• Nenhum resultado encontrado

AC ω (R) e espa¸cos topol´ogicos SE e SSE

Na presente se¸c˜ao, iremos enunciar e demonstrar, em ZF, algumas equivalˆencias para ACω(R) que est˜ao relacionadas `as no¸c˜oes topol´ogicas de: espa¸co SE, espa¸co SSE, espa¸co pseudom´etrico separ´avel e subespa¸co Lindel¨of de R. Al´em disso, iremos provar, em ZF, que todos os subespa¸cos SSE de R s˜ao separ´aveis. Inicialmente, daremos a nossa contribui¸c˜ao apresentando uma constru¸c˜ao, em ZF, de um exemplo possivelmente conhecido, mas para o qual n˜ao conseguimos obter a constru¸c˜ao em nenhuma de nossas referˆencias. Este exemplo ´e o seguinte e interessante

Exemplo 4.4.1. Existe um espa¸co topol´ogico compacto SE que ´e SSE. Constru¸c˜ao:

De in´ıcio, lembre-se que o conjunto [ω]<ω ´e enumer´avel (pelo Corol´ario 2.1.3). Como obviamente [ω \ 1]<ω ⊂ [ω]<ω, ent˜ao segue do Corol´ario 1.1.16 que [ω \ 1]

´e enumer´avel. Fixe ent˜ao uma indexa¸c˜ao {Xk : k < ω} de [ω \ 1]<ω. Agora, considere o conjunto A := {0} ∪ 1

n : n ∈ ω \ 1 

munido da topologia de subespa¸co de R. Tome a sequˆencia hxnin>1 em R tal que, para todo n ∈ ω \ 1, xn:=

1

que A ´e um subespa¸co compacto de R.6 Al´em disso, tem-se que, para todo n ∈ ω \ 1,  1

n 

´e um aberto em A, pois, obviamente,

{1} = 1 2, 3 2  ∩ A e, para todo n ∈ ω \ 2,  1 n  =  1 n + 1, 1 n − 1  ∩ A.

Considere ent˜ao o conjunto B0 :=  1 n  : n ∈ ω \ 1  ∪  0, 1 n  ∩ A : n ∈ ω \ 1  e note que este conjunto ´e enumer´avel, por ser uni˜ao finita de conjuntos indexados por um conjunto enumer´avel (veja Proposi¸c˜ao 1.1.14 e Teorema 2.1.4).

Afirmamos que B0 ´e uma base de A. Com efeito: para cada n ∈ ω \ 1, tem-se que 1 n  e  0, 1 n  ∩ A =  −1,1 n 

∩ A s˜ao abertos em A, i.e., todo elemento de B0 ´e um aberto em A. Tome um aberto U qualquer em A. Sendo assim, existe um aberto V em R tal que U = V ∩ A. Se for U = ∅, nada a fazer. Se for U 6= ∅, tome um z ∈ U qualquer. H´a dois casos a considerar:

(1) Se ocorrer que z 6= 0, teremos obviamente que existe um ´unico n ∈ ω \ 1 tal que z ∈ 1

n 

⊆ U .

(2) Se ocorrer que z = 0, ent˜ao V ser´a uma vizinhan¸ca aberta de 0 em R. De R ser corpo ordenado arquimediano, seguir´a que existe um k ∈ ω \1 tal que

 −1 k, 1 k  ⊆ V , implicando que  0,1 k  ∩ A =  −1 k, 1 k  ∩ A ⊆ V ∩ A = U .

Dos dois casos acima, segue que, para todo z ∈ U , existe um B ∈ B0 tal que z ∈ B ⊆ U . Agora, seja B uma base qualquer de A.7 Considere, para cada m, n ∈ ω \ 1 tais que m 6 n, o conjunto Bhm,ni :=

 B ∈ B :  0,1 n  ∩ A ⊆ B ⊆  0, 1 m  ∩ A  . Considere ent˜ao o conjunto M := hm, ni ∈ (ω \ 1)2

: m 6 n e ∃ B ⊆ A B ∈ Bhn,mi e note que este conjunto ´e enumer´avel, j´a que est´a contido em um produto finito de um conjunto enumer´avel por si mesmo (veja Teorema 2.1.5). Note ainda que, para todo hm, ni ∈ M , Bhm,ni 6= ∅. Considere agora, para cada F ∈ [ω \ 1]<ω, o conjunto AF :=

 1

n : n ∈ F 

. Facilmente se verifica que, para todo hm, ni ∈ M ,

Bhm,ni =  B ∈ B : ∃ F ⊆ n \ m  B =  0,1 n  ∩ A  ∪ AF  .

6Veja a nota de rodap´e da p´agina 83.

