidades desse espaço, dado que este “tem características e potencialidades que permitem um enriquecimento e diversificação de oportunidades educativas” (Silva et al., 2016, p. 29). É nesta dualidade de espaços, entre o dentro e fora da sala de atividades, que se sensibiliza as crianças para as questões ambientais, que se estimula o imaginário infantil e que se envolve as mesmas no meio natural através “[d]a exploração e [da] descoberta em ambientes naturais” (Coelho, Vale, Bogotte, Figueiredo- Ferreira, Duque & Pinho, 2015, p. 112). É nesta dimensão que a exploração e a convivência com o meio exterior e, com a comunidade envolvente, permitirá às crianças desenvolver “um sentimento de admiração pelo mundo natural” (Idem, p. 112).

Ademais, importa referir que o contacto com o meio exterior e sucessivamente com a natureza pode ainda, melhorar a forma de como as crianças aprendem, na medida em que tal como afirma Coelho et al. (2015), “a aprendizagem ao ar livre, através da experiência direta, torna o processo de ensino e de aprendizagem mais interessante.” (p. 113)

Relativamente ao meio envolvente, este é um espaço físico e social (comunidade), que oferece muitas possibilidades para que se desenvolvam atividades fora da sala. Assim, deve ser considerado como um espaço de prolongamento da vida da criança, isto porque “o meio é, por si mesmo, um factor de motivação “natural” para a criança e o conhecimento da realidade próxima é o mais imediato e atractivo dos conhecimentos” (Roldão, 2004, p. 23).

De acordo com Ferreira, Martins, Hortas e Dias (2011) é no contacto com o meio envolvente, que a criança “reconhece muitas vezes situações que já viveu, ou de que já ouviu falar no seu ambiente familiar” (p. 501). Por isso, ao serem criadas atividades em comunhão

31 com o seu meio, a criança sentir-se-á mais motivada e as aprendizagens serão mais significativas para si, porque efetivamente está em contacto com o seu mundo mais próximo.

Sendo que o desenvolvimento da criança, não resulta apenas da interação com o ambiente, mas também da interação social (Vygotsky, 1998), a escola, a família e a comunidade devem ser vistas como indissociáveis, na medida em que, a comunidade tem o direito e o dever de fazer, igualmente, parte da educação das crianças (Davies, 2008).

Na mesma perspetiva, Oliveira-Formosinho (2013) afirma que as crianças "pertencem a uma família, a uma comunidade, a uma sociedade e a uma cultura" (p. 98) e, por isso, as instituições devem privilegiar um contacto contínuo com o meio físico e social da criança, assumindo-o como um local de excelência, por não só facilitar o contacto da criança com a sua cultura, como a “aprendizagem empírica sobre o mundo que as rodeia” (Hortas, Ferreira, Menau, Alves, Costa & Serrão, 2011, p.51). De acordo com Oliveira-Formosinho (2013) é no contacto com o meio social que as crianças constroem crenças, valores, sentimentos e costumes e, se começam a apropriar da sua cultura.

Neste sentido, os passeios e as visitas ao exterior da sala (espaço exterior) e da OE (espaço físico e social) devem ser potenciados, por trazerem não só novas aprendizagens e conteúdos, que resultam quer das características físicas do meio local, quer das interações sociais que as crianças realizam ao contactarem com as pessoas que habitam e/ou trabalham no mesmo. E ainda, por apresentarem novas ideias que serão posteriormente desenvolvidas na sala de atividades, originando assim uma continuidade educativa, bem como uma complementaridade entre as aprendizagens construídas no interior e no exterior da sala de atividades (Oliveira-Formosinho, 2013). Tal como afirma Roberts (2004):

Sair não precisa de ser uma grande excursão. Basta um passeio à volta do quarteirão ou uma visita rápida a uma loja das redondezas para proporcionar às crianças uma grande quantidade de coisas para observar, reflectir, discutir, representar e para incorporar nas brincadeiras deles. (p.157)

De acordo com Vale (2013) esta prática de abrir as portas da sala e, esta articulação com a comunidade e o meio envolvente integram uma grande variedade de potencialidades pedagógicas e curriculares, por permitirem prolongar o espaço educativo promovendo o “cruzamento de saberes, [e] a mobilização de diferentes áreas do saber” (Silva, 2011, p. 124) para o desenvolvimento das crianças, nomeadamente: ao nível da formação pessoal e social, ao nível do conhecimento do mundo, e por fim, ao nível da expressão motora. (Silva et al., 2016)

Ao nível do conhecimento do mundo, a articulação com o meio envolvente permite à criança criar um conjunto de competências fundamentais para se pensar no espaço, tendo

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“consciência de si, do seu papel social e das relações com os outros” (Silva et al, p. 88) e, ainda, desenvolver competências de conhecimento do mundo físico e natural, na medida em que ao envolver-se com a natureza através de brincadeiras informais, explorações e “descobertas em ambientes naturais” (Coelho et al., 2015, p. 112), está não só a desenvolver um sentimento de admiração e respeito pelo mundo que a rodeia, como também a adquirir uma “atitude de respeito para com todos os seres vivos” (Antunes, 2015, p. 90).

Relativamente à expressão motora, a criança ao relacionar-se com o meio que a envolve, desenvolve as suas capacidades motoras, porque ao brincar ao ar livre, salta, corre e realiza atividades físicas que na sala de atividades não são possíveis de realizar. White (2013) afirma que uma das maiores necessidades da criança é movimentar-se.

Por fim, no que se refere à área da formação pessoal e social, fora do contexto de sala as crianças constroem aprendizagens relativas, à independência, a autonomia e à responsabilidade, como evidenciado em cima, mas também, desenvolvem a concentração, autodisciplina, raciocínio, capacidade de observação e competências sociais (Coelho et al., 2015). Além disso e, considerando-se que este contacto é essencial para um desenvolvimento saudável da criança, por serem estimulados os sentidos e potenciada a aprendizagem ativa, através de experiências multissensoriais em ambientes físicos e sociais, a criança desenvolve não só a criatividade e a imaginação, como também a liberdade e o olhar crítico pelo mundo que a rodeia, uma vez que aprende pela ação.

É neste sentido que a articulação com o meio envolvente e a comunidade se constitui como um recurso essencial para a aprendizagem e desenvolvimento das crianças, na medida em que permite não só que as crianças entrem em contacto direto com a sociedade e, aprendam com a sua ação, experienciando ativamente aquilo que as rodeia, como ainda assume que estas sejam no contacto com as suas realidades sociais e culturais, agentes ativos e produtores dos seus conhecimentos (Vale, 2013).

Sintetizando, aprender pela ação é aprender pela experiência, isto é, refletir acerca desta e retirar daí significados. Aprender pela ação é explorar livremente o espaço e, procurar e encontrar respostas sobre as curiosidades que as crianças possuem, interagir com a comunidade e criar estratégias para melhorar essas aprendizagens. Assim, ao abrimos as portas da sala, a criança constrói aprendizagens com base na sua experiência social, aprendendo na interação com a comunidade e com as experiências que o meio envolvente lhe oferece (Hohmann & Weikart, 2009).

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3.1.3. O papel do/a educador/a na promoção de atividades em contacto