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1. CARTOGRAFIA DAS CONTROVÉRSIAS DAS PRÁTICAS ARQUITETÔNICAS

1.2. PRÁTICAS PARTICIPATIVAS

1.2.4. Academia e Participação

Desde os anos 1960 já se falava na importância de se articular participação às ferramentas pedagógicas. Rodrigo Lefèvre (1891), um dos arquitetos integrantes do grupo Arquitetura Nova, defendia nessa época a ideia de um canteiro-escola.

Mais tarde, na década de 1980, essas ideias ganharam força. O Laboratório de Habitação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Belas Artes (FEBASP), São Paulo, foi o primeiro a ser implantado, em 1982, justamente em um momento político de redemocratização do país. De acordo com Pompéia (2007), essa conjuntura era favorável para que a FEBASP se firmasse no cenário comercial como uma faculdade nova, que acolhia as expectativas políticas e técnicas da época. A proposta de criação desse laboratório incluía disciplinas optativas, núcleos de pesquisa e prestação de serviço. Em entrevista à revista AU, número 3 de novembro de 1985, Joan Villá, coordenador do laboratório, afirmara ser o objetivo dessa experiência a formação de arquitetos conscientes da realidade da população pobre das metrópoles, e para isso eram pesquisadas tanto técnicas construtivas e organizações tipológicas, quanto discutidas importantes questões urbanas pertinentes ao tema da habitação. A estrutura inicial contava com cinco professores − cuja hora trabalhada ali era equivalente a 1 hora-aula − e vinte alunos − que recebiam meia bolsa por um prazo de 6 a 18 meses −, envolvidos tecnicamente e simbolicamente em ações de forte implicações sociais, tendo, inclusive o papel de mediadores entre as comunidades e o poder público. Em meados da década de 1980, problemas financeiros e conflitos de interesse nos rumos da instituição levaram ao fechamento da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Belas Artes, e, mais tarde, ao fim do laboratório.

Movido pelo mesmo objetivo de formar um espaço para uma formação crítica dos alunos, o Laboratório de Habitação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Campinas (L’Habitat) foi montado como sendo um órgão de extensão da faculdade. Pompéia (2007) analisa que o vínculo com a universidade permitia uma contaminação recíproca entre as discussões relativas à gestão pública, o ensino e as pesquisas desenvolvidas ali. De uma ação direta com as comunidades, característica dos outros laboratórios, esse laboratório adquiriu um perfil mais acadêmico, firmando parcerias com órgãos públicos ligados à educação, inclusive os de fomento à pesquisa.

Já o Laboratório de Habitação da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) foi praticamente uma continuidade do Laboratório de Habitação das Belas Artes em São Paulo, visto que recebeu alguns de professores, com sua experiência. O fato de estar vinculado a uma universidade pública permitiu uma ação mais autônoma. Além disso, a Unicamp, naquele momento, em oposição ao modelo departamental, e afinada com o conceito de inter e multidisciplinaridade, estava resgatando a ideia de se criar núcleos e centros de pesquisa. Além da assessoria técnica em busca por alternativas mais econômicas e de qualidade da produção habitacional hegemônica, o laboratório tinha o papel de mediador entre as comunidades e o poder público, explicitado, inclusive, pelos seus princípios norteadores − Política, tecnologia e Inserção social.

Os protótipos em painéis cerâmicos construídos pelo laboratório da Unicamp obtiveram tanta visibilidade que, em meados de 1986, muitos outros foram encomendados, demandando que a estrutura existente no laboratório agregasse mais profissionais, o que aconteceu no início de 1987. Contudo, o crescimento do volume de trabalhos do laboratório provocou um aumento de reuniões e negociações com as instituições

públicas, como a prefeitura. Com isso, analisa Pompéia, diminui-se a disponibilidade de tempo dos arquitetos para participarem das reuniões com as comunidades. Ou seja, o aumento de trabalho levou a uma burocratização do processo e à transformação do laboratório em prestador de serviço, distanciando-o das suas diretrizes participativas originais.

Ainda segundo Pompéia, tal independência era também acadêmica, não houve envolvimento de alunos, não foi construído um projeto pedagógico associado, nem mesmo como campo de estágio. O foco principal era a produção de conhecimento que permitisse a autonomia das comunidades carentes quanto à produção de suas moradias. Ou seja, a formação que havia se destinava aos pedreiros, para se tornarem instrutores especializados do laboratório, e, por isso, havia a preocupação em desenvolver nas cartilhas produzidas uma linguagem acessível.

A expectativa da reitoria da Unicamp em relação ao laboratório era que este estabelecesse diretrizes para a montagem de uma escola de arquitetura na Universidade, o que não aconteceu − tendo em vista seu crescente distanciamento da estrutura acadêmica −, deixando espaço para que a Faculdade de Engenharia − que já estava enciumada com a repercussão do laboratório − o fizesse.

A implantação do Laboratório do Grêmio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Labhab GFAU), segundo Pompéia, foi uma iniciativa de alguns alunos interessados em uma ação mais direta com comunidades carentes. Seu funcionamento configurou-se de forma mais independente da estrutura da escola, inclusive no que se refere à orientação de professores, e bastante cíclica, já que a passagem dos alunos pelas escolas também é temporária. As atividades do grupo incluíram projeto de habitação, regularização fundiária, mobiliário, etc. Em 1999, alguns alunos do laboratório se articularam ao Movimento de Moradia no Centro, oferecendo

assessoria técnica nas necessárias intervenções nas ocupações do movimento, tais como banheiros, cozinhas, lavanderias.

Em Belo Horizonte, o curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas possui um canteiro experimental em suas dependências. Ligado ao seu Escritório de Integração, responsável por dar apoio às atividades de extensão do curso, o canteiro já foi espaço de aprendizado de cursos de formação de mão-de-obra, inclusive para egressos do sistema prisional, objetivando a inserção desse público ao mercado da construção civil. Atualmente, funciona exclusivamente para as atividades acadêmicas, e diversas experimentações ligadas às disciplinas do curso ocorrem nesse espaço.

Figura 30- Canteiro em obras na PUC Minas

Na Escola de Arquitetura da UFMG, grupos de pesquisa atuam, há alguns anos, dando assessoria técnica aos movimentos sociais por meio de projetos de extensão, e várias investigações são desenvolvidas a partir dessas ações. Entretanto, ainda percebe-se uma dificuldade de levar tais abordagens para o âmbito do ateliê de projeto.

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