7Note que A admite ao menos uma base B de tamanho c. De fato: basta fixar uma base B ∗ de A

(por exemplo, B∗ = B0) e tomar a fam´ılia B := B∗∪ P (A \ {0}). Facilmente se verifica que essa fam´ılia

Al´em disso, para todo F ⊆ n \ m, existe um k < ω tal que F = Xk (pois, obviamente, P (n \ m) ⊂ [ω \ 1]<ω). Consequentemente, para todo hm, ni ∈ M ,

k(m, n) := min  k ∈ ω :  0, 1 n  ∩ A  ∪ AXk ∈ Bhm,ni 

est´a bem definido.

Tome, para cada hm, ni ∈ M , o conjunto Bhm,ni :=  0, 1 n  ∩ A  ∪ AXk(m,n) ∈ Bhm,ni. Ent˜ao, para cada hm, ni ∈ M , tem-se que

 0,1 n  ∩ A ⊆ Bhm,ni ⊆  0, 1 m  ∩ A.

Agora, afirmamos que o conjunto B1 :=Bhm,ni : hm, ni ∈ M ⊆ B ´e uma base local enumer´avel para o ponto 0. De fato: ´e claro que B1 ´e enumer´avel, pois est´a indexado por um conjunto enumer´avel. Pela pr´opria defini¸c˜ao dada para B1, ´e evidente que todo elemento de B1 ´e uma vizinhan¸ca aberta de 0 em A. Seja W uma vizinhan¸ca aberta qualquer de 0 em A. Com aquele argumento dado em (2), conclui-se que existe um m ∈ ω \ 1 tal que

 0, 1

m 

∩ A ⊆ W . Como B ´e uma base de A e 

0, 1 m



∩ A ´e uma vizinhan¸ca aberta de 0 em A, ent˜ao existe um B ∈ B tal que 0 ∈ B ⊆

 0, 1

m 

∩ A. Novamente com aquele argumento dado em (2), conclui-se que existe um n ∈ ω \ 1 tal que 

0,1 n 

∩ A ⊆ B, j´a que B ´e uma vizinhan¸ca aberta de 0 em A. Consequentemente, existe um hm, ni ∈ M tal que  0,1 n  ∩ A ⊆ Bhm,ni ⊆  0, 1 m  ∩ A ⊆ W . Logo, existe um B ∈ B1 tal que B ⊆ W . Disso, ´e f´acil concluir que o conjunto B2 :=

 1 n  : n ∈ ω \ 1  ∪ B1 ´e uma base de A. Como B1 ⊆ B e, para cada n ∈ ω \ 1, tem-se que

 1 n



est´a contido em qualquer base de A, segue de imediato que B2 est´a contido em B. Al´em disso, ´e claro que B2 ´e enumer´avel, por ser uni˜ao finita de conjuntos enumer´aveis.8

Uma outra maneira de concluir que B possui uma subfam´ılia enumer´avel que tamb´em ´e base do subespa¸co A ´e a seguinte: para cada n ∈ ω \ 1 e cada F ∈ [ω \ 1]<ω, considere o conjunto Bhn,F i :=  0,1 n  ∩ A 

∪ AF. Com isso, considere agora o conjunto V0 := Bhn,F i : hn, F i ∈ (ω \ 1) × [ω \ 1]<ω e observe que este conjunto ´e enumer´avel, pois est´a indexado por um produto finito de conjuntos enumer´aveis. Assim, tem-se que o conjunto B3 :=  1

n 

: n ∈ ω \ 1 

∪ (B ∩ V0) ´e enumer´avel, por ser uni˜ao finita de conjuntos enumer´aveis. Sem muita dificuldade, verifica-se tamb´em que B3 ´e uma base de A que est´a contida em B.

Portanto, da argumenta¸c˜ao que foi dada, segue que A, como subespa¸co de R, ´e

8Esta primeira forma de argumentar para a constru¸c˜ao do exemplo ´e, de fato, bastante trabalhosa,

mas ´e dada com o intuito de estabelecer uma compara¸c˜ao com o argumento dado para a demonstra¸c˜ao do Teorema 2.2.11, na qual ACω´e utilizado.

um espa¸co topol´ogico compacto SE que ´e SSE.  Observa¸c˜ao 4.4.2. Note que, apesar do uso de ACω(R) na prova do Teorema 2.3.2, o Exemplo 4.4.1 nos mostra que existem casos em que n˜ao ´e necess´ario usar princ´ıpio de escolha algum para se provar que certos espa¸cos topol´ogicos SE s˜ao SSE. Por´em, isto n˜ao ´e verdade para o espa¸co R, como ser´a visto no Teorema 4.4.5, logo mais adiante. △

´

E interessante destacar que, utilizando argumento an´alogo ao que ´e dado no pen´ultimo paragr´afo da constru¸c˜ao do Exemplo 4.4.1, pode-se provar uma das implica¸c˜oes do seguinte complemento ao Teorema 4.3.3:

Teorema 4.4.3. S˜ao equivalentes: (i) ACω.

