• Nenhum resultado encontrado

2 Acção pedagógica do educador exequibilidade da função docente

De modo a sustentar teoricamente o texto anterior, passarei a descrever alguns conteúdos justificados por autores. A concepção de professor como educador, no sentido lato, é caracterizado pela sua função social de ensinar (profissional que trabalha com pessoas) e que é detentor de um saber profissional. Este saber profissional enquadra-se em três eixos fundamentais que são: o eixo dos saberes, o eixo da relação interpessoal e o eixo dos valores democráticos. Esta conjunção dos eixos assenta na concepção de professor emergente, conceito atribuído por Alarcão e Roldão (2008).

Daqui depreende-se que o professor é alguém reflexivo, crítico, com conhecimento de si, conhecimento dos contextos, dos saberes e dos valores e que age no sentido de proporcionar a educação a todos e a cada um, focalizando-a nos interesses do

42 bem comum, da justiça e do conhecimento. O professor reflexivo é aquele que possui o reconhecimento do processo de aprender e de ensinar que se estabelece durante toda a sua carreira. Assim, entende-se como alguém que analisa o conhecimento nos vários contextos dos valores, dos saberes e como é óbvio de si mesmo. Bronfenbrenner refere que, o desenvolvimento humano constrói-se nas suas interacções sejam elas próximas ou não.

A ecologia do desenvolvimento humano implica o estudo científico da interacção mútuo e progressiva entre, por um lado um indivíduo activo, em constante crescimento” e por outro lado as propriedades sempre em transformação das mais imediatas em que o individuo vive, sendo este processo influenciado pela relação entre os contextos mais imediatos e os contextos mais vastos em que aqueles se integram (cit in Portugal, 1992, p. 37)

Esta citação enquadra-se no perfil do professor porque, como já foi dito, ele é um ser humano que se desenvolve no seu ambiente cercado de vários factores que o influenciam daí, a importância de conhecer o seu eu. Com efeito o reconhecimento daquilo que sou, quer das qualidades, quer dos defeitos facilita o professor na percepção do que é capaz. No entanto o docente precisa de ir mais além – precisa de ser uma boa companhia. De acordo com Hume (2005), um homem para se tornar numa companhia agradável, deve possuir boas maneiras e ser franco, pois como resultado disso, recebe a aprovação e afeição dos outros. Na verdade quando um professor detém a afeição dos alunos consegue uma maior aproximação dos mesmos. Integrando o pensamento de Russell (2000) nesta ideia de proximidade, o mesmo refere que:

Ninguém pode ser bom professor sem o sentimento de uma calorosa afeição pelos seus alunos e sem o desejo genuíno de partilhar com eles aquilo que, para si próprio, é um valor (p. 79).

Mais uma vez, realço as funções do professor no que concerne ao termo partilhar, através das palavras do autor acabado de citar. Ora, partilhar significa dividir segundo o dicionário da língua portuguesa, logo estamos perante mais uma exigência do docente. O facto de ter de partilhar os seus valores, implica possuí-los, mas se não os adquiriu convenientemente dentro do que é esperado para a sociedade, o que fazer? Diariamente confrontámo-nos com interrogações dos próprios alunos. Reconhecer que temos valores, é claro, mas eles serão suficientemente sólidos para os partilhar com os outros. A autoridade moral que um professor deve ter e consequentemente transmitir é muito importante, mas o erro, também, faz parte do ser humano. Para Morin (1994)

43 A vida comporta inúmeros processos de detecção, de rejeição do erro, e o facto extraordinário é que a vida comporta também processos de utilização do erro, não só para corrigir os seus próprios erros mas também para favorecer o aparecimento da diversidade e a possibilidade de evolução (p.111).

No entanto ao errar na transmissão de um valor, no sentido deste não ser suficientemente claro para quem o necessita de receber, pode suscitar desvios da intenção inicial. A comunicação que acompanha a transmissão de conteúdos associa-se a um contributo decisivo. Existem palavras que soam no ouvido que parecem música, o dito popular é antigo, mas com muito sentido. Quero dizer com isto que um profissional pode oferecer valores pouco organizados mas, também, pode possuí-los e não os saber comunicar convenientemente. Em qualquer momento da vida, um professor poderá se sentir que não está à altura de transmitir determinados valores. Perante esta situação, a comunicação identifica-se por um rosto de um valor com um nome, um caminho e uma esperança. Resta, portanto, adquirir uma consciência mais funda das limitações comunicativas no acto de educar de um professor. Tal como a citação anteriormente indica é nesta diversidade de situações que surge a evolução. Contudo esta função estende-se ainda a uma outra, a qual Russell (2000) salienta:

Uma das funções do professor deveria ser a de abrir novas perspectivas aos seus alunos, dando-lhes a conhecer as possibilidades de realização de actividades simultaneamente agradáveis e úteis (p. 80).

A abordagem foi realizada a contrário, passo a especificar “não existe senão sem bela”. Embora se por erro, os valores possam estar comprometidos ainda há uma vertente a ser transmitida. É certo que o nível educacional se elevou daí, percebermos que o professor deve ajudar os alunos a compreender e apreciar o mundo e as suas condições para o exercício de determinadas tarefas. Desde cedo, se as crianças perceberem que o mundo está rodeado de belezas naturais, as quais podemos desfrutar mas, também, espinhos que podem ser admiráveis. Esses espinhos fazem parte do nosso mundo e merecem o mesmo respeito do que os outros elementos mais agradáveis que estejam ao nosso alcance. Na verdade fazemos parte de um todo, onde cada coisa tem o seu lugar, existem categorias para tudo e se conseguirmo-nos encaixar dentro dessas categorias com gosto e utilidade, certamente não nos desviaremos do rumo mais adequado para viver agradavelmente. A sustentar e a transmitir este ideal, está seguramente o professor com suas mais ou menos encantadoras palavras.

44 Neste seguimento, irei fazer uma abordagem da relação pedagógica entre professor e aluno.