(ii) Todo espa¸co topol´ogico SSE ´e separ´avel. Demonstra¸c˜ao:

(i) =⇒ (ii) : J´a est´a demonstrada (veja Corol´ario 2.2.15).

(ii) =⇒ (i) : Tal como na prova de (ii) =⇒ (i) do Teorema 4.3.3, suponha que ACω n˜ao valha e considere o espa¸co pseudom´etrico n˜ao separ´avel, X = {h0, 0i} ∪

[

n>1 Bn, que ´e constru´ıdo a partir desta suposi¸c˜ao. Agora, como o conjunto [ω]<ω ´e enumer´avel e, obviamente, [ω \ 1]<ω ⊂ [ω]<ω, tem-se ent˜ao que [ω \ 1]´e enumer´avel. Considere, para cada F ∈ [ω \ 1]<ω, o conjunto XF :=

[

n∈F

Bn. Considere agora, para cada n ∈ ω \ 1 e cada F ∈ [ω \ 1]<ω, o conjunto Bhn,F i := B



h0, 0i, 1 n



∪ XF. Tome ent˜ao o conjunto V0 := Bhn,F i : hn, F i ∈ (ω \ 1) × [ω \ 1]<ω e observe que este conjunto ´e enumer´avel, pois est´a indexado por um produto finito de conjuntos enumer´aveis. Tome agora uma base B qualquer de X. Considere ent˜ao o conjunto B1 := {Bn : n ∈ ω \ 1} ∪ (B ∩ V0). Note que B1 ´e enumer´avel, por ser uni˜ao finita de conjuntos enumer´aveis. Verifica-se, sem muita dificuldade, que B1 ´e uma base de X que est´a contida em B. Ent˜ao, j´a que B foi tomada qualquer, conclui-se que X ´e SSE. Consequentemente, existe um espa¸co pseudom´etrico (logo topol´ogico) SSE que n˜ao ´e separ´avel. Portanto, a implica¸c˜ao segue

por contraposi¸c˜ao. 

Como j´a foi visto, o Teorema 4.2.1 nos garante que ACω(R) ´e equivalente `a asser¸c˜ao “todo subespa¸co de R ´e separ´avel”. Contudo, tal equivalˆencia n˜ao ´e de longe a ´

unica entre ACω(R) e asser¸c˜oes topol´ogicas que envolvem certas fam´ılias de subespa¸cos de R, conforme nos diz o seguinte e importante

Lema 4.4.4. S˜ao equivalentes: (i) ACω(R).

(ii) ACω restrito `as fam´ılias (enumer´aveis) de subconjuntos densos de R. (iii) Todo subespa¸co de R ´e separ´avel.

(iv) Todo subespa¸co SE de R ´e separ´avel. (v) Todo subespa¸co denso de R ´e separ´avel. Demonstra¸c˜ao:

(i) ⇐⇒ (iii) : J´a est´a demonstrada (veja o Teorema 4.2.1).

(i) =⇒ (ii) : ´E imediato, j´a que toda fam´ılia de subconjuntos densos de R ´e obviamente constitu´ıda por subconjuntos n˜ao vazios de R.

Para prosseguir com a demonstra¸c˜ao, considere inicialmente a base enumer´avel B = {]a, b[ : a, b ∈ Q e a < b} de R. Fixe ent˜ao uma indexa¸c˜ao {]an, bn[ : n < ω} de B. Para cada n < ω, tome o correspondente ]an, bn[ ∈ B e defina ϕn : ]0, 1[ −→ ]an, bn[ pondo ϕn(x) = (bn− an)x + an. Claramente, para todo n < ω, ϕn est´a bem definida e ´e um homeomorfismo. Considere ψ : R −→ ]0, 1[ definida por ψ(x) = 1

2  1 + x 1 + |x|  . Sem muita dificuldade, verifica-se que ψ est´a bem definida e que ´e um homeomorfismo. Finalmente, para cada n < ω, tome fn : R −→ ]an, bn[ definida por fn(x) = (ϕn◦ ψ)(x). ´

E claro que, para todo n < ω, fn ´e um homeomorfismo, pois o s˜ao ϕn e ψ. Agora, prossigamos com a prova das seguintes implica¸c˜oes:

(iii) ⇐⇒ (iv) : Por um lado, valendo (iii), ´e imediato concluirmos que todo subespa¸co SE de R ´e separ´avel. Por outro lado, como R ´e SE, ent˜ao todo subespa¸co de R´e SE (pela Proposi¸c˜ao 1.2.11). Portanto, supondo-se que (iv) valha, podemos concluir que todo subespa¸co de R ´e separ´avel.

(ii) =⇒ (v) : Seja D um subespa¸co denso qualquer de R. Para cada n < ω, temos claramente que f−1

n : ]an, bn[ −→ R ´e cont´ınua e sobrejetora (por ser a inversa de um homeomorfismo) e que D ∩ ]an, bn[ ´e denso em ]an, bn[ (pois a interse¸c˜ao de um subespa¸co aberto com um subconjunto denso ´e denso em um tal subespa¸co). Sendo assim, para cada n < ω, conclu´ımos que o conjunto Dn := fn−1D ∩ ]an, bn[ ´e um subconjunto denso de R (j´a que a imagem de um subconjunto denso por uma fun¸c˜ao cont´ınua e sobrejetora ´e um denso no contradom´ınio). Considere ent˜ao o conjunto F := {Dn: n < ω}. Temos obviamente que F ´e uma fam´ılia enumer´avel de subconjuntos densos de R. Com isso, se admitirmos que (ii) valha, podemos ent˜ao concluir que existe uma fun¸c˜ao-escolha para F, i.e., uma fun¸c˜ao φ : F −→S F tal que, para todo n < ω, φ (Dn) ∈ Dn. Considere agora, para cada n < ω, dn := fn(φ (Dn)). Afirmamos que o conjunto D0 := {dn: n < ω} ´e um

subconjunto enumer´avel denso de D. Com efeito: claramente, temos que D0´e enumer´avel. Ora, para cada n < ω, ´e evidente que dn∈ fn[Dn] = D ∩ ]an, bn[ ⊆ D. Segue obviamente disso que D0 ⊆ D e que D0 intersecta cada elemento do conjunto BD := {D ∩ I : I ∈ B}. Como BD ´e uma base de D (visto que B ´e uma base de R), ent˜ao D0 ´e denso em D. Consequentemente, D ´e um subespa¸co separ´avel de R.

(v) =⇒ (i) : Seja F uma fam´ılia infinita enumer´avel qualquer de subconjuntos n˜ao vazios de R. Fixe ent˜ao uma enumera¸c˜ao {Xn: n < ω} de F. Com isso, tome o conjunto

D := [

n<ω

fn[Xn] ⊆ R. Observe que, para cada n < ω, o correspondente ]an, bn[ ∈ B ´e tal que D ∩ ]an, bn[ ⊇ D ∩ fn[Xn] = fn[Xn] 6= ∅ (pois, por hip´otese, Xn 6= ∅). Como B ´e uma base de R, ent˜ao D ´e um subespa¸co denso de R. Assim, supondo-se que (v) valha, pode-se concluir que existe um conjunto D0 que ´e subconjunto enumer´avel denso de D. Logo, conclui-se que D0 tamb´em ´e denso em R (pois um denso em um subespa¸co denso ´e denso). Considere agora o conjunto M := {n ∈ ω : D0∩ fn[Xn] 6= ∅}. Afirmamos que M ´e infinito. De fato: suponha que M seja finito. Para ver que isto nos levar´a a uma contradi¸c˜ao, note inicialmente que:

D0 = D0∩ D = D0∩ [ n<ω fn[Xn] = D0∩   [ n∈M fn[Xn] ∪ [ n∈ω\M fn[Xn]  ⊆ ⊆ [ n∈M fn[Xn] ∪ [ n∈ω\M (D0∩ fn[Xn]) ⊆ [ n∈M ]an, bn[ ∪ ∅ = [ n∈M ]an, bn[ .

Com isso, temos que D0 est´a contido em uma uni˜ao de subconjuntos limitados de R. Sendo M finito, seguir´a que D0 ´e limitado em R, contradizendo o fato de D0 ser denso em R (j´a que R ´e ilimitado em si mesmo). Ent˜ao, fixando-se uma indexa¸c˜ao {dk : k < ω} de D0, conclui-se que, para todo n ∈ M , k(n) := min {k ∈ ω : dk ∈ fn[Xn]} est´a bem definido. Considere agora o conjunto FM := {Xn : n ∈ M } ⊆ F. Ora, ´e claro que FM ´e uma subfam´ılia infinita de F, por ser imagem do conjunto infinito M pela enumera¸c˜ao de F. Obviamente, para todo n ∈ M , dk(n) ∈ fn[Xn]. Com isso, defina φ : FM −→ S FM pondo, para todo n ∈ M , φ (Xn) := fn−1 dk(n). Como ´e f´acil verificar que n = m implica fn = fm, e temos que {Xn : n < ω} ´e uma enumera¸c˜ao de F, segue ent˜ao que φ est´a bem definida. Al´em disso, temos que φ ´e uma fun¸c˜ao-escolha para FM, j´a que, para todo n ∈ M , φ (Xn) ∈ fn−1[fn[Xn]] = Xn. Como F foi tomada qualquer, conclu´ımos que “toda fam´ılia infinita enumer´avel de subconjuntos n˜ao vazios de R possui uma subfam´ılia infinita que admite uma fun¸c˜ao-escolha”. Ora, sabemos que esta asser¸c˜ao ´e equivalente a ACω(R) (pelo Teorema 2.4.2). Portanto, segue da validade de (v) que ACω(R) tamb´em

vale. 

principais resultados desta se¸c˜ao, que ´e dado pelo seguinte Teorema 4.4.5. S˜ao equivalentes:

(i) ACω(R).

(ii) Todo espa¸co topol´ogico SE ´e SSE.

(iii) Todo espa¸co pseudom´etrico separ´avel ´e SSE. (iv) [0, 1] ´e SSE.

(v) R ´e SSE. Demonstra¸c˜ao:

(i) =⇒ (ii) : J´a est´a demonstrada (veja Teorema 2.3.2).

(ii) =⇒ (iii) : Sabemos que todo espa¸co pseudom´etrico separ´avel ´e SE (pelo Teorema 2.1.7). Portanto, admitindo-se a validade de (ii), pode-se concluir que todo espa¸co pseudom´etrico separ´avel ´e SSE.

(iii) =⇒ (iv) : Como Q ´e um subconjunto enumer´avel denso de R, ent˜ao o conjunto Q ∩ [0, 1] ⊂ Q ´e enumer´avel (pelo Corol´ario 1.1.16) e subconjunto denso de [0, 1] (j´a que o conjunto B = {]x, y[ ∩ [0, 1] : x, y ∈ R} \ {∅} ´e uma base de [0, 1] tal que todo elemento de B intersecta Q). Assim, tem-se que [0, 1] ´e um subespa¸co separ´avel de R. Portanto, admitindo-se que (iii) valha, pode-se concluir que [0, 1] ´e SSE.

(iv) =⇒ (v) : J´a sabemos que ]0, 1[ ´e homeomorfo a R. Ent˜ao, para provar que (iv) implica que R ´e SSE, ´e basta mostrar que (iv) implica que ]0, 1[ ´e SSE. Para mostrar isso, tome uma base B qualquer de ]0, 1[ e considere o conjunto

B′ :=  0,1 n  : n ∈ ω \ 1  ∪  1 − 1 n, 1  : n ∈ ω \ 1  ∪ B.

Afirmamos que B′´e uma base de [0, 1]. Com efeito: ´e imediato concluir que todo elemento de B ´e um aberto em [0, 1], pois, obviamente, ]0, 1[ ´e um aberto em [0, 1]. Al´em disso, ´e claro que, para todo n ∈ ω \ 1,

 0,1 n  =  −1,1 n  ∩ [0, 1] e  1 − 1 n, 1  =  1 − 1 n, 2  ∩ [0, 1] s˜ao abertos em [0, 1]. Logo, todo elemento de B′ ´e um aberto em [0, 1]. Seja U um aberto em [0, 1], i.e., U = V ∩ [0, 1], para algum aberto V em R. Caso seja U = ∅, nada a fazer. Caso contr´ario, tome um z ∈ U qualquer. Temos ent˜ao trˆes casos a considerar:

(1) Se for z = 0, como U ⊆ V , ent˜ao V ser´a uma vizinhan¸ca aberta de 0 em R. Disso, e de R ser corpo ordenado arquimediano, concluiremos que existe um k ∈ ω \ 1 tal que  −1 k, 1 k 

⊆ V . Com isso, teremos que  0,1 k  =  −1 k, 1 k  ∩ [0, 1] ⊆ V ∩ [0, 1] = U .

(2) Se for z = 1, com argumento an´alogo ao do caso anterior, iremos concluir que existe um k ∈ ω \ 1 tal que

 1 − 1 k, 1 + 1 k 

⊆ V . Por conseguinte, teremos que  1 − 1 k, 1  =  1 − 1 k, 1 + 1 k  ∩ [0, 1] ⊆ V ∩ [0, 1] = U .

(3) Se for z 6= 0 e z 6= 1, teremos que z ∈ U \ {0, 1} = V ∩ ([0, 1] \ {0, 1}) = V ∩ ]0, 1[. Como obviamente V ∩ ]0, 1[ ´e um aberto em ]0, 1[, ent˜ao existir´a um B ∈ B ⊂ B′ tal que z ∈ B ⊆ U \ {0, 1} ⊆ U .

Dos trˆes casos acima, segue que, para todo z ∈ U , existe um B ∈ B′ tal que z ∈ B ⊆ U . Ent˜ao, admitindo-se a validade de (iv), pode-se concluir que existe uma base enumer´avel B′

0 de [0, 1] contida em B′. Sendo assim, considere o conjunto B0 := B0′ ∩ B. Ora, ´e claro que B0 ´e enumer´avel, j´a que B0 ⊂ B0′. Mais do que isso: temos que B0 ´e uma base de ]0, 1[. De fato: como B0 ⊆ B, temos claramente que todo elemento de B0 ´e um aberto em ]0, 1[. Seja W um aberto qualquer em ]0, 1[. Como ]0, 1[ ´e um aberto em [0, 1], ´e imediato concluir que W tamb´em ´e um aberto em [0, 1]. Se for W = ∅, nada a fazer. Se for W 6= ∅, tome um w ∈ W qualquer. De B′

0 ser base de [0, 1], conclu´ımos que existe um B ∈ B′

0 tal que w ∈ B ⊆ W . J´a que W ⊆ ]0, 1[, ent˜ao 0 6∈ B e 1 6∈ B. Disso, e de termos B′

0 ⊆ B′, segue de imediato que B ∈ B. Logo, B ∈ B0′ ∩ B = B0. Portanto, temos que ]0, 1[ ´e SSE.

(v) =⇒ (i) : Suponha que (v) valha. Conforme o Lema 4.4.4, para se concluir a validade de ACω(R), ´e suficiente provar que todo subespa¸co denso de R ´e separ´avel. Para provar isso, tome um subespa¸co denso D qualquer de R. Sendo assim, pode-se mostrar facilmente que o conjunto B := {]a, b[ : a, b ∈ D e a < b} ´e uma base de R. Ent˜ao, da validade de (v), conclui-se que existe uma base enumer´avel B0 de R contida em B. Fixe ent˜ao uma indexa¸c˜ao {]an, bn[ : n < ω} de B0. Agora, defina ϕ : B −→ D pondo ϕ (]a, b[) := a. ´E claro que ϕ est´a bem definida, por constru¸c˜ao. Considere ent˜ao o conjunto D0 := ϕ [B0] ⊆ D e note que este conjunto ´e enumer´avel, j´a que ´e imagem de um conjunto enumer´avel por uma fun¸c˜ao (veja Corol´ario 1.1.17). Afirmamos que D0 ´e denso em D. Com efeito: para concluir o afirmado, basta mostrar que D0 ´e denso em R (j´a que D0

D = D0

R

∩ D). Mostremos isso: fixe arbitrariamente um n < ω e considere o correspondente ]an, bn[ ∈ B0. Tome um z ∈ ]an, bn[ qualquer e fixe um ε > 0 tal que ε 6 1

2min {z − an, bn− z}. Tome agora o conjunto V := ]z − ε, z + ε[ ⊂ ]an, bn[. Como B0 ´e uma base de R e V ´e, obviamente, uma vizinhan¸ca aberta de z em R, conclui-se que existe um k < ω tal que o correspondente ]ak, bk[ ∈ B0 satisfaz a condi¸c˜ao de que z ∈ ]ak, bk[ ⊆ V ⊂ ]an, bn[. Segue facilmente disso que ak ∈ ]an, bn[. Al´em disso, pela defini¸c˜ao de ϕ, ´e claro que ak = ϕ (]ak, bk[) ∈ D0. Consequentemente, ]an, bn[ ∩ D0 6= ∅. Como n < ω foi tomado arbitr´ario, conclui-se que D0 ´e denso em R e, por conseguinte,

que D ´e separ´avel. Portanto, j´a que D foi tomado qualquer, segue que todo subespa¸co

denso de R ´e separ´avel. 

Observa¸c˜ao 4.4.6. Para as demonstra¸c˜oes do Lema 4.4.4 e do Teorema 4.4.5, demos a nossa contribui¸c˜ao apresentando a justificativa de todos os detalhes das provas dadas pelo autor do artigo [Gut04], no qual obtivemos os resultados que est˜ao expressos no lema e

no teorema referidos. △

Corol´ario 4.4.7. S˜ao equivalentes: (i) ACω(R).

(ii) Todo subespa¸co Lindel¨of de R ´e SSE. Prova:

(i) =⇒ (ii) : Pelo fato de R ser SE, tem-se que todo subespa¸co de R ´e SE (pela Proposi¸c˜ao 1.2.11). Ent˜ao, valendo ACω(R), pode-se concluir, pelo Teorema 4.4.5, que todo subespa¸co de R ´e SSE.

(ii) =⇒ (i) : Basta verificar que a contrapositiva vale. Suponha que ACω(R) n˜ao valha. Sendo assim, segue do Teorema 4.4.5 que [0, 1] n˜ao ´e SSE. Ora, temos que [0, 1] ´e Lindel¨of, por ser compacto (veja Teorema 2.1.12). Portanto, existe um subespa¸co

Lindel¨of de R que n˜ao ´e SSE. 

Corol´ario 4.4.8. Se todo espa¸co m´etrico Lindel¨of for SSE,9 ent˜ao AC

ω(R) vale. 

O Corol´ario 4.4.8 ´e uma consequˆencia imediata do Corol´ario 4.4.7, pois segue obviamente da sua hip´otese que todo subespa¸co Lindel¨of de R ´e SSE.

Agora, com o prop´osito de motivar o ´ultimo dos principais resultados desta se¸c˜ao, vamos nos reportar ao Teorema 4.4.3. A princ´ıpio, pode parecer surpreendente que o item (ii) desse teorema, quando restrito aos subespa¸cos de R, possa ser provado em ZF. Contudo, isso ´e justamente o que garante o ´ultimo dos principais resultados apresentados nesta se¸c˜ao, o qual passamos a enunciar no seguinte

9Observe que n˜ao faz sentido enunciar este corol´ario com a hip´otese mais geral de que todo espa¸co

topol´ogico Lindel¨of ´e SSE, devido ao seguinte fato: a compactifica¸c˜ao de Alexandroff de um dado espa¸co discreto n˜ao enumer´avel ´e um espa¸co Lindel¨of (por ser compacto) que n˜ao tem base enumer´avel alguma (j´a que possui um subconjunto n˜ao enumer´avel de pontos isolados).

Teorema 4.4.9. Todo subespa¸co SSE de R ´e separ´avel. Demonstra¸c˜ao:

Seja A um subespa¸co SSE de R. Como ´e evidente que ∅ ´e um subespa¸co SSE separ´avel de R, podemos ent˜ao supor que A ´e n˜ao vazio. Sem perda de generalidade, podemos supor tamb´em que todo a ∈ A ´e ponto de acumula¸c˜ao de A, pois, se a ∈ A for ponto isolado, ent˜ao {a} pertencer´a a qualquer base de A.10 Agora, considere os seguintes conjuntos:

B1 := {]a, b[ ∩ A : a, b ∈ A} ;

B2 := {[c, d[ ∩ A : c, d ∈ A e ∃ δ > 0 (]c − δ, c[ ∩ A = ∅)} ; B3 := {]e, f ] ∩ A : e, f ∈ A e ∃ δ > 0 (]f, f + δ[ ∩ A = ∅)} .

Afirmamos que o conjunto B := (B1∪ B2∪ B3) \ {∅} ´e uma base de A. Com efeito: todos os elementos de B s˜ao abertos em A, pois: dados a, b, c, d, e, f ∈ R quaisquer, temos que ]a, b[ ∩ A ´e claramente um aberto em A e, caso existam δ, δ′ > 0 tais que ]c − δ, c[ ∩ A = ∅ = ]f, f + δ′[ ∩ A, teremos tamb´em que [c, d[ ∩ A = ]c − δ, d[ ∩ A e ]e, f ] ∩ A = ]e, f + δ′[ ∩ A s˜ao abertos em A. Seja U um aberto em A, i.e., U = V ∩ A, para algum aberto V em R. Caso seja U = ∅, nada a fazer. Caso contr´ario, teremos que V 6= ∅, o que implica que V ´e uma uni˜ao de intervalos abertos e limitados em R. Assim, podemos supor, sem perda de generalidade, que U ´e um aberto b´asico n˜ao vazio de A da forma ]x, y[ ∩ A, com x, y ∈ R e x < y. Seja ent˜ao w ∈ U = ]x, y[ ∩ A qualquer. Como w ∈ A, ent˜ao w ´e um ponto de acumula¸c˜ao de A. Logo, ]x, y[ ∩ (A \ {w}) 6= ∅, pois, obviamente, ]x, y[ ´e uma vizinhan¸ca aberta de w em R. Consequentemente, temos trˆes casos a considerar. S˜ao eles:

(1) Existem a, b ∈ A tais que a ∈ ]x, w[ e b ∈ ]w, y[. Disso, segue imediatamente que w ∈ ]a, b[ ∩ A ⊆ ]x, y[ ∩ A = U .

(2) Existe d ∈ A tal que d ∈ ]w, y[ e ]x, w[ ∩ A = ∅. Conclui-se facilmente disso que [w, d[ ∩ A ⊆ ]x, y[ ∩ A = U . Tomando δ = w − x > 0, tem-se evidentemente que ]w − δ, w[ ∩ A = ]x, w[ ∩ A = ∅.

(3) Existe e ∈ A tal que e ∈ ]x, w[ e ]w, y[ ∩ A = ∅. Facilmente se conclui disso que ]e, w] ∩ A ⊆ ]x, y[ ∩ A = U . Tomando δ = y − w > 0, tem-se obviamente que ]w, w + δ[ ∩ A = ]w, y[ ∩ A = ∅.

10Em virtude da Proposi¸c˜ao 1.2.2, tem-se que A ´e SE e, por conseguinte, que o conjunto dos pontos

isolados de A (que, eventualmente, estejamos descartando) ´e, no m´aximo, infinito enumer´avel – e n˜ao h´a conflito algum entre a nossa suposi¸c˜ao e a hip´otese de A ser SSE.

Pelos trˆes casos acima, tem-se que, para todo w ∈ U , existe um B ∈ B tal que w ∈ B ⊆ U . Ent˜ao, j´a que o subespa¸co A ´e SSE, segue que existe uma base enumer´avel B0de A contida em B.

Para prosseguirmos com a demonstra¸c˜ao, provemos agora o seguinte

Fato 4.4.10. Dado A ⊆ R tal que A 6= ∅ e dados intervalos I, J ⊂ R com extremos

inferiores, respectivamente, aI, aJ ∈ A tais que aI 6∈ I e aJ 6∈ J, se I ∩ A = B = J ∩ A

e B 6= ∅, ent˜ao aI = aJ. Prova:

Suponha, por absurdo, que tenhamos aI < aJ (para o caso aI > aJ, a prova segue de forma an´aloga). Como B 6= ∅, podemos fixar um c ∈ B. Logo, c ∈ J e aI < aJ < c. Disso, de termos que c ∈ I e de I ser intervalo com extremo inferior aI, seguir´a que aJ ∈ I. J´a que aJ ∈ A, teremos ent˜ao que aJ ∈ I ∩ A = B. Portanto, como tamb´em

B = J ∩ A ⊆ J, concluiremos que aJ ∈ J, uma contradi¸c˜ao. 

Agora, observe que todos os elementos de B s˜ao obviamente n˜ao vazios (pela pr´opria defini¸c˜ao de B). Com isso, podemos definir f : B −→ A pondo

f (B) :=                 

min (B) , se B tiver elemento m´ınimo; aI, se B n˜ao tiver elemento m´ınimo

e existir um intervalo limitado I, com extremo inferior aI, tal que B = I ∩ A, aI ∈ A e aI 6∈ I.

Notemos que f est´a bem definida, pois: se B ∈ B tiver elemento m´ınimo, ent˜ao ´e claro que f (B) existir´a, ser´a unicamente determinado e pertencer´a a B ⊆ A. Se B ∈ B n˜ao tiver elemento m´ınimo, ent˜ao, pela defini¸c˜ao de B, teremos que B = I ∩ A, para algum intervalo limitado I, com extremo inferior aI ∈ A e aI 6∈ I. Ora, se tivermos outro intervalo limitado J, com extremo inferior aJ ∈ A e aJ 6∈ J, tal que B = J ∩ A, ent˜ao o Fato 4.4.10 nos garante que aI = aJ. Consequentemente, al´em de existir e pertencer a A, tamb´em teremos f (B) unicamente determinado.

Considere ent˜ao o conjunto D := f [B0] ⊆ A. ´E claro que D ´e enumer´avel, pois ´e imagem de um conjunto enumer´avel por uma fun¸c˜ao (veja Corol´ario 1.1.17). Al´em disso, temos que D ´e denso em A. De fato: isto ´e consequˆencia de um resultado mais geral, enunciado no seguinte

do subespa¸co A, ent˜ao f [B] ´e denso em A. Prova:

Dado U ∈ B∗ qualquer, como B∗ ⊆ B, segue disso que U 6= ∅ e que existe um intervalo limitado I tal que U = I ∩ A. Tome ent˜ao um v ∈ U qualquer. Como U ⊆ A, ent˜ao v ∈ A e, por conseguinte, v ´e ponto de acumula¸c˜ao de A. Ora, disso, e de U ser aberto em A, segue que {v} ⊂ U . Sendo assim, existe um w ∈ U tal que w 6= v. Sem perda de generalidade, podemos supor que v < w. Como R ´e T2, e ser T2 ´e uma propriedade heredit´aria (pela Proposi¸c˜ao 1.2.11), segue que o subespa¸co A tamb´em ´e T2. Assim, existem U1 e U2 abertos em A tais que v ∈ U1, w ∈ U2 e U1∩ U2 = ∅. Agora, observe que U ∩ U1 e U ∩ U2 s˜ao claramente abertos em A e que v ∈ U ∩ U1 e w ∈ U ∩ U2. Ora, temos que B∗ ´e, por hip´otese, uma base do subespa¸co A. Por conseguinte, existem V, W ∈ B∗ tais que v ∈ V ⊆ U ∩ U1 e w ∈ W ⊆ U ∩ U2. ´E imediato ver que V ∩ W = ∅, pois claramente V ⊆ U1 e W ⊆ U2. Caso W tenha elemento m´ınimo, teremos ent˜ao que f (W ) ∈ W . Como obviamente W ⊆ U , seguir´a disso que f (W ) ∈ U . Caso contr´ario, teremos que f (W ) 6∈ W e que f (W ) ser´a o extremo inferior de algum intervalo limitado

Documentos relacionados